Perseguindo a luz.
Estou constantemente atrás daquilo que quero ser. E mesmo sem me aperceber, sou-o, desta maneira. Ando constantemente nas nuvens na finalidade de tocar os céus, de tocar aquele azul imenso que me inspira e me eleva a alma. E a tal altitude eu vejo o que me envolve, a imensidão do que me envolve. Mas quero atingir o sol. Quero chegar àquela estrela que está mais além e me fascina. Quero acelerar, mas ao mesmo tempo tenho medo. Prefiro ir sempre um passo atrás, pelo menos. Não gosto de me adiantar, mesmo que tivesse meios para tal. Não quero perder as sensações, mas também não quero ser possuído por elas, e, no entanto continuo a perseguir a luz. Quero sentir-me seguro, mas não quero cair na apatia e no vazio, por isso persigo a luz. Queria exprimir o que sinto de uma maneira que fosse perceptível. Mas o que sinto não é facilmente perceptível. O que sinto não é facilmente dizível. O que sinto é uma caixa de Pandora. O que sinto é puro ouro jamais encontrado. E continuo na senda da luz, na esperança de algo faça sentido. ‘Sentido’, um conceito criado pelo homem, para simplesmente dizer que a direcção, do que quer que seja, que exista fisicamente ou idealmente, é o fim – ‘do pó viemos e ao pó havemos de voltar’ -. E tenho uma paciência de Jó na busca dessa luz que me ultrapassa. Vejo o que mais ninguém vê, desta maneira, destas perspectivas que é pouco provável que vejais. Meu coração estremece cada vez mais, a dor agudiza-se e nada nem ninguém deste mundo consegue mudar aquilo que em mim se criou e a maneira como me criei. No entanto, eu amo e continuo perseguindo a luz que me ilumina, mesmo sabendo que poderei nunca alcançá-la. Neste mundo, hoje como sempre, salve-se quem puder. Peçam à sorte para que a vossa vida seja bem – aventurada. Eu só posso pedir por mim, porque posso muito pouco, porque sou um simples humano e não um deus. Já me esgotei a pedir por quem não conhecia, pensando que isso era bom, e, parece-me, isso foi indiferente, visto destas perspectivas com que agora vejo, mas talvez não possa dizer que foi uma perca de tempo, afinal foi a minha vida passada que não posso negar e esquecer. As vozes e o tipo de pensamento que fluem das escrituras perseguem-me, a sensação de Deus está sempre comigo mesmo que a tente negar. O que sinto está bem escondido e não se quer mostrar. Sou tão influenciado pelo que leio que talvez fosse melhor não ler. Talvez devesse apenas pensar e nem manifestar-me. Mas não, um homem não se pode deixar apagar, e ‘o caminho é para a frente’, nada volta ao que já um dia foi. Sei que a nossa energia não é infinita assim como a energia do que provoca a luz, tudo tem o seu tempo de duração. E assim me deixo abater com facilidade. Sinto o fim, como se estivesse próximo. Não sei se é a estas sensações que eu deveria dizer ‘viver cada dia como se fosse o último’. E escrevo, simplesmente para falar, porque falar faz parte do homem, e, para quem sabe escrever, deve-se escrever para não se esquecer do que isso é, e esquecer-se de quem se é o que se anda aqui, neste mundo, a fazer. Escrevo para deixar um trilho por onde possa voltar se me sentir perdido, para saber quem sou, um dia, quando o Alzheimer quiser tomar conta de mim, se bem que sinto, sinto intensamente, que não irei chegar ao limite que desejaria encontrar. Simplesmente sinto-me a definhar. Sinto que o tempo me ultrapassa e o espaço deixa de ser suficiente para mim. Imagino constantemente o limiar da vida, o momento último da existência, a linha que divide a existência do espírito neste corpo com uma outra existência que será diferente da que a agora usufruo, pedaços de mim que irão fazer parte daqui e dali no Universo enquanto ele existir, nalgum tempo, nalgum lugar, onde quer que seja. Será que devemos viver com ‘o fim’ sempre em vista para que possamos viver cada dia como se fosse o último? Eu vivo, mas isso é desgastante, retira muita energia que deveria ser investida de outra maneira, mas não pode ser de outro modo, sei-o. E sei que não é o fim que é o pior, que nos gera frustração, pior do que o fim e o que nos gera frustração e atrito em nós, em mim (em particular) é a sensação de que passámos o tempo a perder sempre um jogo, oportunidades, ou o que quer que seja, que devíamos ter conquistado para a nossa realização e termos consciência que não conseguimos. Realmente estou dessintonizado e dessincronizado com o mundo, muito provavelmente desde que nasci, ou talvez desde que fui concebido. Vejo e oiço, nas minhas reflexões, aqueles que me dirigem a palavra e que perturbam a minha caminhada na perseguição da luz, aqueles que me dizem coisa do tipo que eu ‘não era esperado’, como se eu não pudesse ser amado. Abomino todos estes seres que assim o dizem, eles estão a mais neste mundo e não eu. E mesmo que eu os abomine, isso não os matará, se bem que mereciam o sofrimento de setenta vezes o sofrimento que eu sinto. Para mim o tempo é escasso, e isso deveria servir-me de consolo como já um dia senti. Talvez eu não seja mais o mesmo, tenho uma nova vida, e alem disso sei quem fui, simplesmente sei quem fui, o que me torna num perito em se ser quem se é. Os sentimentos são altivos, o bem acima de tudo. E personificamos aquilo que sentimos. Mas também somos dissimuladores. Dissimulamos o que sentimos. Sejamos quem formos, seja eu quem for, estejamos onde quer que estejamos, esteja eu onde quer que esteja, o objectivo está sempre à frente, no agora e no depois, e nunca atrás, naquilo que não se pode recuperar. A luz nos iluminará até ao fim, assim seja, a luz me iluminará até ao fim, assim é. ' It is not my time '.