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Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

A Ilusão do Esforço

            Aprendi que tudo se conquista com esforço. Aprendi isso na pele, e, no entanto, conquistei tão pouco, segundo a minha ambição como bitola. Decerto só fiz o humanamente possível. Impingiram-me, nos ideais, que a vida é dura, e, decerto, não sei vê-la de outra maneira senão por esse prisma, mesmo que ela não o seja (mas sei que isso é relativo a uns e a outros). Não sei o que é ganho fácil. E por mais que tente, o tempo passa, mas, é como que a vida não vai para a frente. Quem somos nós para movermos o que quer que seja sem um Fulcro? Que podemos fazer nós de grandioso sem a invenção técnica de um mecanismo que nos permita sobrepujar as nossas forças. Em que a Grandiosidade se apoia? A nossa mente? Em que maquinas inventadas nós montaremos para aplanar a montanha? Até quando haverá combustível para alimentar essa mesma máquina? Porque saímos da harmonia rumo a um futuro incerto? Harmonia? Desde quando ela existiu (olhando aos pormenores)? Não, a harmonia não olha a pormenores, mas para um bem geral, o equilíbrio, exaltando uns e atropelando outros. Somos todos e tudo o que existe sempre manipulados por algo que sempre nos ultrapassará. Saímos do abrigo das cavernas, conquistámos a Terra, humanizámos o mundo e continuamos a descobrir maravilhas. Queremos mais, queremos tudo numa vida. Não queremos ser responsabilizados por nada, como que se a Terra nos tivesse que dar aquilo a que temos direito, Liberdade na ação. Liberdade na ignorância - digo eu. Porque nos foi Permitido chegar até aqui? Grandes vontades de certos seres humanos se impõem. Grandes interpretações nos levam mais além, e, no entanto, a Verdade não é alcançada, Ela não se mostra como os homens querem. Ciência para alcançar a Liberdade? Mas o que é isso? Os homens preferem a ignorância, o jogo do oculto, a impotência mascarada de potência, show off. Assim vai o mundo. Vede. Senti. No fundo sabemos quem somos. Sabemos que necessitamos de onde viemos, das Origens, de nos compreender conscientemente. E, contudo, poucos serão aqueles que poderão estar na mesma situação, idêntica diga-se, duas 2 vezes, parece-me, porque é tão precioso (!) o contexto único das coisas… Mas a que preço nos poderemos conhecer melhor? Vivemos do esforço de outros, os nossos antepassados. Tão críticos connosco, tão exigentes, movendo-se aleatoriamente segundo o que parecia, ao olhar ‘’ao longe’’, mas com firmes ideias, convicções e direitos de viver (tanto uns como outros, tanto humanos como animais), quando percebido o contexto em que agiam; tantos erros cometidos, além do mais, e, mesmo assim, devemos-lhe tanto… -Só o homem tem ilusão. Não sei se agradeça essa ilusão que nos faz mover, ou se será ela que nos irá destruir, ou, talvez, vangloriar ao nível da Magnificência, um vislumbre fugaz de Momentos psíquicos. A Psique a atingir sempre que nos seja permitido, essa Grande Ilusão.

 

 

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O meu passado demanda o tempo futuro

                O tempo continua na demanda do infinito. Sem conseguir parar eu sigo no trilho que tenho seguido, talvez não possa escolher outro. Sinto o tempo que passei como uma brisa de ar, seria maravilhoso se eu pudesse sentir como senti o mundo e as pessoas, crescer com aquele poder infinito de ter um Universo pela frente, uma incomensurável possibilidade de ser quem queria ser. É um sentimento, ou melhor, são sentimentos tão extremos e complexos como complexo é o nosso mundo e a nossa vida e o Universo, que eu gostaria de transmitir. É maravilhoso interagir com o Universo exterior a mim, mas ainda não compreendo este sentimento de vazio e necessidade de constante procura de algo novo ou o redescobrir do que já foi descoberto. Já experimentei muita coisa, e no entanto pareço o ser humano mais ingénuo que jamais existiu à face da terra; melhor, afinal nem sei quem sou realmente. Nestas minhas andanças já partilhei e partilharam muitos sentimentos e emoções comigo, e tenho a clara noção de que fui impotente para que fizesse brilhar aquilo que sentia e que me faria transcender nesses momentos, fui fraco e era mais fraco do que a minha mente me dizia constantemente, [agora vejo o que podia e que não podia fazer e ser, mas se nesse ‘antigo tempo’ eu visse ‘o que não podia fazer’ eu não teria lutado e então eu nesta altura não seria quem sou, para não dizer ‘ninguém’, mas estaria muito aquém do que sou, seria um derrotado logo na partida, o que não aconteceu]; errei, não fui fluente nas minhas emoções com os amigos supostos, não fui agregador de sentimentos de coerência, senti medo e incapacidade e afugentei em lugar de me aproximar de pessoas, o medo estava comigo, e sei que isso ainda acontece hoje, por isso vivo nesta solidão, que não é tão grave quanto possa soar, pelo menos por agora. Vivo num mundo à parte, a querer voltar a ser adolescente e corrigir todo o mal feito, a querer viver segundo o meu desejo de viver, segundo aquilo em que acredito; no entanto dou por mim já a não corresponder às expectativas, a querer fazer coisas que não são as certas para este meu tempo, e tenho medo de me perder nas malhas de um tempo não recuperável e de uma mente confusa que me possa tomar de assalto (se é que não estou já nela), de perder mais e ser injustiçado, quando eu só quero viver em paz, com o necessário e ao contrário das forças que me têm puxado toda a minha vida para a mudez da minha boca [quero falar], para o medo e os mal-entendidos, para o aproximamento de coisas (pessoas, acontecimentos, conhecimentos) que não desejo na verdade. Sempre me fechei, e emudeci, na tentativa de me controlar, de entender o que se passa à minha volta. Com tudo o que passei psiquicamente sei que estou seriamente danificado, psíquica e psicologicamente, meus sentimentos e emoções não são normais, por mais que eu tente ser normal. Apetecia-me libertar, libertar e sentir uma força revigorante para mandar à merda a tudo o que não me dá o direito da liberdade de ser quem sou. Houve uma noite, entre tantas outras, faz tempo, estaria eu num dos momentos mais confusos da minha vida, então peguei no carro e fui dar uma volta, até um lugar perto e apreciar a noite para desanuviar, olhando as estrelas, além de que levei uma guitarra mesmo sem eu saber tocar guitarra. E eu toquei ao luar para as estrelas que me ouviam, decerto não havia ninguém por ali, num sítio que tão bem conheço, por isso a chacota deve ter passado ao lado; toquei magnificamente, pelo menos tentei fazer música, afugentar a dor de não compreender o porquê de eu não poder eu ser livre de me expressar. Além disso apeteceu-me gritar, e eu gritei bem alto, para tentar desentranhar tudo o que sentia preso dentro de mim. Mas não, não resolveu o problema fulcral da minha vida que ainda venho tentando compreender [talvez o de ser mal-amado; talvez o mundo não tenha compreensão para o meu amor]. Talvez algumas vezes tenha agido como um louco e me tenha sentido como tal, mesmo depois de ter feito o que fiz, mas vejo loucuras muito mais sérias a acontecer neste mundo, e eu se pudesse faria justiça a elas com toda a certeza. Mas não, tenho que viver escondido e calado, ninguém pode saber quem sou, porque isso seria o descalabro e eu não aguentaria ser quem sou. Como seria maravilhoso acordar um dia e ser livre para sempre, com o bem-estar dentro de mim e gozar e curtir esta vida como deve de ser, com uma memória renovada, com um desejo eterno de viver sem magoar e sem ser magoado mesmo nas situações em que se pode perder a cabeça. Já desejei o mais mal que se possa imaginar a este mundo [assim como já desejei de tudo que de melhor possa haver] e no entanto quem sou eu para ser atendido ao meu desejo e para que se faça a minha justiça (?). Será que tudo o que desejei irá alterar o mundo ou só me alterou a mim, e ainda por cima se ficam a rir de mim por ter desejado tais coisas, que eu pensava que eram boas.

