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Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

Fronteiras da Vida [Áudio]

Fronteiras da Vida [Áudio]

Áudio do texto:

https://johnybigodes.blogs.sapo.pt/fronteiras-da-vida-99107

 

 

 

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A dominância dos limites

                     Ultrapassando todos os limites da imaginação, há uma realidade que vai muito mais além dela e da qual estamos no encalço, pelo menos por vezes. Nesta busca incessante de liberdade, de satisfação das necessidades que nos sufocam literalmente até à morte perene, se não satisfeitas, assim, tanto a necessidade de comer como de amor, há um domínio por parte da necessidade não satisfeita que nos eleva o sentido da alma numa busca que por vezes se torna desesperada, uma busca por mais um tempo de vida. O domínio, do qual a inteligência, a sorte, a energia - que significa força física e/ou anímica - tenta superar, é algo que não é mal aceite por todos, tal como existem os masoquistas. Mas para mim não, neste sentido supremo da vida, custa-me que o domínio me afecte, e ainda para mais quando seja injustamente. A incapacidade de tudo não ser eternamente perfeito, que significa a existência do paradoxo, de querermos que tudo funcione bem e ser impossível tornar tal possível de uma maneira largamente funcional quando o desejamos e fazemos por isso, é algo que questiono constantemente: porque o auge não se pode prolongar, porque a proximidade é algo que não me assiste, assim como a muitos - fazendo a vida do mundo diversificada como é. Neste mundo de sonho, de virtualidade, a necessidade de dominar surge-nos muitas vezes, talvez faça parte da disputa das vidas pela evolução e não se possa ir contra isso, e, por vezes, estamos a dominar naturalmente, quando a natureza nos favorece, ou melhor, quando vai favorecendo alguns nessa reciprocidade entre natureza e individuo/ser que se dá, em que o individuo sai avantajado por qualquer cumulo de força dominadora que deve aparecer em determinado momento. Até que ponto vai o que está certo, o que é correcto fazer ou que está errado? Simplesmente, será fazer segundo a norma onde nos encontramos, caso contrário, se nadamos contra a corrente será difícil ou talvez impossível, perante a torrente, viver em harmonia; E os paradoxos surgem constantemente neste mundo, não é na minha vida somente, eles estão em todo lado, no que se diz querer fazer e no que se faz, por exemplo - que acaba-se por fazer precisamente o contrário- ou o discurso e o diálogo é contraditório muito facilmente; Mas, tudo isto é imparável (!). Porque quero eu mudar o que quer que seja (?): que aconteça simplesmente, e que a bonança esteja comigo, é tudo quanto posso pedir. Mas o meu tempo escapa, à medida que tenho mais para viver, à medida que o domínio é compreendido e de certo modo ultrapassado.

Uma nova consciência [Emerge de mim]

            Estou diferente. Sou a mesma pessoa, na conduta que me rege, no entanto muito em mim mudou, quero crer nisso pela maneira como me sinto e me vejo. Não sou mais uma criança, e ainda, no entanto, continuo à procura dos significados de ‘criança’, ‘jovem’ e ‘adulto’, porque ao mesmo tempo eu sinto-me como se sempre tivesse sido o que sou e da maneira que sinto, apenas cresci fisicamente e tenho mais conhecimento. Particularmente, sinto que a minha consciência mudou, e ela continua emergindo, daquilo onde sempre eu fui e existi. O Professor Marcus du Sautoy, na BBC, fala da existência de um código em tudo o que existe ao nosso redor, do qual fazemos parte, fala de um código matemático, o qual tenta demonstrar através de exemplos concretos que existem à nossa volta, de compreensão relativamente acessível para quem tem conhecimentos básicos de matemática. Mas eu ao ver estes documentários dele, assim como tenho visto outros documentários dele e de outros de outro tipo, sinto-me a crescer para lá dos meus limites, o meu conhecimento transborda constantemente, a minha consciência de mim e do mundo que me envolve e mesmo do Universo aumenta consideravelmente. Não sei onde este caminho me vai levar, mas já vim de muito longe até aqui, e sinto-me um privilegiado por estar aqui e saber e ser o que sou, por sentir algo novo como estou a sentir no presente, como se fosse a dádiva de algo para comigo. Mas tal como todos os seres sou um ser delicado e não quero ser magoado, que não quer deitar tudo o que sei e sou a perder. E realmente convenço-me cada vez mais que é possível compreender, o que somos e o que existe à nossa volta, como se tudo pudesse ser simplificado, sem no entanto querer dizer com isto que o conhecimento e compreensão de que falo seja um dado adquirido para qualquer pessoa, mas sim para um numero mais reduzido de pessoas, e muitas só com muito esforço ultrapassarão os limites a que algo exterior a elas as tenta limitar e controlar, essa estranhas e inúmeras variáveis que nos envolvem. Muito do que vem a ter até mim, é a confirmação de algo que eu já senti no tempo passado da minha vida, como se eu previsse aquilo que me é demonstrado, através dos meus olhos, do meus ouvidos, da minha mente, enfim, de todo o meu ser; muito do que vem até mim me fascina assim como me fascina o porquê de eu ter nascido com esta conduta de vida, com esta maneira de ser e de sentir que me apreendeu e me trouxe até hoje. A minha vida não tem seguido consistentemente e dentro de um limite como um rio que segue dentro daquelas suas margens, quero dizer, com o gosto por uma única coisa, por uma única profissão, por um conhecimento particular esquecendo, digamos, ‘que tudo o resto existe’ ou que não é comigo tudo o que de resto se passa à minha volta. Assim, tenho adquirido ao longo da minha vida um conhecimento muito generalizado de tudo o que consigo abranger dentro do tempo que vou tendo e com a motivação que me vai surgindo ao longo desse tempo. A minha cabeça não tem parado de trabalhar ao longo de todos estes anos, segundo após segundo, tentando compreender aquilo que deveria ser para não compreender ou esquecer, que tudo é um acaso, que não interessa analisar, a minha vida, o porquê de tudo isto que sou eu e do que se passa (?), comigo em particular; Pensando fortemente eu aprendo, além de tudo o que sinto e comparo e associo, tudo, dentro desta caixa mágica que está bem em cima do que eu sou. É óbvio que poderão dizer que isto, que este modo de estar na vida, não me dá o pão de cada dia, e é verdade (!) que não me tem dado o ganho monetário para viver [vi-me algures no tempo perdido e a querer desaparecer sem saber o que fazer para ganhar tostão na vida, até que encontrei um emprego para ter algum metal ou papel mais estúpido que alguém inventou como tendo valor em si]; mas quem sabe se (este modo de estar na vida) não tem facilitado a minha existência que de outro modo seria pior, muito pior, por tudo o que tenho dito neste blog, como se fosse uma chance de ultrapassar a minha vã existência tornando-a em algo especial – mas tenho a dizer que tem sido uma maneira de viver oculta, dentro de mim, e vivida nos tempo livres, aqueles de quando quero fugir ao destino fútil que me quer envolver -. Eu sou generalista, e eu me tento relacionar entre toda esta generalidade da qual faço parte, com o Universo, e tento perceber o ‘como’ e o ‘porque’ o Universo fala assim à minha alma e ao meu ser, porque não sou eu mais nem menos do que qualquer outro ser existente neste planeta, apesar de sentir como sinto e de pensar que sou especial. Eu tento estar, como sempre ‘optei’ [ou talvez não tenha sido opção] por estar no centro de tudo, perto da média, perto do equilíbrio, o ponto ou a zona mais difícil de estar neste mundo, por ela ser tão breve em qualquer medida de tempo a que nos refiramos. É aí, no equilíbrio, no centro ou na média, entre os extremos, que reside a virtude da vida, e é ai que eu tento pôr a minha virtude. Ainda sobre o Professor Marcus du Sautoy e os documentários que fez sobre ‘o código’, ele refere a existência do caos na vida, da complexidade que algo toma à medida que o tempo passa e à medida que as variáveis aumentam, referindo-se ao mesmo tempo da existência de padrões que se tendem a descobrir. Ele se refere à existência perene e ocasional de padrões perfeitos (geométricos em particular entre outros), coincidindo com o que eu já disse outrora aqui sobre a existência escassa e difícil de atingir, as perfeições; extrapolando, as acções dos seres vivos perfeitas que tenderemos a compreender com o tempo, à medida que ele urge e o espaço equilibrado e vital para nós se tende a deteriorar.

