Magnificat - Álvaro de Campos (Heterónimo de Fernando pessoa)
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Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Florbela Espanca
Balada, um termo relacionado mais com a música, nos dias que correm, com um tipo de música que poderemos de classificar como sendo mais calmo e relaxante, diria que até relacionado com o ritmo do amor. Além disso terá uma espécie de relação com a erudição, erudição, esta, que passa por uma maneira de sentir vasta e variada, apesar de auto – insuficiente, [– pessoalmente, passe a falta de modéstia, posso dizer que me sinto um erudito, dada a ‘erudição’ nesses termos, ou pelo menos já fui um, agora sem o sentimento emocional de outrora]. A balada está de certo modo relacionada com o Romantismo, que por sua vez, em certos tempos, teve como uma das principais características a melancolia, a melancolia caracterizada, na maior parte dos casos, pela ausência do amor ou pela insatisfação do sentimento amoroso, por (ou pelo desejo de) um amor não correspondido. Romantismo este que tem, por sua vez, que ver com poesia.
Permitam que transcreva uma balada, Poema de Augusto Gil, que faz parte da minha infância, transcrevo-a tal como está em:
http://algarve-saibamais.blogspot.pt/2009/11/balada-da-neve.html
Balada da neve
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…
E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Augusto Gil
A balada, para mim tem a ver com uma/a batida, que pode não ser forte no sentido auditivo, mas ela provoca em mim uma grande reação sentimental, e por isso tem, neste sentido, uma batida forte em mim. Estou a ouvir neste momento uma verdadeira balada musical: R. Kelly – I believe I can fly, na sequência com outras baladas, segundo a consideração dos decisores que escolheram esta sucessão de músicas que consideraram Baladas. A minha vida soa-me a uma verdadeira Balada, a minha Balada – não porei ponto de exclamação no fim desta frase, sinto que devo simplesmente afirmar. Também há um termo brasileiro para Balada [pois é, eu sou de Portugal] que significa algo como uma saída para a diversão, em particular de noite, no fim de encontrar um parceiro, uma diversão romântica, que pode dar em algo… E nesta aceção da palavra também já tive as minhas baladas, digamos que inglórias, ou dizendo de uma forma mais suave, infrutíferas, e nem me vou alongar sobre o ‘porquê’ disso, porque isso já foi dito imensas vezes noutros posts, e hoje nem estou para isso. Eu bem que quero mudar o discurso, e aproveitar, no entanto o melhor que tenho, mas é difícil. Mas, continuando, a Balada mexe com os sentimentos [música de Sinead O'Connor - Nothing compares 2 u]. A Balada mexe com as emoções, porque sentimos algo de especial, uma emoção especial, se exprimirá. A magia deu-se desde que eu nasci, e muitas baladas tocaram meu coração - músicas sem uma cara mas sons que eu analisava tão puramente na minha mente, não interessava de quem vinham ou o que esse músico era ou fazia, bonito ou feio inteligente ou não, não interessava, simplesmente eu sentia o som que marcava (e marcou) meu crescimento, ainda hoje me interessam pouco os videoclips apesar de estarem mais acessíveis para ver, na internet -. A música desde sempre a marcar o meu tempo e pergunto-me querendo obter uma resposta emotiva em mim, até que ponto mudou o mundo e as pessoas(?) mesmo que elas não saibam que música mudou o seu dia – a - dia, mesmo que eles não conheçam tal música. Já tive a oportunidade de dissertar sobre o que eu sinto sobre a música, em muitos posts abordo sempre o conceito ou a palavra, mas foi no post com o título ‘A música – que me acompanha, me acalma, me exulta e me esconde’, de 15 de maio de 2008 [5 anos se passaram, meu Deus, como o tempo passa depressa, e ao mesmo tempo devagar na eternidade do tempo], é só fazer a busca por ‘música’. [mais uma de Delta Goodrem – Born to try]. Porque me marcaram, poderiam perguntar (?). Porque em lugar de ser um humano que ignora as músicas da rádio e me concentro noutras coisas, eu, precisamente ‘aparentemente’ fiquei preso na rádio, em especial para hoje, nas Baladas que passavam, na esperança eterna de ser feliz e ter um mundo melhor, como continuo querendo como se não tivesse crescido e o tempo não tivesse passado. Digo ‘aparentemente’, que fiquei preso, porque na verdade talvez tenha sido o contrário, talvez seja ela (a música) que me liberta desta introversão, desta reserva e falta de expressão pessoal de que tanto abordo noutros posts, desta repressão a que algo ou qualquer contingência do espaço-tempo me quer submeter. [Siga outra, Tina Arena – Chains]. E eu quero acreditar que posso voar (‘I believe I can fly’), mas estou preso com correntes (I’m in ‘chains), ou então penso que nasci para ‘tentar’ (I was ‘born to try’), ou então, quando penso que algo fala para mim, que há um Universo que quer que eu tenha o direito à vida, diz-me ‘Nothing compares 2 u’, <<Nada se compara a ti>>, o quanto eu não ficaria feliz se eu fosse um ser especial, mas não queria sofrer. Mas, talvez, quem canta uma Balada, tenha que sofrer para a cantar, para a fazer. E de novo o Universo canta para mim, Frankie goes to Hollywood - The power of love.
