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Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

O [meu] Conhecimento

     O Conhecimento fascina-me. Não sou o mais conhecedor, mas, mesmo que fosse, mover-me-ia o desejo de conhecer mais, ainda assim, mesmo que isso signifique um trilho de morte certa, de incerteza e de incerto sucesso. Com isto, acredito, efectivamente, no conhecimento e tenho fé de que a Sabedoria existe, embora, para mim, esse conceito [Sabedoria] ainda não tenha sido tragado na totalidade, ou seja, ainda estou a habituar-me de que Ele existe, como se tivesse vislumbrado um fantasma D’ ele, para já, mas que demonstra a resposta para aquilo que sempre senti e lutei tendo em vista se era possível alcançá-lo. Vivemos na era do conhecimento, diz-se. E eu também o afirmo, mas talvez só o seja, aparentemente, para uma minoria, aquela que retira dividendos desta era. Assim como eu acesso o conhecimento, tantas e tantas outras pessoas acedem a ele, pessoas com mais capacidades intelectuais e monetárias, com certeza, que lhes torna possível entrar numa espiral de conhecimento muito maior que a minha, e que retiram dele os mais diferentes proveitos. Pessoalmente, nunca tirei grandes proveitos monetários desse conhecimento que vem até mim e que eu trabalho em mim, nunca consegui seguir um caminho de aplicação económica do conhecimento - talvez porque as questões da minha existência se sobrepuseram a todo o âmbito monetário que poderia aspirar na minha vida, porque a parte sentimental e emotiva intrapessoal me mereceram muito mais atenção; talvez, também, porque em mim há humanidade, no sentido de empatia com os seres que me envolvem que elevam a minha moral e põe como objectivo particular o atingimento de uma filosofia transpessoal, pela qual não posso quebrar as regras que me permitem atingir tal conhecimento, portanto, o embuste económico seria para mim uma prisão. Porque sou eu um ser abençoado de informação (?) quando tudo indicava e indica que a minha vida seria um fracasso, porque eu não me inseria no mundo que me envolve e seria um ser rejeitado, como o fui, para sempre, sem futuro à minha frente – questiono-me. Sim, apesar da minha humanidade, eu tenho muito contra os homens, eu chego a sentir o ódio mais profundo pela mesquinhez humana, pelo pseudoconhecimento que normalmente é aplicado na maneira mais rude, egoísta e destrutiva da atitude humana. Eu tenho abjecção por seres que me envolvem, porque eles não me respeitam como eu o respeito. Mas sei que isto não é regra geral, digamos que tive azar em nascer aqui e não ser daqui mentalmente, pois, acredito que a regra é haver ‘pessoas normais’, com atitudes adequadas na vida, seja de onde se for, tenha-se o conhecimento que se tiver. Apesar do meu conhecimento, tenho a minha dose de sofrimento, talvez devido também a esta sofreguidão de respostas das questões da minha vida, porque o meu tempo urge. Sinto que nasci e vivi como um néscio e pergunto-me se ainda não o serei, porque é assim que me vêem, com certeza. Consequentemente, também eu retiro o proveito da parte do conhecimento que me cabe, e isso, a essência ou o suco que eu retiro desse conhecimento, é único. A minha interpretação de tudo o que eu tanjo com todo o meu ser é fonte da minha vida e é única, acredito nisso firmemente. A questão seguinte está em saber se é proveitosa essa parte da informação que eu retiro e processo, de todo esse conhecimento que eu analiso criticamente, e se é útil passá-la a outros, transmiti-la, ou ainda, se é bom para mim fazer isso, de modo a que não seja, apenas, uma perda de tempo, ou uma inutilidade a que me prendo e que não consiga desfrutar da vida no modo mais básico, ao menos, devido a isso. Sou impelido, como qualquer humano, a manifestar-me, sou um ser criativo por natureza, pois, a natureza humana é criativa de algum modo. Consequentemente, se interiorizo e construo conhecimento em mim terei que extravasar o que eu sei, o que eu sou, de um modo ou de outro, de tal maneira que eu sinto [em mim] que a minha (nossa, de cada um) presença neste mundo deixa uma marca, visível ou invisível, menor ou maior, através da humanidade.

Procurando acreditar na existência [de ( 2) palavras]

