Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Toda a gente precisa de amor, ouve-se dizer na música, na poesia, na arte e em toda a expressão humana, de uma maneira geral. E há gente que efectivamente o encontrou, muito possivelmente. Mas há quem o não tenha encontrado, e quem, não tendo-o encontrado, o busca empenhadamente, sacrificando a sua própria vida buscando o significado e o sentimento de tal conceito, que pode ser um estado de espírito de efectiva união com um ser ou vários seres. É o amor eterno (?) - existindo esse conceito – [ou o amor é prolongável no tempo (?)], ou é perene (sendo um clímax ou o auge de todo um caminho ou conjunto de acções que nos levam a tal auge ou clímax)? É uma ligação concreta entre seres (?), ou tudo não passa do plano espiritual (?), ou ainda, será uma mistura desses dois tipos de elos de ligação? Decerto o amor existe e não pode ser comparado a um contrato, mas subjacente a ele pode acontecer que pode haver um contrato que se torna em vínculo, em amor. Haverá amor por quem nos trata mal, física ou psicologicamente ou só fará sentido essa existência, ou seja, só existe amor quando essa relação entre seres é repleta de sentimentos de amizade e desejo pelo outro, pela proximidade do outro? A vida é estranha para muita gente, decerto, e para mim, sempre o foi e penso que será por mais que venha a compreender muita coisa. Penso no amor como penso na existência de um Deus, a nível transcendental, e o sentimento de uma existência de amor parece-me equivalente a uma existência divina, isto é, se existe aquilo a que se chama amor também existirá aquilo a que se chama deus. Assim, se penso em Deus, eu penso no Amor, ou vice-versa, a um nível espiritual. Se penso em amor também penso no contacto humano, no toque, a um nível físico. Confesso que, pessoalmente eu estou do lado de lá da esfera, desse sistema em que existem outras regras de interacção humana diferentes das minhas, dentro de um espaço mental e de uma perspectiva (onde me encontro) que é o meu, que me parece ser exterior a esse espaço que observo, onde está um conglomerado humano normal, ou seja, é como se as pessoas estivessem na terra e eu da lua a observá-los, e sendo eu também uma pessoa, estivesse longe daquilo e daqueles que também eu sou, e, estando só, observando, tendo como minha companhia o eterno nirvana, ou seja o sentimento de solidão que é o ‘custo’ que me parece que temos quando nos ultrapassamos a nós próprios, à nossa própria limitação humana.
Existirá o amor concerteza, nem que seja como um estado passageiro [ou estados passageiros (porque tudo neste Universo é imparável e passageiro, tudo dura o seu tempo)] físico ou mental ou psíquico ou uma mistura de todos eles. Mas a mim intriga-me a sua existência, e, como conceito puro, e purificado que foi pela minha mente, da maneira que eu o vejo, custa-me a aceitar de maneira como a ordem está e como o amor funciona, porque eu não sou funcionável nessa ordem de acontecimentos. Quem me manda ou mandou a mim complicar as coisas que deviam ser simples, naturais e descomplicadas? Quem me manda ou mandou a mim pôr a natureza dos seres (humanos, em particular) em causa, a maneira como as coisas funcionam? Tenho medo de ser insignificante e desprezível, mas também tenho medo de possuir um poder que não posso controlar e que se vira contra mim próprio. Ou então tudo não passa de uma ilusão, a ilusão máxima de que o sofrimento parece existir, quando na verdade não existe. A minha ilusão, numa imaginação sem fim, imaginação que não é mensurável, a existência de um inconsciente no meu consciente, que eu não domino, a existência de um infra-ego poderoso que está acima do meu ego, quando eu deveria ter o ego a ser comandado naturalmente por esse infra-ego, domina-me e escreve a minha história.
