Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Trago os lugares por onde passo nos meus olhos. Solitariamente imagino a vida de tanta gente que me envolve, imagino o que sou e em que posição estou em relação aqueles que vejo, e aquilo que consigo sentir deles. Imagino aquilo que sou e aquilo que provoco à minha volta, na minha presença. Imagino e nunca sei se é verdade ou não, e chego a perguntar-me se aquilo a que chamam realidade não será apenas a imaginação de algumas pessoas, ou muitas pessoas, ou mesmo imaginação da humanidade. Pergunto-me até que ponto somos iguais e até que ponto somos diferentes, o que nos une ou o que nos afasta, pergunto-me, em última análise, o que me une e o que me diferencia do resto dos seres humanos. Vejo tanta gente em movimento, gente que viaja, neste mundo que devora petróleo. Vejo gente que viaja mas que não sente a terra que os envolve. Ou será que sentem e eu é que não vejo isso? Conheço o toque, o cheiro da terra e a emoção do sentimento térreo, mas muitas vezes sinto que me escapa o sentimento humano, a emoção da ligação humana, como se fosse um extra-terrestre. Vejo gente que me parece viver em liberdade e despreocupação com a influência que tem no mundo e com o futuro, e mesmo gente que quer permanecer ignorante, como se fosse para não ter de assumir possíveis culpas sobre o que se irá passar. Por vezes parece que eu estou acima de tanto sentimento humano que me envolve, que consigo ver mais além. Por vezes parece que estou abaixo de todos, que toda a força e conhecimento e saber que possuo não significam nada, e assim, por vezes, penso: ‘De que me vale todo o conhecimento e o saber sem a perpetuação daquilo que somos?’. Por vezes apetece-me desistir das pessoas, mas por vezes sinto a falta da proximidade humana, e sei que se desisto delas estou a desistir de mim, e isso não posso permitir, por mim próprio. Talvez me reste compreender mesmo que nunca o consiga dizer. E eu compreendo ou pelo menos tento compreender as atitudes do comportamento humano e muitas vezes posso tolerá-las, mas muitas vezes não consigo porque estou envolvido nelas e, aí, age mais o instinto do que a consciência de compreensão que possuo, as regras da existência são outras e como que estão constantemente a mudar. Tenho medo de me magoar, de que me magoem, pois sou susceptível a muitas e determinadas atitudes, que se calhar sou eu que exagero no meu íntimo. Apesar de não ter crescido no meio das pessoas, pois nasci solitário, com uma inteligência e uma vida muito peculiar, não deixei nem deixo de viver e sentir tudo o que a vida – a vida de hoje em dia - tem para dar a uma pessoa. Do meu ponto de vista, desde o tempo e o espaço que são os meus, eu vi e vejo passar imensa gente defronte de meus olhos, gente que não se apercebeu o que era viver (e não quero dizer com isto que eu sou quem sabe o que é viver, mas gostaria com isto de dizer que estou no pedestal mais acima do que os outros, nunca sabendo se é verdade). Consegui compreender (atingi uma meta) e continuo a conseguir compreender, o passado, o meu passado, os comportamentos e as atitudes dos seres, e muita coisa mais que certamente não conseguiria transmitir por mais que vivesse. Se a complexidade reside em mim, ela não é mais do que reflexo da complexidade daquilo que me envolve e consigo sentir. Consigo ouvir vozes -não devia, mas consigo – em tons depreciativos que menosprezam a vida dos outros, decerto desprezam a deles também, digo eu. Consigo ouvir, mas na seara humana não consigo distinguir o trigo do joio a maior parte das vezes, só de olhar para ele. Mas consigo perceber o que o que são, trigo ou joio, se eles se manifestarem para mim. E dou comigo a não saber se hei-de agradecer por este mundo (magnífico, sem dúvida) que me envolve e do qual pude e posso ainda participar, ou se blasfeme contra toda a agitação e destruição - que nenhum homem pode conter por mais Universo que traga nos olhos - e comprometimento de um futuro, futuro incerto, que talvez não seja mais do que o antecipar a altíssima velocidade o fim do tempo do homem, com o desejo de sentir tudo numa só vida.