                 O certo é que a noite tem sido minha companheira, companheira de solidão e ela me ajuda a compreender as coisas, quaisquer que elas sejam, mas eu não mudo, e sou um inadaptado do mundo social, sem ‘social skills’, a noite jamais me deu e jamais me dará aquilo que não posso ter de algum modo, enquanto algo não se resolver, a fonte do meu insucesso social. Falo como se houvesse uma harmonia social que eu tanto desejaria integrar. Mas a verdade é que a harmonia social que existe e que passa também não me convence, o mundo deteriora-se pela cegueira e egoísmo da riqueza que todos os seres humanos demandam, como se o dinheiro fosse um deus; isto é como as pessoas andarem a mexer em fogo junto da pólvora sem saber o que isso provocará, será o fim, as pessoas que não nascem com o sentido de amor pela vida, mal-amados poderão ser potenciais destruidores daquilo que não compreendem, além de que esses são guiados pelo desamor que é o que os faz mover; o falso conhecimento também está por toda a parte; E é do que acontece hoje em dia, ah! nada é com ninguém, todos têm os direitos ao bem-estar e mesmo quem está bem só tem é que usufruir e ser mais e mais consumidor do bem que existe, só a sua liberdade acima das dos outros e do bem comum, e usufruir da beleza comum que é o mundo e a sua também quando se aplica. Parece que já não acredito, como ainda tentam fazer passar, que ‘juntos podemos fazer muito bem’, que ‘juntos conseguiremos fazer um mundo melhor’; eu acho é que podemos fazer muito mal; ou então o melhor é fazer uma orgia global (!!!) que é o que se está ou se quer realmente fazer, e fornicar tudo, pronto, tá resolvido. Pergunto-me: Será mesmo este o caminho  para o fim? Cada vez menos a minha vida demanda o futuro, mas ainda a demanda, o que me diz que ainda terei um certo tempo de vida se os meus sentimentos estiverem correctos. Mas mais uma vez me pergunto a questão do porquê de tudo ser assim: vivemos e atingimos o esplendor, e ainda assim sempre seguimos insatisfeitos, pelo menos alguns como eu, que fui desancado do meu equilíbrio emocional, e tento descobrir as origens de como algo em mim me despoletou para ser quem sou e seguir o caminho que tenho seguido. Porque tudo tem de acabar? Porque não poderei acabar eu com o sentimento de ter vivido e feito obra? Como eu desejo acabar bem apesar de não me ter encaminhado bem (!).

A dança do saber e do conhecimento

                Todos devemos ter possibilidade de acesso ao conhecimento, o que não acontece com muita frequência; Mesmo, hoje em dia, a internet não está ao alcance de qualquer um; por vezes ponho-me a imaginar a quantidade de pessoas que no mundo não sabem mexer num computador, um pouco que seja, quantas não o viram, ainda, e muitas outras que têm computador e acesso a internet pouco mais sabem do que utilizar o computador como passatempo, uns joguinhos, talvez andar pelo facebook, que está na moda, enfim muito pouco, e acontece, sobretudo em países mais pobres, a ignorância total. Eu não sei muito, também, é verdade, e o meu conhecimento é generalizado, sei um pouco de tudo, mas nada de muito saber em coisas que são específicas e/ou concretas; já o disse mais vezes, o meu pensamento é divergente e leva-me à análise e absorção generalizada das coisas e a minha motivação é a de saber o essencial de cada coisa/assunto/matéria segundo as minhas necessidades, e depois, com isso, [tenho o prazer de associar] /associo constantemente umas coisas com as outras. O conhecimento e o saber é, para mim, essencial para a paz, quer da realidade externa, quer da paz interior. Não é só a internet que traz o saber e o conhecimento, é certo, mas ela é uma fonte enorme de conhecimento, ninguém o poderá negar. A pessoa que não compreende o mundo e a si mesma, aquilo que se passa exteriormente a ela e interiormente a ela, poderá torna-se agressiva/agir erradamente/cair em auto- marginalização quando o azar lhe bate à porta ou por inconsciência, poderá disparatar facilmente, não sabendo defender-se e/ou desviar-se daquilo que lhe pode fazer mal; Com conhecimento e saber, com uma visão de águia, tudo se torna mais fácil para o conhecimento de tudo o que o envolve, as pessoas, o mundo, o Universo – assim, o amor-próprio cresce, a vontade de viver tem um novo sentido, surgindo novas motivações constantemente. É claro que as pessoas têm as suas culturas, todos nós nascemos englobados numa cultura próxima de nós, a partir da qual nos desenvolvemos e que aceitamos, normalmente e habitualmente, quando nos conseguimos adaptar a ela. Mas, e quando não nos conseguimos adaptar a ela e/ou ela é nefasta para nós? Então, surgem as marginalizações, os abusos de poder sobre esses [nós/eu] que ficam afastados dessa cultura, que deviam ter absorvido e comungado; quantos há por ai assim, que são excluídos porque não são compreendidos, excluídos por essas pessoas que entram na cultura que os envolvia, mas que de ‘saber’ e ‘conhecimento’ têm pouco, e por isso, essas pessoas sem escrúpulos, fazem mal a quem está débil/na ignorância/marginalizado já de sua própria condição.

