Espectro da morte (A vida de muitos homens) [2-10-06]
Tenho questões que se podem e devem colocar a cada um de nós que é assaltado pelo espectro da morte, que ate podem só fazer sentido para mim. Quantas vezes me assaltam ao pensamento, nas horas em que sinto o vazio da minha vida, as perspectivas da morte, analisando-a de todos os ângulos. Pergunto-me: Haverá algo que me prenda na vida daqui a uns anos, onde a solidão tende a lavrar o meu caminho? Nascemos nós nesta vida para o outro? Só devemos viver se for por causa de outro que nos ama? Não poderei e deverei encontrar a felicidade em mim antes de tudo e qualquer coisa? E mesmo que não a encontre em mim não deverei lutar até ao fim, buscando-a? Ou deverei desistir e acobardar-me perante aquilo que não consegui fazer, que não consegui alcançar? Será a morte uma melhor alternativa à humilhação certa que todos os condicionamentos nos podem trazer? (E nisso a religião cristã ensina-nos a sofrer como Cristo - um símbolo do sofrimento - sofreu, até ao fim, e diz-nos que a verdadeira felicidade não a encontramos neste mundo – Mas isso já é metafísica). Será que a felicidade se encontra no ideal do mundo hodierno, um ideal do “faz ver”, um ideal da riqueza, um ideal sexista, um ideal do culto da personalidade, um ideal do ‘bem sucedido’? Será que não poderemos viver se não cumprirmos tal ideal? Qualquer um de nós merece viver, sempre. Deverá haver sempre um lugar para nós neste mundo de liberdade, por mais simples, pobres e ingénuos que sejamos e ninguém nesta terra é Rei deste mundo para nos tirar esse lugar. Depois de tentar analisar ao máximo os ângulos da minha vida, vejo que ainda não chegou a minha hora, apesar das humilhações por que possa passar, das depressões que possa já ter tido, dos insucessos que tendem a derrotar-me. Eu ainda vivo, porque a minha vida tem uma razão de ser mesmo que eu não a vislumbre. E se um dia eu deixar de ver essa razão eu no entanto ainda viverei, nem que seja pelos pedaços de terra que trilhei, pela alegria genuína algumas vezes sentida no longínquo tempo que não volta. Essa foi a minha vida, essa será a minha vida, essa é a minha vida.