            Tento estar no equilíbrio, no centro, na média, na perfeição, na virtude, mas a verdade é que isso é complicado a maioria das vezes, porque parece ser quase impossível, se é que o não é ser ou estar de tal modo. As forças que nos envolvem, as pessoas que me envolvem não pensam como eu, não têm a mesma conduta - e nem todos somos bonitos e com sorte -, nem todos ambicionamos o equilíbrio porque o homem ousa tentar pôr à prova o equilíbrio, desequilibrando-o, sem necessidade, blasfemando a sua breve existência, semeando a má semente entre a boa semente, parafraseando a literatura bíblica, quando ele tem a capacidade de separar o trigo do joio. Talvez a minha perfeição seja um estado de espirito meu, que eu ambiciono, e que se torna tão difícil de alcançar. Terei pena se um dia a minha vida descambar para o incerto desequilíbrio, como já senti alguma vez na vida, duvidarei de tudo outra vez, e terei medo de me esquecer o que sou e o que fui, de esquecer a relação de forças (parentais, em particular, entre outras) que me moldaram. Acho que sou capaz de me reparar, de tornar o mau passado em bom futuro. Muito de mau vem ao meu encontro até ao momento presente, não encontro em quem confiar e parece-me que as pessoas estão sempre a lixar-me, não sei porque se passa isso, mas ambiciono que tudo isto mude, e a forças da confiança me ilumine e me faça prosperar no que é certo e viva feliz o resto do tempo que ainda tenho. Assim, o iceberg degela e emerge cada vez mais pequeno.

 

Surpreendido com... o pensar e o respirar

      Deveria respirar melhor do que pensar, mas não, em mim é precisamente o contrário que acontece. Quando mergulho nos pensamentos, eles se apoderam de mim, e é com prazer que eu sinto isso quando nada ao meu redor me perturba. Absorvo-me de tal modo, muitas vezes em conversa, que tenho que fazer um esforço, grande, para acompanhar e compreender os pensamentos de quem me está a falar sobre qualquer coisa, quando me estão, precisamente, a dirigir a palavra e perco-me constantemente das ideias transmitidas, ouvindo palavras soltas que apanho apenas quando o meu pensamento me deixa, e muitas vezes (vezes de mais) meu ser entra em pânico quando não consegue compreender o que está a ser transmitido. É como que o meu tipo de pensar não acompanhasse o pensar de uma pessoa comum, de uma ideia que está a ser transmitida e é comum, e, pior ainda, quando são vários interlocutores, como se fosse para mim impossível ter os dois tipos de pensamento (consciente e inconsciente) ao mesmo tempo, como se o meu pensar íntimo e inconsciente tivesse sido tornado consciente e ocupasse o lugar do pensamento consciente que rege os cinco sentidos e de sentimentos imediatos, e que também rege uma mente direccionada. É um pensamento evasivo, o meu, já o disse mais vezes, e até compreendo em mim o porquê de eu me ter tornado assim - meu pai tem grande cota parte nesse problema, por falar de mais, erradamente e controladoramente tendo eu evadido o meu pensamento também ao estar com pessoas que falam de mais como ele; e também, consequentemente, por não me deixar pensar por mim próprio, não me ajudou de nenhum modo a tornar-me livre no pensamento e livre e equilibrado emocionalmente, pelo contrário reprimiu-me ainda mais, além da minha pré-disposição para ser introvertido, tendo-me tornado eu um estranho neste mundo: na maneira de senti-lo e na minha (In) capacidade de exprimir-me normalmente -, decerto sou uma pessoa incomum, que tenta fazer dos handicaps (as minhas desvantagens, os meus obstáculos e incapacidades), a força de viver, melhor, sobreviver com o mínimo de qualidade e transformá-los em vantagens. Assim me tornei ‘eu’, assim sou eu, agora, a compreender, sobretudo ‘quando estou na minha’, os conceitos mais profundos da vida e de tudo quanto existe e a perder-me no que deveria ser mais óbvio e que é mais comum: as relações humanas. Quando estamos numa conversa não podemos ser evasivos do momento e do que se está a falar, se queremos sentir-nos em sintonia com os locutores da conversa e de acordo com o contexto. Mas em mim, o pensamento inconsciente torna-se consciente e ocupa o lugar da minha atenção, e o pânico acontece perante tal incompreensão verbal e/ou do contexto social do que se está a passar. É assim que eu tenho vivido, com todas as dificuldades de quem tenta saber mais e mais - tentando ultrapassar todos os limites até não mais poder, saber o porquê de tudo isto me acontecer -, não tendo eu, pelo menos aparentemente, arcaboiço para aguentar com tudo o que quero levar para a frente, o que quero empreender na minha vida, mas surpreendendo-me a mim e em surpresa com tudo o que a minha vida me revela, dia após dia.

