Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Não vejo a face que está do outro lado. Procuro-a, mas não a encontro. Há um vazio entre esta diferença abismal do que sinto e sou capaz de compreender e do que sou capaz de fazer. Acredito que compreendo (isto tudo que sinto é compreensão, só pode ser), mas não posso ou consigo dizê-lo, sou incapaz. E porquê? Talvez eu esteja preso perante a imensidade, talvez porque o mundo que me envolve me tende a sentir perdido; Talvez seja eu que sou tão pequeno para fazer e tão grande para ver, ínfimo no ser físico e na capacidade de executar e vasto no sentimento interior e faculdade de sentir e analisar; Talvez porque eu esteja virado mais para o interior do que para o exterior; talvez porque eu absorvo mais do que o meu organismo desde sempre ou algum dia poderá construir ou exprimir. Exprimir-me é como uma doença, não me deixaram [o mundo que me rodeia: os meus pais, a minha cultura e cultura dos que me rodeiam] desenvolver a capacidade de expressão, além de que, conseguir ver toda a minha trajectória de vida na minha mente e nos meus sentimentos [como sou capaz de ver e sentir], até aos dias em que estou, saber o que me afecta e não ter a capacidade suficiente de ultrapassar todos os obstáculos, é a causa de uma doença, conformada nos limites da esperança de que dias melhores ainda virão, e que haverá sempre dias menos maus e mesmo bons, de sentimentos positivos, de sentimento de liberdade enquanto tal não se der. Lutar contra todo este atrito de expressão é como lutar contra a pequenez a que a minha vida me quer votar, a indiferença do mundo perante mim. Não consigo medir o meu alcance, o alcance das minhas acções, de todo o meu ser em contacto com o mundo [mundo esse que é o que sei e conheço], pelo menos de uma maneira concreta e objectiva, conseguindo no entanto ver a subjectividade das minhas acções.
Continuo procurando a razão da minha existência. Continuo na procura da resposta dos ‘porquês’ do que se passa na minha vida. Continuo na busca da paz interior e com a fé de que existe uma inteligência superior que é possível alcançar, e que a posso ter em todo o seu esplendor a rodear a minha vida. Continuo na busca de palavras que venham a ter significado na minha vida, que venham a ter a plenitude do seu significado em mim, no meu interior. Palavras essas que definem conceitos que são importantes para mim. Mas quero querer cada vez mais, também, que isso me parece uma utopia. Não conseguirei atingir os meus objectivos devido aos seres que me rodeiam que me negam o alcance dos meus objectivos, devido ao facto de eu não ter ‘social skills’, habilidades sociais, reacção social para viver em sociedade. Nasci e cresci tímido, mas isso não é, em si, a causa do meu insucesso, a causa do meu mal - estar interior, a causa da minha constante insatisfação na minha vida, do vazio da minha existência nesta vida real, a causa está exterior a mim, só pode estar (!), por mais que mo neguem. Em consequência disso tenho visto e sentido o melhor e o pior do homem, das pessoas, neste mundo em que vivo. Perdi a confiança das pessoas, sinto-me traído por quem me deu a vida e é mais próximo de mim. Como posso eu voltar a sentir que posso confiar em certas e determinadas pessoas (pelo menos) (?), como posso ganhar a confiança nas pessoas (se é que algum dia a tive)? Meu pai, esse traidor [e digo isto com uma mágoa enorme], um falso, que acredito ter condicionado a minha vida para sempre; esse homem que me fez duvidar da bondade natural e humana, me fez desconfiar daqueles que poderão (iam) ser meus amigos. Devido a todas as circunstâncias em que nasci, elas me perseguem e me querem destruir, desde sempre, e agora sei-o realmente, consigo ver isso, e mais do que nunca, que isso (as circunstâncias em que nasci me querem destruir) é verdade. Enquanto eu tinha para dar também ia recebendo, agora, que não tenho para dar, que necessitava mais do que nunca, de quem mais foi importante para mim, se já não o é, [dessas (2)palavras] agora que precisava de receber e sentir que realmente eu estava em sintonia, eu não recebo nem sinto. Meu pai magoou a minha maneira de sentir. Estou como que nu e não se dignam de me oferecer umas roupas para me cobrir, e estou envergonhado e sem dignidade. Sempre fui vulnerável na minha inteligência, nos meus sentimentos e sentidos [no geral, em todo o meu ser, mas com a