          Continuo procurando a razão da minha existência. Continuo na procura da resposta dos ‘porquês’ do que se passa na minha vida. Continuo na busca da paz interior e com a fé de que existe uma inteligência superior que é possível alcançar, e que a posso ter em todo o seu esplendor a rodear a minha vida. Continuo na busca de palavras que venham a ter significado na minha vida, que venham a ter a plenitude do seu significado em mim, no meu interior. Palavras essas que definem conceitos que são importantes para mim. Mas quero querer cada vez mais, também, que isso me parece uma utopia. Não conseguirei atingir os meus objectivos devido aos seres que me rodeiam que me negam o alcance dos meus objectivos, devido ao facto de eu não ter ‘social skills’, habilidades sociais, reacção social para viver em sociedade. Nasci e cresci tímido, mas isso não é, em si, a causa do meu insucesso, a causa do meu mal - estar interior, a causa da minha constante insatisfação na minha vida, do vazio da minha existência nesta vida real, a causa está exterior a mim, só pode estar (!), por mais que mo neguem. Em consequência disso tenho visto e sentido o melhor e o pior do homem, das pessoas, neste mundo em que vivo. Perdi a confiança das pessoas, sinto-me traído por quem me deu a vida e é mais próximo de mim. Como posso eu voltar a sentir que posso confiar em certas e determinadas pessoas (pelo menos) (?), como posso ganhar a confiança nas pessoas (se é que algum dia a tive)? Meu pai, esse traidor [e digo isto com uma mágoa enorme], um falso, que acredito ter condicionado a minha vida para sempre; esse homem que me fez duvidar da bondade natural e humana, me fez desconfiar daqueles que poderão (iam) ser meus amigos. Devido a todas as circunstâncias em que nasci, elas me perseguem e me querem destruir, desde sempre, e agora sei-o realmente, consigo ver isso, e mais do que nunca, que isso (as circunstâncias em que nasci me querem destruir) é verdade. Enquanto eu tinha para dar também ia recebendo, agora, que não tenho para dar, que necessitava mais do que nunca, de quem mais foi importante para mim, se já não o é, [dessas (2)palavras] agora que precisava de receber e sentir que realmente eu estava em sintonia, eu não recebo nem sinto. Meu pai magoou a minha maneira de sentir. Estou como que nu e não se dignam de me oferecer umas roupas para me cobrir, e estou envergonhado e sem dignidade. Sempre fui vulnerável na minha inteligência, nos meus sentimentos e sentidos [no geral, em todo o meu ser, mas com a certeza de que poderia ser forte como quem é forte se não estivesse traído em mim próprio] : eles que me maravilham com a demonstração de todo o dom que me foi concedido, são eles também que destroem o meu ser, por tal sensibilidade e vulnerabilidade não caberem (não ser aceite) no mundo em que nasci, o mundo que me envolvia e envolve, por circunstâncias únicas de falta de amor e egoísmo humano [meu pai é a causa prima da minha vida e do meu sofrimento]. E eu pergunto, porque tenho o direito de perguntar e indignar-me (!), haverá justiça neste mundo? Porque sai impune o injusto, o malévolo, o destruidor (?) Porque sai a rir, a gozar, ou ainda sabendo que errou e continuando a errar? O meu deus, onde eu me tentei refugiar, não existe, e a crença ( na existência de uma justiça ou de um deus) é apenas um paliativo nesta vida, como o foi até ao momento nesta minha vida, para que não soframos tanto, sendo essa crença (na existência de justiça ou de deus) a causa dos maiores sofrimentos e atrocidades que os homens causam uns aos outros, aos seres vivos, à terra]. Tenho tristeza por este clã em particular, e, mais profundamente por mim: não queria magoar e tento não magoar, e, no entanto, magoo e estou mais magoado do que ninguém no meio disto tudo. Realmente serei um louco (?). Porque me tomaram por tolo? Vocês tem de saber como me sinto - porque enquanto estou vivo é-me permitido queixar. Tudo de errado acontece na minha vida, em consequência do que sou e do que sinto: os outros são intolerantes comigo e fazem interpretações erradas acerca do que eu sou, tudo o que é negativo vem ter comigo, como se alguém tivesse embruxado a minha vida, como se tivessem deitado um mau feitiço sobre ela. [Pensei que não era supersticioso até a certo ponto da minha idade adulta para agora ter de admitir a mim próprio que sou mais supersticioso do que ninguém, porque vejo, acontecem-me e sinto coisas que são muito estranhas na minha vida e não sei como as hei-de acomodar na minha vida e viver com elas, já que sei que não me posso desfazer delas.] Meu pai desprezou-me (e despreza-me), não mostra sentimentos e emoções, e todas as consequências de tal (ais) atitude (s), provavelmente entre outras, que se dá desde o meu nascimento poderiam ser catastróficas para mim, não fosse eu um ser abençoado pela vida e, afinal, com direito a viver e a ter a minha prosperidade que meu pai desde sempre, assim como muitas outras pessoas, talvez por consequência, não conseguem ver e aceitar em mim, nem tem o altruísmo de a dar, como seja gente próxima que se coíbe de demonstrar o verdadeiro sentido da existência de tais palavras que procuro, de as entranhar em mim [Será que preciso de ficar doente para sentir novamente a amizade das pessoas (?), para sentir o melhor e o pior que elas tem para demonstrar - talvez a indiferença e a critica - (?) ] . É certo que os meus dias já estão em desconto, caminho já pelo incerto; o incerto de poder viver 1 ano ou 1 dia, com a fé de que terei sorte, e se a tiver ainda viverei ainda muitos anos mais e terei tempo suficiente para trilhar este meu caminho e ainda usufrui-lo com satisfação; ou então, ainda há sempre o lado negro da coisa: tudo se tornar pior e todo o mal que vem de trás entrar em pleno na minha vida e destruir-ma completamente. Tudo, na minha vida tomou dimensões desproporcionadas. Vivo constantemente na corda bamba, na queda, a qualquer momento, imprevista a curto prazo mas possível, na imponderabilidade do vazio, na injustiça da minha vida. Para muitos que lerão isto, dirão, tal como meu pai o fez, que sou um louco (com a mania da perseguição, ainda para mais), ou ainda ‘um queixinhas que tenta atrair as atenções para ele’. A verdade é que escrevo para verbalizar o que vai em mim, que não consigo expressar-me de outra maneira nem tenho para quem por causa de todos os motivos já ditos. Escrevo para tentar por em ordem o que sinto. Escrevo com a imparcialidade de quem não está precisamente e concretamente a pedir ajuda, como um desabafo, mas que no fundo a ajuda seria bem-vinda se o meu coração a sentisse como genuína. Bem, muita coisa mais será pensada do que dita, uns compreenderão outros criticarão negativamente [ou positivamente (mas, sinceramente, duvido que sejam criticas positivas], e eu digo: Não tenho estômago para vos aguentar, assim como vós não tereis para toda esta minha verborreia. Estou saturado.

