Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Olhai para mim e vede: Eu não era para ter existido, e, no entanto, vivo (!), tudo à minha volta atentou, senão mesmo ainda atenta a minha existência e no entanto eu continuo trilhando o caminho da luz, que me foi vedada, até no meu leito (…). Vede, it´s allright, eu podia nascer num país de opressão como a Coreia do Norte, na asia, ou outro sitio parecido; podia ter nascido na china, podia ter sido maltratado a ponto de ser um ser comum que não lhe é permitido indagar a sua existência, e, em ultima instância, a da humanidade. Podia ter nascido oprimido de modo a ter uma vã existência, mas observai bem e vede quem eu sou, eu fui oprimido mas não a ponto de deixar de pensar por mim, a minha íntima Liberdade me faz prosperar, não fiquei no ponto de acreditar no que tenho que acreditar, mas a maldade me quer cegar para não ver isso: Oh! Mas eu já vi muito, agora só me resta a vida, aquela que há-de transbordar pelos tempos. A vida é um sonho em si mesmo. E eu nasci na PAZ e a paz está comigo; peço para que esteja para sempre. Aqui estou eu a contar a minha história, a eterna história de alguém que um dia existiu e fará para sempre parte do Universo, a dizer as coisas mais complicadas sempre com a mesmas palavras, aborrecidas, para quem não entende nem quer entender; pois desses eu também não quero saber, seu futuro não me pertence. Sou alguém que questiona, impõe, grita, mas sobretudo implora pela verdade e pelo bem-estar, eu nasci, o mundo demoveu-se. Eu sou o filho certo do tempo oportuno, em que tudo faz sentido, por momentos, na imensidão do espaço-tempo. Eu continuo a subir a montanha para ver mais além. Eu sinto-me um ser perseguido, digam o que disserem, e não me calarei, e me expressarei pelo meios que tiver porque o que sinto é puro e verdadeiro, e o futuro do que sinto está ai, ele é o agora a acontecer. As pessoas nascem sem o pedirem, seguem um rumo sem o escolherem, morrem sem o entender (O rumo), mas influenciam, e, com isso fazem o bem ou o mal. Um dia, uns partem com a simples ilusão da satisfação terrena e existencial, de terem cumprido e realizado suas vidas, por outro lado, outros partem com o despeito eterno de ter vivido uma vida vã, eternamente questionável, com um fim profundamente inalcançável, com uma ilusão desfeita… cedo de mais. E os homens lutam ou deviam lutar pelo equilíbrio, mas a semente da destruição vem dentro deles, de muitos, demasiados. Eu quero acabar com o meu mal, quero-lhe cortar a raiz para não se perpetuar, eu tenho fé que ainda hei-de ser feliz, e penso, eu na verdade sou feliz, um felizardo, não vivo na coreia do norte ;) ; mas como todos somos um só coração, como dizem as músicas (‘One Heart’), enquanto uns sofrerem outros sofrerão, enquanto houver opressão e maldade que afecte um ser justo, todos estão a ser injustiçados, e não precisamos de chegar ao ponto e ser lamechas, mas tolerantes, reconhecedores dos erros, verdadeiros, não aumentar a ganância e a indiferença, a falta de empatia, ou pior, a empatia falsa que grassa no mundo. Um mundo verdadeiramente empático, sabedor, que quer compreender e aceitar é um mundo pelo qual devemos lutar. Mas muitos são conhecedores, e de saber têm muito pouco. Talvez não haja algo Supremo por que lutar, pelo menos algo que seja compreensível em nós, simples seres, mas que há magnificência naquilo que os nossos olhos conseguem vislumbrar e compreender se os soubermos abrir e observar, isso há; e não há que ser orgulhoso, apenas feliz por ser dada essa oportunidade de vislumbramento. Assim, olhai para tudo o que há à vossa volta e vede: tudo é para ter existido, tudo é para existir. E, eu, exagero toda a minha existência e de tudo o que me envolve como uma grande bomba atómica, ou simplesmente, pelo contrário, vivo em paz, na existência.
