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Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

Metamorfose

        Nascer e morrer, o princípio e o fim da vida, o princípio e o fim de um sistema, (formado por outros sistemas) que se forma exponencialmente para falir e colapsar (pode-se utilizar o termo) quando a sua estabilidade se torna inviável. A mudança é uma constante. Nunca somos os mesmos, dependendo da velocidade a que se dá essa mudança. Os sistemas vão tomando novos equilíbrios à passagem do tempo [que ninguém sabe quando começou ou quando irá acabar]. Nada é fixo ou imutável, dependendo da posição do observador, e essa mudança, que é lei universal, dá-se mais ou menos rápido, ou, mais ou menos lentamente, mas, nunca, coisa alguma, está parada. E é formidável e notável a nossa disposição mental para descobrir partículas que não se vêem, essa capacidade fantástica de imaginar e dar uma interpretação coerente àquilo que os nossos olhos não vislumbram a olho nu e que está fora da interpretação óbvia dos nossos sentidos, a capacidade de associar e formar ideias que se podem aplicar na matéria. É o que faz reger o nosso cérebro, a ‘Psique’ humana, esse conceito que está no âmbito da criação do Universo e da existência do conceito de ‘Deus’ e do conceito de ‘Tempo’ [e que me deixa antever a existência de uma ‘Consciência Universal’] que nos permite tal façanha. Acredito, por estas palavras e neste momento, segundo as ideias que tenho, que é no ‘Tempo’ que reside a resposta essencial da vida e da existência. A nossa visão [a visão (humana) que temos das coisas, que é influenciada ou que provêm dos saberes, da ciência, da técnica e do saber utilizar os recursos que a terra tem, entre muitos outros níveis e esquemas de percepção, que são as extensões dos nosso sentidos], ultrapassou limites imagináveis [quando nos baseávamos na realidade do que existia, descurando, ou, não tendo em conta factores e variáveis imensas que nos ultrapassavam]. A nossa ‘auto-visão’ de hoje, Novembro do ano de 2009, que já vem sendo implementada ao longo dos anos, é de que o homem é capaz de tudo e que tudo consegue resolver. Tenho para mim que, é essa é a ‘imagem ideológica suprema’ que se passa às pessoas e que faz mover os homens, esquecendo-se da sua finitude, logo à partida, como se tudo seja possível aos homens. É óbvio que, se a visão que se tem não fosse positiva e esperançosa, o homem não evoluiria e cairia no vazio da existência. Apenas questiono o excesso de confiança que se quer passar, que é contradito pelos inúmeros factos que vejo na vida que me é transmitida, e alem disso, sobretudo, que sinto em mim como sendo incoerente com tal ideal esperançoso, apesar de a generalidade da vida que me envolve ‘parecer’ estar cada vez melhor [admito que faz parte do meu carácter esta minha maneira moderada de ver as coisas]. A interactividade do homem continua a crescer de forma inesperada e imprevisível (do meu ponto de vista). A dimensão que tomou (a que chegou) tal interactividade humana [a intensidade de comunicação e relação entre os homens], assenta na sustentabilidade que permite que tal aconteça, a ideologia existente por um lado [de progresso e de paz - de uma maneira geral entre os homens], o desenvolvimento das infra-estruturas e dos meios de comunicação por outro, que significa e engloba também a capacidade de produzir em massa, tais meios de comunicação, para consumo intensivo do mundo humano, mundo humano esse que tão abertamente recebe tais meios que o fascinam. [E isto leva-me a outra ideia – um aparte - que é a de que, toda esta sustentabilidade radica no consumo cada vez maior de e energia que por sua vez se pode tornar insustentável se as fontes de energia utilizadas se esgotarem e se não se descobrir maneira de se utilizar outra fontes de energia.]