certeza de que poderia ser forte como quem é forte se não estivesse traído em mim próprio] : eles que me maravilham com a demonstração de todo o dom que me foi concedido, são eles também que destroem o meu ser, por tal sensibilidade e vulnerabilidade não caberem (não ser aceite) no mundo em que nasci, o mundo que me envolvia e envolve, por circunstâncias únicas de falta de amor e egoísmo humano [meu pai é a causa prima da minha vida e do meu sofrimento]. E eu pergunto, porque tenho o direito de perguntar e indignar-me (!), haverá justiça neste mundo? Porque sai impune o injusto, o malévolo, o destruidor (?) Porque sai a rir, a gozar, ou ainda sabendo que errou e continuando a errar? O meu deus, onde eu me tentei refugiar, não existe, e a crença ( na existência de uma justiça ou de um deus) é apenas um paliativo nesta vida, como o foi até ao momento nesta minha vida, para que não soframos tanto, sendo essa crença (na existência de justiça ou de deus) a causa dos maiores sofrimentos e atrocidades que os homens causam uns aos outros, aos seres vivos, à terra]. Tenho tristeza por este clã em particular, e, mais profundamente por mim: não queria magoar e tento não magoar, e, no entanto, magoo e estou mais magoado do que ninguém no meio disto tudo. Realmente serei um louco (?). Porque me tomaram por tolo? Vocês tem de saber como me sinto - porque enquanto estou vivo é-me permitido queixar. Tudo de errado acontece na minha vida, em consequência do que sou e do que sinto: os outros são intolerantes comigo e fazem interpretações erradas acerca do que eu sou, tudo o que é negativo vem ter comigo, como se alguém tivesse embruxado a minha vida, como se tivessem deitado um mau feitiço sobre ela. [Pensei que não era supersticioso até a certo ponto da minha idade adulta para agora ter de admitir a mim próprio que sou mais supersticioso do que ninguém, porque vejo, acontecem-me e sinto coisas que são muito estranhas na minha vida e não sei como as hei-de acomodar na minha vida e viver com elas, já que sei que não me posso desfazer delas.] Meu pai desprezou-me (e despreza-me), não mostra sentimentos e emoções, e todas as consequências de tal (ais) atitude (s), provavelmente entre outras, que se dá desde o meu nascimento poderiam ser catastróficas para mim, não fosse eu um ser abençoado pela vida e, afinal, com direito a viver e a ter a minha prosperidade que meu pai desde sempre, assim como muitas outras pessoas, talvez por consequência, não conseguem ver e aceitar em mim, nem tem o altruísmo de a dar, como seja gente próxima que se coíbe de demonstrar o verdadeiro sentido da existência de tais palavras que procuro, de as entranhar em mim [Será que preciso de ficar doente para sentir novamente a amizade das pessoas (?), para sentir o melhor e o pior que elas tem para demonstrar - talvez a indiferença e a critica - (?) ] . É certo que os meus dias já estão em desconto, caminho já pelo incerto; o incerto de poder viver 1 ano ou 1 dia, com a fé de que terei sorte, e se a tiver ainda viverei ainda muitos anos mais e terei tempo suficiente para trilhar este meu caminho e ainda usufrui-lo com satisfação; ou então, ainda há sempre o lado negro da coisa: tudo se tornar pior e todo o mal que vem de trás entrar em pleno na minha vida e destruir-ma completamente. Tudo, na minha vida tomou dimensões desproporcionadas. Vivo constantemente na corda bamba, na queda, a qualquer momento, imprevista a curto prazo mas possível, na imponderabilidade do vazio, na injustiça da minha vida. Para muitos que lerão isto, dirão, tal como meu pai o fez, que sou um louco (com a mania da perseguição, ainda para mais), ou ainda ‘um queixinhas que tenta atrair as atenções para ele’. A verdade é que escrevo para verbalizar o que vai em mim, que não consigo expressar-me de outra maneira nem tenho para quem por causa de todos os motivos já ditos. Escrevo para tentar por em ordem o que sinto. Escrevo com a imparcialidade de quem não está precisamente e concretamente a pedir ajuda, como um desabafo, mas que no fundo a ajuda seria bem-vinda se o meu coração a sentisse como genuína. Bem, muita coisa mais será pensada do que dita, uns compreenderão outros criticarão negativamente [ou positivamente (mas, sinceramente, duvido que sejam criticas positivas], e eu digo: Não tenho estômago para vos aguentar, assim como vós não tereis para toda esta minha verborreia. Estou saturado.