Pareço ser pessimista, e talvez seja isso. Bem queria libertar-me disso, mas aquilo que vejo não me permite. Contudo, sei que é-me permitido viver porque a vida já me manifestou isso, a vida deixa-me, e tenho que continuar a lutar contra tudo, tenho que marcar a minha presença, enquanto existir. E depois? Que sentido? Sempre aquelas questões. ‘I need a friend, I need a friend , not standing here on my own’ Black, ‘Wonderful Life’. O quanto precisamos de um amigo, de amor. O quanto procuramos. O quanto esta vida é mais feita de desencontros do que encontros. Para mim é, e para muitos mais também. O quanto é necessário a envolvência, mas o que é isso? Apesar de saber que existe, onde anda ela? Abomino a cultura, essa que me abomina, essa que me prende e me tolhe os meus movimentos, que me limitou. Não queria muito, só queria que me deixassem ser eu, aquele que eu queria tangivelmente ser, e que não me deixaram. E quem foi? Foram, quer dizer foi, quer dizer… essa indefinição das causas, essa falta de objectividade do que foi, tudo isso há-de passar. Quando te dizem que estás a errar, e te demonstram claramente o erro e tu persistes, tu tens um carácter que nunca mudarás, por isso tudo o que de bom tiveste e fizeste se torna azedo, toda a vida fingida é desperdiçada pela descoberta da careca, por se ter posto a nu os teus erros. A humildade é bonita e fica bem em qualquer lugar, a humanidade, o sentimento de proximidade com as pessoas, só isso pode perdoar e pôr as pessoas acima da terra que nos envolve, e só assim poderemos pôr o nosso bem-estar acima da terra, do ambiente que nos envolve.
Sigo, como se houvesse um destino, a caminho da meta, depois de muitas metas ultrapassadas e outras que espero que ultrapasse, até à final. Preparo cada momento em que vivo (que vivo como se fosse, sempre, o último dia) para entrar em glória naquele momento que me transportará para não sei onde – nem o saberei jamais, muito provavelmente – se for transportado, para ser o que quer que seja, algo (muitas coisas provavelmente) com outra forma da que já tive um dia. Tento viver como se fosse o último dia, mas não nos extremos, não a desafiar o que é dado como certo, não na loucura de querer usufruir tudo em pouco tempo, nessa loucura que, por qualquer motivo, me parece querer possuir em muitos momentos e que possui, parece-me, muitos homens. Como todo o homem, eu sinto, tenho sentimentos e uma auto-consciência deles muito acima do homem comum (quero acreditar nisso). Com a minha abstracção, eu transcendo-me e crio filmes e situações na minha mente, eu vivo milhares de vidas e situações que me podem acontecer ou poderiam ter acontecido e nem por isso sou o homem mais bem preparado para o que há-de vir. Como qualquer homem cai-o no mesmo erro vezes sem conta, como se o que eu sou, a maneira como tendo a manifestar-me, a acção que me guia, me atraiçoasse sempre em situações idênticas e não conseguisse mudar tal aspecto ou tais aspectos de interagir com o mundo. No entanto sou uma unidade corpórea e feito de material finito, como todos os homens, e toda a minha grandeza espiritual, um dia, não terá o sentido que tem agora. Constrange-me essa indefinição do que serei eu depois desta existência, como constrange a muitos outros homens. Constrange-me o facto de que tudo tem um fim, e toda esta linguagem não terá mais sentido a partir de certo momento futuro, quando todo o mundo acabar. Constrange-me tudo o que perco e sei que perdi, injustamente e conscientemente, a maioria das vezes por culpas que não me pertencem, por motivos que me transcendem e eu tendo a descobrir e compreender. Penso que desde sempre a crise existencial fez parte de mim. O meu nascimento foi uma crise existencial e paradoxal. No entanto, cresci com esperança e fé de que algo de especial, que fizesse sentido, me esperava. Agora vejo, por vezes, que isso não é como eu expectava.