Assim acontecem as metamorfoses debaixo deste céu azul [aparentemente]. Desde a crisálida ao insecto, a mudança dá-se em determinado espaço de tempo, e esse tempo é o tempo da metamorfose desse ser. O homem é dos seres que vive mais tempo nesta terra, cheia de seres e de vida [por enquanto]. Mas, mais que a mudança que se dá no nosso físico humano (a nossa dimensão física) e na nossa fisiologia, fascina-me a mudança que se dá na nossa dimensão psíquica. A mudança pode ser de tal forma, pode dar-se tão completamente, que a isso lhe chamaria ‘metamorfose psíquica’, no verdadeiro sentido da palavra, porque acontecem mudanças completas [ou quase] no tempo de vida da pessoa, em que uma mentalidade dá origem a outra, e acredito mesmo que haja várias mudanças de mentalidade ao longo da vida, variando de ser humano para ser humano, dependendo do seu grau de apetência e/ou predisposição e/ou motivação e/ou ainda da pressão do ambiente para a mutabilidade mental, em relação a esse ser, para que mude. E constato que a pressão para a metamorfose mental, hoje em dia, é enorme.

Perseguindo a luz.

 

Estou constantemente atrás daquilo que quero ser. E mesmo sem me aperceber, sou-o, desta maneira. Ando constantemente nas nuvens na finalidade de tocar os céus, de tocar aquele azul imenso que me inspira e me eleva a alma. E a tal altitude eu vejo o que me envolve, a imensidão do que me envolve. Mas quero atingir o sol. Quero chegar àquela estrela que está mais além e me fascina. Quero acelerar, mas ao mesmo tempo tenho medo. Prefiro ir sempre um passo atrás, pelo menos. Não gosto de me adiantar, mesmo que tivesse meios para tal. Não quero perder as sensações, mas também não quero ser possuído por elas, e, no entanto continuo a perseguir a luz. Quero sentir-me seguro, mas não quero cair na apatia e no vazio, por isso persigo a luz. Queria exprimir o que sinto de uma maneira que fosse perceptível. Mas o que sinto não é facilmente perceptível. O que sinto não é facilmente dizível. O que sinto é uma caixa de Pandora. O que sinto é puro ouro jamais encontrado. E continuo na senda da luz, na esperança de algo faça sentido. ‘Sentido’, um conceito criado pelo homem, para simplesmente dizer que a direcção, do que quer que seja, que exista fisicamente ou idealmente, é o fim – ‘do pó viemos e ao pó havemos de voltar’ -. E tenho uma paciência de Jó na busca dessa luz que me ultrapassa. Vejo o que mais ninguém vê, desta maneira, destas perspectivas que é pouco provável que vejais. Meu coração estremece cada vez mais, a dor agudiza-se e nada nem ninguém deste mundo consegue mudar aquilo que em mim se criou e a maneira como me criei. No entanto, eu amo e continuo perseguindo a luz que me ilumina, mesmo sabendo que poderei nunca alcançá-la. Neste mundo, hoje como sempre, salve-se quem puder. Peçam à sorte para que a vossa vida seja bem – aventurada. Eu só posso pedir por mim, porque posso muito pouco, porque sou um simples humano e não um deus. Já me esgotei a pedir por quem não conhecia, pensando que isso era bom, e, parece-me, isso foi indiferente, visto destas perspectivas com que agora vejo, mas talvez não possa dizer que foi uma perca de tempo, afinal foi a minha vida passada que não posso negar e esquecer. As vozes e o tipo de pensamento que fluem das escrituras perseguem-me, a sensação de Deus está sempre comigo mesmo