            Tenho um sentimento, que me surge frequentemente, e que me diz que tudo o que falamos é relativo, assim, o que digo é relativo segundo o que sei, segundo o que sinto, segundo as emoções do momento em que o digo, de acordo com o que sei do assunto, de acordo com a maneira como a minha mente pensa, de acordo com os meus ideais e a minha conduta de uma maneira geral – acontece que estou a falar e a certa altura não acredito muito bem no que digo, como se fosse um paradoxo. Falamos para evoluir, também, é certo, sei-o. É errando que se evolui, é errando, e muito (!), que se aperfeiçoam os seres e as coisas e os ideais, com o devido desgaste de outros sistemas. E assim, tento, com as minhas palavras, fazer a apologia de quem eu sou e de tudo o que se passa comigo e à minha volta, onde os meus sentidos (saber e conhecimento) abrangem [fazendo jus ao lema do meu blog que está no topo da minha página inicial de apresentação]; Sinto, ainda, como se fosse uma criança (magoada) sensível, questionadora, fascinada, … : magoada com aqueles que me deviam amar mais; sensível, ainda, porque, precisamente, me magoo facilmente; questionadora porque me pergunto constantemente ‘o porquê’ de tudo ser como é e acontecer como acontece; fascinada com as respostas que encontro, com tudo o que de maravilhoso vejo, dentro do equilíbrio que consigo ter ou que a vida me dá, com o meu suposto esforço. A criança que há em mim continua em busca da perfeição, e custa-me que as pessoas se relacionem pelos motivos errados; a criança que há em mim compreende as atrocidades que se têm cometido em toda a parte do mundo, ao acaso com que as coisas acontecem, devido ao desconhecimento, à falta de saber e devido ao florescer de culturas erradas, destruidoras, malignas; a criança, pessimista [ou será realista?] que há em mim continua a ver um futuro [humano] incerto e de destruição – a maioria das pessoas continua seguindo como se nada fosse com elas, comodistas, como se houvesse e tivessem todos os direitos os homens, cada um, como se a culpa do que acontece fosse do governante ou dos outros [sem querer defender partidarismos ou politica], alimentando uma complexa cadeia de destruição que será adiada enquanto a mãe terra conseguir colmatar todos os nossos erros [e penso com isto em destruição da natureza sem necessidade, destruição de ecossistemas, de espécies de animais, destruição do homem pelo homem]. E pergunto-me e ponho esta questão a todos: será que ainda há tempo para a vida? Sei que sou um homem com fé e com a mania das grandezas espirituais, mas desesperançado quando a minha mente abrange a compreensão do confim do Universo e a subtileza do equilíbrio desta terra. Já disse isto mais vezes, porque será que nasci com esta consciência? Esta consciência de sofrer por coisas que não me deviam dizer respeito… É claro que este é ou deve ser o preço daqueles que foram destinados ao saber e ao conhecimento: o sofrer, a solidão, a entropia dos sentimentos e o destemperamento das emoções [contudo não é sempre, pois quando a maré é ‘a de se sentir bem’, esse ‘sentir bem’ é imenso e incomensurável, eleva-nos ao pico das emoções, mesmo que não manifestadas, algo que a pessoa comum não deve alcançar, suponho] – assim digo, com isto, que nem o conhecimento me tem livrado e nos pode livrar de sentimentos e emoções obscuras, do mal-estar que acontece a quem compreende mas é pequeno de mais para mudar o mundo que é exterior a mim/nós; eu sinto-me frustrado por não conseguir jamais mudar o que quer que seja neste mundo, de não levar a água ao meu moinho e nem querer entrar na dança que me convida constantemente esta vida, uma dança que tenho medo de dançar, a dança de um conhecimento e saber desconhecido.

Depois do amanhecer

     Mais um acordar, o dia já vai um pouco avançado, mas ainda há bastante mais para percorrer. Para mim tudo isto dos dias é confuso, no sentido de como se já não existisse o verdadeiro significado do dia e da noite, porque tudo tem novo significado para mim e tudo toma novos significados à medida que o tempo passa, baseado nos significados que algum dia já tiveram para mim. Mais um acordar em que não consigo demarcar-me daquilo que sou e que sinto; não consigo demarcar-me dos sentimentos em que cada vez mais estou envolvido, quer seja para ou bem, ou temo que, pelo pessimismo que me consome, para o mal. Tudo volta novamente a cada acordar, todas as alegrias passadas ainda permanecem na minha memória, mas, aquelas recordações que mais vêm ao meu pensamento são as menos boas e as más, sobretudo as que estão relacionadas com a insegurança que sinto de viver, o medo de viver, e as que se relacionam com a injustiça, sobretudo pessoal (mas também do mundo) e a eventual futura incapacidade de sobrevivência. Acordo constantemente com este pesadelo de me sentir uma pessoa incomunicável, também, neste mundo hodierno; sinto-me incapaz de comunicar, como se fosse eu o cúmulo da incomunicabilidade. Sinto-me tão incompreendido… de tal modo que tenho medo de dialogar com as pessoas porque não me faço entender, nem eu entendo os contextos que me envolvem, senão à minha maneira, alienado. Temo mesmo que ao escrever tudo isto que escrevo, na tentativa de comunicar (não sei com quem), todos estes meus receios, se agravem, porque o meu ser se rende ao que penso e escrevo. Exijo muito de mim, e sinto que fico o centro das atenções muito facilmente, atenção, essa, que não sei gerir, sentindo assim o meu mundo a ser carcomido e a desabar. Assim, sinto o meu mundo sem sentido ou com um sentido muito diferente dos que lhe dão o comum dos mortais. Sinto que a vida não tem continuidade (ao contrário do que queria acreditar, noutras perspectivas de vida), todo o meu ser desaparecerá, apenas ficarão enxertos de mim que se tenderão a apagar em mais ou menos tempo. Acredito que o Deus que certos homens inventaram como tendo uma vontade e que atendia as nossas preces e nos observava e acolhia no seu seio, afinal, não têm vontade própria, particular e unidireccional (porque a existência é um caos e um acaso) , e, isso de ‘acolher’ e ‘fazer justiça’ é tudo muito relativo; com isto digo que tenho observado o mundo desde outras perspectivas e o tenho interpretado com base nessas novas observações e novos sentimentos interpretativos; com isso tenho mudado a minha mentalidade e sinto um misto de revolta e engano, sinto que fui tremendamente enganado, como se tivessem semeado a semente do atrito no interior do meu ser quando eu ainda era um ser frágil; é claro que se tudo isto não tivesse acontecido na minha vida, se não me tivessem feito acreditar em Deus, eu seria um homem completamente diferente hoje, e não teria contemplado o misticismo que frequentemente tenho, mas que me leva a ter caminhos de rumo à loucura, até porque não fui aceite, e, não me deixaram exprimir e reagir aquilo que sentia, a começar por quem é mais próximo, em concreto o meu pai, o qual eu abomino, na mesma proporcionalidade com que ele me abomina e despreza, subliminarmente, fingindo no fundo do seu coração; no entanto, foi ele que me fez ser quem eu sou, hoje. Sinto que somos tocados e obrigados a mover por forças que nos transcendem mas que tendemos a compreender, no nosso interior; talvez a essas forças se possa chamar Deus, mas com uma definição diferente da preconceituosa, que é a maneira como a definem as religiões. As forças que já me empurraram num sentido em que eu as aceitava e me sentia bem ao ritmo delas, viraram e empurram-me noutras direcções que eu não gostaria de tomar, e ainda para mais, sou obrigado a dizer que: ‘ainda podia ser pior’ e ‘ tenho que agradecer a Deus por ter ainda o que tenho e não estar pior, muito pior, como tantos e tantos’, o que não me satisfaz.