            No romantismo, encontramos o amor, a agitação mais alta dos sentimentos, a alegria da sintonia de duas almas, ou de múltiplas almas, que vivem em exaltação dos sentimentos (que se desejam positivos), onde se encontram as motivações para se viver, o verdadeiro sentido da dualidade ou da multiplicidade do encontro das almas que se unem, mas, que, no romantismo, levavam (noutros tempos, mais propriamente) ao desespero, e/ou à tristeza da necessidade de proximidade do amor ausente e a tenebrosidade que causava na alma essa ausência, de algo que se necessita tanto, hoje colmatada pela facilidade de comunicação que alterou a relação entre as pessoas e a relação de amor que temos. O ‘amor’, esse conceito difícil de definir  concretamente. Apesar de ter o ‘sentido do amor’ magoado na minha alma, consigo conceber o amor tal como ele é vendo-o [interpretando o conceito de amor] de uma perspectiva exterior a ele. Sei que existe o amor nas mais diversas dimensões sociais: na família - pode existir o amor paternal, dos irmãos, só por alguém em particular, ou, generalizado e abrangente nesse clã; na dimensão da amizade; na dimensão sexual; na dimensão do emprego; etc. O amor toma, assim, diferentes formas dependendo dos contextos e quem ama pode não amar só numa dimensão ou contexto, pode amar por uma característica em particular ou por um todo, pode amar um ou mais, por mais que certas culturas o tentem negar. Agora a questão que coloco é: porque todo o meu amor degenera em ódios, desprezo/indiferença, mal entendidos? Sei que me falta o sentimento, ou ainda o que me define melhor os sentimentos, a falta de sintonia. O meu amor está toldado pela mágoa, pela descrença, pela distância sentimental das pessoas, como um astronauta que perdeu a comunicação com a nave, vejo-a mas não a sinto.

            Assim procuro acreditar na existência de 2 palavras (na minha vida): Amor Gratuito.

            As outras, palavras, procurarei depois…

Conversa extra

A mente não me corresponde de uma forma linear, não sei se só me acontece a mim ou a outra gente, nem consigo efectuar várias operações mentais ao mesmo tempo, normalmente. Parece-me que quando era mais jovem, até perto do fim da minha adolescência a minha mente funcionava de modo mais linear, mas com a idade adulta foi-se tornando o pensamento mais disperso, com maior dificuldade de concentração e sequenciação de tarefas, o que não sei se se prende também devido à utilização do computador, em que faço multitarefas.

Há muita maneira de escrever, segundo os ritmos que se consegue transpor para a escrita através da pontuação e da transmissão da ideia que presume maior ou menor rapidez/lentidão acerca do assunto que se está a falar. E pergunto-me: será que na verdade eu queria transmitir algo em concreto, neste momento, ou simplesmente divagar? Talvez divagar seja a resposta.

Gostaria de falar de emoções, amizade, amor, sexo e sexualidade. Gostaria falar do transcendente e do não palpável que são por exemplo esses temas. Psicologia, psíquico, mente também se englobam nesses temas. Gostaria de falar a verdade, ou daquilo que me parece ser a verdade, sem ter contrapartidas negativas, nem positivas, sem contrapartidas simplesmente. Gostaria de desenvolver e de que tivesse sentido esse desenvolvimento dos temas. Queria pôr tudo o que existe numa frase não muito comprida, apenas de algumas linhas, revelando com isto o meu lado mais prosaico, a minha narrativa não factual da vida, a vida dos sentimentos narradas com objectos, seres e/ou palavras que fazem parte do nosso mundo, e que o descrevem, para descrever o nosso mundo interior, como muitos homens que me antecederam já o fizeram. Ou ainda juntar o científico [os factos e as explicações da ciência que descreve o universo com precisão, que descobre as leis da física e da química] ao nível do psíquico e da imponderabilidade, da incerteza da conjugação imensa das coisas mais elementares do Universo e que o homem não conseguirá alcançar por mais tempo que consiga viver. Queria, desejava, que brotasse de mim a imensidão da inspiração e da motivação para isso, aquela que tinha na juventude sem no entanto ter a visão alargada que cada vez mais tenho, para meu bem ou meu mal. Como o simples pode ser complicado… Somos uma parte ínfima do universo, e no entanto ganhámos uma consciência  da grandeza da vida: de que existimos e de que conseguimos ver causas que provocam efeitos, que existem explicações, quer seja a nível cientifico, quer a nível psíquico, como eu tenho revelado a mim próprio, na continuação da minha vida. Somos pilotos de uma máquina que nos ultrapassa ,a nossa compreensão -e que tendemos a revelar, alguns, mais ou menos, não sei -. Divagando, semeamos o nosso pensamento no abstracto da psique que se encontra ligada por laços ainda estranhos e eternamente invisíveis – ‘eternamente’, porque eu ainda não consigo vislumbrar o fim -. Associo assim o que é contínuo ao que é descontínuo, a lógica de uma ideia com a lógica de outra como se isso fosse possível no mundo real, mas não é, (!) associo ideias que não têm sequência, e estão de tal modo ligadas que afinal não são visíveis por qualquer um, como se estivessem encriptadas apenas para nós, ou para alguns entre muitos [em ultima instância: para mim]. A emoção está lá, nesta escrita que eu digo, o jogo do pensamento é enorme, e quiçá se movam montanhas com ele. Todo o passado se projecta no futuro, tudo o que foi nos trouxe [me trouxe] até aqui. Mas só aqui, na escrita virtual este mundo é verdade para alguns. Só num mundo virtual é possível uma transfiguração para algo que não sabemos o que vai ser [não sei no que me vou tornar]. Eu sou espectador de mim mesmo, vejo-me através do meu tempo vivido. Persigo a ambição do El Dourado do bem-estar espiritual, e a verdade é que por enquanto, se existe, ainda não o alcancei, demasiadas pessoas mo proíbem, leis que estão e atentam contra a minha existência. Procuro gente de bem, procuro-a no mais fundo do meu ser, ele [o meu ser] perscruta o interior dos outros, e, ainda não descobri pessoas a quem pudesse dizer, ‘sim, aqui estão aqueles que me espelham’. Talvez ande desencontrado, porque perdido não queria estar. Queria fazer-me em sociedade, não sozinho. Aceito a vida tal como ela é, mas não consigo deixar de me questionar e lutar contra aquilo que me quer destruir e não compreendo porquê, quero que me deixe de perseguir a vida ou algo que nela existe, o azar que vá para bem longe e que eu me reencontre dia após dia.

