Feliz na indagação narcísica [audio-video]
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Feliz na loucura. Digo suposições. Não admito aquilo que me quer derrubar. Vou escrever algo. Na verdade, não escrevo, dito. O Tempo da minha vida tem significados, assim como o de todos. Procurando inspiração, continuo. A inspiração de mim está dentro de mim. Mas não transparece assim tão facilmente. Digo frases com sentido imenso, mas que não desenvolvo. Esse sentido está acessível em mim, faz parte de quem eu sou. No entanto, prudência é necessária. As frustrações têm que ser ultrapassadas. Os atritos têm que ser ultrapassados. O cansaço quer vencer-nos, aumenta com o passar do tempo, mas ainda há esperança. A esperança reside no que de novo e bom posso fazer, posso trazer para esta vida, para este mundo, para mim, ainda. Algo como um dom, que está na minha vivência e que perdurará até onde o destino das coisas o levar. Ainda há que quebrar o círculo vicioso de incepção no ciclo de vida que me transporta e me leva a querer compreender algo que não sei o que é com exatidão, mas que se revela, de formas transcendentes, e me faz perceber mais um pouco conceitos que não são palpáveis ou concretos como os objetos da realidade deste mundo, entendimento de descrição comum à maioria dos seres humanos. O foco é necessário para fazer muita coisa, mas divagação para captar a relação entre tudo o que existe é extremamente necessária, contudo aliena-nos do real, que na verdade também é ilusório, mas, ainda assim, funcional. O mundo ideal dos homens parece não ter fim assim como o capricho do supérfluo que se torna vital com a habituação, mas um fim certo está nos destino deste trilho, que se mede em diferentes durações dos tempos diferentes de todos os seres que perfeitamente se ajustam num todo, e mais ainda se pressente o destino do mundo que corre na Mente enorme de um desejo não pedido mas que se fez em nós, o qual indago: porque tem que acontecer este (destino) que se pressente? Quem Rege esse destino com todas as leis descobertas e que ainda se descobrirão? É uma Complexidade ou uma Singularidade?
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O meu ser. A mim me parece estar. E, agora, estamos todos. Mas, seguimos com fé e esperança. Queremos sair mais fortes disto tudo. Sempre o quis também. A fé salva e a esperança é a última a morrer. No entanto, ignorado. Prossigo enquanto Me for permitido. Peço, sempre, mais um dia. E esse dia me tem sido dado. Grato por tudo, tento ser. Apesar de tudo, o caminho é dificultado, talvez para aprender, sempre, até morrer. Bode expiatório não quero ser. Lições a saber, todos os dias. O objetivo, o fim, a finalidade, a Vontade Suprema, será que está a ser demonstrada?! E salvo a todo o momento certo. Ninguém liga, mas eu ligo. Ninguém quer saber, que estranho. Tenho que aceitar se a Lei faz isso. Tenho que A conhecer, tento perceber. Não sei se é pedir muito quando peço sol na eira e chuva no nabal. Sei que Milagres acontecem a todos os segundos, até, somente na nossa vida. E sou salvo na hora certa. E quero compreender melhor, o que está por trás desta Grande ciência, porque sei que há algo mais. E se não fosse pedir muito só queria ser feliz. Será que ao pedir já o sou?! Hipóteses… teorias e interpretações que fazem sentido, ou vivemos na esperança de que um dia o farão. Fui mais uma vez resgatado da ignorância humana, da ironia, do destino implacável, da escuridão que se quer abater sobre mim e sobre o que me envolve. E tento ser mais grato ainda. Será que é suficiente? É necessário dizer obrigado? Ou fazemos ver uns aos outros? Porquê o meu destino? Porque as coisas são como são. E no entanto tento ser, ainda mais, grato. E quando tudo acontece a alma se eleva, no passado que se torna formidável. Porque puro é o futuro que se aspira. Elevo-me em seres que andam ou andaram por aí, e, contudo somos todos diferentes. Estranhos humanos. Más atitudes. Quem sou eu para pôr em causa a Vontade Infinita? Mas se sou um humano que nasceu no tempo certo, então tudo tem que ser assim, eu tenho que questionar como todos fazemos. Eu tenho que por à prova. Se a vida me permite admirar eu admirarei, simplesmente, porque posso. Mas porque surge a dúvida no meu ato de agir se sei que estou e sou de boa-fé? Porque todos somos diferentes, porque os momentos são infinitos e se calhar todos únicos. O confronto surge só com a banal presença dos seres, a diferença, a interpretação das coisas. Mas, há o Certo e o errado, certamente. Temos que aproveitar as oportunidades de escolher o que está correto, porque um dia poderá ser tarde, e, caímos nas mãos erradas sem ter-mos refletido um pouco quando nos era permitido. Simples, com tudo a ficar poluído, espero que ainda não seja tarde. Que o caso não seja perdido.
