Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Ultrapassando todos os limites da imaginação, há uma realidade que vai muito mais além dela e da qual estamos no encalço, pelo menos por vezes. Nesta busca incessante de liberdade, de satisfação das necessidades que nos sufocam literalmente até à morte perene, se não satisfeitas, assim, tanto a necessidade de comer como de amor, há um domínio por parte da necessidade não satisfeita que nos eleva o sentido da alma numa busca que por vezes se torna desesperada, uma busca por mais um tempo de vida. O domínio, do qual a inteligência, a sorte, a energia - que significa força física e/ou anímica - tenta superar, é algo que não é mal aceite por todos, tal como existem os masoquistas. Mas para mim não, neste sentido supremo da vida, custa-me que o domínio me afecte, e ainda para mais quando seja injustamente. A incapacidade de tudo não ser eternamente perfeito, que significa a existência do paradoxo, de querermos que tudo funcione bem e ser impossível tornar tal possível de uma maneira largamente funcional quando o desejamos e fazemos por isso, é algo que questiono constantemente: porque o auge não se pode prolongar, porque a proximidade é algo que não me assiste, assim como a muitos - fazendo a vida do mundo diversificada como é. Neste mundo de sonho, de virtualidade, a necessidade de dominar surge-nos muitas vezes, talvez faça parte da disputa das vidas pela evolução e não se possa ir contra isso, e, por vezes, estamos a dominar naturalmente, quando a natureza nos favorece, ou melhor, quando vai favorecendo alguns nessa reciprocidade entre natureza e individuo/ser que se dá, em que o individuo sai avantajado por qualquer cumulo de força dominadora que deve aparecer em determinado momento. Até que ponto vai o que está certo, o que é correcto fazer ou que está errado? Simplesmente, será fazer segundo a norma onde nos encontramos, caso contrário, se nadamos contra a corrente será difícil ou talvez impossível, perante a torrente, viver em harmonia; E os paradoxos surgem constantemente neste mundo, não é na minha vida somente, eles estão em todo lado, no que se diz querer fazer e no que se faz, por exemplo - que acaba-se por fazer precisamente o contrário- ou o discurso e o diálogo é contraditório muito facilmente; Mas, tudo isto é imparável (!). Porque quero eu mudar o que quer que seja (?): que aconteça simplesmente, e que a bonança esteja comigo, é tudo quanto posso pedir. Mas o meu tempo escapa, à medida que tenho mais para viver, à medida que o domínio é compreendido e de certo modo ultrapassado.
É muito boa a sensação de bem-estar, esta, depois de um repasto que assenta bem, seja ele do que for, frugal ou exótico, bem ou mal temperado, a esta hora, na acalmia do anoitecer. É muito boa esta sensação de plenitude, que ao mesmo tempo é acompanhada por um vazio mental, onde reina um nirvana, onde não há lugar para alegria ou tristeza, preocupação ou indiferença, onde há apenas o que é, o simples facto de estar aqui e existir, sentindo o eterno agradecimento de ter o meu ser, ser quem sou, mais nada do que isso. Chamaria a esta experiência e este estado uma experiência mística. Escrevo o que escrevo, preenchendo a minha vida interior, com o intuito de pôr na net umas palavras que possivelmente se perderão no tempo – mas com a esperança de que eu não tenha existido em vão -, num monólogo introvertido e eterno comigo mesmo, onde o senso comum não tem significado, onde existe apenas o meu ‘eu’, e a consciência de que esse ‘eu’ existe. Aqui há acalmia, neste estado de espírito que se apoderou de mim, hoje, neste momento, dure o tempo que durar. No entanto, sei que há uma revolta silenciosa que permanece em standby neste momento. Este momento em que a música ambiente me rodeia e me acolhe sem exaltações, ao contrário do que tem acontecido na maioria da vezes na minha vida. Até parece que estou apaixonado por mim mesmo, que quem me ‘visse’ o que eu sinto me acharia narcísico, mas não sou, e digo a frase feita: -se eu não gostar de mim quem vai gostar? - É obvio que em inúmeros momentos e situações só isso não basta para viver, gostamos, e, mais do que isso, sobretudo necessitamos, de ser apreciados, de que gostem de nós. Contudo, na minha vida, sei o quanto isso de ‘gostarem de nós’ é relativo, e, por isso, é importante que o amor-próprio prevaleça nesses momentos em que não somos apreciados e/ou em que os factores externos a nós não nos são favoráveis. Isto porque temos direito à vida e não podemos nem devemos abdicar dele, temos de lutar contra a incompreensão dos outros perante o nosso ser, lutar harmoniosamente para que os nossos ideais tenham seguimento. Muitos, ao ler isto, rir – se - hão do que digo, mas pouco me importa, não sei quem sois e estais entregues ao vosso destino como eu estou entregue ao meu. E esse simples facto, o vosso destino, já vos é suficiente para que essa risada escarniosa que fazeis vos traga o feedback futuro do que sentires sem respeito pelo que os outros sentem. Ao passares os olhos por uma das minhas palavras já estareis contaminados pela influência do que eu sou se é que já não estáveis, mesmo antes de vos encontrares com estas palavras. E não há que ter medo, e mesmo que se tenha, isso é normal. Não sou eu que mato com as minhas palavras, mas são os significados que elas têm para vós que influenciarão o vosso futuro, talvez o encontro com uma verdade que não querias assumir e que te acendeu uma luz na mente. Comigo passou-se tão vivamente isso, que ainda agora tremo, tal a intensidade de medo pelo desconhecido que senti. E a revolução silenciosa continua a dar-se.