Sigo, por vezes com controlo (pelo menos parece-me assim) das coisas que me envolvem, entendendo-as, pelo menos. Penso que ‘entender’, ‘compreender’ o que se passa, é controlar. Mas, muitas vezes, esse controlo deixa de existir e começo a sentir-me à deriva, como um barco sem leme nesse vastíssimo oceano sem princípio nem fim. E tenho medo quando assim é, quando tudo começa a escapar ao controlo, quando deixamos de ter capacidade de assimilar e lidar com o que se passa nas nossas vidas, quando não estamos ‘à altura de’, quando o vazio nos corrói, a solidão que não percebemos de onde vem, quando o equilíbrio do organismo fala mais alto e se sobrepõe aquilo que desejava – mos sentir, – querermos estar bem e não estarmos organicamente e fisiologicamente bem -. Quantos sentimentos (!) por mim não passam por cada dia que vivo. Quanta raiva não engulo, por vezes. Quantas imprecações (!) eu não lanço a esta humanidade que me faz sofrer, estes biliões de seres que existem nesta terra e que geram o caos – pelo menos na minha mente -. Quantos ideais (!) eu vejo em cada ser, que não levam a lado nenhum, no tempo, façam o que fizerem (mas o curioso é que muitos deles acreditam naquilo que são esses seus ‘ideais’) - E comparo esse ‘acreditar’ dessas pessoas, com a minha fé e esperança de jovem em desenvolvimento, que eu tive, aquela coragem, que pensava eu que me acompanharia até ao fim dos meus dias -. Quanta alegria (!) eu já não tive e se perdeu na imensidão do tempo. Quanto desejo de prosperidade eu já não desejei para a humanidade (!). Quanta felicidade jovial (!) eu senti por pensar que dava os passos certos na minha vida – quando na verdade eu caminhava no sentido da despersonalização de quem eu sou, por motivos que tento descobrir. O quanto eu quis pertencer a esta imensa legião de homens (!), acreditar naquilo em que eles acreditam e, mais tarde, ser defraudado por tamanha expectativa. Sou um homem desiludido, é isso, somente isso. Um homem em que o mais básico lhe foi negado, e não estamos a falar de comida para a boca, de roupa para vestir ou de uma casa para morar – que isso não me faltou, ainda, porque me têm restado forças para ir lutando pelo essencial, e por estar minimamente integrado nesta economia global -. Estou a falar de algo que jamais entenderei, faça eu o que fizer. Como o mais natural que se tornou em perversidade, por Iavé (!), no que a humanidade se transformou, como perverteu, conscientemente (com uma nova consciência), tudo o que era natural, como o homem desrespeitou a natureza - Quando falo de ‘homem’, falo nessa larga maioria de seres humanos que ‘regem’ a consciência colectiva, esse senso comum (sentir comum) -. E eu não passo de um homem comum, no entanto. Eu estou imiscuído nesta sociedade, neste mundo destes homens, do qual eu também o sou, e só faço sentido por eles. E foi e é neste meio em constante mutação que eu me desenvolvi e desenvolvo, ate que uma força maior me vença. Mas, e se eu fosse um ‘ser especial’, na verdade? Que significado teria isso para os outros homens e mulheres? Que vantagem eu terei se for esse ‘ser especial’? Na verdade todo ser é especial, mas vida corrompe-o. Parece-me que os melhores dias da minha vida pertencem ao passado. Neste momento encontro-me, bastas vezes desencontrado, no entanto, com uma nova esperança a renascer, porque sinto novamente que compreendo, pelo menos um pouco, que seja. Não sei o porquê de tanto queixume, mas decerto tem uma razão de ser, mesmo que eu não a veja objectivamente. Quantos não choram para que tenham pena deles, actores da vida que na verdade são seres humanos como qualquer outro, mas que por vezes choram falsamente para tocar no lado de solidariedade e empatia do outro que os ajudam, merecendo ou não. Quem é falso terá que aprender com essa falsidade. Eu queixo-me, com razão ou não, no fim tudo terá sentido, ou no entanto, nem por isso, e só o vazio restará.