Poema em Linha Reta
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."
Álvaro de Campos(heterônimo de Fernando Pessoa)
O desejo de ser encontrado por esse teu sorriso, esse teu olhar profundo e discreto, essa tua beleza, única, é imenso e me encontro com teus olhos a todos os momentos, sem os saber medir. Medir esse teu visual é possível, mas o teu interior é incomensurável, esse interior que transparece em cada palavra tua, esse teu desejo de me encontrar. Enfim, sei que gostaria de ser normal, não sei se algum dia o serei, mas a força do teu olhar é ânimo na minha alma para eu um dia me tornar num ser mais sereno e satisfeito, satisfeito estou por te ter encontrado. É bom saber que para ti não fui mais um número, nesta imensidão de pessoas que nos envolvem, de mensagens que nos cercam, é bom saber que me encontraste e eu te encontrei, é bom ser teu amigo. Eu prezo os meus amigos, todos os que me abordam sabem disso e gostavam de ser meus amigos, mas tal é impossível, só alguns, só alguns, os especiais.
Depois de tudo pelo que passei, a solidão e a loucura da qual me apoderei, encontrei na sorte mais um pouco de inteligência, coragem e juventude; ou então é tudo uma ilusão desta breve calmaria – Mas que esta ilusão dure para sempre! Eu sou aquele que procurava e normalmente não encontrava, e eu era o encontrado que não se procura. Mas agora que encontrei amigos, se amigos eles realmente não forem, hei-de ter-te a ti, aquela que me desejou encontrar, me resolveu animar e fazer acreditar que amigos pode havê-los, poucos mas que o são por algum motivo. Sê tu o brilho que me ilumina nesta escuridão, dá-me luz e mostra-me o dia como nunca eu o vi, faz com que seja eu, realmente, o encontrado que se procura, tal e qual filho pródigo que regressa a casa. E juntos, amigos, seremos mais felizes e mais fortes.
Viajando pelo mar encapelado dos sentimentos, numa noite escura como breu, atormentado pela tempestade que quer destruir a minha embarcação, resta uma bússola que apenas consigo tactear, porque não há uma luz para me orientar. Nesta viagem interminável, conforta-me a esperança fugaz de saber, a inteligência e a experiência, que depois da tempestade vem a bonança, porque a tempestade não dura para sempre, todo o equilíbrio é reposto gradualmente, até ao nirvana, o equilíbrio absoluto. Nesta tangencia constante e obscura do infinito, no dia a dia, na senda do porvir, há uma força incomensurável e inexplicável que nos levanta do abismo e que nos abandona quando quer, a seu bel-prazer. Vogando por esse oceano que é a vida, na busca do paraíso, uma terra, um porto onde atracar, tenta-se sem parar, lutar, contra essa tempestade que mais hora menos hora há-de acalmar. E já no fim da noite, depois do temporal, com uma baixa moral, aparece um navio sem igual, que nos resgata não sei se para meu bem se para meu mal. E tudo acaba sem medo, foi apenas um pesadelo, agora posso respirar.
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