Não podemos obrigar as pessoas a gostarem de nós. Não podemos agradar a todos. Acho que se a verdade tivesse cara não seria bela, e por isso não gostariam dela. A verdade será a última instância de tudo o que existe. O mundo dos seres é um mundo fingido e artificial, uma realidade efémera dada por sentidos virtuais. Como última instância de tudo o que existe, a verdade é o suporte básico de tudo o que existe, talvez tenha sido o princípio e será o fim. A verdade é o vazio da existência ou a não existência. E nós estamos num momento intercalar – a existência - dessa não – existência. Talvez os seres fujam dela (a verdade) quando por vezes dizem procurá-la, porque não cabe na nossa mente que haja uma não existência, um vazio depois de termos vivido e termos um ser coerente, sermos algo funcional e especial, queremos acreditar que há continuidade nas coisas. A verdade dói, mas não quer dizer que não possamos viver sabendo que ela existe. E é verdade que quanto mais interpretamos mais vazia, contraditória e confusa se torna a existência, parece que compreendemos mais, mas nada sabemos que já não tenhamos sabido desde sempre, um saber nato que faz parte do nosso ser logo que nascemos. Toda a filosofia se encontra em estado latente ao nascer, o que se passa é que nos vamos redescobrindo à medida que o tempo passa. Aperfeiçoamos técnicas, descobrimos novas maneiras de explorar a terra, mas a filosofia, essa, já existia e continuará a existir, o conjunto de equações do pensamento que nos leva a um resultado simples. Termino hoje esta revolução silenciosa e mental que me envolve, na ideia que tenho sempre: que por mais que pense e abarque o mundo com o meu conhecimento jamais encontrarei a resposta para o que procuro, se bem que por vezes ache que estou no caminho certo. Não quero cair no vazio demasiado cedo, sabendo que ele existe, quando ainda há caminho pela frente.
É urgente o desejo intenso que nos consome. So, come to me… É urgente e incompreensível, a necessidade de satisfazermos os nossos ímpetos. Tendemos para o outro e a vida não faz sentido sem o outro. Vivemos também porque fazemos parte de uma sociedade, complexa, e de tal maneira complexa, que nos torna vulneráveis, pelo afastamento que já temos, e cada vez mais temos, da sociedade de outrora. Cada vez somos menos auto-suficientes e mais dependentes desta sociedade, e se algum dia acontecer algo de grave na estruturação da nossa sociedade e da maneira como esta se organiza, vai haver muito provavelmente uma grave crise social. Vejamos um exemplo localizado, o furacão Katrina de 2005 que assolou a América, mais precisamente em Nova Orleães. O furacão pôs à mostra e demonstrou precisamente a incapacidade humana para dar uma resposta conveniente face à situação que se gerou. Não morreram mais pessoas porque fugiram a tempo, mas quem ficou, sentiu na pele a impotência de não poder fazer nada e nem as ajudas (externas) foram imediatamente frutíferas e salvadoras tal foi o caos que se criou com o rebentamento dos diques que orientavam as águas e que inundaram a cidade, sendo ela plana e estando numa situação de localização baixa, julgo que abaixo de tais canais que orientavam a água. Toda aquela cidade complexa ficou imensamente destruída (socialmente muito mais, talvez) e com uma reconstrução difícil pela frente. Os que sobreviveram necessitaram de ajuda exterior, concerteza, para o difícil