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Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

Estrada para o paraíso

Procura-se estrada para o paraíso. Caminhamos para nenhum lado, estamos numa estrada sem destino , we’re on a road to nowhere, Talking Heads, não me sai da cabeça este pensamento. E o meu caminho não me leva a lado nenhum. Cada passo que dou é um passo em falso e no vazio, caminho cada vez com menos amigos e vontade de viver, em lugar de ser ao contrário, só com a diferença em relação a muitos outros como eu é de que eu sei o que me faz andar assim, pelo menos penso saber, e isto se houver outros. Às vezes penso: ‘a honra e a dignidade devem ter algum sentido’; o sexo deve ter algum sentido’; ‘isto que sinto deve ter algum sentido’. A verdade é que estou mais desfasado do mundo que me rodeia, o mundo da interactividade real, in loco, distingo cada vez menos o que é real do que não é, da acção correcta da não correcta. O meu raciocínio anda péssimo. Vacilo a cada passo, sinto coisas que não devia sentir e o mundo quer cercar-me. Sou omnipotente quando sozinho com os meus pensamentos, com o meu conhecimento, com a minha ligação ao Universo, e, no entanto, sou a mais pequena e inofensiva criatura que alguma vez existiu à face da terra, a coisa mais vulnerável que Deus ao mundo pode deitar. Cada pensamento meu é um erro. Sinto o aproximar do meu destino, que caminha até mim inexoravelmente, sem que haja algo que o possa contrariar do seu objectivo que é destruir-me. De que modo posso preservar as minhas faculdades, a minha honra, o meu desejo, os meus sentimentos? Já sei, ninguém pode responder, este mundo é cada um para si. Na minha vida, a perfeição seria desejável, uma ponte entre o céu e a terra, onde vivesse no paraíso, fosse amado e sentisse esse sentimento e correspondesse a esse amor. Mas, eu vivo na terra, as pontes que nos unem são muito elitistas, o meu amor é uma utopia, da qual inúmeros se riem. Mas eu vivo neste mundo, de caos, pequeno, em que nesta amálgama é uma sorte estarmos vivos, ou precisamente, um azar…assim como é azar eu ter enveredado pelo caminho do pensamento intrincado e egoísta, como se houvesse uma sina que dissesse o que iria ser a minha vida. Na minha vida reina o medo, o medo de magoar e o medo de ser magoado, o medo de passar despercebido e o medo de ser o centro das atenções, o medo de existir… e na verdade existo, paradoxos sem fim, e afinal tudo isso faz parte deste Universo, e no entanto não pensei que chegaria um dia em que eu fosse afectado por isso negativamente. Onde eu passo tudo se transforma à minha passagem, como qualquer pessoa, mas o feedback que eu recebo do mundo é negativo e é pesado para mim, como se o mundo me quisesse devorar, como se eu tivesse feito coisas horríveis que não deveria ter feito, quando na verdade tudo deve ser más interpretações do meu pensamento. Mas a verdade é que o mundo toma ascendente sobre mim, e eu sinto-me uma nulidade sem capacidade de reacção, chorando infinitamente o meu sentir, a minha angústia de existir, a minha angústia existencial de não ser amado como devia, chorando e exagerando, como que desejando que tudo se torne realmente como o destino me quer fazer acreditar que existe, que é esse o caminho. Pois eu sou um ‘talking head’ na minha vida, sou uma ‘cabeça falante’, que monologa sem cessar. Ou talvez seja uma aberração, tentado atrair algo de bom para a minha vida, bons sentimentos, bom futuro, sem sucesso. Gostaria de falar sobre a alegria da vida, alegria da existência, a manifestação das mais belas coisas que existem, e caio, dia após dia, no erro da melancolia, do afastamento dos homens pela verdade que existe. Qual é o meu lugar no mundo, pergunto, a cada minuto que passa, nem que seja lá no mais profundo do meu inconsciente. Que sentido posso eu tomar para preservar o que de mais importante ainda me resta. O conhecimento envolve-me e faz-me mexer o pensamento, mas não me demove de onde estou. O mundo é uma constante algazarra da qual não consigo partilhar. A minha saúde falta-me, e ninguém consegue dar-me o que perco. Os meus passos assim não fazem sentido, por isso tropeço dia após dia, sobrepondo-me aos meus sentimentos, alimentando constantemente esta incapacidade de reacção. Como eu gostava de reagir (!)… Como gostava de olhar e ver olhares, interpreta-los, ser deste mundo, mas não sou. Só me resta a esperança. A eterna esperança de que, por exemplo, pelo menos quando morrer me sinta eu. Há suspiros que me esperam. Mas acho que um homem seria mais feliz castrado do desejo, simplesmente separar-se da sua animalidade e ser pura razão e ser amado não pela sua pujança física, mas pela sua pujança intelectual, começo a acreditar nisso. Tudo há-de ser consumido, romper - se – hão todos os ideais, todas as forças de ligação tenderão a perder-se, até mesmo os ideais mais enraizados na genética humana hão - de esfumar-se, tão certo assim como o meu fim é certo.  Neste longos momentos em que eu me consumo, eu me esfumo, eu voo para mais longe da orbita que eu um dia perdi. Navego agora sem destino, nesta promiscuidade de ideias e pensamentos, cada vez mais longe daquilo que algum dia fui. Adeus, adeus, digo constantemente para mim mesmo, adeus homens, seres ignóbeis, que o meu desejo tenderia a destruir se fosse ele que comandasse o destino deste Universo, mas sei que sou eu que estou errado, mas por favor, prova-mo (!), ou este será o paraíso do nirvana.