No romantismo, encontramos o amor, a agitação mais alta dos sentimentos, a alegria da sintonia de duas almas, ou de múltiplas almas, que vivem em exaltação dos sentimentos (que se desejam positivos), onde se encontram as motivações para se viver, o verdadeiro sentido da dualidade ou da multiplicidade do encontro das almas que se unem, mas, que, no romantismo, levavam (noutros tempos, mais propriamente) ao desespero, e/ou à tristeza da necessidade de proximidade do amor ausente e a tenebrosidade que causava na alma essa ausência, de algo que se necessita tanto, hoje colmatada pela facilidade de comunicação que alterou a relação entre as pessoas e a relação de amor que temos. O ‘amor’, esse conceito difícil de definir concretamente. Apesar de ter o ‘sentido do amor’ magoado na minha alma, consigo conceber o amor tal como ele é vendo-o [interpretando o conceito de amor] de uma perspectiva exterior a ele. Sei que existe o amor nas mais diversas dimensões sociais: na família - pode existir o amor paternal, dos irmãos, só por alguém em particular, ou, generalizado e abrangente nesse clã; na dimensão da amizade; na dimensão sexual; na dimensão do emprego; etc. O amor toma, assim, diferentes formas dependendo dos contextos e quem ama pode não amar só numa dimensão ou contexto, pode amar por uma característica em particular ou por um todo, pode amar um ou mais, por mais que certas culturas o tentem negar. Agora a questão que coloco é: porque todo o meu amor degenera em ódios, desprezo/indiferença, mal entendidos? Sei que me falta o sentimento, ou ainda o que me define melhor os sentimentos, a falta de sintonia. O meu amor está toldado pela mágoa, pela descrença, pela distância sentimental das pessoas, como um astronauta que perdeu a comunicação com a nave, vejo-a mas não a sinto.
Assim procuro acreditar na existência de 2 palavras (na minha vida): Amor Gratuito.
Sigo, como se houvesse um destino, a caminho da meta, depois de muitas metas ultrapassadas e outras que espero que ultrapasse, até à final. Preparo cada momento em que vivo (que vivo como se fosse, sempre, o último dia) para entrar em glória naquele momento que me transportará para não sei onde – nem o saberei jamais, muito provavelmente – se for transportado, para ser o que quer que seja, algo (muitas coisas provavelmente) com outra forma da que já tive um dia. Tento viver como se fosse o último dia, mas não nos extremos, não a desafiar o que é dado como certo, não na loucura de querer usufruir tudo em pouco tempo, nessa loucura que, por qualquer motivo, me parece querer possuir em muitos momentos e que possui, parece-me, muitos homens. Como todo o homem, eu sinto, tenho sentimentos e uma auto-consciência deles muito acima do homem comum (quero acreditar nisso). Com a minha abstracção, eu transcendo-me e crio filmes e situações na minha mente, eu vivo milhares de vidas e situações que me podem acontecer ou poderiam ter acontecido e nem por isso sou o homem mais bem preparado para o que há-de vir. Como qualquer homem cai-o no mesmo erro vezes sem conta, como se o que eu sou, a maneira como tendo a manifestar-me, a acção que me guia, me atraiçoasse sempre em situações idênticas e não conseguisse mudar tal aspecto ou tais aspectos de interagir com o mundo. No entanto sou uma unidade corpórea e feito de material finito, como todos os homens, e toda a minha grandeza espiritual, um dia, não terá o sentido que tem agora. Constrange-me essa indefinição do que serei eu depois desta existência, como constrange a muitos outros homens. Constrange-me o facto de que tudo tem um fim, e toda esta linguagem não terá mais sentido a partir de certo momento futuro, quando todo o mundo acabar. Constrange-me tudo o que perco e sei que perdi, injustamente e conscientemente, a maioria das vezes por culpas que não me pertencem, por motivos que me transcendem e eu tendo a descobrir e compreender. Penso que desde sempre a crise existencial fez parte de mim. O meu nascimento foi uma crise existencial e paradoxal. No entanto, cresci com esperança e fé de que algo de especial, que fizesse sentido, me esperava. Agora vejo, por vezes, que isso não é como eu expectava.
