Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Uma meta a atingir. Um desejo inconsciente de ir até um ponto indeterminado. A superação de cada um de nós, do nosso entendimento, da nossa inteligência, das nossas energias. Querer experimentar tudo… para perceber…o significado das coisas, o significado do correto, para ser-se melhor, para fazer melhor, para ter a mais ampla visão das coisas. Cruzar conhecimento. A memória por detrás de tudo, essa fascinação do saber, a possibilidade alcançada na partida das nossas vidas. A sorte e o azar. O equilíbrio. Como é possível sê-lo? Não é possível, no sentido de continuidade, mas, por momentos mais ou menos longos ou mais ou menos curtos, existe. O desejo mais profundo, que nasce na alma de alguém, que não é possível demonstrar. A existência do bem, mas afinal o que é isso? Esse ‘bem’ fala muito e expressa-se corretamente? É ai que o reconhecemos? Esse ‘bem’ é solidário e empático? É ele saudável e energético? E então, o tempo passa, cruza-se o conhecimento, encontram-se relações onde o homem que não questiona, não ousa buscar, não encontra nada, e tudo é ao sabor das variáveis que empurram esses, eles não fazem atrito no mundo. Esse atrito tem um preço (talvez, por isso, não é qualquer um que arrisca com receio das consequências), assim como tudo o que fazemos para nos levar à perfeição tem um preço, ou melhor, tem uma cobrança, uma cobrança que me extravasa e me leva a pensar que é tudo errado, todas as ideias que pensava ter por boas parecem cair por terra quando a realidade fala mais alto, quando o frente a frente eleva os seres e o espírito, quando as coisas não são para compreender de imediato mas sim para agir de imediato. O futuro não existe, mas o passado sim, o passado e o agir, a obrigatoriedade do movimento que nos leva rumo ao desconhecido mas, com conhecimento suficiente, esse desconhecido futuro torna-se expectável, e ao mesmo tempo espectável também, nem que seja pela sua magnitude. Receio o sofrimento, assim como receio o futuro deste pequeno lar, a terra, como somente meu fosse. Possivelmente temo o que não devia temer, devia ser como a maioria, indiferente, nas mãos do desconhecido, e na mão de outros. Indiferente não sou, mas vejo-me atado, sem fazer o que quer que seja, sem perceber o que é correto ou incorreto, a recear o inevitável caminho que teve um principio e terá um fim, que terá que se aceitar quer se queira quer não, mas primeiro, muito antes da perfeição, do meu fim fujo, sem nunca fugir.
O ritmo do Universo, esse ritmo superior incomensurável com uma potência inimaginável que move tudo no seu seio, e que ao mesmo tempo é tão benévolo e sensível que permite a existência de seres delicados nesta terra, que permitiu, antes de tudo, a existência da própria terra como a conhecemos, tão perfeita e em harmonia, em equilíbrio, com tanta coisa que poderá não haver em mais nenhum lado do Universo, pelo menos naqueles sítios que estão ao nosso alcance visual e de entendimento; alcance visual que, afinal, deve ser tão curto, mas quanto ao entendimento, esse, tem sido crescente, além de que fazemos da tecnologia os nossos olhos, sendo a imaginação a ponte entre os olhos (o que conseguimos observar) e o entendimento (o conhecimento), e assim deduzimos o geral através das particularidades, mesmo as mais ínfimas existentes, e que a nossa mente colectiva humana se vai dando conta e, assim, se vai abrindo e evoluindo para compreender. Podem dizer que ando a ver muita BBC e National Geographic, é verdade; e digo mais, além de muita leitura, muita introspecção e reflexão entre muitas outras grandiosas coisas, assim como também há o meu gosto por viver e ter a forte ambição de que o verdadeiro saber venha ter comigo (e já agora que venha a riqueza do equilíbrio e eu possa lutar para satisfazer as minhas necessidades): tudo isso tem preenchido o meu interior. É fantástico o conhecimento, assim, com ele, conseguimos neste último século ultrapassar as limitações que o próprio tempo nos impunha dada a sua extensão. É fantástico como tudo se conjugou, desde há milhares de milhões de anos para a existência de algo tão perfeito como é a terra e a existência do ser humano que tem a capacidade do autoconhecimento num estado avançado, como nunca tinha existido [Agora é melhor não falar daquele ser humano, que na maioria, pode ser uma grande porcaria de ser; pronto, tinha que ser, não queria dizer mas já disse…sabem, é que as pessoas me parecem melhores vistas pela televisão ou imaginando aqueles que amam a paz e o conhecimento, mas quando saímos à rua, e acontecem roubos, mortes, atrocidades de todo o tipo, eu me pergunto, mas de que humanidade e evolução falamos nós?]