     Depois do amanhecer, amanhecer da minha vida, já me encontro no meio-dia, se bem que isso é relativo porque não sabemos o que se passará no futuro, futuro esse que eu temo ser curto, vivendo eu como se fosse o último dia da minha vida a cada dia que passa, mas sem excessos. E houve amanheceres que permanecem na minha mente, amanheceres em todas as estações do ano e vários lugares, que me trazem recordações agradáveis quando interpretadas à minha maneira, mas que me trazem um vazio porque não tiveram repercussão na humanidade que me envolve nem estão em consonância com a sociedade que me envolve, no sentido que foram sentimentos de introvertimento, muito pessoais, e que não me fizeram sentir como pertencente ao mundo social que me envolve, e, sendo assim, apesar de belos no meu interior, nada dizem a outros que não eu, o próprio. Julgo mesmo, que as manhãs, tal como eu as vi e senti, não dizem nada a muitas pessoas, que têm vis sentimentos, que privilegiam o social, não percebendo a terra que os envolve, a terra mãe, esquecendo-se que do pó vieram e ao pó hão-de tornar, da terra/Universo vieram e à terra/Universo hão-de voltar. Depois do amanhecer, e de uma boa noite de repouso (de preferência), temos um dia inteiro para desfrutar, e, com a energia da juventude, teremos um dia que parecerá nunca mais acabar; ainda sinto o pulsar da minha vida de jovem, o pulsar interior nunca desenvolvido em harmonia, sinto a beleza do meu ser a tomar conta de mim, a liberdade de nunca pensar nem me preocupar o que era isso de ‘liberdade’, de percorrer trilhos campestres, de usar a minha força física para conquistar espaço neste mundo. O amanhecer será para mim, sempre (do qual me lembrarei mais), o dos anos 80 e 90; esses deverão permanecer no meu espírito para sempre, (porque se fixaram com força na minha vida) se o Alzheimer não me atacar, se tiver integridade na minha mente, de preferência com integridade em todo o meu ser. É certo que irei caducar; outros me irão empurrar porque eu tenderei a estar a mais, mas tenho esperança de que ainda possa ser feliz, novamente a cada dia que passa, e que todas estas forças do Universo que me envolvem tenham um lugar reservado para mim até ao último dia da minha existência – a isso, se tal acontecesse chamaria ‘high power’, num rock frenético dos anos 90, afastando toda a mesquinhez humana, toda a alma insensível e desconfiada (desconfiado, como eu me tornei).

     E assim este ser eclético da vida prossegue o seu dia, depois de mais um amanhecer.

Leve acordar

Vivo e sobrevivo, dia após dia, aumentando o meu conhecimento, solidificando quem sou. Acordo pleno de vida, mas nunca satisfeito, por isso quero sempre mais, não quero parar, e nem por isso jogo sujo nesta vida, não jogo sujo em relação aos outros seres, não utilizo meios sujos para chegar aos meus objectivos, que se desvanecem, pois são tantos (!). Queixo-me por vezes, mas queixo porque me dói, não por falsidade. Renasço todos os dias. E todos os dias consolido os meus conhecimentos, e reconheço o tempo e o espaço em que vivo, reencontro-me comigo próprio e com o ambiente que me rodeia. Não tenho medo de quem sou, mas tenho medo do que isso me possa causar de mal, por mal entendidos, porque este mundo (humano) está cheio de mal entendidos, pelos menos na esfera da minha vida, que revejo constantemente, tão cheia de mal entendidos e de percas, mas também de alegrias tão simples e genuínas. Eu dou o que tenho para dar, e eu procuro feedback. Eu vejo e sinto de uma perspectiva única, e imagino outras perspectivas. Eu mastigo, remo-o, as emoções e os sentimentos vezes e vezes sem conta para que eles fiquem digeríveis mais facilmente. Eu repenso as minhas emoções para lhes dar um bom sentido àquelas que tiveram um mau sentido, sendo que não as posso apagar, mas mudar-lhe a interpretação posso. E, eu agradeço ao Universo por mais um acordar, todos os dias, por mais uma oportunidade de me reencaminhar e ir mais além. Eu agradeço por poder continuar a questionar-me, sobre a minha existência por exemplo, por ter mais uma oportunidade de obter respostas a cada dia que passa, sobre o que significa viver, o amor, a amizade, a relação com os meus pais e com as pessoas que me envolvem, por poder sentir como sinto, algo que não tem fácil explicação verbal. O ideal da perfeição foi perseguido por mim, pensava que era algo que se podia atingir e prosseguir com ele e nele (o ideal da perfeição). Mas compreendo agora que essa perfeição não é uma meta nem um estádio em que ficamos, mas essa perfeição é constituída de metas e metas sem fim, que vamos conquistando, e é constituída de êxtases que são momentos, mais ou menos curtos que vamos atingindo, e vamos ficando plenos de vida, e vamos envelhecendo felizes, porque há um Universo que nos ama e nos tem, e nos dá oportunidades se a gente souber interagir com Ele, de acordo com o que somos. Ter sorte não é só ganhar no euromilhões e ser milionário. Ter sorte é também ou mesmo acordar cada dia, tendo satisfeito as nossas necessidades básicas, não sofrermos em demasia, ter oportunidade de prosseguir em paz, de espírito, fisicamente seguro, podermos prosseguir ao nosso ritmo, podermos ver e entender o que nos serve e o que não nos serve na nossa vida, cheia de oportunidades, estar em equilíbrio e respeito com o que nos rodeia. Digo isto porque estou a passar uma melhor fase, e digo isto, sou positivo, porque venci certas barreiras e tenho estabilidade neste momento. Digo isto por tudo o que já disse, e tive a oportunidade de acordar esta manhã, digo isto porque sei o infortúnio de muitos, que sei que não vencerão porque a luz lhe foi ofuscada, mas muitos outros, ou talvez somente alguns outros, irão continuar, entendendo o mundo à maneira deles, e vencerão e encontrarão a paz. Podeis perguntar-me, quem vos encaminhará e guiará os vossos passos? Quem vos acolherá quando andares arruinados e/ou perdidos? Quem vos amará, de quem necessitareis quando andares desencontrados? Pois eu não serei certamente. Eu, tão pequeno neste Universo, tão finito no tempo, fisicamente pouco poderei fazer. Mas no espírito, no meu espírito, grande como uma visão que não posso transpor para palavras, eu movo o Universo à minha volta, e eu vos deixo uma marca indelével de quem eu sou e um dia fui, até ao fim dos tempos, se eu for acolhido por esse infinito que tem sentido e não tem, neste mundo comum. É uma vida bonita, quando acordo em certas manhas e consigo sentir a vida fluida e cristalina. Mas a vida tem altos e baixos, e quando estamos nos baixos, quando estou nos baixos, apelo novamente aos céus para que me deixem recuperar mais uma vez e me deixem subir a encosta novamente para apreciar o topo novamente e ver sempre mais além na limpidez de um dia, passageiro ou efémero que seja. Eu já aprendi a voar, mas tenho que continuar utilizando as minhas asas para que elas não definhem até mais não poder, signifique isso o que significar. Um dia pensei que havia o ‘bem’ e o ‘mal’. Um dia eu os defini e comparei. Um dia acreditei que era possível haver uma definição unívoca de ‘bem’ e ‘mal’. Um dia eu caí no vazio, e estava entre no centro dessa luta entre o bem e o mal, e eu era quem saia magoado no meio disso tudo. Mas todos os conceitos se dissipam, e o sentido das coisas mudam constantemente, e encontro significados diferentes em coisas que para outros tem outros significados, e é ai que o Universo nos fala. ‘A vida é uma auto-estrada, e eu quero conduzir nela toda a noite’, Tom Cochrane. Sei que a estabilidade é relativa, e devemos respeitar essa estabilidade, porque cada um responde por si.