Admiro a arte do concreto. A arte do que é objetivo. Mas o meu caminho não foi esse. Subjetividade é o que me faz mover. Sinto, definitivamente. Sou sentimento com pouca emoção. E sou como qualquer pessoa, a não ser no que sou diferente, que pode ser tão pouco ou tanto quanto para o que fui talhado. Talvez não seja tão diferente e viva certamente no meu tempo, que por isso é especial, apesar de confinado, e, cada vez mais, todos no mesmo barco. Não se esqueçam.
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Talvez se seja mais feliz sendo louco. Talvez valha mais a certeza do
incerto do que a incerteza do que é certo. As minhas memórias da
loucura estão escondidas através do dia-a-dia. Talvez tenha que mudar
de método, talvez tenha que mudar o meu discurso, talvez tenha que
mudar o meu pensamento. Talvez eu consiga ser outro sendo quem sou.
Tenho que me agradar a mim próprio para andar bem. Talvez eu deva
desistir de pensar que tenho de fazer qualquer coisa. Talvez eu tenha
que dar o braço a torcer. Talvez este mundo não me pertença. Tenho
que sair das sombras, estou farto desta escuridão. Tenho um longo
caminho a percorrer até ao sítio onde eu me vou encontrar bem, não
posso parar. Eles vão ganhar, vão levar a deles avante. Terei que me
vencer a mim próprio. EU SOU NORMAL. Não ando pelas regras dos
outros, eu próprio criei as minhas regras. Eu quero ser independente.
Eu parei no tempo em muitos aspetos. Eu sou finito. Todo o homem é
finito. Eu não poderei mudar o mundo. Mas porque a imagem pode?
Porque pode a palavra? Porque o muda o som? Porque o muda a técnica?
Porque eu não possuo um desses meios de mudar o mundo? É só sentir,
só absorver, é só esconder, como um bicho do mato. Como se o mundo
parasse de rodar quando eu desfalecesse, como se eu fosse ponto
fulcral, se é que o já não fui. Tudo o que fui a apagar-se, o tempo a
passar, e eu perco a partida. Como dar a volta, eis a questão?
A minha imagem não é a imagem de aparência. Ela é o retrato
de quem eu gostava de ser. A minha imagem traduzia-se pela perfeição.
Mas como eu posso ser perfeito se eu sou simplesmente um
humano? "Heaven is a place on earth". Talvez isso seja verdade,
talvez o paraíso seja um lugar na terra. Não, não sou feliz, não sou
bem-humorado, sou sério, a minha imagem não é o `faz ver'. Será que o
homem só pode estar ao pé do outro estando bem-disposto, com uma boa
imagem? Porque teima o homem em andar no mundo da ilusão? Já não é o
suor que une os homens, mas sim a boa aparência, a falsidade das
palavras. E a cada momento que passa ponho em hipótese se as minhas
palavras transmitem algo com sentido. Até parece que o Outono deixou
de ser Outono. Até parece que o Inverno se transformou em Verão e
vice-versa. Mas isso já não me preocupa. Talvez o que mais me
preocupa neste momento seja a minha sobrevivência.
