Fugacidades [do pensamento]
Continuam chegando até mim pessoas, o meu blog continua a ser visitado, fugazmente. Ah, podem não ser muitas, e até podem estar de passagem, mas elas levam-me com elas. Não são muitas, mas não é propriamente a quantidade que interessa, é a impressão que vamos causando, quando não no imediato, no futuro, o que é melhor ainda. A vida é um todo, não é um momento somente. E o que perdura e subsiste é o que interessa e realmente vai marcando. Não é só o que é imediatamente observado e que é facilmente absorvível que é o que é verdadeiro, a verdade e a genuinidade esconde-se atrás do óbvio, nesta promiscuidade imensa, neste mundo. Quanto temos que trilhar para poder chegar lá! A interacção entre o que fomos e o que nos estamos a tornar a cada momento que passa dá-se constantemente. Eu sou um ser fugaz e perene, por vezes fico contente por isso e por vezes isso dá-me uma imensa tristeza. Quando penso que perdi algo, e se foi injustamente, isso provoca-me um vazio. A complexidade pode ser maravilhosa, mas o medo de me perder dentro dela é imenso. O meu gosto pela vida e por tudo o que sinto ou imagino é transversal. Eu não sou de maneira nenhuma uma pessoa linear. Esta transversalidade da vida tem-me levado a gastar mais energia, muita mais do que gastaria se eu fosse linear nos meus gostos, mas tenho descoberto e tenho sentido o gosto de sentir a generalidade de tudo o que consigo abranger. Não sou o maior, sou o que sou segundo aquilo que me envolve. Não sou uma pessoa que adira a ideais facilmente, que vá atrás de modas, ou de outras pessoas sentimentos fáceis de união falsa. Eu sou apenas eu, um ser pequeno no meio de tantos e tantos seres, diferente de todos eles e único na maneira de sentir, mas que estou envolvido no meio desta malha que nunca conseguirei compreender por mais que tente e por mais que consiga compreender. Tenho momentos melhores e piores. Tenho alegrias e tristezas. Compreendo que tudo tem que mudar, mas tenho medo de não conseguir acompanhar essa mudança, apesar de tender a aceitar que irei ficar para trás a pouco e pouco em coisas que queria que durassem mais tempo. Compreendo que estamos sós no meio da ilusão da vida, eu sinto-me como tal. As ligações humanas são fantásticas e é bom conhecer pessoas que nos complementam, mas este mundo é mesmo estranho, por vezes as pessoas são estranhas e isso é bom, mas por vezes são estranhas e isso é mau. As pessoas falam que é necessário proteger o mundo, para o futuro das gerações, mas ninguém abdica de ser um motor das causas de destruição, ninguém quer abdicar do conforto que tem. A vida é estranha, a cultura que os homens têm é estranha, eles lutam entre eles, querem ser donos do conhecimento e ser os maiores e dominar os outros. A vida é mesmo estranha. Eu também sou assim, nasci no meio dos homens e sou de carne e osso como eles, sou um humano, sou um ser vivo desta terra. Eu quero ter conforto, e não quero abdicar desse conforto se isso for imprescindível para a minha sobrevivência, eu preciso de conforto para poder viver mais tempo. A sobrevivência é pelo que lutamos por mais avançada que seja a nossa cultura ou a nossa mente. Queremos influenciar os outros, ter um poder de os por a trabalhar para nós de sermos os detentores da sabedoria, do que faz girar todo este Universo. As pessoas, na verdade não constroem somente, elas destroem muito mais e exploram e gastam e desgastam este mundo de uma maneira sem controlo, gastam esta terra que é de todos, mas é a sobrevivência e o gosto por ir sempre mais alem que provoca o impulso de continuar a gastar sem reciclar e a querer viver tudo numa vida. O que as pessoas hoje em dia procuram, talvez como sempre procuraram foi cultivar a personalidade, a influência, o conhecimento do mundo, a beleza. A ilusão que se cria do mundo hoje é enorme. As pessoas vão atrás umas das outras. Muitas pessoas precisam de ser guiadas, mas como sabemos quem nos pode conduzir bem e se há um caminho correcto? Ou se simplesmente o nosso caminho é o correcto, seja ele qual for? O sofrimento é pungente, mas inerente ao homem, mas eu não vou pagar por aqueles que querem fazer mal a eles próprios, eu não quero fazer-me sofrer mais do que o sofrimento que o destino me faz ter. Eu quero bem-estar e preservação do ambiente que me envolve. Mas tudo isto que digo é tão relativo, as coisas são tão estranhas, a vida não nos diz claramente o que é certo ou não, e sou tão perene para compreender tais coisas. As coisas repetem-se vezes e vezes sem fim, a história repete-se vezes e vezes sem conta na nossa memória, só assim conseguimos preservar as memórias do conhecimento. Quantas coisas não repetimos sem nos darmos conta, quantas coisas sem fim. O homem quer mais e mais sem fim, sem conseguir parar, é compulsivo. Estamos num mundo dos direitos humanos, onde esses direitos não chegam a todos, porque apenas alguns os sabem reivindicar. Como gostaríamos de voltar para a inocência, como gostaríamos de reviver o clímax, o auge do prazer sentido, a genuidade da vida que parece perdida e a tentamos encontrar novamente. Porque tem de ser tais momentos passageiros e não podem durar bastante mais? De que adianta a rebelião destrutiva que nasce em certos homens, porque não são eles clarividentes para terem uma rebelião construtiva? O mundo teve um princípio e vai ter um fim por mais que queiram suster este mundo muitos, como eu. O mundo é para se usar, se bem que havia de ser usado em respeito por todos. Mas as pessoas não compreendem, as pessoas … eu não compreendo por vezes, e outras vezes pareço compreender. Já não cimentamos valores e amizades, o mundo tende a diluir-se. Toda proximidade das pessoas, a pertença a um grupo tende a diluir-se numa idade de solidão que não tem de ser propriamente de tristeza. Caminho inexoravelmente para o meu fim, caminho e não sei porque caminho, mas sei que tenho que caminhar. Caminho a leste, mas caminho, caminho só, mas continuo a caminhar, na fé de que há um Deus que me tem.