A persistência de uma vida
Persiste, eu tento. Converge ou diverge, eu divirjo. Concentra-te ou descentra-te, eu descentro-me; Não tenho gostos particulares, tudo é belo á sua maneira, de modo que até acredito, apesar de me ser difícil enxergar muitas das vezes, que existe beleza no que de mais feio existe, se soubermos procurá-la. Que potência de absorver!!! Que desastrosa pode ser a manifestação do nosso ser, apesar de parecer que temos tudo para sermos os melhores. Que inconsistência inimaginável na relação com os seres próximos. Que desequilíbrio entre absorção, acomodação e expressão, de tudo o que nos envolve. Por vezes penso que sou perfeito, que nasci numa altura perfeita da existência da terra, que tudo aponta para isso, e no entanto sempre tão perto de perder o controlo de tudo o que é equilibrado. Oiço as músicas mais belas, penso, vejo filmes magníficos, aprendo a sentir o mundo de uma maneira correta, e ainda assim sou o mais inseguro, pequeno, frágil, incapaz de construir, como se a energia se dissipa-se em mim. Tudo vem até mim no espaço da minha vida como se um sonho se tratasse, coisas que eu sonhava mas que achava que nunca iriam acontecer, não passavam disso, sonhos, e no entanto, tanto que se concretiza, para minha admiração e incompreensão dentro da minha compreensão. O poder quer me pertencer, ou será tudo uma ilusão? Que falta de amor é este que me faz andar a cambalear? O amor que poderia acontecer e que na realidade não compreendo. Ou será demasiado amor a provocar tudo isto que sinto? Serei eu que sou pobre de espírito ou serei eu extravasado de inteligência? Porque não vejo com claridade, objetividade, concretamente? Penso acerca do modo que vivemos, penso no modo em que eu vivo, se vou sobreviver apenas pensando, se haverá complacência do Criador para comigo e me livre de tanta atrocidade que vejo e me apegue ao que é bom e morra em paz. Talvez eu me compreenda demais, porque está escrito que assim havia de ser, para, assim, perceber os meus limites, e poder sobreviver. Mas se eu compreendo há muitos outros que compreendem muito mais, mas que apesar disso não reduzem a importância do que eu sou capaz de compreender, assim como vice-versa, eu já me apercebi... O paradoxo de amar os desconhecidos e ao mesmo perguntarmos porque havemos de os amar se não sabemos se está ‘o bem’ com eles, estranha-me. Esta vida parece-me que é o caminho a trilhar para purificar as alma de encontro ao infinito depois de virmos do nada, ou do quase nada, do ínfimo. 7 Mil milhões de pessoas a elevarem a consciência humana no sentido de escutar o que é Divino e no entanto tanta discrepância entre os que têm a fé e os que não a têm. Tanta gente que não quer saber, que não quer compreender que é possível ver ‘mais além’, pondo a ideia de indiferença ou derrotista de que é impossível compreender a vida vivendo no concreto, no agora, no palpável. Pois eu sinto que não vivo no presente, como na verdade se prova que ele não existe, vivo no sentimento do passado com a expectativa do futuro. E no entanto dou a razão a esses que serão felizes, ignorantes que convergem na vida, se especializam, sem andar a questionar sobre o inquietante futuro incerto, coisa que têm que amargar ‘os outros’ (neste caso, EU) que antes do tempo ousam saborear as questões do infinito, vivendo numa incompreensão que parece ser compreensão, perdendo a ilusão da felicidade por não saber, numa vivência em conforto enquanto é a casa do vizinho que está a arder. Com isto tudo, falei, como tenho falado, de questões ideológicas, imagináveis, no patamar das ideias, que, aparentemente, nada têm a ver com a realidade, esta, a minha realidade, em que eu queria ser feliz, expressando-me, viver emocionalmente equilibrado.