Ficar melhor [get better]
This is not America. Isto não é o paraíso. Isto é um mundo de sonhos, enquanto pudermos dormir. Eu deixei de poder dormir. O sonho está onde o céu é o limite, e o meu limite é precisamente o limite físico que não me deixa ir mais além, porque o céu já ultrapassei, para o Universo e mais além. O sonho está precisamente na existência de limite, quando transpomos esse limite então deixa de haver sonho para haver algo concreto, mais além, que podemos tocar ou não, e talvez a nossa desintegração comece…just be … sê, simplesmente – mas sem asas não posso voar. Negam-me o sonho, a pensarem eles que eu ainda sonho, mas eu já o transpus (!), feliz ou infelizmente. Negam-me o desejo, o óbvio, o humano, e fazem-me sentir de tal modo como que, se de tudo o que o homem sente, há coisas que não são humanas, como se o meu sentir não me fosse permitido. Chego a odiar a cultura humana que me aprisiona e a falta de sorte para encontrar o meu lugar e os meus. Mas eu estou de tal maneira a desintegrar-me que já não consigo encontrar o que quer que seja, mas simplesmente vou desintegrando-me e esquecendo o que para mim um dia parecia uma evidência, ou pareciam evidências. Perco-me no tempo que passou a encontrar as causas e a sua solução para tudo isto, mas parece-me uma tarefa cada vez mais impossível, precisamente pela complexidade que tomou o meu ser e a minha vida. Sinto-me perdido neste monólogo interior, só. Sinto imensamente a vida, mas não sou capaz de me sentir bem, como se o meu bem se tivesse esvaziado, e agora não podendo dar também não recebo. Pode ser… may it be… pode ser que tudo tenha sentido. Pode ser que tudo não tenha sentido. É tão estranho esta maneira de sentir (!), tão paradoxal (!) que esgota. Sinto uma fraqueza enorme naquilo que sinto e que parece ser tão forte e incomensurável que move o mundo à minha volta - e é curioso, agora estou a testemunhar isso, ainda me foi permitido isso -, e, apesar disso, não haverá ninguém que compreenda, como se isso, o compreender e o haver alguém do lado de lá, fosse importante e necessário. É tão raro este mundo (!). É tão rara a minha maneira de sentir. A verdade é que me parece que não sou original, sou uma cópia imperfeita de alguém que já existiu and that the way it is, é simplesmente assim, por mais que eu disser que estou a morrer isso interessa a alguém? And it is just the way it is a minha vida não tem mais valor do que qualquer outra, e eu até consigo entender a dimensão dessa ideia, e vejo a imensidão do que isso significa, mas pergunto-me porque eu tive que me rebelar contra o sentimento de pequenez e lutar contra o que não sou capaz de mudar. Para que dei eu tanto valor à vida quando ela não vale nada. Pelo menos o valor da minha foi sugado. Sou um estranho nesta vida, um estranho noite e dia. Só espero por um dia bom, one fine day . Poderá ser um dia bonito. Sol e céu azul, límpido. Um dia de sonho novamente, em que sou importante para mim mesmo, e basta. Em que vivo indiferente a um curso da vida que não me pertence, em que sou anónimo. Caminho, em dias ensolarados, a curtir o som da vida e dos homens sem isso me fazer o menor efeito, livre das drogas que inebriam a minha vida, oiço a música sem por isso estar nas nuvens, sem que ela me afecte tão profundamente, como ousava fazê-lo. Não tenho nada mas sou feliz, não tenho medo de nada, já faz tanto tempo, nada me intimida, nem os trovões nem as vozes altivas e grossas de quem não tem valor, neste mundo imenso, de justiça, paz e fé. E o dia foi belo, e tenho sono, um sono tão perfeito que nada mo pode tirar, nem a paz que ele me traz. E eu descanso e acordo vigorosamente, cheio de plenitude da vida sem que isso signifique o mínimo de cansaço. A minha vida é um filme, e eu sou a estrela, e não tenho medo de ser bom, o melhor de todos, e ninguém mo pode negar porque para mim é indiferente. É bom o que sinto, e nada nem ninguém pode mudar esse sentimento. Eu faço parte da juventude da nação, a nação em que acredito, e morro pela pátria, lutando pela liberdade do ser humano, que a pátria me quer dar. Lutamos em busca de raridade, pela raridade dos momentos bons. Tivemo-los e nunca mais os teremos, mas procuramo-los insistentemente, eu procuro sabendo que nunca mais serão os mesmos. Mas continuo revoltado contra o sistema da vida não me aceitar. Normalmente eu deveria aceitar o curso da minha vida e calar e nem me aperceber de muita coisa, mas percebo, e é esse o motivo da minha infelicidade que eu quero transformar em felicidade. Eu tenho convicções. Estou sozinho no que digo e faço, sou a pior merda que pode haver em muitos olhos e não significo nada para outros tantos, mas eu acredito que sou bom no que digo e que faço, e quando digo cai, cai mesmo algo ou alguém longe ou perto de mim, por vezes acontece. Mas também pode não acontecer e isso não quer dizer nada, mas por vezes quer. Então agarro nos meus pensamentos e mexo o universo, não sei onde mexo mas mexo, não sei o que toco nem onde toco, mas toco e construo e destruo. E nada me pode parar porque a origem não é detectada, até pode partir tudo de mim, mas na verdade nada é identificado como tal. E no entanto eu tenho a chave secreta. Mas ninguém sabe, e continuam a procurá-la sem saberem bem o que fazem. Eu só quero ficar melhor get better…