Um complô dificil de entender

      Não vejo a face que está do outro lado. Procuro-a, mas não a encontro. Há um vazio entre esta diferença abismal do que sinto e sou capaz de compreender e do que sou capaz de fazer. Acredito que compreendo (isto tudo que sinto é compreensão, só pode ser), mas não posso ou consigo dizê-lo, sou incapaz. E porquê? Talvez eu esteja preso perante a imensidade, talvez porque o mundo que me envolve me tende a sentir perdido; Talvez seja eu que sou tão pequeno para fazer e tão grande para ver, ínfimo no ser físico e na capacidade de executar e vasto no sentimento interior e faculdade de sentir e analisar; Talvez porque eu esteja virado mais para o interior do que para o exterior; talvez porque eu absorvo mais do que o meu organismo desde sempre ou algum dia poderá construir ou exprimir. Exprimir-me é como uma doença, não me deixaram [o mundo que me rodeia: os meus pais, a minha cultura e cultura dos que me rodeiam] desenvolver a capacidade de expressão, além de que, conseguir ver toda a minha trajectória de vida na minha mente e nos meus sentimentos [como sou capaz de ver e sentir], até aos dias em que estou, saber o que me afecta e não ter a capacidade suficiente de ultrapassar todos os obstáculos, é a causa de uma doença, conformada nos limites da esperança de que dias melhores ainda virão, e que haverá sempre dias menos maus e mesmo bons, de sentimentos positivos, de sentimento de liberdade enquanto tal não se der. Lutar contra todo este atrito de expressão é como lutar contra a pequenez a que a minha vida me quer votar, a indiferença do mundo perante mim. Não consigo medir o meu alcance, o alcance das minhas acções, de todo o meu ser em contacto com o mundo [mundo esse que é o que sei e conheço], pelo menos de uma maneira concreta e objectiva, conseguindo no entanto ver a subjectividade das minhas acções.

 

Artista

 

Artista. Um artista do sentir. Assim queria ser eu, e sendo isso eu queria sentir-me bem. Um artista é dos melhores. Um artista tem um dom de fazer bem aquilo a que se dispõe fazer, aquilo que o atrai mais que nada na vida. Um artista quer produzir serviço, arte, melhorando dia a dia aquilo que faz. Ser um artista não é ser bom em tudo, mas sim nalguma coisa. Eu sou um artista do sentir. Eu proponho-me a ser e atingir aquilo que quero ser, mas eu ando em desequilíbrio. Talvez os artistas sejam desequilibrados, forçam seus sentidos à volta daquilo que mais os atrai, que mais gostam de fazer, eles são capazes de sacrificar o seu organismo em nome daquilo em que acreditam que tem sentido na vida deles. Eles, através da sua arte tentam comunicar com os outros, na esperança de ser ouvidos e ser correspondidos. Ninguém é ninguém sem o contacto com os outros. Quantos artistas passam por nós, e nem os vemos, simplesmente não ligamos, porque não os conhecemos. Quanto artista é desprezado ou simplesmente ignorado, porque a sua arte não é valorizada, ou não compreendida ou não conhecida. Um artista faz obra, mas para ter sucesso o seu trabalho ele tem que dar a cara pela sua obra. Mas um artista também pode ter medo de ser desprezado, mal entendido, e mandado para a forca por mal entendido da sua obra, e por isso prefere ser anónimo. Um artista sacrifica-se, e faz de tudo para que possa exercer a sua arte e para que tenha valor. Um artista produz algo, que tenta melhorar continuamente. Para um artista do sentir não existem palavras suficientes, longe disso, para descrever tudo o que vai na sua alma. Ele sente intensamente a vida, a sua vida, que é aquela com que sempre vai prosseguir. Um artista do sentir que seja solitário vê cada vez mais, sentindo cada vez mais, andando sempre em ebulição. Um artista do sentir solitário e fechado sobre si mesmo e sobre o que sente faz vibrar as ondas do Universo, tudo se torna vivo e intenso na vida dele. Um artista dos sentir nesses termos: solitário e fechado sobre si mesmo, sem poder transmitir o que sente porque não há palavras, porque simplesmente sente, porque é uma vibração do universo que o rodeia, faz vibrar muito mais ainda este mundo mesmo que isso não seja notório. Um artista vai deixar de ser criança para se centrar sobre o que gosta, um artista esquece tudo menos daquilo em que ele é profissional. Um artista do sentir é profissional em sentir. Um artista do sentir ultrapassou as limitações de não compreender e está num grau ascendente de compreensão enquanto o seu organismo suportar tudo aquilo que nele ocorre. Um artista do sentir produz uma nova arte quando, segundo uma maneira de sentir, segundo uma maneira como compreendeu o mundo ele o pinta de uma maneira que mais ninguém conseguiu. Ele acrescentou uma pintura, triste ou alegre ou indiferente a este trajecto finito do Universo. E ele vê o que mais ninguém vê, e ele é influente. Um artista não é o que é por acaso, ele é o que é segundo o que já existiu, segundo o que foi dito e feito. Um artista sabe como são as coisas que são do seu âmbito imediatamente, sem ter que pensar muito para as compreender, elas já lhes estão entranhadas no sangue. Um artista do sentir sofre porque vê as coisas do sentir sem ter de pensar muito, são do seu âmbito sentimental, aquilo para o qual sempre viveu. Mas, e as emoções? As emoções, para mim são, aquilo que se manifesta segundo o que sentimos. Um artista do sentir, fechado sobre si mesmo, tem dificuldade em gerir as emoções, em transmitir o que sente, o seu interior é uma amálgama jamais compreendida, no entanto ele é o mestre dos sentimentos. Mas ele está sempre pronto para voar, um artista do sentir voa sobre o seu interior, que é igual ao que é feito o Universo, ele extravasa-se em si mesmo, o seu interior é tudo.

