A instabilidade das incertezas
No momento em que escrevo não me sinto bem, nem sei que hei-de dizer ao certo. Na verdade, sinto que algo quer que eu me cale para sempre [ou que, simplesmente, não diga e viva silenciado], algo como seja uma multiplicidade de variáveis, coisas que eu não consigo definir ou talvez não deva definir. O meu ser orgânico não está em paz, minhas hormonas não devem andar bem, minha mente está perturbada. A minha expressão não é manifestada como deve de ser, minha interacção com o mundo social tende a ser incoerente, talvez mesmo entrópica, sinto-me a decair sem a satisfação normal de ter vivido. Acho que compreendo as coisas, mas talvez seja só compreensão à minha maneira, sem conseguir explicar o que sinto, vejo e como compreendo. Sei que a minha consciência está num grau incomum, em que consigo sentir de uma maneira diferente da ‘normalidade’ dos outros, talvez. Tudo à minha volta tende a querer encaminhar-me por um caminho que eu tento evitar em que eu não consigo perceber o porquê disso. No fundo continuo fechado em mim próprio, com uma consciência da vida muito particular, muito própria, a não conseguir interagir com o mundo que me envolve de uma maneira normal, e o pior é que me sinto mal; sei que deve ser por esse ‘algo’ que não me sinto bem, essa causa que eu não consigo combater, esse aprisionamento do qual eu não consigo sair. Gostava que o mundo fosse à minha maneira, como uma criança que se acha a coisa mais importante e que o mundo todo gira à sua volta. Feliz ou infelizmente não passo, como talvez ninguém e cada um de nós passa, de uma pequena parte de um todo muito complexo e infindável, e, sendo assim, é tão bom quando encaixamos bem nesse todo, quando tudo corre de vento em popa, e é tão difícil quando estamos desajustados com esse sincronismo, quando o atrito é imenso e, aparentemente pelo menos, é incontornável ou não evitável. A minha mente tem-se expandido com a experiência, meu conhecimento tem aumentado enormemente, mas meu ser não consegue lidar com tamanha informação que provem de todos os lados, entra em desequilíbrio, facilmente. Não consigo entender porque as coisas são como são e se dão como se dão. Vejo o que me é mostrado sobre a guerra mundial, a 1ª ou a 2ª, e não entendo de onde vem a raiz do mal, mas também, mesmo, não consigo entender de onde vem a raiz do bem, em verdade não consigo entender porque tem de existir o paradoxo do bem e do mal em simultâneo. Tanto ser vivo, tanto ser humano morto em guerras sem uma causa que se perceba, e no entanto sentimos que temos que viver e morrer; Nós, homens, somos predadores e presas ao mesmo tempo. Porque tem de tudo ser assim? Parece que tudo se dá ao acaso, e isso não está de acordo com o que aprendi, de que havia um Deus, uma justiça, que dirigia o futuro deste mundo e do Universo, e não consigo livrar-me e aceitar que tudo é uma acaso, que o Universo joga-nos a seu bel-prazer, com uma insignificância atroz, e sem justiça, no sentido de que muitos de nós que agimos na tentativa de ser correctos e equilibrados neste mundo somos os que mais sofremos por causas que nos ultrapassam e que parece impossível de, algum dia, entender. Quero justiça na minha vida, peço-a ao desconhecido, a ‘algo’ que não percebo, ainda... Eu sinto que compreendo, mas este paradoxo de que ao mesmo tempo não compreendo, acompanha-me. Eu vivo, mas esta incerteza de vida, esta vida de sociedade em que o mal brota de onde menos se espera e que quer trazer a morte até nós, que nos quer ter cativos dele [do Mal], deita-nos abaixo até pensarmos que seremos injustiçados neste mundo e tudo foi em vão, alem de que põe em causa tudo o que existe e que faz parte do meu conhecimento, sendo que Deus nunca deveria ter sido um dado adquirido, mas um dado a tentar descobrir. A verdade é que tenho medo, a minha vida é cheia de medos e incertezas.