. É maravilhoso como tudo se conjuga rumo ao futuro, que para nós agora é presente, e como se continua a conjugar para novos rumos, incertos. Ninguém pensava que isto iria estar como está no presente [Até começou a haver, se ainda não há, por parte de muitos, um optimismo desenfreado na capacidade humana, mas a verdade é que o mundo anda a várias velocidades]. É magnífico tudo aquilo que aconteceu e trouxe a este mundo a minha existência física além de que me trouxe até este momento de êxtase que tem sido a minha vida. A cada dia que passa fico silenciado pela noite, ansioso para que mais um dia venha ao meu encontro e que eu o possa vivenciar com a razoabilidade da inteligência, da saúde e que a sorte me dirija rumo ao sítios certos nos momentos apropriados. O tempo é de tal modo que: 1) podemos passar a vida, simplesmente agir, e dizer no fim que ‘foi rápido’, além de não reparar nos detalhes nem nunca se importar com a simples pergunta, porque estou eu aqui e porque me está a acontecer tudo isto?; ou como me tem acontecido a mim, 2) Constantemente temos na mente o passado, os sentimentos sentidos, as emoções não manifestadas, perguntando-nos constantemente a pergunta feita na alínea 1, perguntando ainda mais, ‘o que será de mim?’, ‘Que mais vou eu conhecer neste mundo e até quando me vai ser permitido isso?’, ‘Que significa tudo isto que sinto?’, ‘Porque sou eu um ser insatisfeito desde que me conheço?’, constantemente me maravilho e me surpreendo por tudo quanto acontece e existe até ao momento que percebo e constato que há uma ordem entre aquilo tudo que vejo e sinto. E tudo o que consigo fazer, ao tentar transmitir tudo aquilo que vivencio no interior do meu ser, são simples retratos da imensidão do que sinto. Vejo conjugações de situações na minha vida, constantemente, que me levam a seguir em determinado rumo físico ou com o meu pensamento num determinado caminho mental; dei comigo, há pouco mais de uma ano, a dar valor, ou a dar um valor diferente, a sinais que a vida me transmite e que sempre me transmitiu, não sei porquê, ainda, e é muito mais forte do que eu; eu sou levado por uma corrente que não queria seguir, talvez rumo à morte, que por qualquer motivo para mim significaria a vida eterna; mas eu tenho muito medo disso, ainda tenho que fazer justiça nesta vida, tenho ainda que ‘levar a água ao meu moinho’, quero sentir a minha liberdade, mas o medo da perdição também me acompanha; tenho a visão, nasci visionário, mas numa prisão, e, no entanto, cada vez que olho para trás, que reflicto sobre a minha vida, segundo aquilo que sei e como me compreendo neste momento, parece-me que segui o caminho certo. Ainda, algo me falta para me sentir realizado humanamente, talvez o meu sentido emocional perdido por esta pobreza mental que me cerca; onde está o meu sentido de empatia humana que se desvaneceu gradualmente? Como atingir o meu bem-estar, a auto-satisfação, o autocontrolo?
Sou um ser único, com um ritmo próprio, e com um ‘sentir do tempo’ subjectivo. A minha autoconsciência tende a aumentar e cada vez mais estou desfasado do mundo social de contacto directo. O que me envolve fala comigo, mas tenho medo de que fale comigo de mais e eu não consiga compreender. Cresci a acreditar em coisas que fazem sentido numa outra maneira de estar na vida que não a vida que me envolve e não me permite estar ou permitirá estar, segundo o que eu próprio aprendi e que me levou a acreditar noutras coisas que entram em conflito com o que eu acreditava. E eu blasfemo, por vezes, porque aquilo em que eu acredito não me deixa satisfeito como deixava, não me traz a paz espiritual, uma vivência livre de pobreza mental e social. Poverty sucks , como diria um inglês.
Neste momento, decidi tomar a bebedeira da suposta lucidez, em lugar de tomar o comprimido que me reprime ainda mais; não tomei, e agora estou mais desperto e a ludibriar aquilo que me tem em suspenso, me tem cativo, me tem aprisionado os sentimentos. Temo que amanhã não possa dizer o mesmo. Consigo compreender que para mim como para muitos a lucidez e a normalidade pode ser uma anormalidade e (por isso mesmo) vivermos em constante aperto. O excesso de normalidade pode ser mau como os excessos de álcool ou outro tipo de excesso dito ‘nocivo para a saúde’. Agora estou bem, porque mudei a constância do discurso e da minha vida, é mínimo, mas mudei. A mudança custa-me, a adaptação a novas situações e a determinados momentos é difícil para mim. Assim como o excesso de álcool produz maus efeitos, o excesso de sobriedade me parecem ser