Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
A fluidez do avassalamento no caminho da entropia continua, mas não posso dizer o que pode suceder porque sou finito, talvez fale apenas sobre mim. Acordamos sempre, mais um dia, tentando desvendar mais porquês de tudo o que nos intriga, tentando ir mais além por uma Causa que temos que respeitar, quer vislumbremos ou não algo, pelo menos, do que Ela é. Respeito pelo que se conhece, pelo que se desconhece, pelos amigos e pelos inimigos; por razões diferentes. Antes de tudo a gratidão deve estar presente na sucessão de acontecimentos da minha vida, tento não esquecer. O receio do desconhecido, o fim, torna-se uma tormenta, dada a dificuldade de ser quem somos e de as coisas se darem como se dão; tudo é incerto. O que é desconhecido e não se entende destrói-se selvagemente ou tão só ignorantemente, sem saber as consequências dos atos, assim é o agir primitivo. Com o poder o ser humano controla e condiciona a liberdade que procuramos todos os dias. Procuro liberdade na Fé; Mas, porque perdemos a Fé? A idade nos torna cínicos e mesquinhos distanciando-nos da pureza e inocência da juventude e dos sentimentos de um só coração, por exemplo os dos anos mágicos de 70, 80 e 90; Deixamos de compreender os sentimentos atuais, receando a perda de um mundo que conhecemos no passado e que não traga as mesmas alegrias e sentimentos, o futuro se torne desesperançoso; Receando que a juventude falhe a conjuntura que se aproxima; Pessoalmente não pude fazer mais e melhor, mas agradeço o estar aqui, até quando? Peço mais com normalidade, a minha normalidade – Com capacidade de perseverar.
A ambivalência está muito presente na minha vida – O facto de a mesma situação, causa (acontecimento etc) ou pessoa (s) produzirem efeitos duplos ou duais, até mesmo contrários ou antagónicos na minha vida; por exemplo o facto de uma mesma pessoa poder ser motivo de alegrias por um lado e por outro causar tristezas ao mesmo tempo, digamos assim; Em mim, a humanidade é causa de ambivalência; A vida nos trouxe até aqui através do tempo, alcançando entendimentos excecionais de quem fomos e como chegámos aqui, sonhando, analisando e imaginando com base no terreno em que pisamos; Também através da ciência que nos leva mais além nesse sonho acordado; Virámo-nos, ao mesmo tempo para as estrelas e desejamos alcançá-las, ir cada vez mais distantemente; Contudo, resumidamente, não passamos de seres insustentáveis, uma praga a esgotar os recursos deste mundo sem contenção. A fluência e a interação tão entusiasmante entre nós nos faz mover e evoluir, mas até onde podemos ir? Até onde podemos ir sustentávelmente? O fim é certo, filosofia macabra da vida. Humanidade capaz do melhor e do pior; Será o bem e o mal a digladiarem-se? Muito provavelmente é isso. Quem somos nós nesta passagem fluida e perene por este mundo de espirito indomável? Assim como a ambivalência, também o paradoxo, a contradição, os opostos, os extremos contrários, todos eles acontecem ao mesmo tempo, certamente para criar uma ideia, um estado, um conceito de equilíbrio. Vamos aos píncaros do melhor e do pior, muitas vezes em espaço de tempo pequenos – Bipolarização. Procuro a verdade e a coragem. Contudo, cuidado com o que dizemos para não nos ferirmos.
Uma meta a atingir. Um desejo inconsciente de ir até um ponto indeterminado. A superação de cada um de nós, do nosso entendimento, da nossa inteligência, das nossas energias. Querer experimentar tudo… para perceber…o significado das coisas, o significado do correto, para ser-se melhor, para fazer melhor, para ter a mais ampla visão das coisas. Cruzar conhecimento. A memória por detrás de tudo, essa fascinação do saber, a possibilidade alcançada na partida das nossas vidas. A sorte e o azar. O equilíbrio. Como é possível sê-lo? Não é possível, no sentido de continuidade, mas, por momentos mais ou menos longos ou mais ou menos curtos, existe. O desejo mais profundo, que nasce na alma de alguém, que não é possível demonstrar. A existência do bem, mas afinal o que é isso? Esse ‘bem’ fala muito e expressa-se corretamente? É ai que o reconhecemos? Esse ‘bem’ é solidário e empático? É ele saudável e energético? E então, o tempo passa, cruza-se o conhecimento, encontram-se relações onde o homem que não questiona, não ousa buscar, não encontra nada, e tudo é ao sabor das variáveis que empurram esses, eles não fazem atrito no mundo. Esse atrito tem um preço (talvez, por isso, não é qualquer um que arrisca com receio das consequências), assim como tudo o que fazemos para nos levar à perfeição tem um preço, ou melhor, tem uma cobrança, uma cobrança que me extravasa e me leva a pensar que é tudo errado, todas as ideias que pensava ter por boas parecem cair por terra quando a realidade fala mais alto, quando o frente a frente eleva os seres e o espírito, quando as coisas não são para compreender de imediato mas sim para agir de imediato. O futuro não existe, mas o passado sim, o passado e o agir, a obrigatoriedade do movimento que nos leva rumo ao desconhecido mas, com conhecimento suficiente, esse desconhecido futuro torna-se expectável, e ao mesmo tempo espectável também, nem que seja pela sua magnitude. Receio o sofrimento, assim como receio o futuro deste pequeno lar, a terra, como somente meu fosse. Possivelmente temo o que não devia temer, devia ser como a maioria, indiferente, nas mãos do desconhecido, e na mão de outros. Indiferente não sou, mas vejo-me atado, sem fazer o que quer que seja, sem perceber o que é correto ou incorreto, a recear o inevitável caminho que teve um principio e terá um fim, que terá que se aceitar quer se queira quer não, mas primeiro, muito antes da perfeição, do meu fim fujo, sem nunca fugir.