Do lado de lá

Estou do lado de lá. Dou comigo constantemente desse lado onde a minha voz ecoa sem rival, de onde quero sair sem encontrar uma porta definitiva que me tire desse labirinto em que me meti, sem querer e sem perceber como é possível tal. Sem perceber, pelo menos por enquanto, como quem procura uma causa da coisa mais improvável que possa acontecer. Estou desse lado onde sei mais do que ninguém quem sou, onde me vejo e compreendo completamente – ou pelo menos tendo sempre para isso -, onde vejo o meu passado e me identifico com o que fui – o passado e só o passado, como que o presente estivesse a deixar de existir e o futuro não quisesse mais vir -, onde verdadeiramente sou eu, onde tenho um lugar – desse lado – mas que nada significa quando existe tamanha incomunicabilidade com o lado de cá. Estou num Universo paralelo onde tudo é razão, desse lado onde as emoções não moram, onde vejo sorrisos que quero retribuir mas que neste vazio não existem, onde vejo desequilíbrios que quero corrigir, mas não consigo, porque as forças faltam-me, como se em mim algo me anulasse a mim próprio, como se estivesse a ficar paralisado, paulatinamente, como se me faltasse o ar que necessito para respirar. Desse lado onde, na verdade, os gestos, os rostos e os olhares não significam nada, para mim, como se em mim tivessem sido apagados os significados naturais de tudo isso, se é que alguma vez os tive. Gostava que algumas pessoas soubessem quem sou. Não sei quem deveriam ser essas pessoas. Gostava que elas conhecessem o meu lado da vida. Gostava que me levassem a conhecer o lado de cá da vida, de que tanto oiço falar e vejo virtualmente sem conseguir sentir. Mas é difícil estar do lado de cá, sentindo desta maneira, sentindo da maneira do lado de lá. Eu perco-me e descontrolo-me, eu sinto-me a apagar, cada vez mais pequeno, a ficar sem liberdade como se não fosse livre de respirar. E então, quando olho para os rostos do lado de cá, eu não vejo nada do que eles devem estar a transmitir, nada me dizem esses rostos e esses olhares, como se deixasse de pensar, como se tivesse estado toda a vida preso dentro duma masmorra sem ver gente, como se tivesse sido um autista – tenho medo de me tornar um autista -, a verdade é que não consigo olhar. Do lado de lá há apenas monólogos. E se desse lado de lá tudo pareço compreender, do lado de cá nada pareço entender, como se fosse tudo fugidio. Sei que houve um princípio para isto, alimentado pelo tempo que passou, como se fosse uma corrente que algo ou alguém me pôs e que não foi quebrada com o tempo, mas sim foi reforçada. Vejo muitos momentos desse reforço negativo, vejo-me muitas vezes a querer fugir daquilo que devia ter encarado de frente. Vejo que interpreto como negativo muito do que me acontece. Não contrariei essa força que me levou cada vez mais para esse lado de lá. E novamente resta o sentimento da esperança, que tudo seja menos mau, já que mau parece que tem de ser. Sei que falo da minha dor e que deve parecer que falo como se ela fosse absoluta e única e como se não fosse capaz de ver a dos que me rodeiam. Mas eu vejo e sinto-a, eu absolutizo na minha dor, a dor dos que me rodeiam, porque essa dor dos outros não me é indiferente, e não sei porquê isto. Porque não absolutizarei a alegria que há nos outros e tenho que absolutizar a dor, é uma questão que me coloco neste momento. Porque não poderei ser um ser equilibrado, pelo menos? E, entre estar do lado de lá ou estar do lado de cá, entre querer as duas coisas ao mesmo tempo, é como estar no reino da contradição, do paradoxo. Entre querer ter atenção em tudo o que me rodeia e controlar tudo, do lado de lá, e querer estar concentrado e deixar – me levar ao sabor do Universo do lado de cá, vivo numa situação de instabilidade e de implosão. Mas se isto dependesse de uma simples escolha, eu já teria escolhido, viria para o lado de cá, porque estou farto do lado de lá. Mas o problema é que eu não sei viver deste lado e tenho que ir aprendendo, se me for permitido, sem no entanto deixar o outro lado porque isso seria perder-me.