Sigo, por vezes com controlo (pelo menos parece-me assim) das coisas que me envolvem, entendendo-as, pelo menos. Penso que ‘entender’, ‘compreender’ o que se passa, é controlar. Mas, muitas vezes, esse controlo deixa de existir e começo a sentir-me à deriva, como um barco sem leme nesse vastíssimo oceano sem princípio nem fim. E tenho medo quando assim é, quando tudo começa a escapar ao controlo, quando deixamos de ter capacidade de assimilar e lidar com o que se passa nas nossas vidas, quando não estamos ‘à altura de’, quando o vazio nos corrói, a solidão que não percebemos de onde vem, quando o equilíbrio do organismo fala mais alto e se sobrepõe aquilo que desejava – mos sentir, – querermos estar bem e não estarmos organicamente e fisiologicamente bem -. Quantos sentimentos (!) por mim não passam por cada dia que vivo. Quanta raiva não engulo, por vezes. Quantas imprecações (!) eu não lanço a esta humanidade que me faz sofrer, estes biliões de seres que existem nesta terra e que geram o caos – pelo menos na minha mente -. Quantos ideais (!) eu vejo em cada ser, que não levam a lado nenhum, no tempo, façam o que fizerem (mas o curioso é que muitos deles acreditam naquilo que são esses seus ‘ideais’) - E comparo esse ‘acreditar’ dessas pessoas, com a minha fé e esperança de jovem em desenvolvimento, que eu tive, aquela coragem, que pensava eu que me acompanharia até ao fim dos meus dias -. Quanta alegria (!) eu já não tive e se perdeu na imensidão do tempo. Quanto desejo de prosperidade eu já não desejei para a humanidade (!). Quanta felicidade jovial (!) eu senti por pensar que dava os passos certos na minha vida – quando na verdade eu caminhava no sentido da despersonalização de quem eu sou, por motivos que tento descobrir. O quanto eu quis pertencer a esta imensa legião de homens (!), acreditar naquilo em que eles acreditam e, mais tarde, ser defraudado por tamanha expectativa. Sou um homem desiludido, é isso, somente isso. Um homem em que o mais básico lhe foi negado, e não estamos a falar de comida para a boca, de roupa para vestir ou de uma casa para morar – que isso não me faltou, ainda, porque me têm restado forças para ir lutando pelo essencial, e por estar minimamente integrado nesta economia global -. Estou a falar de algo que jamais entenderei, faça eu o que fizer. Como o mais natural que se tornou em perversidade, por Iavé (!), no que a humanidade se transformou, como perverteu, conscientemente (com uma nova consciência), tudo o que era natural, como o homem desrespeitou a natureza - Quando falo de ‘homem’, falo nessa larga maioria de seres humanos que ‘regem’ a consciência colectiva, esse senso comum (sentir comum) -. E eu não passo de um homem comum, no entanto. Eu estou imiscuído nesta sociedade, neste mundo destes homens, do qual eu também o sou, e só faço sentido por eles. E foi e é neste meio em constante mutação que eu me desenvolvi e desenvolvo, ate que uma força maior me vença. Mas, e se eu fosse um ‘ser especial’, na verdade? Que significado teria isso para os outros homens e mulheres? Que vantagem eu terei se for esse ‘ser especial’? Na verdade todo ser é especial, mas vida corrompe-o. Parece-me que os melhores dias da minha vida pertencem ao passado. Neste momento encontro-me, bastas vezes desencontrado, no entanto, com uma nova esperança a renascer, porque sinto novamente que compreendo, pelo menos um pouco, que seja. Não sei o porquê de tanto queixume, mas decerto tem uma razão de ser, mesmo que eu não a veja objectivamente. Quantos não choram para que tenham pena deles, actores da vida que na verdade são seres humanos como qualquer outro, mas que por vezes choram falsamente para tocar no lado de solidariedade e empatia do outro que os ajudam, merecendo ou não. Quem é falso terá que aprender com essa falsidade. Eu queixo-me, com razão ou não, no fim tudo terá sentido, ou no entanto, nem por isso, e só o vazio restará.