Falando como falo, a melancolia subentende-se neste caminho que trilho, - tanto no caminho da vida como no caminho das palavras escritas -, assim como outros conceitos análogos, palavras que não me apetece dizer neste instante. Transmito uma parte obscura que a vida tem, como a vida de qualquer pessoa, que é única na sua vivência ímpar. Eu sei que faço vibrar aqueles que sentem como eu descrevo. A nossa maneira de sentir é como uma osmose, se perceber-mos o que lê-mos então estamos a sentir da mesma maneira, contudo não com os mesmos circuitos activados. Assim o é ‘ao vivo’ com outra pessoa ou pessoas, a interacção leva a que haja osmoses de sentimentos tão intensos quanto o que conseguimos absorver e gerir. Somos estimulados e quando acontece isso o nosso ser leva-nos a que dê-mos uma resposta a esse estímulo, automática ou pensada, coerentemente ou descontroladamente. Precisamos do estímulo para caminhar até à meta. Precisamos de motivação para agirmos, e se somos motivados isso leva-nos a crer que estamos a agir bem, nem que na verdade isso não aconteça. Mas, dentro de mim há alegria, mesmo que me queiram fazer sentir o contrário. Em mim há mais ainda do que eu consigo imaginar. Eu mexo com os sentimentos que gerem os homens, os meus sentimentos são o de qualquer homem, mas com um auto-sentir esses sentimentos de um modo especial, que ainda estou para definir e descrever num futuro que não sei qual é nem se irá existir. E se um homem têm força, tem que a utilizar no caminho até à meta. E se um homem tem palavras, um homem tem que as utilizar nessa senda, para construir a sua vida, e alcançar novas metas. Nem que essas palavras caiam que nem castelos de baralhos de cartas um dia. Nesse caminho, a pouco e pouco, vamos deitando para fora o que de nocivo temos no nosso interior poluindo o ambiente exterior, purificando o ambiente interior, quem somos, para atingirmos a meta purificados. Toda a dor tem de ser abandonada e superada. Se assim não for, de outra maneira será. O tempo urge, e as metas estão à nossa frente.
Sinto como sinto. O vibrar da vida em mim. A eterna dor de sentir. Sentir quem sou. A infinita sensação de não pertencer a este mundo, a larga marginalização que me envolve, as infindáveis questões que só levam a outras questões, o nirvana, as perenes respostas que por vezes me satisfazem por um momento. Talvez seja tudo minha culpa, e sei que é. E a ninguém mais se deve este modo de ser, esta sensibilidade desmedida, esta admiração que provoco onde passo, este desprezo de quem não entende e olha fixamente, como se o olhar lhe desse respostas, como a querer descobrir o que vai na alma daquele que é ousado. E eles olham com superioridade, mas é a inferioridade que está em mim, na maneira de me manifestar, que até faz parecer verdade essa superioridade. O medo do desconhecido, eles fogem a sete pés dele. E não sabem o que os faz mover, não sabem porque são assim, não sabem porque agiram e agem como agem. Eu já saberei alguma coisa? O tempo passa, e eu tendo a sair derrotado, eu sinto-me sempre um derrotado. A nossa luta é tão em vão quando estamos deslocados de nós. O nosso tempo é tão breve, que não cabe nele quem tudo quer. Mas sou eu o culpado, eu sei. Mas não só, então e os outros? Quem me ensinou e me fez sentir assim? Talvez nunca encontre o meu lugar, porque ele não é aqui. Estou aprisionado. Quero libertar-me. Mas estou tão longe de onde queria chegar…imagino-me lá, nesse sitio onde existem valores, onde os meus passos me levam ao objectivo que desconheço. E toco a utopia: se eu fosse espírito somente, então eu seria EU realmente. Mas, assim, com este corpo, sou tão frágil, como se tivesse muito a perder. Queria ser, como os outros, não belo, não especial, não feio, não marginal, normal, normal. Sei que uma vez ultrapassada a fronteira do tempo, o regresso não é possível, apenas resta o futuro, o consolo de que tudo está à minha frente. Não quero ser rei do mundo, não quero ser rico, as minhas ambições são exíguas, como a senda por onde trilho, só peço o meu lugar, isso e somente isso. Mas há espectros que me acompanham constantemente. Apesar disso tenho fé, a dor de cabeça há-de passar. Mas tenho a certeza, que a solidão há-de lavrar fundo os terrenos da minha alma. Não sei porque é esta a minha natureza, eternamente incompreendida. Porque terei eu de ser assim, esquecido porque não manifestado, pisado porque não alado.
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