Uma contingência de coisas: factos; acontecimentos (reais ou imaginários); inúmeras causas que antecedem o meu nascimento e que por sua vez provêm já desde sempre dos meus antepassados; o meu ideal, que não percebo como surgiu, mas consigo, até certo ponto, acompanhar a sua evolução até aquilo que eu sou hoje; o facto de tudo na minha vida ser paradoxal, começando, repito, pelo meu nascimento, e todo o impacto que isso teve na vida da minha família e de tudo o que me rodeia, a começar pelo que é mais próximo, até aos dias de hoje, até onde acabei por alcançar, e que resulta num feedback (negativo) que eu não compreendo o porquê de ele ser assim e o porquê de eu ter tomado o rumo que tomei; a influência de algo que tem a ver com a continuidade da minha vida pós-nascimento e que me marcou e não me deixou mudar marcando profundamente o meu carácter e, quiçá, marcando o resto dos meus dias; a maneira como eu estou preso a um controlo mental e físico que eu não consigo quebrar tão facilmente (mas que, tenho esperança, ainda consiga quebrar, pelo menos, enormemente) - Tudo isso me impede de dar o próximo passo na minha vida, o próximo passo de gigante que deveria ser um pequeno passo e natural. Mas inquieta-me esta minha inquietação constante, desde que sou gente, de a minha vida seguir um caminho que não é o que eu desejo para mim, de nunca estar satisfeito com o que tenho e querer coisas simples e serem tão complicadas de alcançar. Porque tenho eu de ser correcto quando tudo à minha volta é incorrecto? Porque sou eu um estranho entre estranhos? Que tenho eu a perder com as minhas acções? Porque hei-de de ter medo de dar um passo? Certamente há um motivo para todas essas questões de retraimento, penso. Motivo ao qual tenho respondido e vou respondendo à medida que caminho, para mim mesmo, e que não fazem sentido para mais ninguém. Tento pôr ordem na minha mente. Eu pergunto, mas o mundo e a natureza poucas vezes me responde como quero, aliás dá-me respostas ambíguas (passíveis de serem positivas ou negativas, não ditas explicitamente como positivas ou negativas) e retractivas.
Tudo me parece uma treta. Mas eu deveria deixar o mundo girar, muito simplesmente, essa é que é a verdade. Não podemos matar quem nos faz mal, mas viver em retracção e sofrimento e limitamento da vida por causa de alguém é terrível. Viver assim sem capacidade de reacção é viver uma vida de letargia. Abomino tal figura que me despreza, assim como outras que imitem tal figura. O meu desprezo é grande por essa gente, e se eu tivesse um poder, eu me riria dessa gente que age egoisticamente, sem escrúpulos como se o mundo lhes perdoasse o que fazem aos outros, e mesmo mostrando-lhe o que estão fazendo não querem acreditar ou saber e seguem pisando o mesmo trilho. Cada um é dono da sua vida, se bem que pode não o ser do seu destino, porque ‘o futuro a Deus pertence’, a natureza age de maneira superior, sempre, pelo menos até aos dias de hoje, pelo menos a meu ver. Eu sei pouco, muito pouco - muitos dirão o mesmo, se quiserem e se tiverem coragem para isso -, mas eu digo que se sei pouco e além disso ainda posso menos. Mas sei que se vão ficar a rir, os meus inimigos, e por isso desejava não conhecer ninguém, mas, ao mesmo tempo não sou nada sem um elo de ligação ou sem elos de ligação. E a busca é incessante e desgastante, porque as nossas forças são perenes e a recuperação é cada vez mais lenta. Vivemos, acho, pelo menos eu vivo, num mundo intenso interiormente, num mundo em que só a confiança em nós próprios não é suficiente para viver, é necessário confiar em alguém mais, tarefa essa que parece quase impossível. Será que o amor está aí onde a confiança noutra pessoa é caso de excepção? Num ideal muito limitado e que não sabemos se o encontraremos?
Há terras por desbravar, há locais inalcançáveis, espaços por conquistar. Há recônditos que eu jamais irei revelar. Há paisagens por descobrir, belezas nunca observadas para usufruir.
Eu estive lá, mas nada disso irei narrar, porque tudo é como se vê. Nada descreverei, para não ser adulterado. Mas podem ficar a saber que é tudo, sempre em grande: Tem estéticas inolvidáveis; É o poder infinito do silêncio; É a tangencia de um golpe fatal do qual ressuscitamos; É um parágrafo único, de tal modo que, só para falar daquilo, se faria um texto que daria para dar a volta ao universo, um texto que se quebraria e voltaria ao essencial, ao nirvana, e no entanto, continuaria a sê-lo; É aquilo que ninguém viu e que sabe que existe, ou talvez apenas um vazio; Fica mais para lá do que o mais belo sonho, jamais sonhado; É um deleite único, como um adeus à vida, naquele último instante que toda a gente procura e nunca ninguém saberá; É uma máscara que cobre um rosto que nunca ninguém soube quem é, se algum dia o foi; É a luz que brilha no vácuo que preenche; É o ponto fulcral em que assenta o comprimento de onda que vibra, e vibrará, onde tudo tem princípio e fim; É a fluência da sintonia; é, enfim, onde bate o ponto.