São imensas as cadeias que prendem meu coração, mas já foram mais. Ouvindo Richard Marx, ‘Chains around my heart’… e, como sempre, momento após momento, eu vibro com as recordações e com a sensação de estar vivo e ter vivido, vibro, surpreendido, com o chamamento da vida nas ocasiões que penso que tudo vai desabar outra vez. Surpreendo-me e ao mesmo tempo tento aceitar aquilo que me ultrapassa, que não consigo mudar. Realmente tudo o que vivi tem um significado, e é maravilhoso ver as coisas encaixar e tomarem sentido. Todas as minhas vivências a encaixar, e, no entanto, sempre na defensiva perante o desconhecido do futuro. Eu queria reagir, e não consegui, não me foi permitido, fiquei passivo, absorvendo tudo à minha volta, tentando compreender infinitamente o mundo que me cercava, como tento compreender mais e mais a cada dia que passa ainda hoje, isso é-me permitido. Mas eu penso que tenho pouca capacidade de reacção, ainda. De bode expiatório a um ser especialmente querido, a minha metamorfose continua, nem que tudo seja ilusório. No entanto, tudo é incerto, só tenho a certeza de ter vivido, dos azares e das sortes que tive, qualquer previsão do futuro pode estar completamente errada, porque um número inimaginável de infinito futuros me podem acontecer. Sinto que a minha vida vai ter mais uma mudança no futuro que se aproxima, e queria acreditar que a vida me vai dar uma nova chance de melhorar quem eu sou e de poder gozar mais um tempo de vida de intensidade agradável. Pensei que não arrancaria mais com a minha vida, pensei que seria mais um caso perdido, de pessoas esquecidas neste mundo, mais um esquecido neste mundo, e que iria esquecer quem eu tinha sido um dia, pois só via tenebrosidade, melancolia e escuridão na minha frente, além de sentir uma profunda incompreensão do que se me estava a passar, e sentia uma imensa impotência de lutar contra forças tão estranhas e que me puxavam para o abismo. Agora, aqui estou eu, sentindo o cheiro de uma nova primavera, tentando invadir o meu espirito com sorte e positividade, neste preciso momento. O quanto desejo que todas as frustrações se vão embora da minha vida, que o equilíbrio venha ter comigo, que tenha forças para que pessoas maldosas não me consigam ferir. Quem me dera que isto que sinto fosse o cálice da vida, a compreensão geral de tudo, ou pelo menos da minha vida em que eu sou o centro do meu Universo. Eu tive a oportunidade de VER este mundo com uns olhos especiais, dados a um ser especial, e do qual só eu posso falar. Eu fui amado desde toda a eternidade, porque estive previsto desde sempre, eu nasci e cresci contra todas a probabilidades, porque me foram dados os caminhos certos para atingir estes momentos. Não sei se poderei falar do mundo agora, mas parece-me que estou apto a falar do que eu conheço, de mim próprio, e talvez com isso eu possa contar também a história do mundo. Talvez eu não possa salvar o mundo nem as pessoas que sofrem, mas posso tentar salvar-me a mim para que outros se salvem. Reafirmo a possibilidade do conhecimento e a existência da sabedoria, os quais eu respeito desde toda a minha existência, e talvez por isso eles me dão momentos tão bons na minha vida e me são tão queridas. Queria acreditar que Deus existe, mas talvez me baste saber que eu existo por meio de algo que tende a mostrar-se à medida que o tempo passa, não interessa o que lhe chamemos, e que a perfeição está nesta amálgama que por vezes parece o caos e por outro lado parece magnificamente perfeito. Sinto-me vivo ainda, e tudo o que senti faz sentido e teve uma razão de ser. Eu tive uma hipótese na vida como poucos terão possivelmente, ou pelo contrário, todos tem essa hipótese, mas nem todos a conseguem aproveitar por motivos que ainda compreenderei um dia. É o sobe e desce da vida, os momentos agradáveis e amenos e até mesmo de vigoroso esplendor versus a queda, a dor e o atrito que nos tomam sem compreendermos o porquê de ser assim. É assim até mais não podermos. Eu vejo desde aqui o que me envolve, sem no entanto ver como os outros. Eu vi: claramente a ironia do mundo; o fingimento; a minha tamanha imperfeição na tentativa de ser perfeito, assim como os erros das outras pessoas e os meus também; a relatividade de tudo, como já me parecia existir desde os meus primordiais pensamentos; a oportunidade de respirar, novamente, por um pouco que fosse, para poder mergulhar mais fundo nesta minha azarada vida. No entanto, não sei se me é permitido esta sensação de plenitude, como a conseguirei manter? Será que consigo?
Timelapse: num lapso de tempo, as principais memórias da nossa vida percorrem a nossa mente consciente a um ritmo e de uma maneira incontrolável [antevejo a morte, a sua proximidade, quando tudo começa a acelerar, quando tudo reage para que sobrevivamos, para que tenhamos mais tempo, porque a nossa hora ainda não chegou, digo eu. E acredito que os momentos finais são dados num timelapse da memória]. Cada pessoa, acredito que cada ser também, tem uma maneira diferente de sentir a passagem do tempo. 10 Anos de uma vida, por exemplo, no tempo geral, são 10 anos para todos, mas a mudança interna e externa que se deu em cada pessoa, mudanças intrínsecas e extrínsecas que se dão individualmente jamais são iguais. Uma pessoa nasce e passados 10 anos já está muito diferente, em condições normais está com a pujança da vida em todo o seu ser. Em contrapartida, um velhote, com 70 anos, por exemplo, está com uma evolução mínima e cada vez menor da sua vida e cada vez mais travado e com as forças em decadência. Em 10 anos houve pessoas que percorreram milhares de quilómetros, assim como houve pessoas que pouco saíram à volta do seu lugarejo ou mesmo de suas casas. Em 10 anos houve pessoas que poucas vezes estiveram duas ou mais vezes no mesmo sitio, enquanto que outras não saíram do mesmo sitio. Nós mesmos não sentimos o tempo a passar sempre da mesma maneira. Sei que muito do que estou a dizer são banalidades para muita gente, mas garanto-vos que a profundidade do que sinto ao dizer as aparentes banalidades não tem medida nem justificação, nem sei se terá alguma razão de ser. A minha presença nesta vida não é indiferente a ninguém, os meus timelapse (‘s) são constantes, a minha memória anda constantemente estimulada, mas sem método para gerir essas memórias e emoções. O que eu sinto é real, e tenho pena se não puder utilizar todo este manancial de memória e emoções na minha vida em meu proveito próprio, de modo a dar um sentido à minha vida, uma paz que eu tanto ambiciono e necessito. A vida pode ser subtil, e penso que o é, para quem é subtil. A vida fala-nos da mesma maneira que nós falamos para ela, se falamos alegremente ela nos responde do mesmo modo, assim se lhe comunicamos de uma maneira triste assim ela nos responde do mesmo modo. Mas a vida também é metafórica, sarcástica, irónica, ambígua. Ela faz-nos estar e/ou sentir como se estivéssemos no topo do mundo, cheios de energia e sorte, assim como que por absurdo e incompreensível que seja ou pareça ela nos despreza e nos faz sentir a mais insignificantes das coisas, joga connosco como se fossemos insignificantes e indiferentes. E frequentemente sinto que tudo parte de nós, mas não sempre, como se houvesse uma osmose entre o que somos e o Universo que nos envolve.