que a tente negar. O que sinto está bem escondido e não se quer mostrar. Sou tão influenciado pelo que leio que talvez fosse melhor não ler. Talvez devesse apenas pensar e nem manifestar-me. Mas não, um homem não se pode deixar apagar, e ‘o caminho é para a frente’, nada volta ao que já um dia foi. Sei que a nossa energia não é infinita assim como a energia do que provoca a luz, tudo tem o seu tempo de duração. E assim me deixo abater com facilidade. Sinto o fim, como se estivesse próximo. Não sei se é a estas sensações que eu deveria dizer ‘viver cada dia como se fosse o último’. E escrevo, simplesmente para falar, porque falar faz parte do homem, e, para quem sabe escrever, deve-se escrever para não se esquecer do que isso é, e esquecer-se de quem se é o que se anda aqui, neste mundo, a fazer. Escrevo para deixar um trilho por onde possa voltar se me sentir perdido, para saber quem sou, um dia, quando o Alzheimer quiser tomar conta de mim, se bem que sinto, sinto intensamente, que não irei chegar ao limite que desejaria encontrar. Simplesmente sinto-me a definhar. Sinto que o tempo me ultrapassa e o espaço deixa de ser suficiente para mim. Imagino constantemente o limiar da vida, o momento último da existência, a linha que divide a existência do espírito neste corpo com uma outra existência que será diferente da que a agora usufruo, pedaços de mim que irão fazer parte daqui e dali no Universo enquanto ele existir, nalgum tempo, nalgum lugar, onde quer que seja. Será que devemos viver com ‘o fim’ sempre em vista para que possamos viver cada dia como se fosse o último? Eu vivo, mas isso é desgastante, retira muita energia que deveria ser investida de outra maneira, mas não pode ser de outro modo, sei-o. E sei que não é o fim que é o pior, que nos gera frustração, pior do que o fim e o que nos gera frustração e atrito em nós, em mim (em particular) é a sensação de que passámos o tempo a perder sempre um jogo, oportunidades, ou o que quer que seja, que devíamos ter conquistado para a nossa realização e termos consciência que não conseguimos. Realmente estou dessintonizado e dessincronizado com o mundo, muito provavelmente desde que nasci, ou talvez desde que fui concebido. Vejo e oiço, nas minhas reflexões, aqueles que me dirigem a palavra e que perturbam a minha caminhada na perseguição da luz, aqueles que me dizem coisa do tipo que eu ‘não era esperado’, como se eu não pudesse ser amado. Abomino todos estes seres que assim o dizem, eles estão a mais neste mundo e não eu. E mesmo que eu os abomine, isso não os matará, se bem que mereciam o sofrimento de setenta vezes o sofrimento que eu sinto. Para mim o tempo é escasso, e isso deveria servir-me de consolo como já um dia senti. Talvez eu não seja mais o mesmo, tenho uma nova vida, e alem disso sei quem fui, simplesmente sei quem fui, o que me torna num perito em se ser quem se é. Os sentimentos são altivos, o bem acima de tudo. E personificamos aquilo que sentimos. Mas também somos dissimuladores. Dissimulamos o que sentimos. Sejamos quem formos, seja eu quem for, estejamos onde quer que estejamos, esteja eu onde quer que esteja, o objectivo está sempre à frente, no agora e no depois, e nunca atrás, naquilo que não se pode recuperar. A luz nos iluminará até ao fim, assim seja, a luz me iluminará até ao fim, assim é. ' It is not my time '.