A distância que percorri

 

 

    

         Começo hoje, aqui e agora, novamente, utilizando as palavras, desgastando o meu tempo, tentando transmitir o que eu sou a quem me que quer ouvir. Por outras palavras, ou por uma simples palavra: Recomeço. Não é a literatura nem o romance que me trás aqui, pelo menos não é somente isso que me faz escrever, mas sim, o facto de me atrair tudo neste mundo e neste universo, de ter tanto estímulo que me é subjacente. Atrai-me tudo o que diz respeito aos homens e a tudo o que o envolve, tudo o que me envolve. Busco respostas onde as posso buscar, ou seja através daquilo que consigo alcançar. Busco essas respostas na ciência, na Filosofia, na literatura, nas conversas mais banais, na experiência comum, perscrutando o meu interior e tentando perscrutar o interior dos homens e dos seres que existem, perscrutando a natureza no geral. Adoro a abstracção e a imaginação e a elas me ligo mais facilmente. Mas também gosto da realidade, daquilo que os meus sentidos conseguem captar através da minha percepção, a minha realidade. E sinto que alcanço voos nunca antes alcançados quando consigo conciliar o melhor dos dois mundos, o melhor da abstracção e imaginação com a percepção e a realidade, e consigo associá-los na forte inter-relação que existe entre eles. É fantástico (!) eu ainda estar aqui para contar o que vi e o que senti e vou sentindo nesta minha passagem pela existência. É fantástico (!) sentir esta dádiva que me foi concedida, que eu, por momentos, prolongados, senti que podia estar perdida. Eu não sabia onde era o norte, mas tive esperança. E eu ganhei mais um pouco de vida e ganhei imensas perspectivas com toda a experiência que adquiri das dificuldades. É certo que estou a passar por uma fase muito melhor do que as que tive e quero tentar agarrar esta oportunidade que me é concedida para transmitir algo que, porventura, ainda não percebo bem. É verdade que tenho uma grande incapacidade de ser um homem comum, acredito que nasci marcado para trilhar esta vida de uma maneira especial. É verdade que não sou um homem banal, mas não tenho que o provar a ninguém, a não ser a mim próprio. Senti-me tão longe de mim e afinal cada vez estava mais perto de mim, e estarei, se assim continuar. É verdade que tento adquirir e transmitir erudição naquilo que digo e que faço. Não quero ser fanfarrão nem o sou, tenho essa sensação que acredito ser verdadeira. É óbvio para mim que para muitos eu sou um ser desprezível, que tenta apenas um lugar altivo, um ser que não capta a atenção de ninguém. Mas também vos digo, que quem não se vê e se conhece também pode ter mais influência no mundo ou nas vidas de muita gente e seres do mundo do que aqueles que se mostram e que parecem inteligentes e pessoas fora do comum. Todos os seres estão interligados. E quero agradecer a força dos seres que me tocam no melhor dos meus sentimentos e da melhor maneira e que me fazem ter esperança, além de me fazerem sentir um homem deste mundo. Parece-me que a inter-relação entre os seres é do mais maravilhoso que pode haver, sentir-mos os nossos sentimentos a vibrarem nesse espaço infindável, dar-mos e recebermos o que de melhor pode haver, sentir o ‘feedback’ daquilo que somos. Viver é uma vitória, conquistada à partida, sobreviver é uma luta contra o desconhecido.