As flores desabrocham, o sol nasce, a lua aclara a noite. A
noite mantinha o ritmo, a noite quebrou o ritmo. O mundo tem
perspetivas e perspetivas, as variáveis são imensas, as palavras já
serão poucas para descrever tudo. O mundo nunca será mais o mesmo. A
vida nunca mais será a mesma. Eu preciso de sobreviver, mas já não
sei como me aproximar dos homens, porque será que assim acontece? O
meu mundo desabou e não tem mais sentido como era. Mas novos mundos
podem surgir. Talvez eu já tenha perdido tudo o que tinha a perder.
Tenho por quase totalmente certo que tenho uma ‘consciência global’ e penso que posso dizer que sempre tive um ‘sentir global’ (que me levou à tal consciência), e mais, parece-me que preencho cada vez mais essa globalidade com factos que chegam até mim de todos os quadrantes além do aumento de experiências pessoais que tenho vivenciado e de todas as inferições que faço com esses dados que obtenho de algum modo. Com isto tudo, todo o saber e conhecimento que tenho, estou seriamente tentado a seguir em busca de um ‘santo graal’ que me permita perceber a lei do espaço-tempo, em mim, das variações que se irão suceder no mundo, de que modo e em que comprimento de tempo se vão dar [sem saber se o irei conseguir alcançar e se ele existe, mas tenho fé]. Gostaria de utilizar esse saber, se o achar, em primeiro lugar para eu melhor poder vivenciar a minha vida, de seguida quereria dizer que o queria utilizar para o bem do mundo, mas, já há tanta gente a tentar ‘fazer um mundo melhor’, e, apesar de tudo, a visão global do mundo que tenho é que ele não está melhor; para mim é claro que o mundo social viveu na ilusão que estaria melhor, em anos passados, devido ao petróleo que era abundante e a bom preço. Tenho para mim neste momento que se todo o conhecimento produzido não for bem aproveitado pelas mentes futuras, se o Universo assim o quiser, para produzir revoluções tecnológicas para o bem-estar de todos os homens, se o ‘bem’ que é imenso não conseguir ofuscar o ‘mal’ que é muito inferior, então julgo que se entrará num período de enorme sofrimento, que, no fundo, sempre existiu de algum modo em algum lugar, mas em menor quantidade. Vejo que toda a gente ‘fala’, toda a gente dá ideias para melhorar, mas aquelas que vingam e que são as corretas são ínfimas; eu mesmo me vejo nessa situação, tenho consciência disso, tanto neste momento em que escrevo, em que analiso e proponho, como na minha vida no geral, em que consigo sentir os rumos do espaço e do tempo e nada me parece poder fazer para os levar a bom porto. Penso que não serei o único à procura desse santo graal e desse entendimento das variações que se irão dar no mundo e no Universo, pelo contrário, penso que muita gente anda à procura disso, grandes instituições que avançam com dados sobre situações que hão-de suceder, projecções, bruxaria, mentes particulares que perscrutam em privado e muito mais. Decerto, provavelmente serei dos últimos a ter sentido em mim esse passar do tempo segundo as variáveis que se sucedem, quando por vezes queria acreditar que fui o primeiro. Sinto que as minhas preocupações natas acerca deste mundo e do Universo [toda a destruição a que o mundo está a ser sujeito, muito resumidamente - quer fisicamente (o mundo físico) quer socialmente, ou seja, moralmente e mentalmente] foram largamente difundidas e amplamente projeccionadas. Foram receios que eu entre outros (talvez muitos) sentimos e que marcam uma geração (a minha geração), e que expandem um sentimento vivo, vindo, talvez, de uma alma remota e inidentificável, de angústia pela possível perda de algo profundamente belo e irrecuperável se tal suceder: a perda do equilíbrio natural do mundo, a poluição desenfreada assim como o uso dos recursos naturais sem medida; a destruição do conhecimento verdadeiro, o facto de não vencer a força da sabedoria em cada individuo, a queda da moral quando não assistida pelo verdadeiro sentido do mundo social quotidiano, ‘o conhecimento com sabedoria’ – O mundo social está a esquecer completamente a base em que ele está sustentado! Que é a terra, a ‘mãe terra’, para usar uma expressão totalmente enraizada e globalizada-.