igualmente nefastos. Tudo advém da energia, com muita energia podemos ir longe, com energia positiva ainda mais, grandes sentimentos, grande passado e um futuro promissor pode ser conquistado; a repressão por parte de quem não tem valor para que essa mesma pessoa ou pessoas tenham valor é ignóbil, compreendo claramente isso. O equilíbrio existe porque grandes desequilíbrios existem para que o equilíbrio fundamental exista. O sentimento de verdadeira liberdade é o da diversidade de acções, e da mudança de condições quer mentais quer físicas quer fisiológicas. Uma pessoa parada, com os mesmos estímulos, constantes, não consegue evoluir e vai retroceder em relação rumo à melancolia; uma pessoa no escuro e sem possibilidade de sair e ter o brilho do sol como o brilho da maravilha de compreender, e, ter o exterior que lhe pertence, perde a maravilha da vida, assim eu já perdi muita; e devo dizer que estar em casa fechado sem a possibilidade de sair à rua e ver o dia e ir mesmo passear de vez em quando me stressa e me faz sentir como um incapacitado. Precisamos de mudança: do sol e da tempestade; não a constância que por vezes pode também ser bela, mas dentro dos seus limites: tal como não queremos grandes e prolongadas tempestades que destruirão tudo também o sol e a constância dele não trará a eterna felicidade e o contínuo prazer. Porque a energia não é eterna, porque somos uns insatisfeitos, e por isso mesmo, porque somos uns insatisfeitos, porque o prazer a maior parte das vezes é um momento fugaz o único caminho é evoluir e saber mais e fazer mais até não mais poder. Sei que hoje vou dormir um sono diferente, que nem um pedrado, que deixa a sua sobriedade, só que eu ao contrário disso. Sei que gostaria de deitar fogo sobre a chuva de tristeza, e secar todas as lágrimas não vazadas mas pensadas e sentidas. Gostaria de me libertar por muito tempo sem no entanto não perder, mas ganhar. Não, a ordem do mundo não está boa (!), está a rebentar pelas costuras o ‘equilíbrio’, e muitos andam para ai a gozar com tudo num faz ver que está tudo no bom caminho, o mundo está a melhorar, dizem e fazem ver. Porque me hei-de preocupar? Pelo menos por hoje não me vou preocupar, porque estou com uma ‘pedrada’, mas ao contrário, não sei se estão a ver o que isso é, pois com a verdadeira pedrada [como um drogado] me sinto eu todos os dias, a pedrada de ter que fingir normalidade, que também sou uma pessoa como as usuais; devia ter a liberdade de agir segundo o que sou mas para mim o mundo não é perfeito. Amanhã vou estar numa merda, ou talvez não, até um dia a seguir ainda vou estar bem; ah! Mas hoje vou curtir esta cena de estar ao contrário do que é habitual, vou curtir novamente a música, como se ainda estivesse a crescer. Perguntei-me agora: ‘porque olho sempre para trás sempre que faço algo? Porque estou olhando se errei?’ ; E olhando estou errando mais, vou errando e olhando para o contínuo de erros que faço estando cada vez mais errado; Ah! Mas hoje sei que não vou errar, estou numa boa, vou sonhar com anjinhas, que sou aquele que imaginei que seria e quem nunca fui; ainda não sei qual vou ser, mas um diferente certamente. Hoje vou estar no topo, no topo da glória, mesmo que não chegue lá, mesmo que nem vislumbre o que isso é, mas eu vou estar, eu vou sentir-me super bem. Hoje o mundo será justo, porque hei-de sobreviver para contar o que de belo se passou e esquecer o que de mau aconteceu. A força da liberdade de ser quem sou, de usar o que sei para sobreviver há-de ser usada a meu favor e há-de ter utilidade. Hoje hei-de vingar os meus ideais, hei-de ainda provar que sou bom naquilo a que me proponho, nem que seja de uma maneira generalista. Hoje hei-de delirar, ter um novo delírio que me empurrará para uma nova visão e possibilidade de ser e fazer as coisas. Hoje hei-de brincar e abusar da loucura que me assiste para amanhã saber estar sério e controlado. Amanhã serei contundente, hoje não, hoje vou esquecer o que isso é. Amanhã entrarei na compreensão comum das coisas, entrarei na vida comum, casarei, terei sexo, trabalharei, a vida será de satisfação, mas, hoje não, hoje será de insatisfação, procura do necessário, entrarei na luta de ideais e assim continuarei por ai adiante. Amanhã tudo fará sentido, mas hoje estou de descanso, estou com a carola cheia de pensamentos de que realmente vence quem não entra por aí, pelo caminho da sabedoria e do conhecimento, e eu estou nessa meu! Eu já não sei o que isso é, isso de continuidade do pensamento, de acções, de que sou inteligente e por ai a fora. E pronto, as dificuldades?! Já eram! ADEUS!... Até à vista, ok.