            Neste momento sinto-me um homem mais livre, porque me vou despojando de toda a carga de inutilidades que me pesavam no meu dorso tal e qual um burro de carga, como uma besta rendida à incompreensão deste mundo e da vida que o envolve, e também devido à sorte, não o posso negar, e, porque não dizer também, a Deus, esse volatilidade que cerca a minha vida. É verdade, senti-me pressionado na vida pelo peso que recaia sobre mim. Senti-me a perder tanto (!). Senti que estava a resvalar em lama para um fosso. Senti a fugacidade da vida, e senti que poderia não sobreviver para contar. Mas afinal, mais uma vez, me senti um ser abençoado e aqui estou eu. Afinal a minha vida não é das piores vidas que existem, e o que senti e sinto faz sentido (!). Mas também sei ver por outras perspectivas: somos carne e um dia seremos um monte de esterco (passe a expressão), por mais que nos custe a aceitar isso. Quantos bloqueios não tenho na vida (!). Quantos entraves ao meu caminhar! Quanta incapacidade de reacção (!). Como sinto nas profundezas do meu ser o saber a questão de que não estou preparado para agir quando deveria agir, não sei que volta hei-de dar a esse bloqueio. Não vejo o momento de estar preparado, mas sei que ele está cada vez mais próximo. A minha ansiogénese é alta, mas já foi muito pior, e ela está comigo há milhões de quilómetros atrás. Quantos nervos não foram abafados (!), apesar de me sentir como uma bomba atómica prestes a explodir. Quantos sonos dormi sem descanso (!) já faz tempo. Mas agora já vejo tudo a ficar mais claro, como uma praia de águas límpidas e pouco profundas, onde se lhe vê o fundo. Eu vi os meus problemas de dentro para fora. Eu continuo a vê-los, e que me seja permitido vê-los para sempre. E isso faz-me superá-los. Agora, sinto que há uma voz que chama por mim, vejo as minhas acções a prolongarem-se pelo tempo, vejo os meus gestos a fazerem, cada vez mais, sentido, apesar de estar sozinho. Mas gostava de ter muito mais tacto nesta vida. Agora sinto que sou cada vez menos um estranho em mim mesmo, era o mundo que me envolvia que me causava essa estranheza, como que a querer marginalizar-me, como se eu fosse algum criminoso. E assim as minhas vicissitudes tendem a serem comuns com as das outras pessoas. As vicissitudes do mundo tendem a globalizar-se. Com tanto adiamento de compensação, em toda esta minha vida, vi a descompensação a apoderar-se de mim. Contudo, embalei os meus sentidos ao sabor da música, e prossegui, devagarinho. Assisti à minha decadência, assim como vi e vejo a decadência daqueles que não estão na norma, daqueles que têm de se subjugar, ou quando não tanto, simplesmente viver o que lhes é permitido. E assim vi homens que se encontravam num pedestal, como reis no seu trono, comungando dos valores que lhes deram e achando que viviam segundo a lei da vida, quando, na verdade, vivem segundo a lei que lhes foram impostas. Vi homens que não permitiam viver aqueles que vivem sofregamente, não conhecendo a Lei do Universo, o traço mais ténue que separa a ficção do que é realmente este mundo. Tive momentos em que as lágrimas me escorreram pela cara, profundamente sentido do que a vida me fazia sentir e me revelava a cada segundo que passava. Não conseguia sentir o amor e a compaixão de quem estava próximo, um alento de esperança vindo de fora de forma clara, que me trespassasse o mais íntimo do meu ser, que abolisse a apatia a que estava votado. Assim era o meu dia-a-dia, magoado por aqueles que me rodeavam, a sentir cada vez mais próxima a morte em vida, a vegetação a tomar conta de mim a cada momento que passava, sentindo o sofrimento que fazia e faz desacreditar as pessoas que dizem que ajudam. Assim foi e assim é. Quanta indiferença (!), quando a gente mais necessita, quanta incompreensão e desentendimento (!), como se tudo fosse em vão, como se um ser nascesse para ser carne para canhão, pisado e gerido por quem tem menos valor, do que quem é gerido, quem é digno. Sim, acredito que há homens com mais valor e homens com menos valor. Porque me sinto indignado? Porque me foi negada a dignidade [.(?)] Porque caminho sujo e vacilante nestes trilhos de morte? Porque não me é permitida a coragem? Ah! Mas eu preservero, só que sinto que preservero para o nirvana. Eu diria que foram muitos dos que passaram pela minha vida que me tornaram num tipo esquisito. E agora? Fogem de mim e abandonam-me, aqui, lamentando-me de tudo aquilo que não posso mudar, engolindo em seco, revoltado, tentando gerir esta cólera que me ia consumindo completamente. Ah! Mas isto tem que mudar, este mundo tem que cair. Devolvam-me o que me foi retirado! Se pensam que me vou harmonizar com o mundo, porque esta vida são dois dias, estão enganados. As palavras têm que ferir quem fere, quem magoa tem de ser magoado para saber o que é a dor. Não se deve ferir quem não fere, como vingança de um mal feito, mas ferir quem fere. A luta tem de existir. E sei que podem mostrar-me os caminhos, mas se não for eu a trilhá-los, de nada servirá o atingir da meta.

E todos os sentimentos possíveis e imagináveis passam por mim, eu os reprimo, eu os ignoro, eu os mato, ou eu lhes dou vida e continuidade ou refinamento. É a vontade de algo que é superior a nós. Sou um escravo dos sentimentos, um seleccionador de emoções, um grande seleccionador (!) e ‘manager’ de sentimentos. A emoção é o resultado, os sentimentos são os jogadores. E neste jogo, constatei que optar pela táctica da ira e da frustração não é solução para encontrar resultados positivos, mas sei que não podemos ficar indiferentes ao que os outros nos provocam neste jogo. A contrariedade nos sentimentos faz parte da vida e faz parte do jogo e leva-nos ao resultado. A fuga à envolvência dos sentimentos também é um esquema que se utiliza como táctica para superar momentos de ataque ao nosso ser.  E contra os inimigos e adversários digo que não têm culpa de eu ter nascido e ser quem sou, mas porque hei-de eu ter culpa de eles terem nascido e serem quem são? Se eles não contribuem para o meu ser, porque tenho eu de contribuir para o deles? Ah! Mas eles hão-de redimir-se.