Começo, como tantas vezes, olhando para esta folha branca e vazia (no word, rsrsrs), com uma ideia [que tantos supostamente partilham, pelo(s) mesmo(s) motivo(s), ou não, que eu], que perfaz o título deste post, que traduz uma união de ideias, sentimentos e pensamentos. Ela é particularmente baseada num sentimento que tive há minutos e que aglomera, repito, ideias que sinto (e se formaram na consolidação que se dá no meu ser ao longo do tempo] acerca de quem sou, do que me envolve e da minha relação com essa verdade/ilusão que é o que me envolve. Assim, aqui estou eu, um anónimo nas profundezas da humanidade, com uma nesga de tempo nas horas que avançam pela noite dentro, num monólogo, pensado e registado, de algum modo e de alguma maneira, na tentativa de me expressar e de tentar perceber quem sou, o que é o mundo que me envolve e a relação que existe entre mim e o Universo (o mundo em particular). Já abordei noutros posts e nos meus pensamentos a existência de paradoxos neste Universo que se manifestam no meu ser (e que me deixam confuso ou mesmo numa angústia existencial) e na escolha de caminhos que tenho que fazer forçosamente, contra a minha vontade (e na escolha de ideias que tenho que seguir inexoravelmente). Já abordei noutros posts que em mim há ideias megalómanas, como se eu tivesse um sentido superior (megalómanas no sentido de eu querer ter uma grandeza inigualável na compreensão deste Universo e de vir a ser portador de uma conduta de verdade Universal entranhada em mim sem por isso ser infeliz e passar mal neste mundo - assim o desejo, embora tal não seja propriamente o que se passa). Mas é precisamente esse sentido que me é paradoxal, porque não tenho maneira de provar que ele é verdadeiro, não consigo assumi-lo, assim, se bem que o persigo desde sempre, impelido por forças que tendo a descobrir, e que são, exactamente, paradoxais. Como posso seguir, sendo o que sou, nestas condições? Como posso mudar dadas as contingências da minha vida? Não preciso de o fazer, mas digo: - Juro que não compreendo como tudo foi despoletado em mim, não fui eu que escolhi o meu caminho, porque estou eu metido nele?! (mas antes neste que noutro pior, claro, já o disse mais vezes, qualquer um com bom senso dirá o mesmo) ; se eu escolhi ‘algo’ (se influenciei de algum modo a direcção do meu caminho), isso representa apenas uma pequeníssima percentagem que é a pequena capacidade que tenho para escolher da globalidade, do total em que sou impelido a escolher, a seguir, pelas tais forças que me ultrapassam, desde o ‘big bang’ do meu nascimento. Sei que não compreenderei na totalidade, nunca (parece-me que não, pelo menos por agora, mas manifesto ambição de compreender), se bem que já entendi, consegui perceber, visualmente na minha mente muito do que se passa comigo, o ser estranho que sou no mundo / o ser estranho que sou e me sinto em mim, talvez por não estar no tempo /e/ou/ momento certo. Pergunto-me, inconformadamente: - como posso ser tão inútil e mal sucedido no mundo exterior a mim, o dito ‘mundo real’, se em mim há algo de tão grandioso e perfeito (pelo menos tendendo a isso), um sentido de verdade, uma compreensão coerente de tudo (mas mesmo tudo quanto existe)?! Assim sou um ser, posso dizê-lo, marginalizado, com uma maneira de pensar muito própria, um ser único (repito-o sem fim), que devia ser respeitado e sobretudo aceite como sou, o que não acontece (e parece-me que já identifiquei o móbil e as circunstâncias que despoletaram essa não aceitação, pode ser que algum dia possa e consiga falar nisso). Apesar de eu não ser deficiente físico, não me aceitam pela maneira intelectual diferente que tenho, talvez mesmo pela maneira psíquica diferente que sou - recuso veementemente que me façam conotações negativas(!). Muito provavelmente sou um homem que não vive no seu tempo, ou estarei apenas no sítio errado, embora no tempo certo, mas de qualquer modo não sei onde será o meu sítio certo. Talvez esteja num limbo desde que nasci esperando ser libertado, algo que acontecerá ou não. Mas sei que estou aqui e agora, o mesmo não posso dizê-lo do dia depois de amanhã: - Estarei neste ‘Mundo estranho’ amanhã?