A minha vida é estranha. Se alguém seguisse o que escrevo decerto já não acharia novidade no que eu digo e a maneira como o digo. Faça o que fizer não me consigo libertar de quem sou e de forças estranhas que me cercam. Hoje acordei a pensar que me poderei tornar num mártir; ou quiçá, nas pior das hipóteses, serei deletado ingloriamente desta vida. E tenho medo do que penso e digo além do que faço, faz já muito tempo, pois, isso influência a minha vida, sei-o, mas não consigo sair deste rumo, afinal, eu sou assim desde já lá bem no princípio. Só tenho um certo controlo sobre ela, a minha vida, quando estou só e sossegado, calado, pelo menos um controlo aparente. Em sociedade, tudo o que faço dá errado, porque ando atado, preso, por algo que ainda me transcende, por causa de alguém que eu abomino e que não significa nada, para ele, essa abominação, porque afinal a justiça não é o que se diz ser, talvez seja, até, uma utopia, algo que nunca pode existir. É tudo estranho, muito estranho, para mim, como se algo quisesse brincar com a minha vida. Como se duas forças estranhas lutassem em mim e/ou por mim, como sejam o bem e o mal, ou seja, aquela(s) força(s) que quer me destruir e injustiçar contra aquela que me quer manter vivo e que me quer fazer justiça. Mas ainda não é claro para mim como essas forças se distinguem – E digo <<ainda>> porque anseio por as separar e entender claramente, no futuro-. Tenho noção de que são as pessoas, se não só mas também, que nos fazem sentir mal, e bem. Tenho grandes evidências, segundo o que se passa na minha vida, de que estamos ligados aos outros, como se fizéssemos parte de uma psique colectiva, e assim influenciamos e somos influenciados, através dessa(s) ligação(ões) misteriosa(s). Cada vez sou mais limitado, em todos os aspectos, estou envelhecendo, é óbvio. No entanto, pelo menos por enquanto ainda tenho reminiscências da magia do que fui e senti na minha juventude, quando cresci rapidamente. Foi belo e mágico ter sentido certos sentimentos que tive, positivos, no entanto, também me apercebo da génese de certos sentimentos negativos que em algum tempo se transformaram em algo grande e assolaram tenebrosamente a minha vida – oxalá que não voltem, mas eles podem voltar… eu sei-o, e é muito provável que voltem. Procuro constantemente o significado de todos esses sentimentos mágicos, quer positivos quer negativos, a ilusão da vida, os momentos marcantes que agora fazem sentido, um grande sentido. Tento libertar-me, dia após dia - do orgulho, do domínio, do escárnio, da infâmia, da falsidade (das acções), da dissimulação dos sentimentos, da animalidade levada ao um ponto mais complexo, a humanidade, sem no entanto deixar de ser o que sempre se foi – daquilo que me querem fazer, segundo as velhas regras da humanidade, ou melhor, as verdadeiras leis da vida, e a verdade é que não consegui, embora tenha esperança de que é possível. As minhas emoções tendem a esfumar-se, a engrenagem delas está seriamente danificada. E custa-me a pensar que estarei todos os dias que me restam a lamentar-me de tudo aquilo que me leva a prosseguir um caminho que não é o da liberdade, um caminho onde não me sinto livre. Meus pais, minha família, todos, todas as pessoas, são dissimulados. Afinal, na minha vida, só recebi alegria quando eu a tinha para dar. E eu pergunto-me, porque nasci ingénuo, simples, iludido, sem o dom de lutar (?).
Deveria respirar melhor do que pensar, mas não, em mim é precisamente o contrário que acontece. Quando mergulho nos pensamentos, eles se apoderam de mim, e é com prazer que eu sinto isso quando nada ao meu redor me perturba. Absorvo-me de tal modo, muitas vezes em conversa, que tenho que fazer um esforço, grande, para acompanhar e compreender os pensamentos de quem me está a falar sobre qualquer coisa, quando me estão, precisamente, a dirigir a palavra e perco-me constantemente das ideias transmitidas, ouvindo palavras soltas que apanho apenas quando o meu pensamento me deixa, e muitas vezes (vezes de mais) meu ser entra em pânico quando não consegue compreender o que está a ser transmitido. É como que o meu tipo de pensar não acompanhasse o pensar de uma pessoa comum, de uma ideia que está a ser transmitida e é comum, e, pior ainda, quando são vários interlocutores, como se fosse para mim impossível ter os dois tipos de pensamento (consciente e inconsciente) ao mesmo tempo, como se o meu pensar íntimo e inconsciente tivesse sido tornado consciente e ocupasse o lugar do pensamento conscienteque rege os cinco sentidos e de sentimentos imediatos, e que também rege uma mente direccionada. É um pensamento evasivo, o meu, já o disse mais vezes, e até compreendo em mim o porquê de eu me ter tornado assim - meu pai tem grande cota parte nesse problema, por falar de mais, erradamente e controladoramente tendo eu evadido o meu pensamento também ao estar com pessoas que falam de mais como ele; e também, consequentemente, por não me deixar pensar por mim próprio, não me ajudou de nenhum modo a tornar-me livre no pensamento e livre e equilibrado emocionalmente, pelo contrário reprimiu-me ainda mais, além da minha pré-disposição para ser introvertido, tendo-me tornado eu um estranho neste mundo: na maneira de senti-lo e na minha (In) capacidade de exprimir-me normalmente -, decerto sou uma pessoa incomum, que tenta fazer dos handicaps (as minhas desvantagens, os meus obstáculos e incapacidades), a força de viver, melhor, sobreviver com o mínimo de qualidade e transformá-los em vantagens. Assim me tornei ‘eu’, assim sou eu, agora, a compreender, sobretudo ‘quando estou na minha’, os conceitos mais profundos da vida e de tudo quanto existe e a perder-me no que deveria ser mais óbvio e que é mais comum: as relações humanas. Quando estamos numa conversa não podemos ser evasivos do momento e do que se está a falar, se queremos sentir-nos em sintonia com os locutores da conversa e de acordo com o contexto. Mas em mim, o pensamento inconsciente torna-se consciente e ocupa o lugar da minha atenção, e o pânico acontece perante tal incompreensão verbal e/ou do contexto social do que se está a passar. É assim que eu tenho vivido, com todas as dificuldades de quem tenta saber mais e mais - tentando ultrapassar todos os limites até não mais poder, saber o porquê de tudo isto me acontecer -, não tendo eu, pelo menos aparentemente, arcaboiço para aguentar com tudo o que quero levar para a frente, o que quero empreender na minha vida, mas surpreendendo-me a mim e em surpresa com tudo o que a minha vida me revela, dia após dia.