Ontem, como tantas vezes, observei a chuva miudinha que cai frente ao poste, que por sua vez, ilumina a árvore, o pinheiro que está por baixo, produzindo uma sensação de calma, nestes momentos em que medito, estas noites frias, em que recebo o calor da aparelhagem eléctrica. Por outro lado oiço a música que me envolve e envolveu a minha vida. Retomo reflexões que, pensei estarem perdidas, associações do pensamento sem fim, nesta intrincada teia que me faz crescer e compreender, na medida em que encontro lógica nessas associações e que, muitas vezes, me são negadas pela minha paixão, o meu coração, as minhas emoções, que anda por vezes exaltado com tudo o que tenho passado. Para onde sigo não sei. Mas não sou capaz de seguir o caminho do homem comum. Estou, neste momento, desprendido do mundo e, no entanto, fisicamente, como todos, não posso viver sem ele. Imagino que há coisas que não podem ser ditas antes da altura e do local apropriado. Perscruto esses momentos para dar vazão ao que sinto, para poder viver mais tempo, para ter mais equilíbrio. No entanto ainda me sinto terrivelmente desequilibrado a certos momentos, que querem fazer voltar tudo o que senti, querem assaltar a minha vida de novo. Ainda me encontro perdido muitas vezes sem perceber o contexto que me envolve. As minhas palavras buscam pelo eco das montanhas, pela vibração dos seres, para que o meu som nas se apague em vão. É estranho acontecer nas nossas vidas que vemos todos os perigos à nossa frente  e, no entanto, não conseguir-mos desligarmo-nos, desviarmo-nos ou evitar-mos esse caminho perigoso, como se o destino estivesse escrito, como se eu visse que havia algo a evitar mas o não pudesse evitar como se tudo fosse como um sonho em que vemos os precipícios e o que se está a passar mas não conseguíssemos entrevir nesse sonho pré-determinado. Na verdade, não sei porque levo tudo tão a sério, quando alguns levam tudo a brincar. Eu mesmo já um dia levei a minha vida a brincar. Não nos podemos deixar amarrar e devemos agarrar-nos aquilo e aqueles que estão em sintonia connosco. O sentimento de liberdade é essencial, o vermos os outros com olhos de ver, o sermos capazes de distinguir o trigo do joio, o bom do mau, e atacar-mos tão cedo quanto possível aquilo que está errado, se pudermos…  É importante também, para preservar a nossa liberdade, não perder o respeito por nós próprios e pelos outros. Sei que no meio de tantas palavras e ideias, tal como eu sinto por vezes, a linguagem humana parece ter tanto de útil como de inútil. Como pode parecer inútil a conversa quando o que precisamos é de sentir um carinho recíproco, um afago e um desejo meramente e sinceramente humano, de alguém com quem nos identificamos. Sabes o segredo das palavras intemporais? A linguagem não é tudo e deve fazer parte de algo mais abrangente nesta nossa dimensão humana, senão não fará sentido. É certo para mim também que quem tem saúde e estabilidade muitas vezes não produz e vive muitas vezes para o prazer somente, tenho constatado isso (Ah! Mas tenho a certeza que quando encherem a barriga de prazer vão produzir mais, ou então, nem por isso). Mais, a linguagem plastifica o mundo, dá-lhe forma na nossa mente, e permite-nos conhecê-lo melhor, cada vez mais. Mas chegamos a um ponto em que os conceitos não chegam, a linguagem não é tão abrangente quanto isso, tende a saturar-se com tanta repetição e entropia das palavras. Conquistando este mundo, o das palavras, podemos ir mais além na nossa mente. Associamos ideias e momentos cada vez maiores e com mais intensidade, compreendemos conceitos complexos e abstractos, a metafísica começa a deixar de o ser, atingimos novos recordes e os limites deixam de existir. Porque produzimos e descobrimos novas coisas quando podíamos ficar num patamar de estabilidade e relativa felicidade? Ainda não o sei. Algo nos faz mover. Nada está parado, em termos absolutos. Nada é imutável, por mais que tentemos descobrir ordem e padrões em constância, por mais que tendamos a buscar regras gerais para as coisas. Será que haverá leis no Universo? Algo onde se possa aplicar a ‘causa-efeito’ onde quer que seja, onde conseguimos confirmar que isto provoca aquilo, em qualquer parte? Tudo é relativo, e é relativo a sistemas. E, assim, oiço na minha mente frases como esta: ‘Agarra o sol enquanto ele brilha, entranha-o dentro de ti e fá-lo expandir em ti para que tu sejas uma estrela neste Universo, também’. E pergunto-te: Como podes amar quem não se move, quem não se demove do seu sentir? Como podes amar quem te cega os olhos com a luz da mentira?; Como pode um homem seguir se tem medo de que tudo lhe faça mal, de que tudo o possa liquidar?; Queres o poder, a sabedoria ou o dinheiro? Fará sentido tudo isso? Será que a busca última do homem não é o conhecimento que permita responder à questão última? – Olha-me nos olhos sem ficares indiferente, se fores capaz. Eu faço a gestão da minha vida, porque querem outros fazê-la por mim, porque não me deixam fazê-la? Estou cada vez mais distante do que algum dia pensei estar, nunca pensei que me pudesse sentir tão só nesta vida. Senti o peso da responsabilidade em mim, não sei porque motivo. Mas tento sacudi-lo, porque eu não posso com tais responsabilidades que eu imaginava poder suportar. Eu não posso ser usado como bode-expiatório. Dançando ao ritmo da música, movendo-se ao ritmo do mundo, caminhamos em sentido ao nirvana, pisando trilhos nunca antes pisados. Quereis chamar a atenção de quem? Influenciamos e somos influenciados. Sons que se imiscuem no ar, sons promíscuos, que retiram a beleza da pureza. Afinal que é isso da pureza? Porque olhas assim para mim? Não vês que eu não reconheço o que tu queres, mas sei o teu sentir comum? Não reconheço os teus desejos, mas sei quem és, como se todos fossemos iguais.