Pergunto-me o que me levou(a) a ter mais em consideração o estado global do mundo, uma maior preocupação pelo estado do mundo, em detrimento da minha própria condição humana (?), e o porquê de isso acontecer (?). Porque ponho (pus) eu à frente de tudo, como prioridade, o geral antes do particular, o bem-estar geral à frente do bem-estar particular (?). Mas olho para a minha vida e tudo o que consigo sentir nela e dela, e vejo que tudo me trouxe a este momento de grande extravasamento mental. Consigo entender coisas tão globais e aparentemente complicadas e não consigo entender o comum dos mortais, não consigo entender porque eles não entendem. No fim disto tudo, sou eu quem sai a perder e sem valor neste mundo de aparência. Gosto da tecnologia, gostava de viver altamente tecnológico se isso fosse sustentável, mas eu não serei feliz se viver de uma outra maneira? Porque eu, e muitos outros, não podem ser felizes?
No outro dia tive uma sensação de pertença. Senti que me encontrava integrado de alguma maneira numa sociedade, tinha amigos e as pessoas aceitavam-me como eu sou. Imaginei logo que pertencia a uma irmandade. Senti que estava naturalmente em sintonia com o mundo, pois dali, naquela irmandade, via e sentia o conhecimento que me rodeava, além de que os meus amigos vinham ter comigo. Então, imagino, com base na minha realidade, uma ‘Irmandade da noite’, pessoas que vivem mais pela noite ou a qualquer hora do dia, neste mundo confuso em que só alguns têm o direito de viver a vida, a dos seus sonhos, calmamente desfrutando do tempo e do espaço que constitui este mundo; os outros estão condenados a ser carne para canhão, porque não aprenderam ou a vida não lhes permite viver a vida em prazer, a usufruir uma humanidade equilibrada e agradável; porque neste mundo de dinheiro tem que haver o pobre para sustentar, com o seu trabalho, o rico, o pobre é o que produz, porque necessita; porque no mundo há e tem de haver a ambivalência e os opostos, logo, se há rico tem que haver pobre, se há a sorte é porque existe, também, o azar; além disso são 80 por cento a trabalhar para sustentar esses 20 por cento de luxo e bem-estar máximo; e não é que eu quisesse ser como um deles, no fundo, mas também quero ser feliz; preocupo-me pela injustiça, pelo desequilíbrio, pela ambição destruidora de muita gente sem escrúpulos, tal como tantos outros se preocupam. [Nem sei eu porque defendo quem não conheço, talvez porque tenha medo de ser um deles, dos pobres, ou porque eu estou do lado daqueles que têm dificuldades]. Alguns não dormem para que o mundo, efectivamente não pare, o mundo económico que irá destruir esta terra se a terra não destruir este mundo económico, de ganância, de ignorância e alheamento. Quer-me parecer que as pessoas da vida de sonho já não sabem de onde vêm as coisas (o certo é que elas vêm), nem o que são a natureza ou os animais, e vivem num mundo virtualmente intenso e intensamente humanizado; além disso, elas têm todos os direitos do mundo; ajudam quem mais necessita, porque elas nunca sequer se questionaram acerca da possibilidade de elas serem as pessoas necessitadas ou virem a ser um dia, os outros é que são e serão sempre os necessitados. [Mas duvido constantemente de mim mesmo e do que digo, se terá sentido aquilo que sinto e digo, pois não posso ser enganado pelos meus sentimentos - que podem ser falsos e inverosímeis e incoerentes por motivos exteriores a mim -, mas, como já disse muita vez, há o bem e o mal, acredito nisso, e eu procuro que a minha mente seja clarividente a ver isso.] Agora, senti que digo isto como se eu fosse alguém isento nisto que digo, quando na verdade faço parte da globalidade deste mundo humano, portanto, estou nalguma parte desse mundo, não num mundo à parte a ver isto, mas estou ao vivo neste mundo, no meio da acção; ao mesmo tempo vejo com olhos de falcão, isto é, apesar de estar em terra é como se eu tivesse a visão de falcão, a visão daquele que anda lá bem no alto. Constantemente eu me imaginava e imagino, na minha juventude, a concretizar os meus sonhos, a viver a vida de acordo com o que eu sentia e sinto, mas claro que isso foi, é e será (muito provavelmente) uma utopia, quando na verdade existem os outros, dos quais eu não estou em sintonia, que não me permitem exercer a minha liberdade. Não estou em sintonia nem mesmo com a minha família, da qual já estive inteiramente integrado, nesse clã que as forças de um mundo infinitamente complexo e em mutação fazem mudar e alterar (e que aceito que assim seja, no fundo), forças que fazem mudar a relação entre as pessoas, mesmo entre as conhecidas e entre as que um dia foram fortemente íntimas connosco.