Timelapse, um lapso de tempo, pequeno espaço de tempo em relação ao já vivido, onde toda a nossa essência é revelada na memória de uma forma consciente, quando sonhamos - quer a dormir, quer quando sonhamos acordados [eu sonho acordado, em timelapse constante] -, quer seja revelada quando a morte nos rodeia de forma intensa e todo o nosso ser osmótico reage em relação a esse Universo que nos envolve e que nos quer reduzir ao nirvana. Um mundo de imagens percorre a minha mente, timelapse, imagens que vi em filmes, imagens com som, tacto, cheiro e sabor, a intensidade da minha vida captada através dos meus olhos que diz ‘sim’ a essa osmose entre mim e o que me envolve; imagens que sonhei, histórias que invento ou factuais e que acabam por alterar a minha realidade. Existe timelapse quando tenho medo de perder as estribeiras da vida e que tudo me caia em cima. Em timelapse construímos (eu construo) a nossa história, que mais não é a essência do que algum dia fomos, retratada de uma maneira hiper-acelerada, um resumo imagético, em que tentamos perdurar no tempo. Entrei numa dimensão onde o timelapse é uma constante, onde por cada passo que dou e cada olhar que tenho, com sensações à mistura, me levam a ter imagens em catadupa do que fui e do que serei, um aceleramento da vida, para que possa remediar os factos do meu passado, tentando dar significados agradáveis aos maus e/ou incompreensíveis momentos vividos, e para que me possa antecipar ao futuro e remediar e/ou alterar percursos menos bons.
Eu não sou grande, jamais me senti grande, sinto-me constantemente a mais ínfima das coisas, o mais pequeno e insignificante dos seres, mas sou um eterno revoltado por ser assim, um insatisfeito por não me ser permitido o desejo da mínima normalidade, por não ser aceite como sou - e isso eu sinto-o, isso de não ser aceite, porque só facto de me dizerem que me aceitam sei que não querem dizer a verdade do que no fundo sentem; e todo esse sentimento de não ser aceite como sou se agudizou com o desdém e o desprezo original, do meu nascimento; sei que este tipo de sentimentos se deve ao sempre me ter achado uma pessoa especial sem compreender o que significa isso [concerteza que vai daí], o facto de ter ideias erróneas do que se é ser especial. Acreditei piamente que havia algo muito superior a mim e a tudo quanto eu conheço que me tinha a mim por especial se agisse segundo os preceitos do bem; e eu agi segundo o que achava serem esses preceitos, cresci na plenitude dos meus sentidos convicto de que não estava a infringir esse ideal que me daria ‘direito’ a um amor supremo desse ser imenso que me protegia e que me vangloriaria, me escolheria para ter uma vida de paz, de amor, de verdade. Acreditei que isso era possível (!), acreditei piamente (!), mas o mundo desmoronou perante o sofrimento de eu ser um ser-vivo que vive à mercê dos elementos da terra e do Universo, e que não passo de mais um ser indiferente, que quando não dança ao sabor dos elementos, do vento, quando não acompanha a corrente do rio é ou pode vir a ser brutalmente atropelado por toda a vida que um dia já esteve do meu lado, por aquilo que um dia parece ter-me defendido e ajudado a crescer e a ser homem. E é simplesmente como é, para que complicamos, para que complico? Não sei… Um timelapse constante invade meu espírito, as minhas imagens tornam-se cada vez mais intrusivas no meu olhar, não me deixando avaliar o que vem de fora dos meus olhos, dando o meu espírito primazia às imagens que estão cá dentro da minha mente. Luzes explosivas invadem meu espírito, tentando ser o inverso daquilo que sou, ou seja, em lugar de ser pequeno e indiferente nesta vida, esse timelapse, essas imagens são luzes imensas que me invadem a alma e me fazem sentir no reino do céu, sentindo-me grande quando em sintonia com o mundo que me envolve, fazem-me sentir parte daquele ou daquilo que esteve sempre comigo, aquilo que eu sou, de onde vim e para onde vou, onde sempre pertenci.