E assim eu fui um aventureiro, se é que ainda o não sou, e cada vez mais. Aventurei-me em coisas concretas, para chegar às coisas incertas. Inventei ideias, tresloucadas diziam, sonhei trajectos, mas optei por seguir caminhos concretos, que aldrabões me tentaram impingir. Fui enganado, mandaram-me pelo bosque profundo na ideia de me fazer perder, e no entanto encontrei-me, e mais tarde dei-me a conhecer. Conquistei o trilho por onde passei, alcancei uma humanidade que eu desconhecia, agradeci a uma divindade que, ainda, não passa de uma utopia. Assim, aqui estou eu, feliz por voltar novamente. Aquele sítio foi de passagem. Trouxe bagagem, no entanto, fui sem nada, perdi tudo, mas cheguei, encontrei algo que me fez vir mais rico. É segredo, e nunca to direi. Mas posso te dizer que nome dei aquele sítio: é o ‘Reino de Aquém e Além’. Já agora, quem quiser ir, que vá por bem.
Há o desejo da conquista, há o desejo de ser conquistado. Há paraísos na terra, que são ensejos alados. O espírito de vitalidade invade o conquistador e o conquistado. Agarra essa preciosidade, não seja ela única, é sempre única. A quantos momentos já consideraste ‘presente’? Nenhum, tantos fugitivos, somente. Quando for assim, quando as duas linhas paralelas se encontram, não te despegues, porque agora és um, como sempre foste, só que mais forte. E então, extravasa essa alegria, de ser maravilhado, com o que vês, que é novo e intocado, essa efemeridade do tempo que te é dado. Se o perderes, triste não fiques, mas esperançado, o objectivo ainda não se esgotou. E mesmo na tristeza, esse momento inolvidável, na memória insondável, ficará, para que um dia possas dizer: ah! Poderás, a partir de ai, pintar o lugar onde estiveste, e, ornamentá-lo-ás. Ele ficará mais belo do que algum dia foi, esse momento. Eu sigo viagem, porque ninguém vai para ficar. O éden conquistado, não nos pertence, além disso, sou conquistador.
Rasgando a noite, dia após dia, como que alucinado, trilho um caminho, que me foi vedado. Sigo esse caminho aparentemente intransponível talvez na esperança de conquistar um pouco mais de vida. Acho que toda a minha vida foi assim, a de um alucinado: alucinado pela dor do sofrimento, do sofrimento consciente. E diria mais, a minha vida é a de alguém que nasceu já assim, porque não teria outro modo de sobreviver se tal não acontecesse. Fiquei alucinado na hora em que nasci, se bem que já o seria na hora em que me conceberam. E pergunto-me porque tudo foi, é e terá de ser assim, para mim (?). Porque fico inebriado tão facilmente (?), e que ebriedade será essa que me deixa neste estado alucinado quando não posso estar ébrio, porque não posso nem me querem deixar andar ébrio (?). Devo ter ficado inebriado no momento em que respirei o ar pela primeira vez, quando todo o meu ser contactou com este mundo inefável, pela primeira vez, como se eu soubesse já o que me esperava. Fico ébrio com tudo o que os meus sentidos conseguem abranger e sentir. Fico ébrio com tudo o que posso imaginar na minha mente. E fico alucinado cada vez que tenho de sofrer, cada vez que tenho de conter toda essa ebriedade, cada vez que tento ser quem, na verdade, eu não sou. E mesmo nessas horas de sofrimento tudo me pode parecer belo, se eu conseguir sentir segundo o sentir que já nasceu comigo, segundo as minhas memórias, segundo aquilo que eu sou, e que vou redescobrindo à medida que o tempo passa. E, cada vez mais, eu me redescubro, nos ‘insights’ de momentos que foram marcantes para mim. Eu tenho uma foto ou passagens desses momentos no meu interior. Eu, cada vez mais, sou eu. Não posso fugir a tal destino, que é saber quem sou, na esperança de saber quem são os homens, que me fascinam tal como todas as criaturas e coisas que fazem parte deste universo, e primeiramente deste mundo que me envolve e me chega ao meu espírito através dos meus sentidos, e maioritariamente através de meios virtuais. E tenho medo das situações que me levam a fazer agir como se eu fosse uma pessoa normal. Tenho medo dessas situações que me levam a parar a minha memória, a esquecer o meu passado, dessas situações que me levam a que fique ofuscada a minha imaginação, e dessas pessoas que me querem induzir de tal modo que me querem fazer esquecer quem fui e que, afinal, tenho redescoberto, ainda sou e muito provavelmente continuarei a ser. Tenho medo dessas situações que me querem levar a sentir da maneira que eu não sei sentir. Antes de eu sentir, já eu era. Tudo o resto veio por acréscimo.