No momento em que escrevo não me sinto bem, nem sei que hei-de dizer ao certo. Na verdade, sinto que algo quer que eu me cale para sempre [ou que, simplesmente, não diga e viva silenciado], algo como seja uma multiplicidade de variáveis, coisas que eu não consigo definir ou talvez não deva definir. O meu ser orgânico não está em paz, minhas hormonas não devem andar bem, minha mente está perturbada. A minha expressão não é manifestada como deve de ser, minha interacção com o mundo social tende a ser incoerente, talvez mesmo entrópica, sinto-me a decair sem a satisfação normal de ter vivido. Acho que compreendo as coisas, mas talvez seja só compreensão à minha maneira, sem conseguir explicar o que sinto, vejo e como compreendo. Sei que a minha consciência está num grau incomum, em que consigo sentir de uma maneira diferente da ‘normalidade’ dos outros, talvez. Tudo à minha volta tende a querer encaminhar-me por um caminho que eu tento evitar em que eu não consigo perceber o porquê disso. No fundo continuo fechado em mim próprio, com uma consciência da vida muito particular, muito própria, a não conseguir interagir com o mundo que me envolve de uma maneira normal, e o pior é que me sinto mal; sei que deve ser por esse ‘algo’ que não me sinto bem, essa causa que eu não consigo combater, esse aprisionamento do qual eu não consigo sair. Gostava que o mundo fosse à minha maneira, como uma criança que se acha a coisa mais importante e que o mundo todo gira à sua volta. Feliz ou infelizmente não passo, como talvez ninguém e cada um de nós passa, de uma pequena parte de um todo muito complexo e infindável, e, sendo assim, é tão bom quando encaixamos bem nesse todo, quando tudo corre de vento em popa, e é tão difícil quando estamos desajustados com esse sincronismo, quando o atrito é imenso e, aparentemente pelo menos, é incontornável ou não evitável. A minha mente tem-se expandido com a experiência, meu conhecimento tem aumentado enormemente, mas meu ser não consegue lidar com tamanha informação que provem de todos os lados, entra em desequilíbrio, facilmente. Não consigo entender porque as coisas são como são e se dão como se dão. Vejo o que me é mostrado sobre a guerra mundial, a 1ª ou a 2ª, e não entendo de onde vem a raiz do mal, mas também, mesmo, não consigo entender de onde vem a raiz do bem, em verdade não consigo entender porque tem de existir o paradoxo do bem e do mal em simultâneo. Tanto ser vivo, tanto ser humano morto em guerras sem uma causa que se perceba, e no entanto sentimos que temos que viver e morrer; Nós, homens, somos predadores e presas ao mesmo tempo. Porque tem de tudo ser assim? Parece que tudo se dá ao acaso, e isso não está de acordo com o que aprendi, de que havia um Deus, uma justiça, que dirigia o futuro deste mundo e do Universo, e não consigo livrar-me e aceitar que tudo é uma acaso, que o Universo joga-nos a seu bel-prazer, com uma insignificância atroz, e sem justiça, no sentido de que muitos de nós que agimos na tentativa de ser correctos e equilibrados neste mundo somos os que mais sofremos por causas que nos ultrapassam e que parece impossível de, algum dia, entender. Quero justiça na minha vida, peço-a ao desconhecido, a ‘algo’ que não percebo, ainda... Eu sinto que compreendo, mas este paradoxo de que ao mesmo tempo não compreendo, acompanha-me. Eu vivo, mas esta incerteza de vida, esta vida de sociedade em que o mal brota de onde menos se espera e que quer trazer a morte até nós, que nos quer ter cativos dele [do Mal], deita-nos abaixo até pensarmos que seremos injustiçados neste mundo e tudo foi em vão, alem de que põe em causa tudo o que existe e que faz parte do meu conhecimento, sendo que Deus nunca deveria ter sido um dado adquirido, mas um dado a tentar descobrir. A verdade é que tenho medo, a minha vida é cheia de medos e incertezas.
Ultrapassando todos os limites da imaginação, há uma realidade que vai muito mais além dela e da qual estamos no encalço, pelo menos por vezes. Nesta busca incessante de liberdade, de satisfação das necessidades que nos sufocam literalmente até à morte perene, se não satisfeitas, assim, tanto a necessidade de comer como de amor, há um domínio por parte da necessidade não satisfeita que nos eleva o sentido da alma numa busca que por vezes se torna desesperada, uma busca por mais um tempo de vida. O domínio, do qual a inteligência, a sorte, a energia - que significa força física e/ou anímica - tenta superar, é algo que não é mal aceite por todos, tal como existem os masoquistas. Mas para mim não, neste sentido supremo da vida, custa-me que o domínio me afecte, e ainda para mais quando seja injustamente. A incapacidade de tudo não ser eternamente perfeito, que significa a existência do paradoxo, de querermos que tudo funcione bem e ser impossível tornar tal possível de uma maneira largamente funcional quando o desejamos e fazemos por isso, é algo que questiono constantemente: porque o auge não se pode prolongar, porque a proximidade é algo que não me assiste, assim como a muitos - fazendo a vida do mundo diversificada como é. Neste mundo de sonho, de virtualidade, a necessidade de dominar surge-nos muitas vezes, talvez faça parte da disputa das vidas pela evolução e não se possa ir contra isso, e, por vezes, estamos a dominar naturalmente, quando a natureza nos favorece, ou melhor, quando vai favorecendo alguns nessa reciprocidade entre natureza e individuo/ser que se dá, em que o individuo sai avantajado por qualquer cumulo de força dominadora que deve aparecer em determinado momento. Até que ponto vai o que está certo, o que é correcto fazer ou que está errado? Simplesmente, será fazer segundo a norma onde nos encontramos, caso contrário, se nadamos contra a corrente será difícil ou talvez impossível, perante a torrente, viver em harmonia; E os paradoxos surgem constantemente neste mundo, não é na minha vida somente, eles estão em todo lado, no que se diz querer fazer e no que se faz, por exemplo - que acaba-se por fazer precisamente o contrário- ou o discurso e o diálogo é contraditório muito facilmente; Mas, tudo isto é imparável (!). Porque quero eu mudar o que quer que seja (?): que aconteça simplesmente, e que a bonança esteja comigo, é tudo quanto posso pedir. Mas o meu tempo escapa, à medida que tenho mais para viver, à medida que o domínio é compreendido e de certo modo ultrapassado.