Metamorfose

        Nascer e morrer, o princípio e o fim da vida, o princípio e o fim de um sistema, (formado por outros sistemas) que se forma exponencialmente para falir e colapsar (pode-se utilizar o termo) quando a sua estabilidade se torna inviável. A mudança é uma constante. Nunca somos os mesmos, dependendo da velocidade a que se dá essa mudança. Os sistemas vão tomando novos equilíbrios à passagem do tempo [que ninguém sabe quando começou ou quando irá acabar]. Nada é fixo ou imutável, dependendo da posição do observador, e essa mudança, que é lei universal, dá-se mais ou menos rápido, ou, mais ou menos lentamente, mas, nunca, coisa alguma, está parada. E é formidável e notável a nossa disposição mental para descobrir partículas que não se vêem, essa capacidade fantástica de imaginar e dar uma interpretação coerente àquilo que os nossos olhos não vislumbram a olho nu e que está fora da interpretação óbvia dos nossos sentidos, a capacidade de associar e formar ideias que se podem aplicar na matéria. É o que faz reger o nosso cérebro, a ‘Psique’ humana, esse conceito que está no âmbito da criação do Universo e da existência do conceito de ‘Deus’ e do conceito de ‘Tempo’ [e que me deixa antever a existência de uma ‘Consciência Universal’] que nos permite tal façanha. Acredito, por estas palavras e neste momento, segundo as ideias que tenho, que é no ‘Tempo’ que reside a resposta essencial da vida e da existência. A nossa visão [a visão (humana) que temos das coisas, que é influenciada ou que provêm dos saberes, da ciência, da técnica e do saber utilizar os recursos que a terra tem, entre muitos outros níveis e esquemas de percepção, que são as extensões dos nosso sentidos], ultrapassou limites imagináveis [quando nos baseávamos na realidade do que existia, descurando, ou, não tendo em conta factores e variáveis imensas que nos ultrapassavam]. A nossa ‘auto-visão’ de hoje, Novembro do ano de 2009, que já vem sendo implementada ao longo dos anos, é de que o homem é capaz de tudo e que tudo consegue resolver. Tenho para mim que, é essa é a ‘imagem ideológica suprema’ que se passa às pessoas e que faz mover os homens, esquecendo-se da sua finitude, logo à partida, como se tudo seja possível aos homens. É óbvio que, se a visão que se tem não fosse positiva e esperançosa, o homem não evoluiria e cairia no vazio da existência. Apenas questiono o excesso de confiança que se quer passar, que é contradito pelos inúmeros factos que vejo na vida que me é transmitida, e alem disso, sobretudo, que sinto em mim como sendo incoerente com tal ideal esperançoso, apesar de a generalidade da vida que me envolve ‘parecer’ estar cada vez melhor [admito que faz parte do meu carácter esta minha maneira moderada de ver as coisas]. A interactividade do homem continua a crescer de forma inesperada e imprevisível (do meu ponto de vista). A dimensão que tomou (a que chegou) tal interactividade humana [a intensidade de comunicação e relação entre os homens], assenta na sustentabilidade que permite que tal aconteça, a ideologia existente por um lado [de progresso e de paz - de uma maneira geral entre os homens], o desenvolvimento das infra-estruturas e dos meios de comunicação por outro, que significa e engloba também a capacidade de produzir em massa, tais meios de comunicação, para consumo intensivo do mundo humano, mundo humano esse que tão abertamente recebe tais meios que o fascinam. [E isto leva-me a outra ideia – um aparte - que é a de que, toda esta sustentabilidade radica no consumo cada vez maior de e energia que por sua vez se pode tornar insustentável se as fontes de energia utilizadas se esgotarem e se não se descobrir maneira de se utilizar outra fontes de energia.]

Assim acontecem as metamorfoses debaixo deste céu azul [aparentemente]. Desde a crisálida ao insecto, a mudança dá-se em determinado espaço de tempo, e esse tempo é o tempo da metamorfose desse ser. O homem é dos seres que vive mais tempo nesta terra, cheia de seres e de vida [por enquanto]. Mas, mais que a mudança que se dá no nosso físico humano (a nossa dimensão física) e na nossa fisiologia, fascina-me a mudança que se dá na nossa dimensão psíquica. A mudança pode ser de tal forma, pode dar-se tão completamente, que a isso lhe chamaria ‘metamorfose psíquica’, no verdadeiro sentido da palavra, porque acontecem mudanças completas [ou quase] no tempo de vida da pessoa, em que uma mentalidade dá origem a outra, e acredito mesmo que haja várias mudanças de mentalidade ao longo da vida, variando de ser humano para ser humano, dependendo do seu grau de apetência e/ou predisposição e/ou motivação e/ou ainda da pressão do ambiente para a mutabilidade mental, em relação a esse ser, para que mude. E constato que a pressão para a metamorfose mental, hoje em dia, é enorme.