Toda a gente precisa de amor, ouve-se dizer na música, na poesia, na arte e em toda a expressão humana, de uma maneira geral. E há gente que efectivamente o encontrou, muito possivelmente. Mas há quem o não tenha encontrado, e quem, não tendo-o encontrado, o busca empenhadamente, sacrificando a sua própria vida buscando o significado e o sentimento de tal conceito, que pode ser um estado de espírito de efectiva união com um ser ou vários seres. É o amor eterno (?) - existindo esse conceito – [ou o amor é prolongável no tempo (?)], ou é perene (sendo um clímax ou o auge de todo um caminho ou conjunto de acções que nos levam a tal auge ou clímax)? É uma ligação concreta entre seres (?), ou tudo não passa do plano espiritual (?), ou ainda, será uma mistura desses dois tipos de elos de ligação? Decerto o amor existe e não pode ser comparado a um contrato, mas subjacente a ele pode acontecer que pode haver um contrato que se torna em vínculo, em amor. Haverá amor por quem nos trata mal, física ou psicologicamente ou só fará sentido essa existência, ou seja, só existe amor quando essa relação entre seres é repleta de sentimentos de amizade e desejo pelo outro, pela proximidade do outro? A vida é estranha para muita gente, decerto, e para mim, sempre o foi e penso que será por mais que venha a compreender muita coisa. Penso no amor como penso na existência de um Deus, a nível transcendental, e o sentimento de uma existência de amor parece-me equivalente a uma existência divina, isto é, se existe aquilo a que se chama amor também existirá aquilo a que se chama deus. Assim, se penso em Deus, eu penso no Amor, ou vice-versa, a um nível espiritual. Se penso em amor também penso no contacto humano, no toque, a um nível físico. Confesso que, pessoalmente eu estou do lado de lá da esfera, desse sistema em que existem outras regras de interacção humana diferentes das minhas, dentro de um espaço mental e de uma perspectiva (onde me encontro) que é o meu, que me parece ser exterior a esse espaço que observo, onde está um conglomerado humano normal, ou seja, é como se as pessoas estivessem na terra e eu da lua a observá-los, e sendo eu também uma pessoa, estivesse longe daquilo e daqueles que também eu sou, e, estando só, observando, tendo como minha companhia o eterno nirvana, ou seja o sentimento de solidão que é o ‘custo’ que me parece que temos quando nos ultrapassamos a nós próprios, à nossa própria limitação humana.
Existirá o amor concerteza, nem que seja como um estado passageiro [ou estados passageiros (porque tudo neste Universo é imparável e passageiro, tudo dura o seu tempo)] físico ou mental ou psíquico ou uma mistura de todos eles. Mas a mim intriga-me a sua existência, e, como conceito puro, e purificado que foi pela minha mente, da maneira que eu o vejo, custa-me a aceitar de maneira como a ordem está e como o amor funciona, porque eu não sou funcionável nessa ordem de acontecimentos. Quem me manda ou mandou a mim complicar as coisas que deviam ser simples, naturais e descomplicadas? Quem me manda ou mandou a mim pôr a natureza dos seres (humanos, em particular) em causa, a maneira como as coisas funcionam? Tenho medo de ser insignificante e desprezível, mas também tenho medo de possuir um poder que não posso controlar e que se vira contra mim próprio. Ou então tudo não passa de uma ilusão, a ilusão máxima de que o sofrimento parece existir, quando na verdade não existe. A minha ilusão, numa imaginação sem fim, imaginação que não é mensurável, a existência de um inconsciente no meu consciente, que eu não domino, a existência de um infra-ego poderoso que está acima do meu ego, quando eu deveria ter o ego a ser comandado naturalmente por esse infra-ego, domina-me e escreve a minha história.
Uma contingência de coisas: factos; acontecimentos (reais ou imaginários); inúmeras causas que antecedem o meu nascimento e que por sua vez provêm já desde sempre dos meus antepassados; o meu ideal, que não percebo como surgiu, mas consigo, até certo ponto, acompanhar a sua evolução até aquilo que eu sou hoje; o facto de tudo na minha vida ser paradoxal, começando, repito, pelo meu nascimento, e todo o impacto que isso teve na vida da minha família e de tudo o que me rodeia, a começar pelo que é mais próximo, até aos dias de hoje, até onde acabei por alcançar, e que resulta num feedback (negativo) que eu não compreendo o porquê de ele ser assim e o porquê de eu ter tomado o rumo que tomei; a influência de algo que tem a ver com a continuidade da minha vida pós-nascimento e que me marcou e não me deixou mudar marcando profundamente o meu carácter e, quiçá, marcando o resto dos meus dias; a maneira como eu estou preso a um controlo mental e físico que eu não consigo quebrar tão facilmente (mas que, tenho esperança, ainda consiga quebrar, pelo menos, enormemente) - Tudo isso me impede de dar o próximo passo na minha vida, o próximo passo de gigante que deveria ser um pequeno passo e natural. Mas inquieta-me esta minha inquietação constante, desde que sou gente, de a minha vida seguir um caminho que não é o que eu desejo para mim, de nunca estar satisfeito com o que tenho e querer coisas simples e serem tão complicadas de alcançar. Porque tenho eu de ser correcto quando tudo à minha volta é incorrecto? Porque sou eu um estranho entre estranhos? Que tenho eu a perder com as minhas acções? Porque hei-de de ter medo de dar um passo? Certamente há um motivo para todas essas questões de retraimento, penso. Motivo ao qual tenho respondido e vou respondendo à medida que caminho, para mim mesmo, e que não fazem sentido para mais ninguém. Tento pôr ordem na minha mente. Eu pergunto, mas o mundo e a natureza poucas vezes me responde como quero, aliás dá-me respostas ambíguas (passíveis de serem positivas ou negativas, não ditas explicitamente como positivas ou negativas) e retractivas.