Orgia de sentimentos. Significação das palavras. Abstracção. Emoções. Fascínio. Confusão. Para mim é errado que emoções provocam sentimentos, mas pelo contrário, tudo o que sentimos é o que manifestamos, e sim, sentimentos provocam emoções, tendo definição de ‘emoção’ a manifestação de algo, do sentimento, a expressão do sentimento. Define a wikipédia: << Emoção, é uma experiência subjectiva, associada ao temperamento, personalidade e motivação. A palavra em inglês 'emotion' deriva do francês ‘émouvoir’. Que é baseada do latim emovere, onde o 'e- (variante de ex-) significa 'fora' e movere significa 'movimento'. O termo relacionado motivação é assim derivado de movere .>>. Torna-se óbvio que a palavra e o conceito de emoção significa algo dinâmico e ‘virado’ para fora’, portanto a ‘expressão do sentimento’ é dinâmica, é a emoção, que lhe dá vida, que a exprime. O que eu sinto faz parte daquele que eu sou e rege os meus passos em direcção a um objectivo, tornando tudo à volta diferente pela acção que nós provocamos à nossa volta pelo que sentimos, manifestado em emoções, e pelo que provoca em nós o exterior. A nossa própria acção é uma manifestação daquilo que sentimos, mesmo quando o resultado dessa acção seja um simples movimento, simples acção ou uma simples obra, e não propriamente artística ou algo complexo. O que sentimos faz parte de nós, temos sentimentos que vêm de mesmo antes de termos nascido. Quando choramos, quando isso não é fingido – e quando somos crianças temos menos capacidade em fingir - isso é uma manifestação de um sentimento, a dor, que pode ser física ou psicológica. Os sentimentos vão- se tornado complexos à medida que o tempo passa, e a nossa capacidade de expressão desses sentimentos, as emoções, diminuem, tendo assim mais autocontrolo sobre nós mesmos, cada vez mais, mas também somos cada vez mais incapazes de nos exprimirmos com naturalidade e vigor físico. Mas o mais importante para mim é viver ainda o que tenho para viver, atirar com tudo o que de negativo se passa na minha vida e viver mais um pouco, desfrutar do breve despertar, do amanhecer e do entardecer, das transições do tempo, de tudo, com prazer. Quero usufruir um pouco mais deste meu viver, sentir e compreender, estudar e saber, mais, desinteressadamente, e com isso continuar contra a corrente que por vezes quer ser avassaladora que me quer destruir. Medo, talvez não tenha de morrer, apenas da injustiça, que no entanto não mudará o mundo como eu desejava, porque nenhum homem manda no todo, e tenho muito medo de não ser amado ou mal-amado, o que ainda pode ser pior. Para que querem viver as pessoas se não ligam aos sentimentos genuínos da sabedoria?! Da interessante possibilidade do conhecimento?! Querem ser salvas… e no entanto não pedem à sua vida, não dão pequenos passos para que essa vida mude, para melhor, simplesmente não fazem por isso. Pessoalmente, procurei a minha felicidade no outro, na outra pessoa, e não a encontro por tantas razões que eu sei e que sinto mas que não consigo traduzir em emoções. Não tendo encontrado essa felicidade devo desistir e ficar apático e triste para todo o sempre por isso? Não, não quero. Mas sei que não controlo tudo, talvez uma ínfima parte da minha vida apenas, e que o imprevisível pode vir ao meu encontro. Sei que outros me podem fazer sentir mal e sem vontade de continuar como já fizeram, sei que a vida pode virar-se contra nós quando menos esperamos, retirando-nos quase totalmente o ar, pondo-nos como zumbis.