Tenho que acordar para a vida, a cada dia que passa. Mais pessoas, mais seres, do que alguma vez podia imaginar envolvem a minha vida e sei que a influenciam directa ou indirectamente, assim como eu respondo de algum modo a essa influência. Culturas e mais culturas que nascem e morrem a cada ano que passa, seres que desaparecem. O mundo, a terra, a nossa mãe, nunca é mais do que o que é mas existirá como O Alfa e O Ómega, de tudo o que foi concebido nela. Ela me diz, que devo viver, ela me diz que me ama, signifique isso o que significar. Ela e o Universo me fala através dos seres e de imensas maneiras que tenho de aprender a decifrar, e admito que gosto de certas maneiras com que ela me comunica.

Escrita sem destino

Começo de novo esta escrita sem destino, sobre o tempo que me resta, mas que tende a nunca mais ter fim, como se fosse uma história interminável. O tempo foge e energia dissipasse, e eu tento utilizá-la com método, porque sei cada vez mais o quão precioso são esses dois conceitos no nosso sistema perene, o nosso ser, o nosso organismo, o corpo humano. Sou um ser evasivo, assim me tornei pelas vicissitudes da vida. Senti-me na mais profunda solidão e abismo, e não quero com isso dizer que não haja ou tenha havido pessoas que estão, ou estariam, mil vezes pior do que eu. Mas a minha dor parecia tão sem razão [que fiz eu de mal para me sentir assim? perguntava], a minha dor, a minha decepção com a vida e com quem me é mais querido, ou era [porque nunca se sabe quem nos é mais querido, eu não sei]. Mas sei agora que cai ou pode cair sobre nós [em mim caia] o peso e/ou o jugo da questão da subsistência, a capacidade de nos conseguirmos governar [de me conseguir governar e sobreviver e perceber as regras do jogo da vida que está em voga] e a capacidade de ser emocionalmente livre. Senti-me emocionalmente sequestrado, e fisicamente paralisado, apesar de, na verdade, não estar paralisado fisicamente. Mas digo-vos, que se a mente não está livre, se a mente está em baixo, o organismo também não responde bem, apesar de parecer que tudo está bem fisicamente. A existência de uma ligação ‘corpo - mente’, essa dualidade que não passa uma sem a outra, é indubitável, pelo menos deve sê-lo. Com tudo o que passei aprendi muito, as dificuldades aguçam o engenho, e vi muito mais do que aquilo que algum dia pensaria ver, apesar de ambicionar tal fasquia. Tive muita sorte na minha vida, apesar de tudo, e isso também eu o pedi à vida, a um Deus em que acreditava, ao Universo, como se queira interpretar. Não estou livre de cair novamente, se bem que muito depende de nós para nos mantermos na mó de cima, mas há uma imensa parte que não depende de nós, pelo menos directamente. Por vezes pergunto-me para que servirá esta aprendizagem ao longo da vida, se um dia nos vamos para a inexistência, plenos de saber e conhecimento e experiência, restando pouco daquilo que algum dia fomos [ou será que restará a semente, os filhos existirão nas gerações até quando Deus quiser] além de que provavelmente pouco perdurará no tempo e no espaço que nos identifique. Todo este saber serve para irmos sobrevivendo, vivermos um pouco mais, é certo, e isto parece uma banalidade para muitas pessoas. Mas o mundo renova-se e continuará a renovar-se até ao infinito, tomando constantemente novas formas, até não haver mais formas possíveis. Pensamos que o mundo [eu pensava] era uma realidade estável e que pode ser aprendida e, uma vez aprendida, serve para toda a nossa vida. Mas o mundo modifica-se, e a mentalidade humana modifica-se muito mais depressa ainda, e não vou medir essa velocidade de mudança, pelo menos para já. Por mais que nos custe, este mundo é uma passagem, cheia de invenções, invenções de novas realidades, construídas pelo homem, invenções humanas. Eu imaginei Deus, aquele Deus que me foi dado pela religião Cristã, durante toda a minha vida. Neste momento consigo sentir aquilo que era, esse Deus, para mim: um ser omnipotente que olhava para mim como um ser especial, que protegia todos os seres que mereciam ser protegidos, como se houvesse seres que não merecessem ser protegidos. Eu tive que reformular esse conceito de ‘Deus’ que me foi dado ao longo da minha infância. Eu continuo a reformulá-lo e a questioná-lo e a analisá-lo à medida que o tempo passa na minha vida. E eu consigo ver mais além neste momento, e nunca tive tão perto do conceito dele como estou agora. Eu acreditava que havia uma razão que me protegia e fazia viver. O Deus que me foi dado era a razão [É estranho como eu acabo sempre por abordar o tema de Deus sempre que escrevo e trato de abordar os meus sentimentos aqui]. Ele me protegia e dava vida como se eu fosse um ser especial. Se existe ou não eu não consigo responder cabalmente ainda, mas que a minha vida foi abençoada e permitida fosse pelo que fosse isso não o posso negar. Já vivi muito mais do que poderia ter vivido, já aprendi muito mais do que alguma vez sonhava aprender, já mudei muito mais do que alguma vez pensava mudar. A razão…? Continuo na busca das minhas respostas enquanto essa razão me permitir continuar a viver. Houve um certo momento de tempo em que eu me dei conta que tinha de mudar de paradigma na minha vida, e isso deu-se não há muito. Eu ouvi da boca de um ilustre neurobiólogo, António Damásio, numa entrevista que lhe fez a Judite de Sousa, no programa televisivo chamado ‘A grande entrevista’, uma frase chave que me fez questionar acerca daquilo em que acreditava, daquele muro que não me deixava ver mais além. E a essência das suas palavras foram estas: ‘A natureza age com indiferença [em relação aos seres] ‘. E não é pela pessoa em si que eu transcrevo o que ele disse, mas pela ideia que se recheou, naquele momento, em mim, a luz de um novo caminho a ser explorado e que me fez colocar uma hipótese imediatamente que tenho testado no dia-a-dia da minha vida; e a própria pergunta é a hipótese que está a ser testada, e, para a qual tenho encontrado respostas e coerência nessas respostas: A natureza agirá, mesmo, com indiferença sobre os seres? Pergunto. Por vezes nas respostas que encontro, vejo uma ambivalência entre os conceitos de Deus, que eu tão bem conheço, e sinto em mim, alem do que diz a Bíblia Dele, e a tal chamada ‘indiferença’ com que age a natureza. Diria mesmo que sinto que no futuro conseguirei conciliar mais a ideia que tenho em mim do Conceito de Deus e da acção aparentemente ‘indiferente’ que a natureza [natureza essa, que faz parte desse mesmo conceito de Deus]. É que para mim a natureza não age de maneira tão indiferente quanto António Damásio disse. Se assim fosse, eu não estaria aqui neste momento a dizer estas palavras, porque a natureza se revelou tão adversa para mim. Eu pedi a Deus ou ao Universo que me mostrasse uma saída para aquilo que eu sentia, para a situação de impasse em que me encontrava, e a verdade é que contra as expectativas e evidências que o futuro agourava para mim, que eu tão profundamente sentia (e que me diziam que não conseguiria sair dali) eu sai, eu vim à tona da água. Pelo que me considero uma prova viva de que existe algo incomensuravelmente maior do que alguma vez algum homem mais sábio do mundo possa imaginar. Se não existisse algo mais [mesmo que não lhe queiras chamar Deus podes chamar ‘algo mais’] quanto mais não me poderia ter acontecido quando perdi o controlo total da minha vida, quando eu não conseguia ver a saída, quando finalmente vejo que tenho ainda saída e posso encontrar a paz do meu espírito. É obvio que eu poderia já não existir, mas existe um segredo que eu não conheço que me deixou continuar. Será mesmo fruto do acaso tudo isto que se passa? Também coloco essa resposta nas minhas hipóteses, de que tudo é obra do acaso. E se assim for, Deus ou ‘algo mais’ não existirá, por mais que me custe a negar um conceito que me enraizaram e cultivaram em mim e que me pode destruir, sei-o. Mas se tudo for obra do acaso, se a natureza agir com indiferença, há muita coisa por explicar nesta vida. Os espíritos lutam pela sobrevivência, não tenho dúvida disso. O mundo de amor e paz entre os seres, de perfeição e de equilíbrio, segundo a religião pode muito bem ser mais uma invenção do homem que por sua vez criou a religião como tem criado muitas outras ideias e conceitos, que apenas servem para a união de um certa legião de homens. E se Deus foi uma invenção do homem, que inventou um ser omnipotente, logo feito à sua imagem [Deus feito à imagem do homem] e não o contrário [o homem à imagem de Deus], que restará do homem que acreditou naquilo que outros lhes fizeram erroneamente acreditar? Mas vejam que tudo isto são hipóteses que procuram respostas. Com perguntas ou sem elas, com Deus ou sem Deus a vida é para a frente. Senti, neste momento, que talvez só o presente exista. Aquilo que sentimos neste momento, cada um de nós, à sua maneira, segundo aquilo que cada um vê do mundo, é a sua realidade, e essa é a que interessa objectivamente. O passado é cultura, e tudo o que foi e existiu desapareceu e é reinventado pelos espíritos que aparecem nesta terra, no momento presente para esses espíritos.

A neve, na minha terra

 