Tudo me parece uma treta. Mas eu deveria deixar o mundo girar, muito simplesmente, essa é que é a verdade. Não podemos matar quem nos faz mal, mas viver em retracção e sofrimento e limitamento da vida por causa de alguém é terrível. Viver assim sem capacidade de reacção é viver uma vida de letargia. Abomino tal figura que me despreza, assim como outras que imitem tal figura. O meu desprezo é grande por essa gente, e se eu tivesse um poder, eu me riria dessa gente que age egoisticamente, sem escrúpulos como se o mundo lhes perdoasse o que fazem aos outros, e mesmo mostrando-lhe o que estão fazendo não querem acreditar ou saber e seguem pisando o mesmo trilho. Cada um é dono da sua vida, se bem que pode não o ser do seu destino, porque ‘o futuro a Deus pertence’, a natureza age de maneira superior, sempre, pelo menos até aos dias de hoje, pelo menos a meu ver. Eu sei pouco, muito pouco - muitos dirão o mesmo, se quiserem e se tiverem coragem para isso -, mas eu digo que se sei pouco e além disso ainda posso menos. Mas sei que se vão ficar a rir, os meus inimigos, e por isso desejava não conhecer ninguém, mas, ao mesmo tempo não sou nada sem um elo de ligação ou sem elos de ligação. E a busca é incessante e desgastante, porque as nossas forças são perenes e a recuperação é cada vez mais lenta. Vivemos, acho, pelo menos eu vivo, num mundo intenso interiormente, num mundo em que só a confiança em nós próprios não é suficiente para viver, é necessário confiar em alguém mais, tarefa essa que parece quase impossível. Será que o amor está aí onde a confiança noutra pessoa é caso de excepção? Num ideal muito limitado e que não sabemos se o encontraremos?
Começo de novo esta escrita sem destino, sobre o tempo que me resta, mas que tende a nunca mais ter fim, como se fosse uma história interminável. O tempo foge e energia dissipasse, e eu tento utilizá-la com método, porque sei cada vez mais o quão precioso são esses dois conceitos no nosso sistema perene, o nosso ser, o nosso organismo, o corpo humano. Sou um ser evasivo, assim me tornei pelas vicissitudes da vida. Senti-me na mais profunda solidão e abismo, e não quero com isso dizer que não haja ou tenha havido pessoas que estão, ou estariam, mil vezes pior do que eu. Mas a minha dor parecia tão sem razão [que fiz eu de mal para me sentir assim? perguntava], a minha dor, a minha decepção com a vida e com quem me é mais querido, ou era [porque nunca se sabe quem nos é mais querido, eu não sei]. Mas sei agora que cai ou pode cair sobre nós [em mim caia] o peso e/ou o jugo da questão da subsistência, a capacidade de nos conseguirmos governar [de me conseguir governar e sobreviver e perceber as regras do jogo da vida que está em voga] e a capacidade de ser emocionalmente livre. Senti-me emocionalmente sequestrado, e fisicamente paralisado, apesar de, na verdade, não estar paralisado fisicamente. Mas digo-vos, que se a mente não está livre, se a mente está em baixo, o organismo também não responde bem, apesar de parecer que tudo está bem fisicamente. A existência de uma ligação ‘corpo - mente’, essa dualidade que não passa uma sem a outra, é indubitável, pelo menos deve sê-lo. Com tudo o que passei aprendi muito, as dificuldades aguçam o engenho, e vi muito mais do que aquilo que algum dia pensaria ver, apesar de ambicionar tal fasquia. Tive muita sorte na minha vida, apesar de tudo, e isso também eu o pedi à vida, a um Deus em que acreditava, ao Universo, como se queira interpretar. Não estou livre de cair novamente, se bem que muito depende de nós para nos mantermos na mó de cima, mas há uma imensa parte que não depende de nós, pelo menos directamente. Por vezes pergunto-me para que servirá esta aprendizagem ao longo da vida, se um dia nos vamos para a inexistência, plenos de saber e conhecimento e experiência, restando pouco daquilo que algum dia fomos [ou será que restará a semente, os filhos existirão nas gerações até quando Deus quiser] além de que provavelmente pouco perdurará no tempo e no espaço que nos identifique. Todo este saber serve para irmos sobrevivendo, vivermos um pouco mais, é certo, e isto parece uma banalidade para muitas pessoas. Mas o mundo renova-se e continuará a renovar-se até ao infinito, tomando constantemente novas formas, até não haver mais formas possíveis. Pensamos que o mundo [eu pensava] era uma realidade estável e que pode ser aprendida e, uma vez aprendida, serve para toda a nossa vida. Mas o mundo modifica-se, e a mentalidade humana modifica-se muito mais depressa ainda, e não vou medir essa velocidade de mudança, pelo menos para já. Por mais que nos custe, este mundo é uma passagem, cheia de invenções, invenções de novas realidades, construídas pelo homem, invenções humanas. Eu imaginei Deus, aquele Deus que me foi dado pela religião Cristã, durante toda a minha vida. Neste momento consigo sentir aquilo que era, esse Deus, para mim: um ser omnipotente que olhava para mim como um ser especial, que protegia todos os seres que mereciam ser protegidos, como se houvesse seres