Como é belo este mundo, tão belo como o interior que o faz ser belo. Concordo que <<a beleza está nos olhos de quem a vê>>, a beleza está no interior de quem sente e cria tal sentimento, e, quiçá, esse sentimento seja um dom, que nasce com certas pessoas. Mas que paradoxo será esse entre a beleza da criação e da descoberta e invenção de novas coisas e o medo que existe que isso nos seja desfavorável à nossa sobrevivência (?), que paradoxo é esse entre o podermos ser livres de fazer o que quisermos da vida ( e do mundo) segundo aquilo que o homem pode fazer segundo a sua inteligência e imaginação e segundo os meios que tem ao seu alcance e ao mesmo tempo saber que esses actos (criativos ou outros) podem acarretar malefícios para a continuidade da própria humanidade, podem acarretar a destruição (mas não querendo desistir de fazer tais coisas belas, não querendo por de parte essa necessidade de descoberta e continuidade dos seus actos). Este tipo de questões tem influenciado a minha maneira de estar na vida, como se eu fosse um ponto fulcral entre pontos fulcrais nesta passagem da humanidade, sentindo de tal modo como se a vida estivesse em perigo constantemente, segundo o rumo que está a tomar. Na verdade, não sei porque sinto assim esta vida, como se eu fosse responsável por destinos que desconheço, como se arcar com o meu destino não bastasse somente. Reconheço que sou altruísta (no que diz respeito a sentimentos pelo menos), modéstia à parte. Mas não sei porque tenho de personificar esse sentimento de perigo, como se eu pudesse fazer alguma coisa mesmo que esse perigo seja real. E que posso eu fazer em relação a esse rumo (e que rumo será esse?) que nos conduz a algo que desconhecemos, e que talvez desconheçamos por muitos e muitos anos.
Falo para ti, humanidade, que caminhas por veredas, nas íngremes encostas que te abordam, de um lado o apoio que te segura para a vida, no outro o encontro com o abismo. Mas esse é o teu caminho, essa é a tua senda nessa ladeira sem fim à vista. E não és única, todos temos o nosso trilho. Há que seguir, não há volta a dar, segue o que sentes, conhece-te a ti própria, vai de encontro ao que te espera, o cume da vida, aquele que será o sítio onde irás repousar ou … desiste e o outro lado irás encontrar. Eu conheço-te, mesmo tendo visto tão pouco de ti, talvez mesmo já as estrelas te conhecessem antes de tu as conseguires vislumbrar. Sei que não irás ter medo do nevoeiro que te envolverá, da chuva que fará deslizar as terras e te provocará, para a morte que do outro lado está. A fuga é tão fácil, a escalada é tão difícil... Atalhos se encontrarão certamente, nessa marcha ousada de se efectuar, e dias de sol a brilhar, com temperaturas amenas no ar. Sem esquecer: há que saber aproveitar, levar o brilho e recordar, as palavras daquele astro, que do infinito nos ilumina irradiando as suas múltiplas cores todas juntas numa só, a cor que te irá salvar, o alvo, que tão pouco existe…mas ele está lá. Tão certo como eu estar aqui agora, como estas palavras que nada dizem a quem nada quer entender, só com o fim de preencher o caos que afinal está em equilíbrio. Encontra o teu, não olhes para trás nem para baixo, soergue – te até não mais poder, felicidade ainda vais ter, só tu irás ver.
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