É óbvio que sinto um certo rancor invejoso por aqueles que nasceram equilibrados, com felicidade neles, com sorte e com dinheiro suficiente, com poder conhecer as coisas sem que isso os perturbe a tal modo que tenham medo de trilhar seu caminho, equilibradamente bonitos, equilibrados nas suas acções, amados da maneira que são, que seguem um caminho calmo. É que eu nem consigo deixar aproximar ninguém de mim. Sinto isso, uma inveja de não ter seguido o mesmo tipo de caminho… de ser tão frágil e me quererem forte e que me manifeste como forte, quase que caindo no abismo, quase que sendo devorado pelos leões. Sinto inveja de não ter uma família muito mais inteligente ainda, mais tolerante, e no entanto a amo porque necessito dela, porque posso precisar de ajuda, porque podem precisar de mim, enfim, para que me possa compreender cada vez mais e quem sabe achar saídas. Acho mesmo, muito seriamente, que o meu nascimento foi um paradoxo, o qual eu gostaria de resolver se possível, mas pelo menos compreendê-lo ao máximo. Porque vem até mim o que é negativo e não sou eu timoneiro do barco do meu destino? Porque se riem de mim quando aprecio o nascer e o pôr-do-sol, quando transmito um sentimento a alguém ou por alguém? Sou mesmo sem jeito (…), um inábil emocionalmente. Eu só queria falar, para alguém que me entendesse, que fizesse o meu tipo, mas o meu tipo é tão estranho, compreendo, sei disso. Não nascemos para viver para todo o sempre como seres físicos, mas quem sabe se viverá o nosso espírito. Quero ser capaz de… me sentir bem, eu mereço sentir-me bem, e só posso falar por mim…não posso defender o desconhecido, não posso confiar no incerto, mas mesmo quando estou só e perdido, e a vida me dá uma demonstração que mereço continuar, isso é belo. Mas sou homem, e terei um fim mesmo assim. Mas enquanto eu me recordar de quem eu fui, eu ainda serei eu. Não sei ainda porque não me querem, porque sigo eu este caminho, neste mundo comum. Mas não quero ir, quero ter muito mais caminho a trilhar, e ver cair quem me queria ver cair, injustamente, isso seria justiça in loco.
Toda a gente precisa de amor, ouve-se dizer na música, na poesia, na arte e em toda a expressão humana, de uma maneira geral. E há gente que efectivamente o encontrou, muito possivelmente. Mas há quem o não tenha encontrado, e quem, não tendo-o encontrado, o busca empenhadamente, sacrificando a sua própria vida buscando o significado e o sentimento de tal conceito, que pode ser um estado de espírito de efectiva união com um ser ou vários seres. É o amor eterno (?) - existindo esse conceito – [ou o amor é prolongável no tempo (?)], ou é perene (sendo um clímax ou o auge de todo um caminho ou conjunto de acções que nos levam a tal auge ou clímax)? É uma ligação concreta entre seres (?), ou tudo não passa do plano espiritual (?), ou ainda, será uma mistura desses dois tipos de elos de ligação? Decerto o amor existe e não pode ser comparado a um contrato, mas subjacente a ele pode acontecer que pode haver um contrato que se torna em vínculo, em amor. Haverá amor por quem nos trata mal, física ou psicologicamente ou só fará sentido essa existência, ou seja, só existe amor quando essa relação entre seres é repleta de sentimentos de amizade e desejo pelo outro, pela proximidade do outro? A vida é estranha para muita gente, decerto, e para mim, sempre o foi e penso que será por mais que venha a compreender muita coisa. Penso no amor como penso na existência de um Deus, a nível transcendental, e o sentimento de uma existência de amor parece-me equivalente a uma existência divina, isto é, se existe aquilo a que se chama amor também existirá aquilo a que se chama deus. Assim, se penso em Deus, eu penso no Amor, ou vice-versa, a um nível espiritual. Se penso em amor também penso no contacto humano, no toque, a um nível físico. Confesso que, pessoalmente eu estou do lado de lá da esfera, desse sistema em que existem outras regras de interacção humana diferentes das minhas, dentro de um espaço mental e de uma perspectiva (onde me encontro) que é o meu, que me parece ser exterior a esse espaço que observo, onde está um conglomerado humano normal, ou seja, é como se as pessoas estivessem na terra e eu da lua a observá-los, e sendo eu também uma pessoa, estivesse longe daquilo e daqueles que também eu sou, e, estando só, observando, tendo como minha companhia o eterno nirvana, ou seja o sentimento de solidão que é o ‘custo’ que me parece que temos quando nos ultrapassamos a nós próprios, à nossa própria limitação humana.
Existirá o amor concerteza, nem que seja como um estado passageiro [ou estados passageiros (porque tudo neste Universo é imparável e passageiro, tudo dura o seu tempo)] físico ou mental ou psíquico ou uma mistura de todos eles. Mas a mim intriga-me a sua existência, e, como conceito puro, e purificado que foi pela minha mente, da maneira que eu o vejo, custa-me a aceitar de maneira como a ordem está e como o amor funciona, porque eu não sou funcionável nessa ordem de acontecimentos. Quem me manda ou mandou a mim complicar as coisas que deviam ser simples, naturais e descomplicadas? Quem me manda ou mandou a mim pôr a natureza dos seres (humanos, em particular) em causa, a maneira como as coisas funcionam? Tenho medo de ser insignificante e desprezível, mas também tenho medo de possuir um poder que não posso controlar e que se vira contra mim próprio. Ou então tudo não passa de uma ilusão, a ilusão máxima de que o sofrimento parece existir, quando na verdade não existe. A minha ilusão, numa imaginação sem fim, imaginação que não é mensurável, a existência de um inconsciente no meu consciente, que eu não domino, a existência de um infra-ego poderoso que está acima do meu ego, quando eu deveria ter o ego a ser comandado naturalmente por esse infra-ego, domina-me e escreve a minha história.