que não merecessem ser protegidos. Eu tive que reformular esse conceito de ‘Deus’ que me foi dado ao longo da minha infância. Eu continuo a reformulá-lo e a questioná-lo e a analisá-lo à medida que o tempo passa na minha vida. E eu consigo ver mais além neste momento, e nunca tive tão perto do conceito dele como estou agora. Eu acreditava que havia uma razão que me protegia e fazia viver. O Deus que me foi dado era a razão [É estranho como eu acabo sempre por abordar o tema de Deus sempre que escrevo e trato de abordar os meus sentimentos aqui]. Ele me protegia e dava vida como se eu fosse um ser especial. Se existe ou não eu não consigo responder cabalmente ainda, mas que a minha vida foi abençoada e permitida fosse pelo que fosse isso não o posso negar. Já vivi muito mais do que poderia ter vivido, já aprendi muito mais do que alguma vez sonhava aprender, já mudei muito mais do que alguma vez pensava mudar. A razão…? Continuo na busca das minhas respostas enquanto essa razão me permitir continuar a viver. Houve um certo momento de tempo em que eu me dei conta que tinha de mudar de paradigma na minha vida, e isso deu-se não há muito. Eu ouvi da boca de um ilustre neurobiólogo, António Damásio, numa entrevista que lhe fez a Judite de Sousa, no programa televisivo chamado ‘A grande entrevista’, uma frase chave que me fez questionar acerca daquilo em que acreditava, daquele muro que não me deixava ver mais além. E a essência das suas palavras foram estas: ‘A natureza age com indiferença [em relação aos seres] ‘. E não é pela pessoa em si que eu transcrevo o que ele disse, mas pela ideia que se recheou, naquele momento, em mim, a luz de um novo caminho a ser explorado e que me fez colocar uma hipótese imediatamente que tenho testado no dia-a-dia da minha vida; e a própria pergunta é a hipótese que está a ser testada, e, para a qual tenho encontrado respostas e coerência nessas respostas: A natureza agirá, mesmo, com indiferença sobre os seres? Pergunto. Por vezes nas respostas que encontro, vejo uma ambivalência entre os conceitos de Deus, que eu tão bem conheço, e sinto em mim, alem do que diz a Bíblia Dele, e a tal chamada ‘indiferença’ com que age a natureza. Diria mesmo que sinto que no futuro conseguirei conciliar mais a ideia que tenho em mim do Conceito de Deus e da acção aparentemente ‘indiferente’ que a natureza [natureza essa, que faz parte desse mesmo conceito de Deus]. É que para mim a natureza não age de maneira tão indiferente quanto António Damásio disse. Se assim fosse, eu não estaria aqui neste momento a dizer estas palavras, porque a natureza se revelou tão adversa para mim. Eu pedi a Deus ou ao Universo que me mostrasse uma saída para aquilo que eu sentia, para a situação de impasse em que me encontrava, e a verdade é que contra as expectativas e evidências que o futuro agourava para mim, que eu tão profundamente sentia (e que me diziam que não conseguiria sair dali) eu sai, eu vim à tona da água. Pelo que me considero uma prova viva de que existe algo incomensuravelmente maior do que alguma vez algum homem mais sábio do mundo possa imaginar. Se não existisse algo mais [mesmo que não lhe queiras chamar Deus podes chamar ‘algo mais’] quanto mais não me poderia ter acontecido quando perdi o controlo total da minha vida, quando eu não conseguia ver a saída, quando finalmente vejo que tenho ainda saída e posso encontrar a paz do meu espírito. É obvio que eu poderia já não existir, mas existe um segredo que eu não conheço que me deixou continuar. Será mesmo fruto do acaso tudo isto que se passa? Também coloco essa resposta nas minhas hipóteses, de que tudo é obra do acaso. E se assim for, Deus ou ‘algo mais’ não existirá, por mais que me custe a negar um conceito que me enraizaram e cultivaram em mim e que me pode destruir, sei-o. Mas se tudo for obra do acaso, se a natureza agir com indiferença, há muita coisa por explicar nesta vida. Os espíritos lutam pela sobrevivência, não tenho dúvida disso. O mundo de amor e paz entre os seres, de perfeição e de equilíbrio, segundo a religião pode muito bem ser mais uma invenção do homem que por sua vez criou a religião como tem criado muitas outras ideias e conceitos, que apenas servem para a união de um certa legião de homens. E se Deus foi uma invenção do homem, que inventou um ser omnipotente, logo feito à sua imagem [Deus feito à imagem do homem] e não o contrário [o homem à imagem de Deus], que restará do homem que acreditou naquilo que outros lhes fizeram erroneamente acreditar? Mas vejam que tudo isto são hipóteses que procuram respostas. Com perguntas ou sem elas, com Deus ou sem Deus a vida é para a frente. Senti, neste momento, que talvez só o presente exista. Aquilo que sentimos neste momento, cada um de nós, à sua maneira, segundo aquilo que cada um vê do mundo, é a sua realidade, e essa é a que interessa objectivamente. O passado é cultura, e tudo o que foi e existiu desapareceu e é reinventado pelos espíritos que aparecem nesta terra, no momento presente para esses espíritos.