     Esta terra é minha. Esta Terra faz parte de mim. Eu lhe pertenço. Ela me há-de tornar infinito. Ela me há-de tornar na palavra mais bonita que alguma vez algum homem ouviu, o verbo que há-de mover e demover o mundo. Onde haverá lugar mais bonito senão aquele que podemos desfrutar, aquele que já conhecemos, aquele que nos é permitido conhecer com a sensação plena de serenidade do nosso ser. Serei o ar que respiramos, ninguém o vê, mas ele nos faz viver. Ah, se eu pudesse ser (!). Eu seria o clima, e o clima seria o que de mais belo há no nosso mundo, que é único. Apostaria quase tudo em como não haverá no Universo algo idêntico ao nosso [mundo], esta terra de sonho, esta terra é um sonho único. Eu cobriria alvarmente estes belos campos. Traria no meu seio a calma plena, de quem vem por bem. A minha terra está coberta de branco. Hoje é um dia especial. É um dia que é especial – como todos os são - neste sonho onde transito. Especial, porque diferente, especial porque reside em mim a esperança. Como podem ser bonitos os flocos de neve (!). Como podem eles traduzir a poesia mais profunda e intima que existe nos homens. Como nos podemos sentir especiais, em determinados momentos (!). O clima é tudo o que vai na alma dos homens. As tempestades e as bonanças, o sol dourado e a escuridão solitária. O clima é a manifestação dos sentimentos da nossa mãe Terra. Ela demonstra os seus sentimentos desta maneira, são as suas emoções. Ela nos acolhe e nos permitiu criar - nos e desenvolver – nos. Ela nos deixa progredir no tempo e nos concede tudo o que tem, até mais não poder, como um ser vivo que defende e que protege os seus seres, dando a vida por eles. Ela é um realmente um ser vivo. Não é infinita, mas não se pode negar a sua imensa beleza, e quando um dia sabemos que é única, então torna-se especial. Mas ainda há homens que pensam que se lhe pode pedir de tudo e que ela suporta tudo o que os homens lhes fazem, até mesmo um só homem – e isso causa-me admiração, como pode haver homens tão egoístas (?!), que põem os seus interesses à frente de tudo e de todos e que se acham no direito de usufruir sem limites, de conspurcar o seu próprio lar, pisando as flores deste jardim, ou, outros, tão simples, que são traços apagados à partida, (talvez) porque outros lhes querem tirar o lugar que merecem, o seu jardim, esses simples, os mal amados. Como me causa admiração que esta busca do homem pela perfeição e fuga à dor acabe por causar mais destruição e imperfeição e muita mais dor -. A alienação do homem será a sua destruição, pois, ele deixa de reconhecer a sua verdadeira natureza, e deixará – a cada vez mais, para se entregar à exaltação dos seus ritos e rituais [do homem], privilegiando a sua interacção esquecendo-se de quem é antes de ser homem e antes de ser um ser social. E o homem é matéria do Universo. Não me cabe a mim inferir se o que digo é pessimista. Eu até sou um homem feliz dentro da minha tristeza (!), eu até sei quem sou, e cada vez mais o sei (!). Não me cabe a mim ter pena do que me ultrapassa - talvez não possa mudar muita coisa, o suficiente para dizer que estamos no caminho certo – mas fico feliz em compreender, como qualquer homem busca compreender o porquê da sua acção, o seu motivo, o motivo do acto que o faz agir. E fico feliz por obter respostas e afinal ainda sentir que pertenço a este mundo e a esta sociedade e que posso ainda ter um lugar para mim, e isso é esperança. Mas a esperança não é eterna. A esperança, para resistir, requer investimento, logo, risco. Isso, admito que me falta, capacidade de investir e reagir, apesar de, pesar na minha vida tudo o que de bom posso fazer para o meu equilíbrio e de tentar prever os passos que serão errados. Mas sou um homem, antes de tudo, não sou um deus, e isso leva-me a errar, e o tempo que passa leva-me a que fraqueje. No entanto vou tentando redimir-me dos meus erros. Peço à sorte, quando a minha razão estiver ofuscada, que os passos em falso que der neste terreno de neve, onde por baixo do manto branco se pode encontrar terra firme ou simplesmente uma armadilha onde posso cair, não me levem aos limites da dor consciente e possa voltar a andar novamente - e aprender com a armadilha - ou então que não permita que a minha dignidade fique por mãos alheias. O branco da neve é como a luz que é pura. A luz vem da escuridão. O Universo tem muita escuridão, mas, dele se gera a luz. Temos que nos tornar pequenos para que possamos apreciar realmente a plenitude da beleza da luz. Se quisermos ver de um ponto de vista da altivez essa luz, ela nos parecerá pequena ao nosso olhar para que possamos notar e fascinarmos – nos no que ela tem para nos mostrar. Assim eu quero pertencer ao Universo, mas não quero deixar de ser pequeno, se possível como a mais pequena partícula que existe no Universo, como o Bosão de Higgs.

 

 

Jóia

 