Vivo constantemente nesta insolência sentimental. Sei e compreendo cada vez mais o que sinto, pois, afinal, sou um espectador de mim próprio, um ser incomensuravelmente consciente, que tem evoluído no conhecimento intra e extra-sensorial, mas mais no conhecimento intra-sensorial. Numa tentativa de não perder o auto-controlo, sobretudo do pensamento, tornei-me num auto-controlador extremo de todos os meus pensamentos, como se o meu ego, que é o polícia do meu alter-ego (do meu inconsciente), se tornasse cheio de poder e retirasse forças à manifestação natural daquilo que é a minha natureza, tal como é a natureza humana (no sentido colectivo), de um modo geral. Esse policiamento tem um significado que é o de que pretendo seguir as leis com o máximo de rigor possível, muito possivelmente, e está de acordo com o sentimento que me acompanhou no meu desenvolvimento, que era o de seguir o objectivo de atingir a perfeição, agir correctamente em todos os aspectos da minha vida, de seguir o que é correcto e agir de acordo com o que eu sei que é a perfeição. No mínimo, de seguir com os princípios da perfeição. Sei que este sentimento que me guiou, vem de um pai exigente que, na verdade – agora sei-o e sei mais ainda - não é perfeito, longe disso. Chamaria – o - sem me ferir, por isso, a mim ou a ele ou qualquer susceptibilidade que exista nalguma parte mencionada ou exterior às mencionadas -, de um pequeno ditadorzinho familiar, um ditador medíocre. Sei agora que as minhas expectativas foram goradas, porque a raiz daquilo que me levava a tentar ser o que eu não era, era ela mesma (essa raiz) imperfeita, além de que tenho a convicção de que nenhum homem pode ser perfeito, porque nenhum homem é senhor de si e do seu destino. Senão fosse assim, até poderíamos, um dia, atingir a perfeição [a perfeição geral máxima], que para mim é a manutenção do equilíbrio. A beleza do equilíbrio aliada à energia do poder fazer, está de acordo com o inventar coisas equilibradas e descobrir a maravilha do porquê do equilíbrio das coisas, e a perfeição mora aí. E com tudo isto, ou contudo, eu sou o que sou hoje.
Surgem-me, neste contexto, grandes perguntas acerca do porquê de o homem não poder ser perfeito e ter uma auto-consciência de si mesmo, o que é magnífico. Não descuro a parte de que para algo ser o que é houve muitas tentativas e erros da natureza para algo surgir equilibradamente, extrapolando, quero dizer: para um homem surgir com as características que tem, já muitos homens o antecederam e evoluíram. Há muito mais coisas e acontecimentos repetidos do que imaginamos, há muitos mais sacrifícios de seres do que imaginamos para toda esta evolução. Parece-me que a evolução, quando há equilíbrio, é algo que deve ser incontestável e é imparável, até ao fim dos tempos. Sei que defendo, com isto, Darwin, mas com tudo o que tenho lido e experimentado na peneira dos meus sentimentos, é verosímil que assim seja.
Há no Universo um conceito intrínseco em tudo o que se queira observar: a dualidade. Acredito nesse conceito, assim como acredito na existência do oposto para que haja equilíbrio. E fascina-me a capacidade que os homens têm, nós temos, pelo menos alguns, de, apesar de estarmos no pólo oposto, no pólo negativo, saber-mos que há um pólo positivo, de conseguirmos observar o outro lado de onde estamos. Isso é fonte de maravilhas e ascendência nesta vida ou, pelo contrário, pode ser e significar um caminho mais rápido para o desterro, para a angústia: assim é a auto-consciência. Diria mesmo que, se um homem quiser, se tiver essa forte vontade, ele consegue observar as coisas de múltiplos e incomensuráveis ângulos. Podemos imaginarmo-nos a nós próprios do exterior, fazer uma ideia do que somos exteriormente, mesmo sem nos olharmos com outros olhos, e, no entanto, também nos podemos olhar com outros olhos, mesmo com olhos de quem nunca nos olhou. Penso mais, que, muito provavelmente, poderemos falar em pluralidade.