Uma contingência de coisas: factos; acontecimentos (reais ou imaginários); inúmeras causas que antecedem o meu nascimento e que por sua vez provêm já desde sempre dos meus antepassados; o meu ideal, que não percebo como surgiu, mas consigo, até certo ponto, acompanhar a sua evolução até aquilo que eu sou hoje; o facto de tudo na minha vida ser paradoxal, começando, repito, pelo meu nascimento, e todo o impacto que isso teve na vida da minha família e de tudo o que me rodeia, a começar pelo que é mais próximo, até aos dias de hoje, até onde acabei por alcançar, e que resulta num feedback (negativo) que eu não compreendo o porquê de ele ser assim e o porquê de eu ter tomado o rumo que tomei; a influência de algo que tem a ver com a continuidade da minha vida pós-nascimento e que me marcou e não me deixou mudar marcando profundamente o meu carácter e, quiçá, marcando o resto dos meus dias; a maneira como eu estou preso a um controlo mental e físico que eu não consigo quebrar tão facilmente (mas que, tenho esperança, ainda consiga quebrar, pelo menos, enormemente) - Tudo isso me impede de dar o próximo passo na minha vida, o próximo passo de gigante que deveria ser um pequeno passo e natural. Mas inquieta-me esta minha inquietação constante, desde que sou gente, de a minha vida seguir um caminho que não é o que eu desejo para mim, de nunca estar satisfeito com o que tenho e querer coisas simples e serem tão complicadas de alcançar. Porque tenho eu de ser correcto quando tudo à minha volta é incorrecto? Porque sou eu um estranho entre estranhos? Que tenho eu a perder com as minhas acções? Porque hei-de de ter medo de dar um passo? Certamente há um motivo para todas essas questões de retraimento, penso. Motivo ao qual tenho respondido e vou respondendo à medida que caminho, para mim mesmo, e que não fazem sentido para mais ninguém. Tento pôr ordem na minha mente. Eu pergunto, mas o mundo e a natureza poucas vezes me responde como quero, aliás dá-me respostas ambíguas (passíveis de serem positivas ou negativas, não ditas explicitamente como positivas ou negativas) e retractivas.
Tudo me parece uma treta. Mas eu deveria deixar o mundo girar, muito simplesmente, essa é que é a verdade. Não podemos matar quem nos faz mal, mas viver em retracção e sofrimento e limitamento da vida por causa de alguém é terrível. Viver assim sem capacidade de reacção é viver uma vida de letargia. Abomino tal figura que me despreza, assim como outras que imitem tal figura. O meu desprezo é grande por essa gente, e se eu tivesse um poder, eu me riria dessa gente que age egoisticamente, sem escrúpulos como se o mundo lhes perdoasse o que fazem aos outros, e mesmo mostrando-lhe o que estão fazendo não querem acreditar ou saber e seguem pisando o mesmo trilho. Cada um é dono da sua vida, se bem que pode não o ser do seu destino, porque ‘o futuro a Deus pertence’, a natureza age de maneira superior, sempre, pelo menos até aos dias de hoje, pelo menos a meu ver. Eu sei pouco, muito pouco - muitos dirão o mesmo, se quiserem e se tiverem coragem para isso -, mas eu digo que se sei pouco e além disso ainda posso menos. Mas sei que se vão ficar a rir, os meus inimigos, e por isso desejava não conhecer ninguém, mas, ao mesmo tempo não sou nada sem um elo de ligação ou sem elos de ligação. E a busca é incessante e desgastante, porque as nossas forças são perenes e a recuperação é cada vez mais lenta. Vivemos, acho, pelo menos eu vivo, num mundo intenso interiormente, num mundo em que só a confiança em nós próprios não é suficiente para viver, é necessário confiar em alguém mais, tarefa essa que parece quase impossível. Será que o amor está aí onde a confiança noutra pessoa é caso de excepção? Num ideal muito limitado e que não sabemos se o encontraremos?
Procura-se estrada para o paraíso. Caminhamos para nenhum lado, estamos numa estrada sem destino , we’re on a road to nowhere, Talking Heads, não me sai da cabeça este pensamento. E o meu caminho não me leva a lado nenhum. Cada passo que dou é um passo em falso e no vazio, caminho cada vez com menos amigos e vontade de viver, em lugar de ser ao contrário, só com a diferença em relação a muitos outros como eu é de que eu sei o que me faz andar assim, pelo menos penso saber, e isto se houver outros. Às vezes penso: ‘a honra e a dignidade devem ter algum sentido’; o sexo deve ter algum sentido’; ‘isto que sinto deve ter algum sentido’. A verdade é que estou mais desfasado do mundo que me rodeia, o mundo da interactividade real, in loco, distingo cada vez menos o que é real do que não é, da acção correcta da não correcta. O meu raciocínio anda péssimo. Vacilo a cada passo, sinto coisas que não devia sentir e o mundo quer cercar-me. Sou omnipotente quando sozinho com os meus pensamentos, com o meu conhecimento, com a minha ligação ao Universo, e, no entanto, sou a mais pequena e inofensiva criatura que alguma vez existiu à face da terra, a coisa mais vulnerável que Deus ao mundo pode deitar. Cada pensamento meu é um erro. Sinto o aproximar do meu destino, que caminha até mim inexoravelmente, sem que haja algo que o possa contrariar do seu objectivo que é destruir-me. De que modo posso preservar as minhas faculdades, a minha honra, o meu desejo, os meus sentimentos? Já sei, ninguém pode responder, este mundo é cada um para si. Na minha vida, a perfeição seria desejável, uma ponte entre o céu e a terra, onde vivesse no paraíso, fosse amado e sentisse esse sentimento e correspondesse a esse amor. Mas, eu vivo na terra, as pontes que nos unem são muito elitistas, o meu amor é uma utopia, da qual inúmeros se riem. Mas eu vivo neste mundo, de caos, pequeno, em que nesta amálgama é uma sorte estarmos vivos, ou precisamente, um azar…assim como é azar eu ter enveredado pelo caminho do pensamento intrincado