Assim, prossigo o meu pensamento tentando compreender porque estou só neste meu ser e ninguém pode compreender a totalidade do meu ser a não ser eu, ou, talvez, nem eu consiga entender a totalidade do meu ser (…), daquele que sou e que vou descobrindo a cada dia que passa; as alegrias e tristezas por que passei pertencem-me e a mais ninguém, e é no meu passado que encontro as respostas ao porque de todas elas. A cada dia que passa enterro-me mais no que sou: penso que sou uma pessoa boa e com grandes ideais e boas intenções, mas que não encontro a minha paz neste mundo, o meu bem-estar, a irmandade verdadeira, a comunhão com os seres que me são semelhantes, como se eu fosse um ser marginal ou um desencontrado crónico enquanto humano e apenas me reste a ebulição do ser, a metamorfose da alma, o hino de uma vida que vale tanto como tantas outras e que passará muito provavelmente despercebida, ou então, que só um destino, quiçá pós-morte, eleve a alma desta minha existência aos confins do infinito, do Universo, e talvez encontre a ‘Irmandade universal’ dos seres que já algum dia passaram por esta terra e já encontraram a sua paz e o equilíbrio eterno entre eles e a sua passada existência.
A noite deve ser estranha para a grande maioria das pessoas, pelo menos as que vivem de dia e não ousam ultrapassar a sua rotina e/ou ir à procura de novas descobertas e sensações. A noite entranha um conceito de libertação das pessoas que vivem na normalidade do dia-a-dia, de dia. O homem conquistou, com a electricidade, a noite e o mundo nunca mais dormiu. Mas nem por falta de luz os antigos deixavam de circular na noite, como homens que percorriam com instinto a noite a fim de alcançar outros lugares. O mundo diurno pode ser um verdadeiro pesadelo para certas pessoas, como contem um ritmo normal, estimulativo e inquestionável para muitas outras. Não tenho dúvida, pelo que sei que a noite altera as pessoas. Há que ultrapassar os limites, há que procurar novas sensações, e o homem é o ser da descoberta e da interpretação do que existe, a noite tinha que ser conquistada e interpretada, e não quero defender com isto o homem e a sua atitude. Mas para alguns surge como uma conquista inevitável, a fim de resguardarem as suas vidas. Resguardarem as suas vidas da palhaçada que ela (a vida) pode ser, que brinca connosco a seu bel-prazer, com indiferença. Pois é, alguns entram na noite para a palhaçada, outros entram nela para tentarem sair dela, pelo menos compreender a palhaçada que é esta vida. Dizem que defendem o ambiente, e o ambiente degrada-se mais a cada dia que passa, com mais ou menos entraves, com mais ou menos adiamento dessa destruição; dizem que ajudam os pobres, mas quem se ajudam são as elites entre elas, o poder pelo poder; dizem que regulam a direcção da nações e tentam levá-las a bom porto, mas os estragos são enormes, em nome das elites e do progresso - que não se compreende (o que progresso é) -, criam-se necessidades que poucos podem usufruir, abarcam-se e destroem-se culturas e seres, humanos ou não, exploram-se seres e a terra, e o