Observo o meu interior constantemente. Analiso os meus sentimentos, trago as recordações da minha vida ao de cima, envolvo-me nos meus sentimentos originais na tentativa de compreender. Questiono-me acerca daquilo que sinto e que imagino, encontro respostas viáveis que se tendem a tornar fiáveis, pelo menos para mim, na minha interpretação do mundo. Sou um espectador atento daquilo que sou eu, redescobrindo-me a cada dia que passa, mais e mais. Estou enormemente grato por ter a possibilidade de viver e ter chegado até aqui. Grato por tido a possibilidade de evoluir, de sentir prazeres na vida, de ultrapassar objectivos que pareciam inultrapassáveis, grato pelo sofrimento sentido (também) como forma de evolução e maior compreensão das coisas. Estou grato e não sei ao quê ou a quem agradecer… Sinto uma imensidão em mim, sim, um vazio social imenso mas também uma grandeza Universal que me acompanha no meu interior. Mas temo que estes sentimentos de plenitude e grandiosidade me façam ter azar, e que ele um dia se queira vir a apoderar de mim, novamente, algo que ninguém está livre neste jogo de sorte e de azar que é a vida. E tenho tanta sorte… poder estar ainda aqui… saber muito mais do que o que sabia antes… sentir que tenho um lugar no mundo… Pois, tenho oportunidade de estar integrado ou a integrar-me novamente. Pergunto-me constantemente até quando esta sorte vai durar (?), [até acho estranho depois da escuridão que se abateu sobre mim], este entendimento calmo da vida, que desejava sentir para sempre. Decerto a vida fala comigo uma linguagem que eu vou entendendo cada vez mais. Até poderíamos chamar Deus, porque alguém o colou a mim, esse conceito de uma entidade superiora, da qual não me consigo livrar, repito-o até à exaustão. Neste momento e cada vez mais sinto que sou um ser único [quer seja isso bom ou não] e que essa vida, esse Deus, fala comigo uma linguagem particular; sinto que não me cabe a mim gerir os destinos do mundo, porque sou pequeno de mais para isso, ínfimo, prescindível. Se ao menos eu puder salvar a minha vida… Não, não sou egoísta [repito-o], sou empático, solidário, e se eu tivesse força e energia suficiente eu levantaria o mundo com os meus braços. Se eu fosse o dono da perfeição o Deus de todos os homens, eu os tornaria perfeitos e a agir da forma correcta. Mas não, sou apenas espectador, quase na totalidade, da minha acção neste mundo. A maioria das coisas para as quais eu estava pré-destinado neste mundo a fazer e a mudar, talvez eu já tenha feito, isto é, se tinha alguma coisa a mudar neste mundo ou no meu mundo interior talvez já o tenha feito. Sei que não adianta questionar-me acerca do porquê das coisas ser como são e não de outro modo, elas simplesmente são como são, simplesmente acontecem, e acontecem uma vez apenas, tal como se nasce e morre uma vez apenas. O caminho é em frente, não há o regresso. Doa o que doer [em mim], a [minha] vida é assim. Sou e tentarei ser um espectador atento de mim, e futuramente dos outros (desejo isso).
Engoli o meu orgulho e a minha vaidade. Engoli mais do que podia suportar normalmente. Engoli, mas ainda não rebentei. Engoli e, decerto, inchei. Vi e engoli. Ainda hoje vejo, de muitas formas e de vários ângulos, e continuo a engolir. Até quando vou engolir sem vomitar? Engoli e reprimi. Engoli em seco. Com os lábios, a boca, as golas e quiçá mesmo o tubo digestivo estivesse ressequido por não puder suportar, com descontracção, aquilo que muitos suportam normalmente, aquilo que a maioria das pessoas normais suporta. Cheguei à conclusão que engoli em seco demais, e por qualquer motivo diferente daquele que me faz mover e me faz ter sorte e saber apreciar a sorte que tenho, porque afinal a sorte não é só sair o euromilhões, a sorte é estar melhor do que a pior vez que estivemos alguma vez e saber reconhecer os pequenos passos que damos em relação à melhoria. Tanto engulo que não consigo acomodar como deve de ser o que engulo. E, não podendo acomodar, tenho que extravasar, assim, sem eles darem conta, estou a defecar para aqueles que me fazem calar -porque ainda consigo digerir, embora pior do que há uns tempos atrás, aquilo que forçosamente me fazem engolir, muitas vezes sem mastigar ou mastigar convenientemente -. Que é feito do meu sonho? Que é feito do meu desejo de ser feliz? Como poderei ser feliz, se nem só nem acompanhado. ‘Vou ser assertivo’, ‘vou ser moderado’, ‘vou respeitar as distâncias, respeitar o que eu sinto e o que as pessoas sentem’: assim penso, e proponho, para mim, inúmeras vezes; ‘vais ver, vais melhorar e ser capaz do que te propões’; Imagino-me nas situações a ser, precisamente, assertivo, agradável, moderado, no fundo a buscar o ideal da perfeição, do