    Aquele sítio. Aquela jóia escondida. Aquela memória que há-de residir em mim até que a minha mente volte a pertencer ao nirvana. Aquela memória sem fim. Desde aquele dia, que não posso precisar - porque a memória não é precisa, como o tempo, que foi inventado –, que pus o meu passado naquele local, a minha memória, para que não me perdesse. Aquela é a minha caixa negra, que perdurará, mesmo depois de eu deixar de existir. E então, quase que me esqueci de quem era, quando tudo desabou sobre mim. Pensei que nunca mais me fosse encontrar, mas aquela caixa, naquele local, fez – me recordar outra vez. Aquela jóia (!). Aquela força da natureza, que protege, que nos guia - qual estrela cintilante que nos guia -, porque só nós sabemos interpretar o seu movimento. Alguns nascem como que com todos os direitos, e eu nasci com alguns que me permitem estar aqui e agora, sendo quem sou. Alguns nascem num berço de ouro, mas eu aproveitei o simples berço de madeira tosca que me foi reservado para singrar nesta vida - como se eu tivesse chegado a um patamar elevado [Na minha mente cheguei, e estou voando]. Eu depositei tudo o que tinha naquela jóia, quando tive algo. Eu guardei e dei valor ao que já não parecia ter, aproveitei o que já não servia aos outros para que tivesse alguma coisa, como se fosse um vagabundo, aproveitando os farrapos dos outros. Eu vivo (!). Eu o devo a quem não conheço. Eu partilho o meu mundo, com quem partilha, este, comigo, esta terra, a sabedoria de quem sabe inventar e me dá asas para que eu possa voar e ser uma Águia outra vez, tal como uma Fénix renascida. Alguns dão asas aos desejos, porque tudo lhes é permitido, não se abstendo de tal, não sabendo o que é a repressão, a recusa ou a negação, nem a contenção, nem a espera do reforço, tudo o que querem têm, ou então pensam ter tudo quando na verdade não têm nada. E eu pergunto-me porque não tenho o que quero, querendo eu tão pouco? Porque terei que ser um indigente, aproveitando aquilo que outros utilizaram e deitaram fora em condições de utilização, em nome da inovação, de dar o máximo que se puder no espaço de uma vida, consumindo sem freios o que devia ser preservado para outros, como se existisse o seu direito, que merecem usufruir de uma terra bela por muito mais tempo e que se vêem na contingência de sentir que nasceram como se fossem carne para canhão, extirpados dos seus desejos mais básicos, nascidos não com amor mas por uma casualidade do Universo que possivelmente os desejou para equilibrar algo que estava em desarmonia, passando por esta vida sem saber porque respiram, porque vivem, porque bate os seus corações [como se eu soubesse…] – como se eu estivesse a, ou pudesse defender quem quer que seja, como se eu os conhecesse. Não os conheço, mas sei de que lado dos bastidores estão quando eu estou fora de cena, eu conheço o outro lado dos bastidores. Vejo como esses actores vêem e sentem essa realidade que eles criam, vejo que a realidade é uma esquizofrenia, onde se vêem coisa, ouvem coisas, que acabam efectivamente por acontecer, muitas das vezes, neste fantástico mundo humano. Vejo que uns são esquizofrénicos e conseguem viver em harmonia com o mundo [social] e conseguem ser construtivos e deixam – nos viver, eles são úteis. Outros são depreciados a começar pelo nome que lhes é atribuído, porque na verdade não são compreendidos por quem não lhes é inerente a sabedoria nas suas vidas, os pseudo – inteligentes e pseudo - sabedores. Toda a arte destes pequenos grandes génios [pequenos porque não difundidos] é desvanecida por quem se pensa inteligente [e se pensa o mais humano dos homens, quando na verdade é um parasita da sociedade, tanto quanto os inúteis que sofrem pela marginalização e incompreensão], que diz que os que querem ajudar e os afundam cada vez mais. Mas afinal o que é a realidade? Uma vida esquizofrénica e paranóica é o que é, e cada vez mais se está a transformar a sociedade. Vejamos a música, vejamos a imagem, a virtualidade, a informação a circular, o caos, a entropia, querendo significar entropia como desordem do mundo da informação. Os homens gostam de tanger os limites, pôr-se à prova, quando a prova já está predeterminada. Os homens gostam de alargar limites. Mas o limite existe.  Assim como existe o limite do dia, o homem assim o delimitou. E amanhece como se o fim estivesse próximo. Límpido e frio, ou cinzento, quente ou como for, este é o meu amanhecer hoje, amanhã terei outro e serão cada vez mais iguais. Há tantos amanhecerdes quantos homens habitam esta terra, que será injusta enquanto existir, que terá sempre dois pólos, a opulência e a miséria, a alegria e a tristeza, o bem e o mal, enquanto existir esta terra. Nós somos o sentido e o limite, o princípio e o fim. E tudo será como é enquanto existir a memória do homem, recordada pelo homem, que falará para si enquanto existir. A memória. A jóia que cada um deve utilizar quando é mais necessário. Chamem a isso esquizofrenia, um espaço ideal entre a memória e o sonho, um mundo paralelo à realidade, que por sua vez é outra realidade.  