Refúgio

 

Quando tenho medo, refugio-me, se puder. Tenho medo de me perder, por isso me refugio. Refugio-me para saber quem sou. Ainda tenho um refúgio! Ainda tenho onde me abrigar! Ainda sei onde me encontrar! Não sei até quando, mas tenho, agora. Não quero estar sozinho, por isso me refugio. No refúgio me encontro com a humanidade. No refúgio reside a minha esperança. Porque neste mundo já não se pode ser quem se é, temos que ter um refúgio. Se refúgio significa abrigo, o abrigo é onde nos sentimos bem. E eu refugio-me das pessoas quando não estou bem junto delas, mas se pelo contrário quando esse meu refúgio deixa de ser o sítio onde me sinto bem, eu procuro outro refúgio. E, então, refugio-me na multidão e/ou no encontro com um amigo. Mas há refúgios que são breves, num curto espaço de tempo o deixam de ser. Quando trabalho, penso no refúgio do meu descanso, quando descanso necessito do refúgio do meu trabalho ou de um trabalho, da luta pela vida, da construção de um novo refúgio, porque nada é imutável na imensidão do tempo. E no meu refúgio eu tenho muitos refúgios. Há momentos em que os meus refúgios parecem desaparecer, todos. Nestas palavras eu me refugio, no encontro com os que lerem estas palavras eu construo novo refúgio. E ao pensar eu me refugio, no passado me refugio, no futuro tento criar o meu refúgio. Refugio-me na saúde, quando a tenho, refugio-me na doença e quando estou alegre, refugio - me. Os cinco sentidos são refúgios, que em certos momentos mais parece que não os queríamos ter. A música agradável torna-se incómoda e doentia - talvez porque tudo tem a sua duração e máxima intensidade, o clímax, o êxtase - nada pode demorar mais do que o tempo que deve durar, e cada um de nós tem o seu tempo. Então é momento para fazer uma pausa e refugiarmo-nos no silêncio. Assim como o refúgio do toque, tão imprescindível para que saibamos sentir o mundo, noutra linguagem, que se torna tão doloroso na sua ausência, ou pelo contrário, insensibilizados pela sua abundância desenfreada. Mais valeria não sentir o toque. Pensamos no outro como refúgio, não pensamos que no fundo pertencemos a nós próprios mais do que a alguém, e o refúgio nem sempre é o outro, e por vezes, ou muitas vezes, é tudo menos o que pensamos que é, porque nada é o que é, para sempre. Mas precisamos tanto de alguém… de nos dar e de receber, de encontrar com quem possamos compactuar – e o mundo muda, as pessoas muito, mas muito mais! Somos tão diferentes (!) que isso me chega a fazer sentir a solidão mais profunda, porque no fundo, se calhar, sou eu que o sou, apenas eu. Imiscuímo-nos nos cheiros que nos envolvem e chegamos a um ponto em que já não nos apercebemos mais desses cheiros.  Cheiros que nos alteram a percepção. E essa percepção por vezes torna-se de tristeza. Tristeza da ausência daqueles cheiros que cheirámos naqueles momentos que foram o nosso refúgio. Mais valia não cheirar-mos em certos momentos, porque isso tira-nos vida, como se o simples recordar desgastasse. Desgasta o nosso ser, ver que não podemos abranger sabendo que há um refúgio para lá daquele horizonte que nos fascina, saber que há aromas que nos iriam revigorar e nos devolveriam a alegria, passageira, porque seriam novos – se conseguirmos cheirar, ainda. O paladar é um refúgio também. Que também se acaba por perder, porque a vida é mesmo assim. Afogamos a alegria no comer. Outrora essa escassez quase nos tirava a vida - se bem que alguns comem para viver, os que se dizem inteligentes (para si próprios), os degustadores, como que intocáveis, onde o suor de homens que trabalham árduo enfrentando um sol abrasador para colher o fruto da terra é comprado por uma bagatela (como se eu pertencesse a esse grupo de seres), como se já nem o alimento fosse o mais importante, como se eles percebessem de qualidade dos alimentos, tanto quanto eu sei o que estou para aqui a dizer (como se fosse vergonhoso ser-se altivo na vida) mas deve haver homens privilegiados... deve mesmo -. Nós não somos sistemas isolados dos que nos envolvem, e o outrora ainda é o agora - basta abrires os olhos - porque nada podemos fazer acerca disso, a maior parte das vezes. Afogamos a tristeza no comer, um refúgio como outro qualquer. Deixámos de saborear o verdadeiro gosto da vida, o refúgio na produção intensiva, do desperdício, da técnica e da ciência, tudo isto, fantástico e útil. Diria que é magnífico este mundo novo, onde a inteligência comum dos homens atinge patamares - para muitos, que até eu, posso não conseguir imaginar -, mas que não deixa de estar longe da perfeição que nunca se chegará a atingir, mas cheio de funcionalidade, de perfeições confinadas a momentos e espaços determinados, a sistemas e pessoas que criam beleza, batem recordes, fixam essas perenes perfeições do mundo numa tela, criam perfeições, o clímax, o auge, êxtase de todo um caminho percorrido em busca de um objectivo, por tantos não alcançado, esquecidos no comum sentir dos tempos. Enquanto pudermos degustar o que sabe bem e enquanto o organismo nos devolver satisfação pelo que