ocultações
Há coisas que simplesmente se sentem e não se dizem, ou por não termos palavras para as transmitirmos ou porque simplesmente não encontram eco neste mundo para que faça sentido a sua verbalização, ou então por outro motivo qualquer. A minha mente anda desenfreada, faz já muito tempo, mas eu tenho uma conduta dentro de mim, há dentro de mim algo que me rege e me guia, algo que faz com que eu seja aquilo por que me conheço, eu, mesmo que isso não signifique muito ou o que quer que seja para alguém. Sinto-me cada vez mais aprisionado no meu mundo interior. Vejo o passado nas minhas memórias, analiso o meu presente em contraste com o que fui, na esperança de encontrar uma esperança no meu futuro, no objectivo de compreender, no objectivo de encontrar novamente momentos de felicidade. A base de dados que me acompanha é enorme e nem por isso eu me demarco no que quer que seja, no conhecimento. Sei que isso acontece porque não o demonstro, mas em última análise eu não sou capaz. Sou um ser aprisionado. Mas talvez, porque resta sempre a esperança que o contrário aconteça, eu, jamais encontrarei a paz do meu espírito. Em quem posso acreditar? Em que ombro eu posso encostar a minha cabeça azoada? Que fundamentos me farão viver, quando os músculos deixam de obedecer à vontade? Sinto-me culpado de tudo, e o pior é que é verdade, ou melhor, não deixa de ser verdade que sou culpado assim como não deixa de ser verdade que não sou. O paradoxo reina neste mundo, e mais no meu. Eu sinto-me a personificação desse paradoxo, capaz de provocar sentimentos contraditórios ao mesmo tempo nos outros, assim como eu os sinto contraditórios e ambivalentes. É esta ambivalência que me corrói e desgasta a minha alma e no geral todo o meu ser. Porquê esta atitude que me rigídifica e me paralisa, é uma pergunta que me coloco. Porque me anulo a mim próprio? Porque, por exemplo, a certos momentos parecem fazer sentido as minhas palavras e a outras horas estão destituídas do sentido que tiveram? Talvez tenha que ser assim, mas o meu espírito não é capaz de aceitar isso, como se tivesse que haver constância nas coisas, o que na verdade se revela impossível no meu entendimento. Mas, eu compreendo, ó Senhor, eu compreendo com o sentir que me foi legado. E entrei neste caminho do qual nunca mais vou largar, que até me provoca pânico. Porque não posso ter paz, na minha alma, mesmo que tudo estivesse a desabar, como outrora já tive. A paz de viver de acordo com o meu sentir e com o que sou.