futuro que se previa. Individualmente, cada ser em particular, de uma maneira geral, possui precisamente, hoje em dia, menos capacidade física para reagir com força física a possíveis problemas que possam surgir, caso surja a impossibilidade de ter todos os seus artefactos, toda a sua técnica - que é o que faz desenvolver toda esta sociedade, com base na exploração da natureza em profundidade como nunca foi feito antes – à mão e a poder funcionar para salvação em caso de catástrofe. O homem hoje em dia está mais vulnerável, de uma maneira geral, e psicologicamente também. Se de repente nos virmos sem electricidade, logo sem televisão e computadores e outras coisas mais que fazem parte do nosso dia-a-dia, o homem cairia num vazio, o de como agir perante tais ausências, que poderia ser mais momentâneo e reagir, ou então poderia prolongar-se e não ter a capacidade de reagir e cair numa depressão (dependendo das pessoas) – e isto seria um filme de terror. Eu não sei como reagiria a uma situação dessas, mas provavelmente mal, sei-o. Mas a vida é mais que um filme de terror muitas vezes, sentimento que eu não descarto, tal é a dureza com que age com certos homens (psicologicamente em mim, também). O homem tem uma noção de que as coisas se alteram muito gradualmente e tudo o que é geral se mantém no tempo, e que todas as técnicas novas criadas, e que tudo o que conquistou é um dado adquirido, que existe uma estabilidade. Mas eu diria que cada vez mais a catástrofe é iminente, sendo uma questão de tempo, mais ou menos curta ou mais ou menos longa, e que o homem tenta prever, e procura não acreditar, porque não consegue imaginar, ou não quer imaginar, o que será tal coisa, a catástrofe, ou por ignorância, ou por outro motivo qualquer. Uma catástrofe pode por em causa tudo. Para já todas as catástrofes estão a ser localizadas, apesar de cada vez mais frequentes. E estou a lembrar-me do terramoto do Haiti, em Janeiro deste ano. Aquela sociedade ficou literalmente arrasada. A sobrevivência fica seriamente comprometida com tais catástrofes, em que os seres ficam à mercê da sorte do que os rodeia, de acordo com as suas características físicas e mentais (psicológicas). Mais do que em qualquer situação, as catástrofes geram, ou devem gerar (se não for o caso de gerar), união entre os seres para que se possa reconstruir toda uma nova estabilidade e uma organização de vida social e material. Mas a perda mais ou menos massiva de vidas é inevitável. O espaço é cada vez mais reduzido, a exploração é intensa, e as pessoas só querem viver imensamente mais do que o necessário, e desnecessariamente abusam do material, da matéria-prima, consomem os recursos, e não pensam no futuro das gerações, porque todo o homem, se pudesse, viveria, egoisticamente, tudo numa só vida, não tendo capacidade de abdicar pelo seu futuro, pelo amor dos seus filhos e de todos os seus primogénitos, das pessoas que são os outros. Necessitamos do outro, e a nossa cultura para partilhar a nossa vida com o outro é complexa. E nesta complexa sociedade culturalmente evoluída, o individualismo está acima do todo que é a sociedade. Com o individualismo vem o orgulho, o menosprezo pelo que nos envolve como se cada um, cada ser que nasce, tem todos os direitos acima dos outros, mas mais ainda, acima da própria natureza. Pois esta civilização é um momento, no meu olhar, perspectivado do que sei.