A distância que percorri

 

 

    

         Começo hoje, aqui e agora, novamente, utilizando as palavras, desgastando o meu tempo, tentando transmitir o que eu sou a quem me que quer ouvir. Por outras palavras, ou por uma simples palavra: Recomeço. Não é a literatura nem o romance que me trás aqui, pelo menos não é somente isso que me faz escrever, mas sim, o facto de me atrair tudo neste mundo e neste universo, de ter tanto estímulo que me é subjacente. Atrai-me tudo o que diz respeito aos homens e a tudo o que o envolve, tudo o que me envolve. Busco respostas onde as posso buscar, ou seja através daquilo que consigo alcançar. Busco essas respostas na ciência, na Filosofia, na literatura, nas conversas mais banais, na experiência comum, perscrutando o meu interior e tentando perscrutar o interior dos homens e dos seres que existem, perscrutando a natureza no geral. Adoro a abstracção e a imaginação e a elas me ligo mais facilmente. Mas também gosto da realidade, daquilo que os meus sentidos conseguem captar através da minha percepção, a minha realidade. E sinto que alcanço voos nunca antes alcançados quando consigo conciliar o melhor dos dois mundos, o melhor da abstracção e imaginação com a percepção e a realidade, e consigo associá-los na forte inter-relação que existe entre eles. É fantástico (!) eu ainda estar aqui para contar o que vi e o que senti e vou sentindo nesta minha passagem pela existência. É fantástico (!) sentir esta dádiva que me foi concedida, que eu, por momentos, prolongados, senti que podia estar perdida. Eu não sabia onde era o norte, mas tive esperança. E eu ganhei mais um pouco de vida e ganhei imensas perspectivas com toda a experiência que adquiri das dificuldades. É certo que estou a passar por uma fase muito melhor do que as que tive e quero tentar agarrar esta oportunidade que me é concedida para transmitir algo que, porventura, ainda não percebo bem. É verdade que tenho uma grande incapacidade de ser um homem comum, acredito que nasci marcado para trilhar esta vida de uma maneira especial. É verdade que não sou um homem banal, mas não tenho que o provar a ninguém, a não ser a mim próprio. Senti-me tão longe de mim e afinal cada vez estava mais perto de mim, e estarei, se assim continuar. É verdade que tento adquirir e transmitir erudição naquilo que digo e que faço. Não quero ser fanfarrão nem o sou, tenho essa sensação que acredito ser verdadeira. É óbvio para mim que para muitos eu sou um ser desprezível, que tenta apenas um lugar altivo, um ser que não capta a atenção de ninguém. Mas também vos digo, que quem não se vê e se conhece também pode ter mais influência no mundo ou nas vidas de muita gente e seres do mundo do que aqueles que se mostram e que parecem inteligentes e pessoas fora do comum. Todos os seres estão interligados. E quero agradecer a força dos seres que me tocam no melhor dos meus sentimentos e da melhor maneira e que me fazem ter esperança, além de me fazerem sentir um homem deste mundo. Parece-me que a inter-relação entre os seres é do mais maravilhoso que pode haver, sentir-mos os nossos sentimentos a vibrarem nesse espaço infindável, dar-mos e recebermos o que de melhor pode haver, sentir o ‘feedback’ daquilo que somos. Viver é uma vitória, conquistada à partida, sobreviver é uma luta contra o desconhecido.