degustamos então devemos continuar a viver se nos for permitido. Desejo não chegar ao ponto em que os alimentos já não saibam o que souberam no passado, onde tudo se torna sensabor, e tornar-me um ser vegetal. Aí a vida não faria mais sentido, visto agora desta perspectiva, neste momento - mas ai serei velho e terei vivido, a meta que se dignam de atingir o que estão talhados para tal, o futuro não nos pertence de todo… -. Não valeria a pena comer sem sentir o paladar dos alimentos. Mas há sempre um refúgio…eu consigo ver isso, ainda. Eu vejo, e agradeço ainda pelo que vejo, por isso serei um ser normal – afinal estou a dissertar sobre o que sinto, pelos meus sentidos, percepção inigualável do mundo, uma maneira inimitável de se abrir perante ele, ou pelo contrário, apenas muito comum. Não interessa… -, se bem que me refugio muito por achar que vejo demais, quando na verdade verei mas é pouco – verei aquilo que vir, e esse sou eu. Não me deveria achar estranho, mas tenho receio de ser abandonado, que me julguem pelo que não sou, que perca a minha dignidade ou que não me tratem com a dignidade que eu trato os seres que me envolvem, como já alguma vez senti perder -. Eu vejo, e não há sentido inigualável ao ver! Mas de que me serviria ver se não tivesse os outros sentidos? E é tão agradável, neste momento, esta noção mental que me percorre o corpo, de que eu sou todo uno. O que vejo faz-me recordar cheiros e vice-versa, faz-me recordar paladares e vice-versa, toques e vice-versa, sons e vice-versa, e tudo ao mesmo tempo também, a consciência mental a evoluir sobre a consciência física, o que sabemos sobre o que somos enquanto seres físicos, a construir castelos na mente, o reconhecimento de que somos tão pequenos enquanto seres físicos, cada vez mais, e a aceitar cada vez mais também  o que vier, o atingir de patamares cada vez mais altos ultrapassando um estado em que não nos podemos contradizer - algo fala mais alto e não nos é permitido tal -, porque sou quem sou, e só tenho que seguir sendo quem sou, porque não posso ser outro, signifique isso o que significar. Eu vejo a humanidade, sim, eu vejo! Ainda… porque o fim está sempre presente, porque todos o têm de aceitar, quer queiramos quer não, se bem que poucos pensem conscientemente sobre tal, como se isso fosse algo a ultrapassar, que pode ser vencido. Esse é o lema da vida humana que faz seguir os homens, quebrar barreiras, barreiras de conhecimento, descobrir tudo o que se possa descobrir no espaço de uma vida, sempre a pensar na continuidade - como se a liberdade fosse infinita, como se não houvesse ‘senão’, como se não houvesse a contrapartida, o efeito secundário -. E o equilíbrio é tão subtil! Por vezes parece simples de mais para perceber. Mas é curioso como dentro dessa simplicidade, há uma grande complexidade, que dentro do que já parece expectável está o incerto, a recombinação de tudo, e que tudo faz sentido, apenas agora, e na verdade há que aproveitar (talvez amanhã já não diga o mesmo…). Dentro da visão da humanidade não cabe o espectro de que há a antítese do seu lema, como se houvesse a contradição em tudo, a maioria das vezes implícita. Faça o que se fizer, a vida foi como foi, é como é, em função de tudo o que existe, se sou o que sou, sou-o porque outros me antecederam, e outros me envolvem e aumentam esta consciência humana, da qual faço parte, e me exprimo por ela assim. Agradeço aos que me mostram o que eu consigo ver, o mundo, como se ele fosse perfeito, o mundo virtual que eu reconstruo na minha mente. Agradeço aos que e às que – como se elas fossem outro mundo, a metade que completa o puzzle, o pólo oposto, o yang da humanidade - me fazem sonhar, aos que me criam refúgios, onde me posso encontrar, onde a minha vida tem sentido, àqueles que normalmente são anónimos e os posso conceber na minha mente como seres que me estimam e a quem eu estimo, como não poderia ser de outra maneira.
E refugio-me das mágoas. Afasto-me de quem me pode magoar. E é quem conhecemos que nos magoa, muitas das vezes quem é próximo de nós,  porque nos conhece ou deveria conhecer, e, sendo assim, não deveria dizer ou fazer aquilo. Na verdade é duro de mais, quando sinceramente, dizer: ‘Amigo’. Isso significa uma forte ligação que pode facilmente ferir. Alguém a quem nos abrimos, que nos conhece bastante mais que os outros e um dia troça de nós, nos prega uma partida sabendo ou devendo saber que não devia fazer tal. Vê o seu erro e não o quer admitir, e não pede desculpa. Mas não faz mal, da minha parte, tudo passa. Eu arquejo com os meus erros, assim como os outros terão que arquejar com os deles. Eu também magoo sem me aperceber, sei-o. Mas não sou inimigo, jamais o serei, de alguém, quem quer que seja. Sou demasiado perene para tal. Mas lutarei para que tudo se equilibre, para que haja sincronia, para que possa ter o meu lugar, o meu refúgio. Não podemos agradar a gregos e a troianos. E até gregos e troianos têm muita coisa em comum.
Tenho o desejo de encontrar o meu refúgio.

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