acaso dá-se nas incomensuráveis variáveis que agem no mundo com enorme conjunto de seres que se auto-atropelam e caminham em busca de um bem-estar utópico. E com o que disse abarquei o caso da política também. E eu?! Qual a minha situação no meio disto tudo? Eu não sou mais que uma pessoa, um entre tantos, e eu não posso fazer mais que pouca coisa senão viver a minha vida, dizer o que acho, deitar achas para a fogueira da vida, participar nesse cozinhar utilizando esta caldeira efervescente, utilizar o meios que tenho, usar o conhecimento e a minha capacidade física (as minhas pernas, os meus braços, os meus olhos, etcetera) e caminhar, olhando, ouvindo, dizendo (mostrando) quem sou eu, vivendo neste tempo, até não mais poder. Talvez todos os tempos tenham sido de excessos e complexidade que só uma entidade superiora regula, e parece-me que sem uma vontade particular e própria. Mas eu quero viver feliz e de acordo com o que sinto, ou então eu estou a sentir tudo errado, mas seja como for eu sinto e tenho direito a sentir e a viver, porque também respeito o que os outros sentem e respeito o seu espaço. Fugir ao dia quando se sente encurralado, embrenhar-se na noite, nem sempre dá certo, ao não ser, talvez, que o destino assim o queira. Na noite quebram-se as regras do dia, e eu agradeço a existência da noite porque as regras e normas do dia seriam extremamente difíceis de suportar, para mim, sem poder reflectir na noite sobre elas, reencontrar-me com o ser que sou, um ser desrespeitado – regras e normas, essas, que seguem, muita gente, cegamente, e que para mim são difíceis de seguir, porque não me foi permitido, além de que eu amo o sentido supremo da vida e não cultura abjectas (abjectas porque não contêm esse sentido supremo) que se imiscuiem com esse ‘sentido supremo’, tentando reinar a cultura do caos e da opressão dolorosa e injusta -. Não gostaria de incitar à revolta pela revolta, não, apenas queria que as pessoas compreendessem no seu íntimo, sendo analfabetas ou letradas, vivendo em Portugal ou noutra parte do mundo, nas mais diversas culturas, compreendessem, repito, esse sentido supremo da vida como eu senti e sinto [acredito piamente que era possível isso, se cada um dos seres fosse bafejado por esse sentido à nascença como eu fui], sentido supremo esse que aborda a cordialidade e a existência de uma inteligência superior dos homens, uma sintonia com a vida e os restantes seres, um conhecimento que transcende e respeita os seres e o ambiente, um luta de braços dados pelo bem-estar e o equilíbrio e não uma luta de uns contra outros, alimentando a discórdia, a desconfiança que haverá enquanto houver seres a nascer sem amor e sem conhecimento, a perpetuar a incompreensão natural que o conhecimento devia colmatar nas pessoas, porque nada é com elas, quando tudo é com cada um. Na noite tenho visto tudo isto e isso que digo e sinto, através da minha vida. Talvez eu pertença a uma Irmandade da noite na busca pelo dia em que eu possa caminhar em paz, no dia, momento esse que nunca mais chega mas que está cada vez mais presente.