            Neste momento sinto-me um homem mais livre, porque me vou despojando de toda a carga de inutilidades que me pesavam no meu dorso tal e qual um burro de carga, como uma besta rendida à incompreensão deste mundo e da vida que o envolve, e também devido à sorte, não o posso negar, e, porque não dizer também, a Deus, esse volatilidade que cerca a minha vida. É verdade, senti-me pressionado na vida pelo peso que recaia sobre mim. Senti-me a perder tanto (!). Senti que estava a resvalar em lama para um fosso. Senti a fugacidade da vida, e senti que poderia não sobreviver para contar. Mas afinal, mais uma vez, me senti um ser abençoado e aqui estou eu. Afinal a minha vida não é das piores vidas que existem, e o que senti e sinto faz sentido (!). Mas também sei ver por outras perspectivas: somos carne e um dia seremos um monte de esterco (passe a expressão), por mais que nos custe a aceitar isso. Quantos bloqueios não tenho na vida (!). Quantos entraves ao meu caminhar! Quanta incapacidade de reacção (!). Como sinto nas profundezas do meu ser o saber a questão de que não estou preparado para agir quando deveria agir, não sei que volta hei-de dar a esse bloqueio. Não vejo o momento de estar preparado, mas sei que ele está cada vez mais próximo. A minha ansiogénese é alta, mas já foi muito pior, e ela está comigo há milhões de quilómetros atrás. Quantos nervos não foram abafados (!), apesar de me sentir como uma bomba atómica prestes a explodir. Quantos sonos dormi sem descanso (!) já faz tempo. Mas agora já vejo tudo a ficar mais claro, como uma praia de águas límpidas e pouco profundas, onde se lhe vê o fundo. Eu vi os meus problemas de dentro para fora. Eu continuo a vê-los, e que me seja permitido vê-los para sempre. E isso faz-me superá-los. Agora, sinto que há uma voz que chama por mim, vejo as minhas acções a prolongarem-se pelo tempo, vejo os meus gestos a fazerem, cada vez mais, sentido, apesar de estar sozinho. Mas gostava de ter muito mais tacto nesta vida. Agora sinto que sou cada vez menos um estranho em mim mesmo, era o mundo que me envolvia que me causava essa estranheza, como que a querer marginalizar-me, como se eu fosse algum criminoso. E assim as minhas vicissitudes tendem a serem comuns com as das outras pessoas. As vicissitudes do mundo tendem a globalizar-se. Com tanto adiamento de compensação, em toda esta minha vida, vi a descompensação a apoderar-se de mim. Contudo, embalei os meus sentidos ao sabor da música, e prossegui, devagarinho. Assisti à minha decadência, assim como vi e vejo a decadência daqueles que não estão na norma, daqueles que têm de se subjugar, ou quando não tanto, simplesmente viver o que lhes é permitido. E assim vi homens que se encontravam num pedestal, como reis no seu trono, comungando dos valores que lhes deram e achando que viviam segundo a lei da vida, quando, na verdade, vivem segundo a lei que lhes foram impostas. Vi homens que não permitiam viver aqueles que vivem sofregamente, não conhecendo a Lei do Universo, o traço mais ténue que separa a ficção do que é realmente este mundo. Tive momentos em que as lágrimas me escorreram pela cara, profundamente sentido do que a vida me fazia sentir e me revelava a cada segundo que passava. Não conseguia sentir o amor e a compaixão de quem estava próximo, um alento de esperança vindo de fora de forma clara, que me trespassasse o mais íntimo do meu ser, que abolisse a apatia a que estava votado. Assim era o meu dia-a-dia, magoado por aqueles que me rodeavam, a sentir cada vez mais próxima a morte em vida, a vegetação a tomar conta de mim a cada momento que passava, sentindo o sofrimento que fazia e faz desacreditar as pessoas que dizem que ajudam. Assim foi e assim é. Quanta indiferença (!), quando a gente mais necessita, quanta incompreensão e desentendimento (!), como se tudo fosse em vão, como se um ser nascesse para ser carne para canhão, pisado e gerido por quem tem menos valor, do que quem é gerido, quem é digno. Sim, acredito que há homens com mais valor e homens com menos valor. Porque me sinto indignado? Porque me foi negada a dignidade [.(?)] Porque caminho sujo e vacilante nestes trilhos de morte? Porque não me é permitida a coragem? Ah! Mas eu preservero, só que sinto que preservero para o nirvana. Eu diria que foram muitos dos que passaram pela minha vida que me tornaram num tipo esquisito. E agora? Fogem de mim e abandonam-me, aqui, lamentando-me de tudo aquilo que não posso mudar, engolindo em seco, revoltado, tentando gerir esta cólera que me ia consumindo completamente. Ah! Mas isto tem que mudar, este mundo tem que cair. Devolvam-me o que me foi retirado! Se pensam que me vou harmonizar com o mundo, porque esta vida são dois dias, estão enganados. As palavras têm que ferir quem fere, quem magoa tem de ser magoado para saber o que é a dor. Não se deve ferir quem não fere, como vingança de um mal feito, mas ferir quem fere. A luta tem de existir. E sei que podem mostrar-me os caminhos, mas se não for eu a trilhá-los, de nada servirá o atingir da meta.

E todos os sentimentos possíveis e imagináveis passam por mim, eu os reprimo, eu os ignoro, eu os mato, ou eu lhes dou vida e continuidade ou refinamento. É a vontade de algo que é superior a nós. Sou um escravo dos sentimentos, um seleccionador de emoções, um grande seleccionador (!) e ‘manager’ de sentimentos. A emoção é o resultado, os sentimentos são os jogadores. E neste jogo, constatei que optar pela táctica da ira e da frustração não é solução para encontrar resultados positivos, mas sei que não podemos ficar indiferentes ao que os outros nos provocam neste jogo. A contrariedade nos sentimentos faz parte da vida e faz parte do jogo e leva-nos ao resultado. A fuga à envolvência dos sentimentos também é um esquema que se utiliza como táctica para superar momentos de ataque ao nosso ser.  E contra os inimigos e adversários digo que não têm culpa de eu ter nascido e ser quem sou, mas porque hei-de eu ter culpa de eles terem nascido e serem quem são? Se eles não contribuem para o meu ser, porque tenho eu de contribuir para o deles? Ah! Mas eles hão-de redimir-se.