Vou fazer umas observações. Antes de tudo temos que saber quem é Deus, e isso não é dado a saber aos sentidos de qualquer homem, mesmo de muitos que seguem e querem acreditar na Divindade, mesmo seguindo cargos religiosos. Acredito que para O conhecer-mos e O compreender-mos teremos que nos transcender. E não há melhor forma de nos transcendermos do que afastarmo-nos de tudo o que nos foi imposto pelos homens de uma maneira incorrecta, adquirindo para isso a maior visão do mundo e do Universo que pudermos ter, afogarmo-nos o mais profundamente, em conhecimento retirando de toda essa informação apenas a substância pura e essencial, destruindo mesmo o que é conhecimento falso, ultrapassando para isso as barreiras da nossa inteligência e finitude dos nossos sentidos, e mergulhar ao mesmo tempo no nosso interior, na busca de quem somos. Porque Deus tem que estar intrinsecamente ligado à Igreja? Só quem acredita em Deus, baseado nos dogmas da Igreja, pode conhecê-lo? Pois eu acredito que a minha Cristandade, que me foi legada, me levou e tem levado a compreender cada vez mais, essa Entidade infinita. Concordo que todos deviam conhecer o que de bom Jesus tem a nos dizer acerca de Deus e das correctas relações da humanidade. Mas acredito que há outros meios de chegar a Deus, mesmo que eu ainda não os tenha vislumbrado. A questão do ‘bem’ e do ‘mal’, qual a sua definição e o que significam esses dois conceitos, também é uma questão que deve imperialmente ser colocada e não é para ser respondida de maneira fácil, pois ela é uma questão essencial na relação com a fé e com o Deus puro e essencial, que rege o Universo, sendo Ele também o próprio Universo, estando em tudo quanto existe. E a Igreja, enquanto instituição, cometeu muitas faltas no passado, contribuindo para que se tivessem provocado muitos actos reprováveis no seu percurso ao longo da História, reprimindo os homens em excesso, levando-os a afastar do verdadeiro sentido de Deus, fazendo o mal também. Assistimos hoje à completa libertinagem em que se transformou o mundo sob a capa da liberdade do homem, a vida sem freios, que foram outrora excessivos no sentido da repressão que era imposta por esses dogmas e agora tende a levar a excessos opostos no sentido de que todo o homem é livre e deve fazer o que lhe dá ‘na real gana’ como se não houvesse uma consciência moral. Como que a humanidade quer afastar-se de algo que os reprimiu durante tanto tempo, a Igreja, e ao mesmo tempo afasta-se de Deus sem se aperceber. É tempo de a Igreja mudar de paradigma, buscar nas suas fundações, que foram Cristo, o verdadeiro sentido dos sofrimentos e alegrias da humanidade e a Verdadeira relação com Deus, e fazer transmitir à humanidade de uma maneira mais razoável e que seja assimilável pelos homens, os ensinamentos de Deus, de quem Jesus foi um dos símbolos desses mesmos ensinamentos. Foi Deus que nos permitiu chegar ao ponto a que chegámos. E então qual será ‘a voz da verdade’? Qual será ‘a voz dos valores’? A voz de Deus, certamente, e isso leva-nos a perguntar novamente: -quem é Deus? - Quantos se perguntam sem obter resposta. Certamente não estão em nenhum homem, jamais em mim, essas vozes, por mais próximas de Deus que estejam. Eu acredito em Deus. Tenho fé que Deus fala à humanidade na inteligência que nos deu, em todo o nosso ser, na relação que temos com os outros primogénitos e em tudo quanto existe e podemos sentir. Deus é a nossa vida, que deveria ser harmoniosa, mas não o é porque o homem não é perfeito como Deus. Há que elevar a consciência humana, ajudar na busca do sentido da vida quem está perdido, há que viver livre, respeitando o limite da liberdade do outro, das outras criaturas e seres do mundo, da natureza no geral, sabendo que nenhum homem que tenha visto a vastidão de Deus consegue fazer algo pela humanidade e pelo belo e único mundo que algum dia tivemos, se Deus não quiser. Para finalizar, este mundo de imagem e som, este novo mundo da comunicação, ao qual todo o ser humano se maravilha e se rende, deve ser posto ao serviço do desenvolvimento das sociedades que compõem esta terra, demonstrando-lhe que devem viver no máximo de equilíbrio possível, ser tolerantes uns com os outros, e que façam o que fizerem, acima do bem e do mal, está Deus, essa Eternidade, e que nós apenas somos seres perenes que tendemos a perscrutar o que haverá para lá do nosso fim. E assim sendo, somos livres até ao ponto que Deus quiser, e tenho fé que cada um terá que responder por si perante o que há-de vir, nenhum outro homem o pode fazer, porque não pertencemos a ninguém a não ser a Deus, nem mesmo aos nossos pais terrestres.