e egoísta, como se houvesse uma sina que dissesse o que iria ser a minha vida. Na minha vida reina o medo, o medo de magoar e o medo de ser magoado, o medo de passar despercebido e o medo de ser o centro das atenções, o medo de existir… e na verdade existo, paradoxos sem fim, e afinal tudo isso faz parte deste Universo, e no entanto não pensei que chegaria um dia em que eu fosse afectado por isso negativamente. Onde eu passo tudo se transforma à minha passagem, como qualquer pessoa, mas o feedback que eu recebo do mundo é negativo e é pesado para mim, como se o mundo me quisesse devorar, como se eu tivesse feito coisas horríveis que não deveria ter feito, quando na verdade tudo deve ser más interpretações do meu pensamento. Mas a verdade é que o mundo toma ascendente sobre mim, e eu sinto-me uma nulidade sem capacidade de reacção, chorando infinitamente o meu sentir, a minha angústia de existir, a minha angústia existencial de não ser amado como devia, chorando e exagerando, como que desejando que tudo se torne realmente como o destino me quer fazer acreditar que existe, que é esse o caminho. Pois eu sou um ‘talking head’ na minha vida, sou uma ‘cabeça falante’, que monologa sem cessar. Ou talvez seja uma aberração, tentado atrair algo de bom para a minha vida, bons sentimentos, bom futuro, sem sucesso. Gostaria de falar sobre a alegria da vida, alegria da existência, a manifestação das mais belas coisas que existem, e caio, dia após dia, no erro da melancolia, do afastamento dos homens pela verdade que existe. Qual é o meu lugar no mundo, pergunto, a cada minuto que passa, nem que seja lá no mais profundo do meu inconsciente. Que sentido posso eu tomar para preservar o que de mais importante ainda me resta. O conhecimento envolve-me e faz-me mexer o pensamento, mas não me demove de onde estou. O mundo é uma constante algazarra da qual não consigo partilhar. A minha saúde falta-me, e ninguém consegue dar-me o que perco. Os meus passos assim não fazem sentido, por isso tropeço dia após dia, sobrepondo-me aos meus sentimentos, alimentando constantemente esta incapacidade de reacção. Como eu gostava de reagir (!)… Como gostava de olhar e ver olhares, interpreta-los, ser deste mundo, mas não sou. Só me resta a esperança. A eterna esperança de que, por exemplo, pelo menos quando morrer me sinta eu. Há suspiros que me esperam. Mas acho que um homem seria mais feliz castrado do desejo, simplesmente separar-se da sua animalidade e ser pura razão e ser amado não pela sua pujança física, mas pela sua pujança intelectual, começo a acreditar nisso. Tudo há-de ser consumido, romper - se – hão todos os ideais, todas as forças de ligação tenderão a perder-se, até mesmo os ideais mais enraizados na genética humana hão - de esfumar-se, tão certo assim como o meu fim é certo. Neste longos momentos em que eu me consumo, eu me esfumo, eu voo para mais longe da orbita que eu um dia perdi. Navego agora sem destino, nesta promiscuidade de ideias e pensamentos, cada vez mais longe daquilo que algum dia fui. Adeus, adeus, digo constantemente para mim mesmo, adeus homens, seres ignóbeis, que o meu desejo tenderia a destruir se fosse ele que comandasse o destino deste Universo, mas sei que sou eu que estou errado, mas por favor, prova-mo (!), ou este será o paraíso do nirvana.
Há coisas que simplesmente se sentem e não se dizem, ou por não termos palavras para as transmitirmos ou porque simplesmente não encontram eco neste mundo para que faça sentido a sua verbalização, ou então por outro motivo qualquer. A minha mente anda desenfreada, faz já muito tempo, mas eu tenho uma conduta dentro de mim, há dentro de mim algo que me rege e me guia, algo que faz com que eu seja aquilo por que me conheço, eu, mesmo que isso não signifique muito ou o que quer que seja para alguém. Sinto-me cada vez mais aprisionado no meu mundo interior. Vejo o passado nas minhas memórias, analiso o meu presente em contraste com o que fui, na esperança de encontrar uma esperança no meu futuro, no objectivo de compreender, no objectivo de encontrar novamente momentos de felicidade. A base de dados que me acompanha é enorme e nem por isso eu me demarco no que quer que seja, no conhecimento. Sei que isso acontece porque não o demonstro, mas em última análise eu não sou capaz. Sou um ser aprisionado. Mas talvez, porque resta sempre a esperança que o contrário aconteça, eu, jamais encontrarei a paz do meu espírito. Em quem posso acreditar? Em que ombro eu posso encostar a minha cabeça azoada? Que fundamentos me farão viver, quando os músculos deixam de obedecer à vontade? Sinto-me culpado de tudo, e o pior é que é verdade, ou melhor, não deixa de ser verdade que sou culpado assim como não deixa de ser verdade que não sou. O paradoxo reina neste mundo, e mais no meu. Eu sinto-me a personificação desse paradoxo, capaz de provocar sentimentos contraditórios ao mesmo tempo nos outros, assim como eu os sinto contraditórios e ambivalentes. É esta ambivalência que me corrói e desgasta a minha alma e no geral todo o meu ser. Porquê esta atitude que me rigídifica e me paralisa, é uma pergunta que me coloco. Porque me anulo a mim próprio? Porque, por exemplo, a certos momentos parecem fazer sentido as minhas palavras e a outras horas estão destituídas do sentido que tiveram? Talvez tenha que ser assim, mas o meu espírito não é capaz de aceitar isso, como se tivesse que haver constância nas coisas, o que na verdade se revela impossível no meu entendimento. Mas, eu compreendo, ó Senhor, eu compreendo com o sentir que me foi legado. E entrei neste caminho do qual nunca mais vou largar, que até me provoca pânico. Porque não posso ter paz, na minha alma, mesmo que tudo estivesse a desabar, como outrora já tive. A paz de viver de acordo com o meu sentir e com o que sou.