'Um mundo sem Deus converte-se num mundo de egoísmo' - observação a Zénit

 

Vou fazer umas observações. Antes de tudo temos que saber quem é Deus, e isso não é dado a saber aos sentidos de qualquer homem, mesmo de muitos que seguem e querem acreditar na Divindade, mesmo seguindo cargos religiosos. Acredito que para O conhecer-mos e O compreender-mos teremos que nos transcender. E não há melhor forma de nos transcendermos do que afastarmo-nos de tudo o que nos foi imposto pelos homens de uma maneira incorrecta, adquirindo para isso a maior visão do mundo e do Universo que pudermos ter, afogarmo-nos o mais profundamente, em conhecimento retirando de toda essa informação apenas a substância pura e essencial, destruindo mesmo o que é conhecimento falso, ultrapassando para isso as barreiras da nossa inteligência e finitude dos nossos sentidos, e mergulhar ao mesmo tempo no nosso interior, na busca de quem somos. Porque Deus tem que estar intrinsecamente ligado à Igreja? Só quem acredita em Deus, baseado nos dogmas da Igreja, pode conhecê-lo? Pois eu acredito que a minha Cristandade, que me foi legada, me levou e tem levado a compreender cada vez mais, essa Entidade infinita. Concordo que todos deviam conhecer o que de bom Jesus tem a nos dizer acerca de Deus e das correctas relações da humanidade. Mas acredito que há outros meios de chegar a Deus, mesmo que eu ainda não os tenha vislumbrado. A questão do ‘bem’ e do ‘mal’, qual a sua definição e o que significam esses dois conceitos, também é uma questão que deve imperialmente ser colocada e não é para ser respondida de maneira fácil, pois ela é uma questão essencial na relação com a fé e com o Deus puro e essencial, que rege o Universo, sendo Ele também o próprio Universo, estando em tudo quanto existe. E a Igreja, enquanto instituição, cometeu muitas faltas no passado, contribuindo para que se tivessem provocado muitos actos reprováveis no seu percurso ao longo da História, reprimindo os homens em excesso, levando-os a afastar do verdadeiro sentido de Deus, fazendo o mal também. Assistimos hoje à completa libertinagem em que se transformou o mundo sob a capa da liberdade do homem, a vida sem freios, que foram outrora excessivos no sentido da repressão que era imposta por esses dogmas e agora tende a levar a excessos opostos no sentido de que todo o homem é livre e deve fazer o que lhe dá ‘na real gana’ como se não houvesse uma consciência moral. Como que a humanidade quer afastar-se de algo que os reprimiu durante tanto tempo, a Igreja, e ao mesmo tempo afasta-se de Deus sem se aperceber. É tempo de a Igreja mudar de paradigma, buscar nas suas fundações, que foram Cristo, o verdadeiro sentido dos sofrimentos e alegrias da humanidade e a Verdadeira relação com Deus, e fazer transmitir à humanidade de uma maneira mais razoável e que seja assimilável pelos homens, os ensinamentos de Deus, de quem Jesus foi um dos símbolos desses mesmos ensinamentos. Foi Deus que nos permitiu chegar ao ponto a que chegámos. E então qual será ‘a voz da verdade’? Qual será ‘a voz dos valores’? A voz de Deus, certamente, e isso leva-nos a perguntar novamente: -quem é Deus? - Quantos se perguntam sem obter resposta. Certamente não estão em nenhum homem, jamais em mim, essas vozes, por mais próximas de Deus que estejam. Eu acredito em Deus. Tenho fé que Deus fala à humanidade na inteligência que nos deu, em todo o nosso ser, na relação que temos com os outros primogénitos e em tudo quanto existe e podemos sentir. Deus é a nossa vida, que deveria ser harmoniosa, mas não o é porque o homem não é perfeito como Deus. Há que elevar a consciência humana, ajudar na busca do sentido da vida quem está perdido, há que viver livre, respeitando o limite da liberdade do outro, das outras criaturas e seres do mundo, da natureza no geral, sabendo que nenhum homem que tenha visto a vastidão de Deus consegue fazer algo pela humanidade e pelo belo e único mundo que algum dia tivemos, se Deus não quiser. Para finalizar, este mundo de imagem e som, este novo mundo da comunicação,  ao qual todo o ser humano se maravilha e se rende,  deve ser posto ao serviço do desenvolvimento das sociedades que compõem esta terra, demonstrando-lhe que devem viver no máximo de equilíbrio possível, ser tolerantes uns com os outros, e que façam o que fizerem, acima do bem e do mal, está Deus, essa Eternidade, e que nós apenas somos seres perenes que tendemos a perscrutar o que haverá para lá do nosso fim. E assim sendo, somos livres até ao ponto que Deus quiser, e tenho fé que cada um terá que responder por si perante o que há-de vir, nenhum outro homem o pode fazer, porque não pertencemos a ninguém a não ser a Deus, nem mesmo aos nossos pais terrestres.

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