Mitigando a vida na busca de respostas

      Como pode um homem viver quando o mais básico lhe é negado? Como pode um homem, que anda com o coração na boca, em erupção constante, silenciado - em que lhe é negada a mais básica manifestação de expressão, uma palavra certa no momento certo – incapaz de pensar em sociedade, encontrar os elos de ligação que unem os homens, que o une aos homens? O mais difícil é não ser levado na corrente, mas há homens que o fazem. Há homens que se desligam dessa teia, conseguem libertar-se de uma (ou várias) teia (s) humana (s), para cair noutras malhas, ainda mais fortes. E não sei qual será melhor, se ser levado pela corrente ou se libertar-se dela e não sentir a pertença a algo, algum lugar, a alguém - porque, reafirmo, ninguém é de ninguém, se bem que cada vez mais dependemos uns dos outros [talvez em direcção à unidade] –. E não pertencer e libertar-se pode muito provavelmente significar o entrar numa ideologia própria e sentir-se só - porque poucos se encontram que partilhem ideais tão vastos quantos aqueles [esses que se libertam] alcançam, ou então não os descobriram, ou então, ainda, serão cegos e não os vêem, esses, os seus congéneres, estando eles lado a lado, ao nosso lado. E esses ideais vastos têm em si e demonstram [no íntimo de cada um, que é capaz de ver e ouvir mais além, de chegar onde mais ninguém ousa chegar], um pensamento intrincado, uma refinação do pensamento, a atenção do Universo dirigida para o ‘Eu’, um mundo de palavras com um sentido intenso, que quando não compreendido e reconhecido, quando não nos deixam ser quem somos, nos leva a uma decadência. Há momentos mais ou menos longos, ou mais ou menos curtos, em que somos tratados de coitadinhos. É certo que, de certo modo, isso é importante, nesses determinados momentos, nas nossas vidas, como uma mão que nos é estendida para que possamos subir o palanque, quando a força ou a falta de jeito nos falta. É um sinal de misericórdia desses que connosco se deparam, um sinal de que um dia também podem precisar dessa mão que foi ajudada. Mas um homem tem que lutar, seja de que forma for, para que não se reduza a uma insignificância, para que não seja tratado abaixo de cão e não fique prisioneiro em si próprio. Quantas palavras vãs não são [proferidas pelos outros e] dirigidas, erradamente, ao ‘Eu’ (!). Quantas vezes é necessário esquecer ou engolir em seco (!). Quanta banalidade e baixeza se ouve e se vê (!). E o ‘Eu’ capta esses momentos do interior humano e forma o ‘mapa genético’ desse interior que se manifesta, desse interior que é observado por uma mente que penetra no fundo dos seres. E o ‘Eu’ surpreende-se com o que vê – que é como quem diz: com o que sente -. Lembrai – vos, vós que andais com o sentimento de impunidade, a liberdade tratar – vos – á como agires. E é um jogo de sentimentos que anda na baila, uma brincadeira com sentimentos que fluem complexamente na sociedade. Porquê este medo de influenciar e ser influenciado (?), se sabemos que hoje, mais do que nunca, este jogo é vivo e excitante. Porquê o medo de sair do mais difícil (?): o equilíbrio utópico que se procura. Mas o medo alguma razão de ser terá, e eu, pessoalmente, respeito – o. Foi esse respeito e penso que é esse respeito que faz com que me respeitem. Houve uma altura, que reconheço na minha memória, em que senti um completo desprezo pela minha vida [por parte dos outros], as pessoas estavam votadas a esquecer-me - sinto esse sentimento como se fosse hoje -, eu não me reconhecia. Minhas mãos escorregavam pela encosta abrupta na esperança de encontrar uma última força e conseguir segurar-me nalguma saliência. Senti como um homem pode ser esquecido e o impensável dar-se a qualquer momento. Jamais o meu pensamento se projectava no futuro, como se deve projectar qualquer ser humano. E nada do que eu fizesse mudaria a mentalidade instalada nas pessoas, eu era algo do passado, uma esperança desvanecida. Eu estava desprovido da minha auto – consciência, ou não a reconhecia ou então não tinha a noção dela. Senti a minha sintonia perdida com as pessoas, não acreditava nem conseguia antever que forças me iriam ajudar a sobreviver. Jamais pensei recuperar um bocadinho do muito que recuperei hoje - como se eu tivesse recuperado –, o insignificante para alguns que para mim é tudo. Eu contornei, eu criei calo, eu estou insensível, mas sinto o tacto nas profundezas do meu ser, eu imagino tudo o que não posso tanger e a minha mente me permite alcançar. Afinal, seja de que modo for, eu sei que pertenço a uma mente colectiva, eu consigo compreender, à minha maneira que seja, as pessoas e o mundo. Aprecio a humildade e simplicidade antes de tudo num ser, o que aliado à inteligência, glorifica esse ser humano. O equilíbrio entre as qualidades e defeitos é algo difícil de atingir, mas eu acredito nessa possibilidade. E o meu ideal é válido, nem que eu um dia não saiba quem sou ou quem fui, mas, agora sei que ele é valido eternamente. Porque se querem silenciar as palavras? Porque uns tem o direito de influenciar e outros não? Porque uns fazem parte activa na sociedade e outros são seres passivos, apáticos, diria mesmo? O meu carácter é formado por um desejo intenso, como o de qualquer ser humano, sou dominado por emoções que revelam sentimentos e que me dominam intensamente. No entanto é-me negada a irreverência na mais primordial existência do meu espírito. Como pode um homem aguentar em tensão toda uma vida? Como pode um homem viver quando esse homem sente a sua vida pendente de um linchamento silencioso, como se o destino o quisesse fazer desistir? Desde sempre vi faces, olhares a cruzarem com o meu. Desde sempre sonhei e alguém foi sonhado. Desde sempre reconheci certas faces mesmo sem as vislumbrar. Desde sempre senti essa frequência [dessa onda, neste espírito sequestrado pela emoção]. Mas a contrariedade dos sentimentos impera. Essa fuga da envolvência, essa fuga dos sentimentos, das expressões, condena. Não espero encontrar a verdade, mas continuarei à procura de respostas, e serei um ser brevemente satisfeito, se as for encontrando, e as puder adequar à realidade, a minha realidade.