Falando como falo, a melancolia subentende-se neste caminho que trilho, - tanto no caminho da vida como no caminho das palavras escritas -, assim como outros conceitos análogos, palavras que não me apetece dizer neste instante. Transmito uma parte obscura que a vida tem, como a vida de qualquer pessoa, que é única na sua vivência ímpar. Eu sei que faço vibrar aqueles que sentem como eu descrevo. A nossa maneira de sentir é como uma osmose, se perceber-mos o que lê-mos então estamos a sentir da mesma maneira, contudo não com os mesmos circuitos activados. Assim o é ‘ao vivo’ com outra pessoa ou pessoas, a interacção leva a que haja osmoses de sentimentos tão intensos quanto o que conseguimos absorver e gerir. Somos estimulados e quando acontece isso o nosso ser leva-nos a que dê-mos uma resposta a esse estímulo, automática ou pensada, coerentemente ou descontroladamente. Precisamos do estímulo para caminhar até à meta. Precisamos de motivação para agirmos, e se somos motivados isso leva-nos a crer que estamos a agir bem, nem que na verdade isso não aconteça. Mas, dentro de mim há alegria, mesmo que me queiram fazer sentir o contrário. Em mim há mais ainda do que eu consigo imaginar. Eu mexo com os sentimentos que gerem os homens, os meus sentimentos são o de qualquer homem, mas com um auto-sentir esses sentimentos de um modo especial, que ainda estou para definir e descrever num futuro que não sei qual é nem se irá existir. E se um homem têm força, tem que a utilizar no caminho até à meta. E se um homem tem palavras, um homem tem que as utilizar nessa senda, para construir a sua vida, e alcançar novas metas. Nem que essas palavras caiam que nem castelos de baralhos de cartas um dia. Nesse caminho, a pouco e pouco, vamos deitando para fora o que de nocivo temos no nosso interior poluindo o ambiente exterior, purificando o ambiente interior, quem somos, para atingirmos a meta purificados. Toda a dor tem de ser abandonada e superada. Se assim não for, de outra maneira será. O tempo urge, e as metas estão à nossa frente.
Para mim, a vida é: uma energia que vacila mas não cede, como uma vela bruxuleante, que dura até ao fim do pavio, depois de consumida a cera que lhe dá a força da existência; tudo o que podemos alcançar, física e psiquicamente, o que podemos tocar, ou quando não, imaginar que tocamos; onde estamos ou onde podemos ir; aquilo que conhecemos ou podemos conhecer, estando lá ou sem nunca ter lá ido; é um sonho sem fim; uma aventura, onde ser quem somos - os aventureiros - é-nos definida por cada passo que damos, o caminho dessa aventura, como se houvesse um destino, trilhemos o caminho que trilhar - mos. Talvez no homem, que tem sentimentos conscientes (e tem consciência da própria vida, talvez como nenhum outro ser), as emoções sejam o condimento dessa vida. Assim, o contentamento e a tristeza fazem parte de todos nós, tanto que acho que só conhece a alegria e o contentamento quem já conheceu a tristeza. Perscruta o teu interior e procura o teu contentamento.