Há uma sintonia que não alcanço, e temo não poder alcançar. Há uma sintonia, uma sincronia, e há o contrário a dessicronia, a dessintonia, que ao extremo tende para o colapso. Parece tão fácil a sintonia, assim como o contrário pode ser o menos provável e o mais difícil de se sair depois de interiorizado, depois de se ter entrado nesse ritmo avassalador que é o dessincronismo. Tão fácil a sintonia, essa dança perfeita dos corpos em movimento, esse trocar de olhares perfeito, esse conjunto de melodias afinadas cantadas no momento certo com o som belo dos aparelhos, esse bater dos corações em uníssono, ganhando uma força que parece ninguém parar, essa equipa entrosada, que ninguém jamais ousará ganhar, essa orquestra afinada que produz uma música tão bela e tão complexa, esse organismo que está em equilíbrio e é funcional e que procura esse equilíbrio até não mais poder. Tão fácil essa sintonia, esse entendimento completo de um ser com outro, mas mais fascinante, entenderem-se os seres em conjunto, não só através de palavras mas de tantas outras coisas visíveis e invisíveis: os gestos, as expressões, o movimento dos seus corpos, a sua maneira de agir, o olhar – a naturalidade da gestão dos olhares – a sintonia do psíquico, a sintonia do Universo, o homem todo uno, conectado por uma ligação invisível. E a alegria é quem se difunde e propaga, esse eterno optimismo de que tudo será melhor. A tristeza, essa, que toma posse dos seres, nas suas expressões quando outro ou outros assim o demonstram é desvalorizada. Todos querem participar nas alegrias, mas as tristezas são pisadas como se o fim último da existência dos seres fosse o prazer. E todos fogem das a sete pés, como que se morrer afirmando por palavras ou um conjunto de situações ou maneira de agir que se está triste, que essa tristeza não quer largar o nosso ser, fosse uma atitude anti-sobrevivência, e logo os instintos lhes dizem aos outros, os alegres, que devem desviar-se desse buraco negro do Universo que os pode consumir. Então fugi de mim que estou triste: a luta pela sobrevivência, a lei do mais forte, o destino que se reescreve a cada momento que passa, a história só reza dos vencedores, dos vencidos rezará a História, silêncio! Que se vai cantar o fado, o fado é o destino, mas a mim ninguém me cala, mais calado do que o que estou não posso ficar, da galhofa não me hei-de livrar, mas gritai por quem não tem voz.
Há uma emotividade que não consigo compartilhar, e temo não conseguir fazê-lo, jamais. Mas a esperança é a última a morrer, e tento contornar esta solidão que me açambarca.
Sim, sou eu que estou off, desligado do mundo. (pergunto se tereis coragem de me fornecer um cabo para me ligar?) Sim, sou eu quem vai sair derrotado, como se a minha vida fosse uma luta, que me parece ser mais de mim contra mim próprio do que propriamente contra alguém, esse alguém que se dilui no espaço e no tempo, os meus inimigos, imaginários ou não, ou apenas aqueles que simplesmente, não podem ou não querem compreender ou ceder. Eu vejo como vejo e isso faz quem sou, apesar desta busca incessante por uma identidade que seja uma máscara para poder viver mais uns tempos. Sim, sou eu que pareço certo e estou mais errado do que qualquer homem que está à face desta terra. Vou cair por terra, sei-o, vou desfalecer e não poder lutar. Sou homem, e a energia falta. A fogueira da incompreensão quer consumir-me. (serás capaz de me dar a mão?). Vão atribuir-me motivos para o que se passa, mas decerto todos vão errar. E vou viver. Quer viva anos ou meses, ou dias ou horas, ou minutos ou apenas segundos e segundos que parecem não ter fim. O fim está traçado, tudo é em vão quando não há elo de ligação, sintonia. Só me restará o sofrimento? A lamechice de mim para mim próprio? Chamem-lhe pessimismo, trauma ou o que quiserem, depois de morrer, já não me interessará, mas agora o que se diz afecta-me tão rapidamente como se eu fosse um boneco nas mãos de uma criança, incerto como uma pena ao sabor do vento. Digam o que disserem nada me vai mudar, pelo menos para já, porque, mais uma vez, a esperança é a última a morrer… dizem.
Impeçam o impossível. Impeçam a dor e a morte se forem capazes. Impeçam-me se forem capazes desta tristeza, ainda por cima gozada, e carregada com adjectivos de destruição, aqueles que atiram pedras a quem já está moribundo, ou então regozijai-vos por teres feito quase nada, em nome de vós.
<< O poeta é um fingidor. E finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente. >> Fernando Pessoa
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