Estou feliz porque vivo, tenho vida. Mas fico infeliz porque sei que tenho que sofrer, é inevitável a qualquer ser fugir de algo tão certo mais tarde ou mais cedo na vida, e é mais doloroso ainda saber que se tem consciência dessa dor, desse sofrimento, como têm os homens, mais ainda os mais inteligentes - os que têm uma inteligência intrapessoal notável, os que ultrapassaram os limites do seu tempo e do seu espaço e do seu organismo e se transfiguraram -, e pode-se tornar extremamente doloroso, mais ainda quando nos apercebemos que estamos sozinhos com essa dor que mais ninguém pode resolver, e que Deus não vem para nos ajudar, porque ele simplesmente é uma equação que leva a lado nenhum, assim como no princípio assim é o fim. E tenho pena do que perdi, tão conscientemente perdi, esta eterna lamentação, não pranto, mas lamentação. Custa-me saber que é tudo tão em vão, por exemplo estar aqui e agora e não poder assumir o momento em que vivo, aquilo que escrevo, porque o mundo é cheio de perigo e de injustiça, de seres que são tão mal amados e que nem a inteligência e a sorte lhes bate à porta do coração, de suas vidas para endireitar o sentido deste mundo, fazendo mal uns, sabendo o que estão a fazer, outros não sabendo. Custa-me tanto, é uma dor infinita esta consciência de que não estarei aqui jamais um dia, que um dia nem esta humanidade restará, apenas rastos do que se passou, de que tudo só faz sentido agora, e que esse ‘agora’ está a ser completamente destruído, porque a sina do homem como de tudo o que existe neste momento é mais tarde ou mais cedo não existir, a minha sina é só existir neste momento, e tenho medo de assumir isso, como se o mundo fosse eterno, como se fizesse sentido a perpétua existência, a história de um Rei no mais alto palanque deste mundo ou mesmo do Universo sem fim. Era um mundo tão belo se os recursos não acabassem, se a evolução fosse eterna, se o sangue permanecesse na veias e artérias sem ser derramado – como é pestilento o cheiro a morte (!), e como fede a doença (!). Há uma vibração lá fora, e eu estou ‘out’, apenas observo e nem sei se isso é bem ou mal, mas sei que estou muito susceptível, por isso me escondo, de medos incompreendidos. Não sei porque escrevo, simplesmente podia não dizer nada e seguir mudificado, simplesmente seguir e nada dizer, apenas observar e mesmo assim eu ter o mundo na minha mão. Mas ter o mundo na mão é tão relativo (!). E as palavras que nos unem são as mesmas que nos desunem. Inventamos termos e culturas complexas, e nunca pensámos chegar aqui, a esta civilização interligada. Ao mesmo tempo a civilização pode cair, porque estes momentos passados poderão ter sido os melhores, e não querem deixar cair, mas quem domina quem? Inventamos e adoramos o que inventamos, os números o dinheiro, por exemplo. E Deus? O inventámos e adoramos, mas ele não é quem pensamos, ele faz parte, mas não é supérfluo como a palavra humana. Simplesmente estes são tempos estranhos e magníficos, talvez porque os limites estão mais testados que nunca e parece não haver limite. E eu? Não me assumo, aquele ser que até pode ser superior, no mínimo especial, mas que não pode ser assumido, porque isso de ser superior e/ou especial não tem explicação verbal, é-se e pronto, e no entanto não se passa de algo vil que existe nesta terra. E só se fala da alegria de viver, dos sonhos, do que de bom há na terra, do conhecimento, do progresso, quando se esquece tudo na verdade, se esquece do mais importante, a meus olhos, possivelmente aos olhos de muitos que no entanto são uma minoria, que se unem em torno de uma causa que é indefensável, em que a evidência de que não existem regras para sempre na vida e no tempo e o fim é inevitável. Além disso o sofrimento está convivendo com tudo isto, está lado a lado, porque o homem já não ama, o homem é apenas e simplesmente um devorador de recursos, consome tudo, desperdiça incomensuravelmente, a sua ira irá levá-lo à perdição. E continuarei a procurar a causa ou as causas de toda esta amálgama, de toda esta incompreensão visceral, de todo este desperdício, de todas estas lutas sem sentido em que ninguém se entende com ninguém. O melhor que podia acontecer neste mundo era o de os homens tomarem conhecimento do vazio que eles são, cada um por si, todos, verem tudo de tal modo que sentissem o fim e isso lhes causasse o abismo mais profundo das suas almas para que aprendessem a gostar da vida, da terra, dos outros. Digo isto porque hoje em dia, não sei se foi diferente um dia, mas concerteza deve ter sido, a humildade não cabe na cultura contemporânea, é humilhante a timidez e moderação de atitudes, ou então estou errado neste mundo, completamente errado, e isso também é muito provável, mas não tenho qualquer dúvida acerca do meu fim e o do mundo. A internet veio para mudar mais ainda este mundo, tirou-me da solidão e do vazio em que vivi, esperando um Deus que resgatasse a minha alma, a minha vida deu uma volta e ainda consigo respirar, mal mas respiro.
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