A urgência do desejo cega-me, assim como cegará todo o homem, que age inconscientemente por um sentimento animalesco, e mais, por um sentimento de poder, de dominar o outro. Continuo a achar que o homem não passa de um simples animal, que tenta atingir o domínio do Deuses, mas errando completamente o seu percurso, porque à medida que chega perto do conhecimento dos Deuses, deixa atrás um caminho de destruição, porque será eternamente imperfeito. A destruição do seu espaço será a sua aniquilação. O homem segue errante. Resta a consolação na urgência do desejo, do amor, que nos leva ao sonho. Somos infinitamente pequenos, mas com visões altaneiras, é certo, e bastos como formigas que trabalham cegamente com uma finalidade não definida, que não sabem para que trabalham. – Sei que falo como se eu fosse de um mundo diferente, como se do que falo não me fosse afectar a mim, mas sou um homem, simplesmente, e a urgência do sentir faz-me utilizar todos os recursos que tenho para comunicar com o que é exterior a mim, com o Universo, com a natureza que me envolve, e sou afectado por tudo o que sinto e digo -. Que significa ‘sobrevivência’? Perpetuação dos genes e viver o tempo suficiente para tal acontecer. 'Procura do amor' dirá o homem hodierno. E os significados diluem-se uns com os outros (se bem que os querem separar à força, desintegrar tudo o que é uno para estudar as suas funções) e já não percebemos o que significa a vivência. O mundo dos sonhos? É o que nos é dado através do virtual e nos intensifica a realidade. Que significa amor e sexo? De que maneira se interpenetram? Estes são os verdadeiros conceitos da sobrevivência e da supremacia neste mundo. O desejo mais intenso que desafia a própria morte, morte que acaba sempre por vencer. A fonte de toda a complexidade do ser humano, que inventa as suas adorações e a sua adorável e fantástica cultura, que cultiva uma ideia de beleza e a faz render, tudo por momentos únicos. Momentos únicos que fazem desenrolar a história e todos os acontecimentos para esse fim. Quando o desejo urge, a morte não faz mais sentido, tal como a fome tem que ser saciada urgentemente na ausência de alimento, pois a morte é iminente, é uma questão breve no tempo. E custa-me pensar, ver e viver, imensamente, a mim - pois parece-me tão verosímil esta ideia que me surge, a do nirvana, de modo que tudo, a nossa acção, é indiferente - num mundo que desaba, o nosso mundo que seja, somente. Desabamos, o nosso sistema desaparecerá e apenas restará a nossa manifestação daquilo que fomos, aquilo que fizemos, que por sua vez poderá perdurar mais ou menos, dependendo de infinitas variáveis, dependendo se é material ou imaterial, sabendo que existirá enquanto houver cultura humana para entender a nossa acção neste mundo, e toda a nossa acção só existirá enquanto essa cultura for viável no tempo, enquanto existirem homens que nos entendam e queiram perdurar a nossa acção, a nossa obra. É urgente o nosso ensejo, o meu ensejo de construir castelos firmes neste mundo, destruir o menos possível, purificar o meu ser e a minha vida. Sei que um dia regressarei para onde vim, é urgente esse sentimento de harmonia e paz. Nasci e cresci, urgentemente, à margem de todos os conhecimentos, que agora possuo, e nunca pensei chegar até onde cheguei, nunca pensei que enveredaria por este caminho, único e sem retrocesso, que veria por um prisma diferente como hoje vejo. Pensei que a vida seria plena para mim, envolvi-me no meu interior, no chamamento de um Universo que não compreendia e que me falava, e agora o sinto tão próximo, tal como a loucura que os homens inventam, para dominarem homens. Eu tento urgentemente viver. Viver como vivo, univocamente, mas com a utopia de encontrar um elo perdido de ligação com este mundo. Urge fugir do vazio, reencontrar-me e reencontramo-nos com a sensatez, a abertura do espírito à sabedoria, à inteligência, ao bom senso, porque fazer um mundo melhor é possível, fazer com que o mundo bata seus corações em uníssono, sem destruir mais do que o necessário, sem desconfiar no sentimento que se abre, de modéstia e paciência. A mim é-me urgente a riqueza, mas uma riqueza que seja sustentável, uma vida plena de amor e bens materiais quanto baste. A ‘urgência’ nunca teve mais em moda do que agora, a urgência de se repensar o mundo, de mudanças tais que não cabem a um só homem fazer, a urgência de reparar todo o mal produzido a partir de coisas feitas para o bem, a maior parte das vezes. Urge-me a mim, o desejo de saber onde fica a fonte, ou as fontes, do bem e a origem, ou as origens, do mal, mesmo quando um dia já se seguiu o caminho da rectidão e nos perdemos. O desejo de saber e compreender é imenso, movem-se montanhas para atingir a compreensão das coisas, se bem que a maioria das pessoas segue um normal encaminhamento da vida, não vendo, porque não querem, ou porque têm medo de que aquilo que temem seja verdade, ou por outro motivo qualquer, fechando os olhos aquilo que é o conhecimento. E o conhecimento brota de toda a cultura humana, de tudo o que é possível e imaginário. E uma força brutal existe neste preciso momento, deste ano que corre, de conhecimento, e de formação de realidades que eram imagináveis há anos atrás. Urge o tempo, - e o desejo enorme de uma multidão sem nome, de algo que é indiferente a tudo o que é particular e individual -, um desejo da maioria da sociedade humana, concretiza-se, como se se transformasse numa orgia global. Será que isto é um vulcão prestes a rebentar, ou prestes, simplesmente, a expelir lava?