A água que dessedenta

Procurais constantemente uma água que dessedenta. Mas a verdade é que tendes cada vez mais sede, mais necessidade dela. Essa água não vos é imprescindível, no entanto fazeis como se fosse. Tudo gira em volta desse desejo, por isso ireis morrer a lutar pelo supérfluo, e direis que é em nome de uma entidade, direis que é em nome da vida. Mas é em nome da inconformidade e da falta de sentido que trilhais caminhos, na busca de respostas. E mais, cortais braços e pernas e cegais, sobretudo tentais cegar os outros – atirais terra para os olhos de quem não se pode defender -, para que vós estejais acima de tudo, acima dos outros, esse é o vosso prazer, homens de topo que deixais vossos filhos na escuridão. A verdadeira água que dessedenta está na fonte eterna - nem eu sei qual é -, e não alcançável aos lábios do seres comuns. Muitos seres que nascem não conseguem enxergar essa fonte, sentem-se no direito de tudo, como se a liberdade lhes pertencesse totalmente, e seguem os desejos da moda, seguem a bebida que os integra numa sociedade que é falsa, e bebem o líquido que lhes tira a vida, ao contrário do que eles pensam, em nome de amizades que na realidade não existe. Vivemos lado a lado com a pureza e com a imundície. Mexeis na porcaria e isso dá-vos prazer. Que loucuras! Mas a quem se pode atribuir culpa de tais actos? Não se atribui, mas cada um assume os seus actos, nem que não veja que tal está a acontecer. Qual será o bom caminho, o caminho a escolher? Cabe a cada um procurá-lo. Não há saída, a verdade é que esta terra é um labirinto, mas sem saída possível enquanto seres perenes. Então a única saída que vejo como possível de ser alcançada é o fim, o nirvana, a eternidade do Universo. Podereis encontrar respostas, mas não encontrareis saídas. Podem prometer-vos saídas e esperança, mas tudo isso é falso, excepto a esperança que quando reside em vós vos faz acreditar mais um pouco de que algo faça sentido no fim de tudo, que os nossos passos não sejam em vão, na busca daquela água que dessedenta eternamente. A vida é tudo, a morte é nada. As leis dos homens não imperam, mas sim a lei do Universo. Um homem é um animal antes de tudo, e como tal age coerentemente com aquilo que é em primeiro lugar. Ele terá que se transcender para que os seus ritos animalescos sejam ultrapassados na compreensão do que o envolve. A verdade que tento alcançar faz-me voar mais alto, como penso que todos o terão que fazer, para alcançar a visão de uma águia. Sei que serei eternamente um ser finito. Sei que há forças antitéticas e paradoxais que regem tudo o que possa existir, sei sobretudo que na hora da minha fraqueza tudo de mau pode acontecer, se estiver prisioneiro. E temos de dar o braço a torcer porque sozinhos neste mundo não somos nada, temos de beber a água embotelhada. Mas essa água embotelhada, que me dessedenta por pouco tempo não me serve. E estou traumatizado, porque me fizeram passar sede. Não me quiseram matar a sede e agora aqui estou eu à procura da água que é o elixir da alma. Se eu pudesse, eu seria. Mas querem-me pôr a máscara de mau. Então controla-te (!) e verás que a maldade que vez em mim, mora em ti. Bebe dessa água, para esqueceres quem sou, porque se não vires quem sou agora, no fim será tarde de mais. E se queres pôr-me a máscara de bom então, duvida e olha novamente, para isso alcança o cume da montanha mais alta que houver, num dia límpido com o sol a brilhar por trás de ti, e vê, sente que na verdade ninguém é quem é, somos apenas reflexos dos momentos, um sistema que irá ser o que sempre foi, algo único que ficará na memória, enquanto a houver, que será parte do Universo no fim de tudo, como sempre. E agora sabes quem sou? Eu também não, mas tenho esperança. És animal, mas podes ir mais além se desejares fortemente. Mereces aquilo que tens e que és, e assumes com a vida, em última instância, aquilo que fizeres. Ainda pensas que podes voltar atrás? Nunca há retrocesso, há incomensuráveis caminhos, mas o que foi, somente é, e só te resta o que será. Mergulha nesse oceano de águas límpidas, é bom esse ambiente aquoso, sentes-te como se fosse o teu ambiente natural. Talvez um dia tenha sido, mas já não é, essa é a realidade actual, e agora caminhas em busca constante da água que te dessedenta, ora conscientemente ora inconscientemente. Eu caminho constantemente nesse objectivo que se tende a alienar. Começo a acreditar fortemente que alcançarei outro objectivo ainda mais inalcançável. Porque sempre me fugiu o que estava tão perto de mim, o que era mais fácil de obter, como se Algo me dissesse que tinha que seguir o caminho mais difícil? De quem é a culpa? Porque estou aqui sem poder voltar atrás? Estou sequioso e não sei qual o motivo, se acabei de beber água. Vou beber Água, novamente.

Eternamente incompreendido

    Sinto como sinto. O vibrar da vida em mim. A eterna dor de sentir. Sentir quem sou. A infinita sensação de não pertencer a este mundo, a larga marginalização que me envolve, as infindáveis questões que só levam a outras questões, o nirvana, as perenes respostas que por vezes me satisfazem por um momento. Talvez seja tudo minha culpa, e sei que é. E a ninguém mais se deve este modo de ser, esta sensibilidade desmedida, esta admiração que provoco onde passo, este desprezo de quem não entende e olha fixamente, como se o olhar lhe desse respostas, como a querer descobrir o que vai na alma daquele que é ousado. E eles olham com superioridade, mas é a inferioridade que está em mim, na maneira de me manifestar, que até faz parecer verdade essa superioridade. O medo do desconhecido, eles fogem a sete pés dele. E não sabem o que os faz mover, não sabem porque são assim, não sabem porque agiram e agem como agem. Eu já saberei alguma coisa? O tempo passa, e eu tendo a sair derrotado, eu sinto-me sempre um derrotado. A nossa luta é tão em vão quando estamos deslocados de nós. O nosso tempo é tão breve, que não cabe nele quem tudo quer. Mas sou eu o culpado, eu sei. Mas não só, então e os outros? Quem me ensinou e me fez sentir assim? Talvez nunca encontre o meu lugar, porque ele não é aqui. Estou aprisionado. Quero libertar-me. Mas estou tão longe de onde queria chegar…imagino-me lá, nesse sitio onde existem valores, onde os meus passos me levam ao objectivo que desconheço. E toco a utopia: se eu fosse espírito somente, então eu seria EU realmente. Mas, assim, com este corpo, sou tão frágil, como se tivesse muito a perder. Queria ser, como os outros, não belo, não especial, não feio, não marginal, normal, normal. Sei que uma vez ultrapassada a fronteira do tempo, o regresso não é possível, apenas resta o futuro, o consolo de que tudo está à minha frente. Não quero ser rei do mundo, não quero ser rico, as minhas ambições são exíguas, como a senda por onde trilho, só peço o meu lugar, isso e somente isso. Mas há espectros que me acompanham constantemente. Apesar disso tenho fé, a dor de cabeça há-de passar. Mas tenho a certeza, que a solidão há-de lavrar fundo os terrenos da minha alma. Não sei porque é esta a minha natureza, eternamente incompreendida. Porque terei eu de ser assim, esquecido porque não manifestado, pisado porque não alado.

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