equilíbrio, não querendo com isso dizer que não me zangue, mas sim, imagino-me também a zangar, e se for o caso, mas com razão de tal, a zangar-me no momento certo e no tom de voz ideal, a serenar quando é caso de tal, no fundo, a reagir às situações do modo correcto, de acordo com o que as situações pedem que se reaja. Mas não, tudo dá errado: imagino-me perfeito e no entanto erro clamorosamente, porque, sei que muito mais do que eu imagino, me foge do controlo. Por tal acontecer eu crio um Deus, alguém que vê muito além, mais do que eu posso imaginar, e que me pode conduzir nesta vida com o mais perfeito equilíbrio e com a menor dor possível, um Deus que me foi dito mas não demonstrado e Do qual não me consigo livrar, de tal modo, que até ao escrever O respeito, pondo Seu Nome em letra maiúscula. Respeitando, isto é, borrando-me de medo por uma coisa que nem sei se existe - e não interessa o que sou o que fui ou o que serei; o que acredito, o que acreditei ou o que vou acreditar -. O caminho do equilíbrio é um caminho longo, a long way home. As pessoas aprendem o sentimento ‘medo’, aprendem a ter medo. Diria mais, outras certas pessoas nascem com dons de infundirem o medo, porque conhecem a fraqueza dos outros, porque dominam coisas (saberes, conhecimento, forças físicas) que esses ‘outros’ não dominam – e, talvez surja daí, a hierarquia dos seres, humanos neste caso em particular -. Cresci a respeitar, a adorar, a amar, e outras coisas (conceitos) mais e parecidas, sem saber o que isso significava, ou melhor, pensando que isso teria um significado verdadeiro, isso era o dom verdadeiro da vida. Nasci sem rebelião e cresci fechado, engolindo em seco, na esperança que um Deus (esse) fosse o meu amigo transcendentemente verdadeiro, mesmo sem o ver, que premiava aqueles que se esforçavam por seguirem o caminho da perfeição, o equilíbrio das suas vidas, que regavam a sua existência com sofrimento, na esperança de mais tarde serem premiados. Desafiei, no entanto, a existência desse Deus que eu respeito, chamando-o deus, simplesmente, atentando contra o respeito e medo que me queriam fazer ter Dele. Eu não estava nem estou satisfeito (eternamente serei um insatisfeito em muitos e muitos aspectos), com o desconhecido que me querem impor, ou quiseram. Sinto-me feliz por tal causa, a existência desse Deus, unir os homens que nele acreditam, Ele ser motivo de união. Mas sinto-me profundamente triste, por me terem transmitido que esse Deus era prisão - submissão e tristeza sem fim -. A união através das religiões pode ser bela, ou a mais amargosa faceta da vida por causa daqueles que não sabem interpretar ‘a palavra’, que dizem, que esse Deus ‘diz’. Eu ainda não a sei interpretar, mas tento, verdadeiramente. Agora, por vezes, chamo-o simplesmente deus, e ele não é melhor nem pior para mim do que era, se ele existir – mas ele existe segundo a maneira como eu o sinto -. E eu quero amar essa transcendência que fala comigo, que me responde misteriosamente, e que me faz relutar de alegria quando eu consigo decifrar o que me é transmitido, e, que isso [que me é transmitido e que eu decifro (quando tenho feedback)] é positivo para a minha vida. Pois, também eu digo que era solidário: fui um ser simples e aberto para com os outros, buscando na força da simplicidade -como numa força inspirada pelo nascer e pôr-do-sol, assim como em tudo o que é simples -, força de alegria para quem me envolvia, fonte de união e busca pela amizade – no entanto, tudo em vão, tal é a ira da incompreensão humana -. Agora digo, sou um ser simples ainda, mas, e (talvez) por isso, não posso fazer ver que posso fazer por alguém mais do que esse ‘alguém’ pode fazer por si: -será que por isso sou um egoísta? - Não posso negar os meus ideais: não sendo eu portador de falsas esperanças, porque iria contra o meu móbil, porque terei eu que demover o mundo se o mundo demove-se indiferentemente por quem eu sou? - Tive medo de ser bom no sentido de ser o melhor no que quer que fosse e desejasse ser, porque me infundiram o medo logo à partida, porque me incumbiram um espírito de fraqueza. Tive medo do meu Amigo que eu agora trato, simplesmente, por, amigo. Disseram-me que ele Era xyz, pois eu agora vejo que ele talvez seja xyz mas também é 0 a 9, e sei, intuitivamente, que muito mais há para descobrir, constatando que continuo a não o conseguir negar, ainda agora e, quiçá, para sempre. Cada vez me dedico mais a ele, cada vez com menos medo, espero e desejo, com a plena inteligência que este universo me deu. Espero subir de ânimo, get high, e ter a força da ilusão comigo, a esquizofrenia que existe, sem no entanto vacilar e errar. Isso é o que eu desejo, que eu imagino - em vão muitas vezes.