Ontem, como tantas vezes, observei a chuva miudinha que cai frente ao poste, que por sua vez, ilumina a árvore, o pinheiro que está por baixo, produzindo uma sensação de calma, nestes momentos em que medito, estas noites frias, em que recebo o calor da aparelhagem eléctrica. Por outro lado oiço a música que me envolve e envolveu a minha vida. Retomo reflexões que, pensei estarem perdidas, associações do pensamento sem fim, nesta intrincada teia que me faz crescer e compreender, na medida em que encontro lógica nessas associações e que, muitas vezes, me são negadas pela minha paixão, o meu coração, as minhas emoções, que anda por vezes exaltado com tudo o que tenho passado. Para onde sigo não sei. Mas não sou capaz de seguir o caminho do homem comum. Estou, neste momento, desprendido do mundo e, no entanto, fisicamente, como todos, não posso viver sem ele. Imagino que há coisas que não podem ser ditas antes da altura e do local apropriado. Perscruto esses momentos para dar vazão ao que sinto, para poder viver mais tempo, para ter mais equilíbrio. No entanto ainda me sinto terrivelmente desequilibrado a certos momentos, que querem fazer voltar tudo o que senti, querem assaltar a minha vida de novo. Ainda me encontro perdido muitas vezes sem perceber o contexto que me envolve. As minhas palavras buscam pelo eco das montanhas, pela vibração dos seres, para que o meu som nas se apague em vão. É estranho acontecer nas nossas vidas que vemos todos os perigos à nossa frente  e, no entanto, não conseguir-mos desligarmo-nos, desviarmo-nos ou evitar-mos esse caminho perigoso, como se o destino estivesse escrito, como se eu visse que havia algo a evitar mas o não pudesse evitar como se tudo fosse como um sonho em que vemos os precipícios e o que se está a passar mas não conseguíssemos entrevir nesse sonho pré-determinado. Na verdade, não sei porque levo tudo tão a sério, quando alguns levam tudo a brincar. Eu mesmo já um dia levei a minha vida a brincar. Não nos podemos deixar amarrar e devemos agarrar-nos aquilo e aqueles que estão em sintonia connosco. O sentimento de liberdade é essencial, o vermos os outros com olhos de ver, o sermos capazes de distinguir o trigo do joio, o bom do mau, e atacar-mos tão cedo quanto possível aquilo que está errado, se pudermos…  É importante também, para preservar a nossa liberdade, não perder o respeito por nós próprios e pelos outros. Sei que no meio de tantas palavras e ideias, tal como eu sinto por vezes, a linguagem humana parece ter tanto de útil como de inútil. Como pode parecer inútil a conversa quando o que precisamos é de sentir um carinho recíproco, um afago e um desejo meramente e sinceramente humano, de alguém com quem nos identificamos. Sabes o segredo das palavras intemporais? A linguagem não é tudo e deve fazer parte de algo mais abrangente nesta nossa dimensão humana, senão não fará sentido. É certo para mim também que quem tem saúde e estabilidade muitas vezes não produz e vive muitas vezes para o prazer somente, tenho constatado isso (Ah! Mas tenho a certeza que quando encherem a barriga de prazer vão produzir mais, ou então, nem por isso). Mais, a linguagem plastifica o mundo, dá-lhe forma na nossa mente, e permite-nos conhecê-lo melhor, cada vez mais. Mas chegamos a um ponto em que os conceitos não chegam, a linguagem não é tão abrangente quanto isso, tende a saturar-se com tanta repetição e entropia das palavras. Conquistando este mundo, o das palavras, podemos ir mais além na nossa mente. Associamos ideias e momentos cada vez maiores e com mais intensidade, compreendemos conceitos complexos e abstractos, a metafísica começa a deixar de o ser, atingimos novos recordes e os limites deixam de existir. Porque produzimos e descobrimos novas coisas quando podíamos ficar num patamar de estabilidade e relativa felicidade? Ainda não o sei. Algo nos faz mover. Nada está parado, em termos absolutos. Nada é imutável, por mais que tentemos descobrir ordem e padrões em constância, por mais que tendamos a buscar regras gerais para as coisas. Será que haverá leis no Universo? Algo onde se possa aplicar a ‘causa-efeito’ onde quer que seja, onde conseguimos confirmar que isto provoca aquilo, em qualquer parte? Tudo é relativo, e é relativo a sistemas. E, assim, oiço na minha mente frases como esta: ‘Agarra o sol enquanto ele brilha, entranha-o dentro de ti e fá-lo expandir em ti para que tu sejas uma estrela neste Universo, também’. E pergunto-te: Como podes amar quem não se move, quem não se demove do seu sentir? Como podes amar quem te cega os olhos com a luz da mentira?; Como pode um homem seguir se tem medo de que tudo lhe faça mal, de que tudo o possa liquidar?; Queres o poder, a sabedoria ou o dinheiro? Fará sentido tudo isso? Será que a busca última do homem não é o conhecimento que permita responder à questão última? – Olha-me nos olhos sem ficares indiferente, se fores capaz. Eu faço a gestão da minha vida, porque querem outros fazê-la por mim, porque não me deixam fazê-la? Estou cada vez mais distante do que algum dia pensei estar, nunca pensei que me pudesse sentir tão só nesta vida. Senti o peso da responsabilidade em mim, não sei porque motivo. Mas tento sacudi-lo, porque eu não posso com tais responsabilidades que eu imaginava poder suportar. Eu não posso ser usado como bode-expiatório. Dançando ao ritmo da música, movendo-se ao ritmo do mundo, caminhamos em sentido ao nirvana, pisando trilhos nunca antes pisados. Quereis chamar a atenção de quem? Influenciamos e somos influenciados. Sons que se imiscuem no ar, sons promíscuos, que retiram a beleza da pureza. Afinal que é isso da pureza? Porque olhas assim para mim? Não vês que eu não reconheço o que tu queres, mas sei o teu sentir comum? Não reconheço os teus desejos, mas sei quem és, como se todos fossemos iguais.