Rasgando a noite, dia após dia, como que alucinado, trilho um caminho, que me foi vedado. Sigo esse caminho aparentemente intransponível talvez na esperança de conquistar um pouco mais de vida. Acho que toda a minha vida foi assim, a de um alucinado: alucinado pela dor do sofrimento, do sofrimento consciente. E diria mais, a minha vida é a de alguém que nasceu já assim, porque não teria outro modo de sobreviver se tal não acontecesse. Fiquei alucinado na hora em que nasci, se bem que já o seria na hora em que me conceberam. E pergunto-me porque tudo foi, é e terá de ser assim, para mim (?). Porque fico inebriado tão facilmente (?), e que ebriedade será essa que me deixa neste estado alucinado quando não posso estar ébrio, porque não posso nem me querem deixar andar ébrio (?). Devo ter ficado inebriado no momento em que respirei o ar pela primeira vez, quando todo o meu ser contactou com este mundo inefável, pela primeira vez, como se eu soubesse já o que me esperava. Fico ébrio com tudo o que os meus sentidos conseguem abranger e sentir. Fico ébrio com tudo o que posso imaginar na minha mente. E fico alucinado cada vez que tenho de sofrer, cada vez que tenho de conter toda essa ebriedade, cada vez que tento ser quem, na verdade, eu não sou. E mesmo nessas horas de sofrimento tudo me pode parecer belo, se eu conseguir sentir segundo o sentir que já nasceu comigo, segundo as minhas memórias, segundo aquilo que eu sou, e que vou redescobrindo à medida que o tempo passa. E, cada vez mais, eu me redescubro, nos ‘insights’ de momentos que foram marcantes para mim. Eu tenho uma foto ou passagens desses momentos no meu interior. Eu, cada vez mais, sou eu. Não posso fugir a tal destino, que é saber quem sou, na esperança de saber quem são os homens, que me fascinam tal como todas as criaturas e coisas que fazem parte deste universo, e primeiramente deste mundo que me envolve e me chega ao meu espírito através dos meus sentidos, e maioritariamente através de meios virtuais. E tenho medo das situações que me levam a fazer agir como se eu fosse uma pessoa normal. Tenho medo dessas situações que me levam a parar a minha memória, a esquecer o meu passado, dessas situações que me levam a que fique ofuscada a minha imaginação, e dessas pessoas que me querem induzir de tal modo que me querem fazer esquecer quem fui e que, afinal, tenho redescoberto, ainda sou e muito provavelmente continuarei a ser. Tenho medo dessas situações que me querem levar a sentir da maneira que eu não sei sentir. Antes de eu sentir, já eu era. Tudo o resto veio por acréscimo.
Como é belo este mundo, tão belo como o interior que o faz ser belo. Concordo que <<a beleza está nos olhos de quem a vê>>, a beleza está no interior de quem sente e cria tal sentimento, e, quiçá, esse sentimento seja um dom, que nasce com certas pessoas. Mas que paradoxo será esse entre a beleza da criação e da descoberta e invenção de novas coisas e o medo que existe que isso nos seja desfavorável à nossa sobrevivência (?), que paradoxo é esse entre o podermos ser livres de fazer o que quisermos da vida ( e do mundo) segundo aquilo que o homem pode fazer segundo a sua inteligência e imaginação e segundo os meios que tem ao seu alcance e ao mesmo tempo saber que esses actos (criativos ou outros) podem acarretar malefícios para a continuidade da própria humanidade, podem acarretar a destruição (mas não querendo desistir de fazer tais coisas belas, não querendo por de parte essa necessidade de descoberta e continuidade dos seus actos). Este tipo de questões tem influenciado a minha maneira de estar na vida, como se eu fosse um ponto fulcral entre pontos fulcrais nesta passagem da humanidade, sentindo de tal modo como se a vida estivesse em perigo constantemente, segundo o rumo que está a tomar. Na verdade, não sei porque sinto assim esta vida, como se eu fosse responsável por destinos que desconheço, como se arcar com o meu destino não bastasse somente. Reconheço que sou altruísta (no que diz respeito a sentimentos pelo menos), modéstia à parte. Mas não sei porque tenho de personificar esse sentimento de perigo, como se eu pudesse fazer alguma coisa mesmo que esse perigo seja real. E que posso eu fazer em relação a esse rumo (e que rumo será esse?) que nos conduz a algo que desconhecemos, e que talvez desconheçamos por muitos e muitos anos.
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