Preciso de me esconder. Preciso de afecto, mas para isso também preciso de sentir, e saber sentir. Preciso de muita coisa. Precisava de me renovar, de renascer, por certo. Precisava de não ser e ter o meu caminho aberto para ser tudo aquilo que queria ser sem medos. Disseram-me um dia, variadas e consistentes vezes, de que o meu mundo não fazia sentido, disseram-mo directa e indirectamente. Tanto foi a insistência que eu acabei por acreditar, e cada vez mais caio na força desse abismo, que isso é verdade, esse complô que se virou contra mim e que já estava escrito na minha sina me atordoou e me continua convencendo que afinal o meu mundo é um castelo de cartas, que o meu passado não tem alicerces fundamentais para construir uma vida em equilíbrio sustentável. A minha vida reside num ciclo, como que fechado, em que sou um balão que infla e que irá rebentar, se não mudar. Afinal a minha crise existencial vem desde sempre e quer permanecer comigo forçosamente, e não sei como me hei-de livrar dela, como que se o paradoxo me consumisse, seguindo eu assistindo, como que paralisado, sem poder fazer nada para me defender. Eu luto, talvez contra um sistema que não pode ser mudado por um homem, por um homem que grita desde sempre: ‘Esse não pode ser o meu destino! ’; e ‘A minha vida tem que ter um sentido (!), eu tenho que sentir e ser livre de ser quem sou!’, quando cada vez estou mais dentro desse destino, na linha que me levará sucessivamente a pontos sem retorno. Poderei eu, e residirá aí a minha esperança (?) de pelo menos conseguir mudar a minha atenção e o meu olhar virando-o para o futuro e simplesmente, como que, anular o sentimento do passado? Ou isso será simplesmente um sonho? Pois eu ainda estou esperando por esse momento magnífico, em que eu possa ser humano novamente, e viver com aquilo que não posso mudar em mim. Eu estou preso e esperando por um momento… I am hanging by a moment… by the moment, direi. Se tal momento não acontecer, poderei dizer que continuo a morrer, e morro infeliz, mas feliz por um dia ter sido feliz e por ter vivido. Eu morro junto com este mundo belo e perene, com vontade de ser grande, e de não ser limitado, mas ilimitado serei um dia. Falo de morte de tristeza e de um reino de trevas. Utilizo, para isso, palavras que já foram ditas infinitas vezes. Eu reconstruo macabramente essas palavras e esses conceitos e interligo-os de maneira fantástica na minha mente, eu crio medos e mais medos para a minha mente, interpretações que se tornam automáticas e me dominam completamente. E tenho aquela sensação de sentir como sempre senti sem ter mudado muito, apenas me apercebo cada vez mais do que fui e do que sou na maneira de sentir se mantém. A minha mente extravasou a sua capacidade faz tempos, sei que nunca mais serei o mesmo, mas… eu… só queria o meu lugar no mundo, que continuo a lutar para o conquistar. Eu preciso de um milagre, preciso de sair deste mundo de análise pura do mundo, deste reino de escuridão, e sentir a luz que raia algures no mundo. E, sabes, o que mais me entristece, é que é verdade que é o momento que tem valor na vida, não o passado ou o futuro, e então eu fiquei algures perdido no passado, e não me contento em saber porque tudo não fará sentido um dia. Resgata-me esta vida, traz-me de volta à vida e diz-me que tudo o que senti de mau é falso, ou então, melhor ainda, concorda comigo e partilha a minha dor, para que eu possa ter um momento de alegria contigo no momento que me resta. Com quem eu tenho falado todo este tempo? Devo falar contigo com respeito e formalidade ou com intimidade e à vontade? Expansivamente ou retraidamente? Imaginei uma entidade que me protegia, sentia uma força tão grande na minha vida que acreditava que era essa entidade, como que concreta e definida fosse, que me acompanhava e me guiava e protegia, porque eu tinha a certeza que eu era especial. Agora não sei mais isso. Tudo se transformou em dúvida, o impensável vem ter comigo, essa entidade diluísse com as interpretações que o meu organismo tira sem eu poder jamais controlar a maneira como o faz. Deve ser esta resistência, que eu aplico em tudo, que me arrasta e destrói, que me faz sofrer, este atrito de não querer ir ao sabor do sistema que possivelmente, quase que me atrevo a dizer neste momento que é indiferente e imenso, mais imenso do que eu alguma vez possa imaginar. Não, a minha mente precisava também de alívio e renovação. E eu pergunto-me porquê? Porque perdi eu o sentido de unicidade e integridade do meu ser? Quero seguir o sol do meio-dia, quero brilhar nos meus sentimentos, quero que não sinta o bem e o mal, apenas sinta, porque tudo o resto foi inventado, e a vida de muitos é simplesmente como é, e ela é mais insignificante do que se pensa, mas a minha se o é, tem que ter um sentido, forçosamente.
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