Vidas, essas

            Não sou de ninguém, ninguém me pertence. A ninguém pertence o meu prazer, nenhum prazer, de alguém, me pertence. A promiscuidade anda ai, tão perto de quem está tão longe (ausente espírito em constante busca), como se todos fossem iguais. Eles dizem que é o amor, eles dizem que é a paixão, mas acho que eles não sabem o que dizem, dizem as coisas sem pensar, não pensam no que dizem. Eu estou errado, eles não! Eu sinto, eu também vivo, mas eles é que estão no caminho certo, eles é que vivem com sentido! Eles exageram no que dizem, simplesmente dizem, e têm que falar mas acabam por nada dizer, como eu, que nunca falo. E há quem perceba do mundo mais do que eu, mas afinal de que mundo se fala? Sente-se e distancia-se de nós como um desconhecido, mas sou eu que interpreto mal... Sente-se e foge-se do que se sente, não querendo assumir aquilo que é inverosímil. Pois eu confesso, não sei o que isso é. Tão perto se está, e tão longe! Se fosse palpável! Mas é volátil, como um momento inesquecível e irrepetível. Se não me olhassem como um asno, eu seria como toda a gente é, uma normal e vulgar pessoa, concreta e definida como qualquer outra. Mas teimam em fazer-me diferente, como tenho sido desde sempre - indiferente a qualquer diferença, indiferente à minha diferença, mas afinal o que é a diferença? - e sempre serei.
            E vejo olhares perdidos no espaço e no tempo, o meu a cruzar todos eles, vejo de baixo, de cima, e de todos os ângulos onde a minha mente consegue abranger, cada vez mais, numa espiral sem fim. E dizem-me, isso faz-te mal, não o faças, segue o que é certo, aquilo que eu te digo, tu não estás bem, tens de pensar como o senso comum, tens de agir como os outros agem. O meu olhar tolda-se quando o meu mundo deixa de ser o que eu entendo dele. Ai, fico perigoso e em movimento, e só me destruo a mim próprio, como se fosse infiel à minha natureza, e afinal ela é como a de todos os homens. Quem não tem um fim certo? Exaspera-se enquanto se é vivo. Quanta exasperação em vão! Mas a dor leva-nos ao limite, se for esse o caso, para encontrar mais um momento de prazer.  
            Quanto desencontro neste mundo de encontros, quanta plenitude, num mundo cheio de vazio. De que serão feitas as cabeças desses homens? Vive-se segundo o que se acredita, porque não posso eu também viver segundo o que acredito? Ah, mas eu vou viver, eu um dia serei, eu atingirei uma meta não definida por mim a priori, mas que se define a cada passo que dou. Nada me pertence, mas pertenço a tudo. E continuo no fio da navalha. Continuo na corda bamba. Se chegar ao fim serei um herói, se cair, caio no vazio, mas na esperança de encontrar as águas deslizantes e profundas que me amortecerão a queda. Vivo na esperança da existência de um sustentáculo de tudo o que nos envolve e que permanecerá. Suporte complexo que nos dá a sensação de ser tão frágil ao mesmo tempo, quando se vê numa perspectiva maior.
            Tão vazio, de cansaço, trago o toque na memória, das vidas, essas, que não consigo compreender, mas que não desistirei de alcançar. E no entanto pode ser para breve, o tudo ou nada. Um desperdício, uma pena, a beleza, a inteligência, as vidas. Somente, estar juntos, esses espíritos, em sintonia.
           

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