Rasgando a noite, dia após dia, como que alucinado, trilho um caminho, que me foi vedado. Sigo esse caminho aparentemente intransponível talvez na esperança de conquistar um pouco mais de vida. Acho que toda a minha vida foi assim, a de um alucinado: alucinado pela dor do sofrimento, do sofrimento consciente. E diria mais, a minha vida é a de alguém que nasceu já assim, porque não teria outro modo de sobreviver se tal não acontecesse. Fiquei alucinado na hora em que nasci, se bem que já o seria na hora em que me conceberam. E pergunto-me porque tudo foi, é e terá de ser assim, para mim (?). Porque fico inebriado tão facilmente (?), e que ebriedade será essa que me deixa neste estado alucinado quando não posso estar ébrio, porque não posso nem me querem deixar andar ébrio (?). Devo ter ficado inebriado no momento em que respirei o ar pela primeira vez, quando todo o meu ser contactou com este mundo inefável, pela primeira vez, como se eu soubesse já o que me esperava. Fico ébrio com tudo o que os meus sentidos conseguem abranger e sentir. Fico ébrio com tudo o que posso imaginar na minha mente. E fico alucinado cada vez que tenho de sofrer, cada vez que tenho de conter toda essa ebriedade, cada vez que tento ser quem, na verdade, eu não sou. E mesmo nessas horas de sofrimento tudo me pode parecer belo, se eu conseguir sentir segundo o sentir que já nasceu comigo, segundo as minhas memórias, segundo aquilo que eu sou, e que vou redescobrindo à medida que o tempo passa. E, cada vez mais, eu me redescubro, nos ‘insights’ de momentos que foram marcantes para mim. Eu tenho uma foto ou passagens desses momentos no meu interior. Eu, cada vez mais, sou eu. Não posso fugir a tal destino, que é saber quem sou, na esperança de saber quem são os homens, que me fascinam tal como todas as criaturas e coisas que fazem parte deste universo, e primeiramente deste mundo que me envolve e me chega ao meu espírito através dos meus sentidos, e maioritariamente através de meios virtuais. E tenho medo das situações que me levam a fazer agir como se eu fosse uma pessoa normal. Tenho medo dessas situações que me levam a parar a minha memória, a esquecer o meu passado, dessas situações que me levam a que fique ofuscada a minha imaginação, e dessas pessoas que me querem induzir de tal modo que me querem fazer esquecer quem fui e que, afinal, tenho redescoberto, ainda sou e muito provavelmente continuarei a ser. Tenho medo dessas situações que me querem levar a sentir da maneira que eu não sei sentir. Antes de eu sentir, já eu era. Tudo o resto veio por acréscimo.
Como é belo este mundo, tão belo como o interior que o faz ser belo. Concordo que <<a beleza está nos olhos de quem a vê>>, a beleza está no interior de quem sente e cria tal sentimento, e, quiçá, esse sentimento seja um dom, que nasce com certas pessoas. Mas que paradoxo será esse entre a beleza da criação e da descoberta e invenção de novas coisas e o medo que existe que isso nos seja desfavorável à nossa sobrevivência (?), que paradoxo é esse entre o podermos ser livres de fazer o que quisermos da vida ( e do mundo) segundo aquilo que o homem pode fazer segundo a sua inteligência e imaginação e segundo os meios que tem ao seu alcance e ao mesmo tempo saber que esses actos (criativos ou outros) podem acarretar malefícios para a continuidade da própria humanidade, podem acarretar a destruição (mas não querendo desistir de fazer tais coisas belas, não querendo por de parte essa necessidade de descoberta e continuidade dos seus actos). Este tipo de questões tem influenciado a minha maneira de estar na vida, como se eu fosse um ponto fulcral entre pontos fulcrais nesta passagem da humanidade, sentindo de tal modo como se a vida estivesse em perigo constantemente, segundo o rumo que está a tomar. Na verdade, não sei porque sinto assim esta vida, como se eu fosse responsável por destinos que desconheço, como se arcar com o meu destino não bastasse somente. Reconheço que sou altruísta (no que diz respeito a sentimentos pelo menos), modéstia à parte. Mas não sei porque tenho de personificar esse sentimento de perigo, como se eu pudesse fazer alguma coisa mesmo que esse perigo seja real. E que posso eu fazer em relação a esse rumo (e que rumo será esse?) que nos conduz a algo que desconhecemos, e que talvez desconheçamos por muitos e muitos anos.
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