Ondas de esperança - solidariedade, tolerância e realismo

     Devemos abraçar cada dia que nasce com esperança, como alguém que faz surf e está à espera que a onda se propicie. E a onda tarda em vir, mas a onda, quando persistimos, vem, demore o tempo que demorar. O dia que desejamos está à nossa frente, não podemos desistir. Mesmo que o furacão apareça e nos encontremos no meio dele, a esperança deve estar lá, porque até naquelas ilhas onde o sol brilha com tamanha claridade e as águas são mais límpidas como não há outras iguais, o furacão também passa e destrói, mas nada fica perdido, porque o essencial está lá. Há que ter fé até ao fim, e ser realistas, nada do que é material e corpóreo é eterno, há que aceitar que a antítese está presente neste mundo assim como no Universo, para um pólo positivo há um pólo negativo, para um Universo visível há um Universo invisível, que não se compreende, mas que faz parte do que é visível. Assim, como pode o homem querer prolongar o que é finito, prolongar a alegria quando a tristeza vem, porque se persiste? Porque não saímos de palco nesses momentos e damos lugar a quem a tenha, a outros actores? [Eu já fui actor de outras cenas e cenários, mas retirei-me, mesmo que isso me fizesse sofrer.] A alegria está na transição e na mudança, no crescer e no envelhecer. A vida alegre não está no momento estático eternizado pela foto, naquele que sorriu para um momento de boa disposição. Devemos persistir sempre, mas mudando de cena fazendo um novo cenário, mesmo no sítio onde fizemos outras cenas, mas, agora, esperando por outro momento, o adequado para fazermos as novas cenas e o novo cenário. ‘Fazem-te ver’ que a vida é só alegria, eu sei. Mas a verdade é que a nossa vida tem alegrias e tem tristezas, tem felicidade e tem depressão, de que modo pensas que a vida é? [eu não via isto assim, porque não vês que é assim?] A vida deve ser mesmo assim, e devemos aceitá-la como ela é, persistindo, e se possível com inteligência e vigor. A vida é uma estrada sem fim, se assim o quisermos, se assim o desejarmos, sê – la – há, porque poderemos tanger a eternidade dentro das nossas vidas, que serão infinitas dentro de um espaço tão pequeno, quando aceitarmos que somos o que somos, não seres abandonados, mas seres amados, porque até o mais débil dos seres foi amado, até mesmo aquele que foi mais maltratado. Aquilo que somos pertence a todo o Universo, cada um de nós é um grão de areia numa praia da imensa terra, cada um de nós é um suspiro na eternidade climatológica da terra, feita de sol e amenidade, vento e tempestades. Aquele que se revolta contra o outro, revolta-se contra si mesmo, porque os homens são todo Um só, mas mesmo essa ira lhe será perdoada. Porque não cabe a ira na incomensurabilidade do Universo. E um homem tem de ser duro, duro para a vida que lhe é dura, e um homem morre a lutar por aquilo em que acredita, só é pena que por vezes acredite tão pouco… porque pouco lhe foi ensinado e porque o espírito lhe foi fechado, ou, nunca aberto. Penso nos outros de quem falo como penso em mim, no passado que reconstruo vezes sem conta, naquilo que não voltarei a ser, mas que sempre serei. E sou tolerante para mim mesmo, porque sou único na maneira como faço a gestão do mundo, não haverá ninguém igual a mim, e ao mesmo tempo o que de bom eu tenho e faço, todo o suco, a essência de que sou feito perdurará até aos confins dos tempos, onde tudo voltará a ser o que foi, tenho fé. Não podemos buscar nos outros aquilo que somos, mas tudo que somos pertence a todos os seres. Temos fé numa imagem, num homem, que venha pôr ordem neste mundo. E ele ai está, temos fé nesse símbolo que se pode tornar marcante para a humanidade, que vai encaminhar a humanidade, ele tem poder. Não interessa como lá chegou, mas decerto uma Entidade superiora o quis, foi uma probabilidade que não teria acontecido mais vezes, porque nada se repete e nada volta atrás, assim como nós não nos repetimos. Aceita o beijo da vida. Tudo o que dizes já está dito na eternidade da existência, mas digas como o disseres, se fores genuíno, será ainda mais diferente do que aquilo que és. É tão bom partilhar, é tão bom sabermos os nossos limites e cabermos estritamente dentro deles. É tão bom (!), a evolução, saber que alguém já sentiu o que sentimos, e devíamos agradecer a essa pessoa por nos transmitir o que para ela foi imenso tempo de cogitação, reflexão, até que extraísse o que de bom se poderia tirar da sua existência e poder transmitir aos vindouros que se encontram com as suas palavras. Também temos medo da mudança, claro. Mas a mudança é inevitável, e não há ninguém humano tão superior assim que possa dizer que certa mudança não é útil, que seja capaz de a parar. Apenas podemos encaminhar essa mudança, nunca parar. Quantas sociedades já não houve nesta terra, e nunca, nenhuma tão interactiva como a nossa, capaz de gerar as mais profundas esperanças e ao mesmo tempo gerar o medo mais profundo. Mas afinal, medo de quê? O fim é certo, viver é fantástico, respeitar e tolerar é essencial. Primeiro está a sobrevivência do ser humano, mas depois de os recursos não chegarem, quando novas guerras e catástrofes chegarem, como será? O fim é certo, o sofrimento sempre existiu, mas o homem tem de ter respeito, e o homem será sempre um animal antes de se tornar humano, na acepção positiva da palavra, e esse facto – o de ser um animal - sempre estará antes dele, até ao fim. Como evitar a luta entre os seres, que serão sempre diferentes. O fim é certo, somos tão frágeis (!). Não me sai da cabeça essa evidência – O fim é certo -, e isso me dá alento para usufruir da vida que possuo, assim como gostava que muitas pessoas que merecem o tivessem - esse alento. Sim, sou altruísta. Mas muitos fazem desta evidência um lema, e pensam então que podem fazer tudo, que o sentido da vida está em usufruir, em ter sem olhar a meios, em pisar, em odiar, como se ficassem impunes. E depois procuram apoio quando estão no fundo e um dia descobrem que a vida não é assim como eles a viam, se é que dão o braço a torcer, insistindo nos mesmos erros. E muitos pensam que o dinheiro compra tudo. Como posso, então, ser altruísta para tais pessoas? Cada um tem que se redimir, daquilo que é. Mas estarei sempre ao lado daqueles que são simples e puros na sua conduta interior, ou mesmo não sendo simples, agem de forma correcta e sabem conter e gerir os seus impulsos destrutivos, e sabem ser humanos, na verdadeira acepção da palavra. Quanta ira já não passou por mim, quanta ira (!) raiva e frustrações, quantas questões me coloco no meu espírito, o porquê de me acontecer isto (?), ter asas e sentir-me atado e não poder voar. Quanta raiva investida em mim e o quanto isso não me destruiu, quanto não me fez e fará perder. Mas sei que tudo tem uma razão de ser, a serenidade tenderá a vencer. E mais do que me destruir, isso só me fez perder momentos e situações que eram justas de eu poder usufruir. E não é pelo facto de haver biliões de pessoas no mundo que estão em situação pior do que a minha que me faz acalmar essa frustração, é, simplesmente, porque eu apenas queria ser eu, e não me deixaram ser. E agora eu sou cada vez mais eu, e o destino me permita que cada vez mais eu seja. Que eu veja os meus inimigos a vacilar, que tenha tempo para isso, que eu viva o tempo suficiente para ver a injustiça a ser punida, que eu sem mover uma pena eu mova o mundo, ou será que é pedir muito? Que não haja um amor banal? Que esse amor seja especial? E lembra-te, não adormeças quando não deves, porque quando o fizeres será tarde demais, mas se acordares, acredita, alguém te protegeu, alguém pensa em ti, nem que não saibas quem é, acredita que por cada acção que tu faças há sempre um motivo, e aumenta a tua auto-consciência deste mundo humano, na verdadeira acepção da palavra, para que possamos viver em solidariedade, tolerância e realismo.

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