‘Mundo’ e ‘Universo’, duas de algumas das palavras que tanto utilizo, repetindo-as vezes sem conta, na escrita e mais ainda na minha mente, querendo desatar-me, querendo voar livre. Repetimos na nossa mente palavras para as fixarmos. A mente desde que nascemos vai tornando-se mais complexa, através da repetição das palavras, dos conceitos e das experiências mentais que fazemos, com o fim de automatizar as respostas do nosso ser ao ambiente que nos rodeia. Eu, em mim, na minha mente, repito as experiências que tive, repito, em particular, certas experiências marcantes, boas ou más, da minha vida. Repito as experiências que tive no meu pensamento de modo a tentar compreende-las, para apaziguar a dor das más ou para retirar prazer das boas. Repito os sons, oiço as músicas da minha vida, vezes e vezes até lhes perder o conto para que lhes possa retirar o suco da compreensão dos sentimentos, sentimentos que algum dia tive. Eu quero perceber porque o mundo me quer dominar e porque eu não quero ser dominado. A música que gosto domina-me e dominou-me no passado, mas eu repito-a, oiço-a vezes e vezes sem conta para compreender o meu passado, para compreender como sinto. Acho que o que sinto, esta ambição de compreender é a ambição que move todo o homem de uma maneira geral, que quer ultrapassar a sua ignorância de qualquer modo, quer compreender o mundo e descobri-lo. Mas eu, mais que virado para o exterior e para a mobilidade e descoberta física e externa a mim própria e ao meu ser, virei-me para o meu interior que se estava a dissolver neste mundo sem eu compreender um pouco o porquê disso. E, então, fiz vibrar o meu ser, e continuo a fazê-lo, incomensuravelmente, fazendo-o repetir aquilo que só se dá uma vez na vida, que talvez aconteça a, precisamente, tudo o que se passa. O que acontece, acontece somente uma vez, todas as outras vezes que acontece algo nunca é igual ao que já foi, apenas idêntico, se tanto. Se por um lado é bom que algo não se repita continuamente no tempo, que as coisas mudem de modo a que, por exemplo, as dores que nos perseguem possam ser desvanecidas, é-nos incompreensível e inaceitável que as coisas boas, prazenteiras e perfeitas não perdurem por mais tempo. Mas aí entra a fantástica, bela, mas também por vezes temerosa, capacidade da nossa mente de captar a essência dos momentos e ser capaz de reproduzi-los novamente, cá em cima de nós mesmos, no nosso cérebro. Digo ‘temerosa’, porque o poder da mente é tal que quando lhe perdemos o controlo nos podemos magoar facilmente e acabamos a viver incongruentemente com a estabilidade da vida. A bela capacidade da recordação, de relembrar aquela boa recordação, aqueles cheiros, aqueles toques, com todos os nossos sentidos fisiológicos activos e a captar o mundo externo a nós próprios e o nosso cérebro a registá-los. Mas, mais ainda, surge mais tarde, na nossa vida, algo que nunca pensávamos sentir, a memória a trabalhar e cruzar os dados que registámos, a encontrar-mos o que nos parecia perdido no tempo, aquilo que a nossa mente registou, a música que ouvimos e nos marcou o sentimento, que pensávamos esquecido e que afinal estava apenas adormecido e à espera de ser ressuscitado, o sonho de que um dia fomos jovens com um mundo enorme e escancarado, para nós, pela frente. E eu, afinal, quando vejo isso a acontecer, a recordação a dar-se, e a sentir dessa maneira, sinto-me um privilegiado, porque tive muito mais do que algum dia pensava ter, porque tive muito mais do que muitos tiveram, porque realmente é um privilégio chegar a este ponto e recordar. Se recordar (e pensar) é viver, então eu vivo, por demais.
A repetição das palavras, assim como a repetição das acções vão solidificando e vão tomando lugar na cultura dos homens, só assim conseguem subsistir, na repetição. A repetição do pensamento, na nossa mente vai criando vibrações que se tornam cada vez mais intensas. Os pensamentos, os acontecimentos da nossa vida, tornam-se cada vez mais distantes da nossa memória evocativa se não os continuarmos a fazer vibrar na nossa mente. Por isso, quanto mais evocarmos certos acontecimentos e estados de alma, mais esses pensamentos nos acompanharão e se reflectirão nas nossas acções futuras. Na minha vida poderia ter acontecido muita coisa, são inúmeros os caminhos que podemos enveredar, que eu poderia ter enveredado. Analiso o meu passado, no meu presente, e vejo que trilhava um caminho que não desejava. Vejo os imensos caminhos que poderia ter seguido, mas que nenhum seria mais correcto que o que tomei, até porque é somente este que conheço, os outros ficam na imaginação do que poderiam ter sido. Vejo e sinto o que a minha vida estava a ser à luz do caminho que segui, e até me sinto um sortudo por ter sido este o caminho que segui. O meu caminho era de perdição e desnorteamento, tão cheio de azares e mal-entendidos que me ultrapassavam e que agora consigo, senão mais, mas pelo menos, vislumbrar e compreender, apesar de ainda não os ter ultrapassado. Eu já pensava que nunca mais me encontraria, o pesadelo de não dominar a minha vida era enorme, e tudo o que me aconteceu marcou-me indelevelmente, e logo o meu pensamento, que por sua vez privilegiou a dor que me possuía, sem conseguir ver uma saída para a normalidade. Depositava esperança em sonhos, em algo que não sabia o que era, fiz uso de todo o manancial de conhecimento e experiência que possuía - que me parecia tão pouco -para tentar sair do lodo. E o mundo à minha volta demoveu-se e arranjou um espacinho para mim, com todo o meu esforço, agora sinto-me recompensado, e rico de experiência mental, e física q.b (quanto baste). O tempo esvaísse muito rapidamente, foge, e eu queria aproveitá-lo da melhor maneira. Queria aproveitá-lo em conhecimento, e em produzir algo com significado. E não é que por vezes dou comigo a pensar: ‘afinal é verdade o que dizem, a vida faz-se caminhando, a vida vive-se ao viver a cada minuto e, para mim, é a meta a que nos propomos que dá sentido a tudo isso, a vontade de lá chegar, mas mesmo que não se chegue lá, o caminho percorrido foi pleno de sentido, tenha sido ele como foi.’ A repetição das ideias e dos acontecimentos tornam-nos inolvidáveis. A imagem que temos do nosso passado, as fotografias e a TV, os sons - a música que nos marcou -, a escrita, fazem-nos reviver e ver com outros olhos o que se passou, e ao vermos com outros olhos então conseguimos perceber o certo e o errado, possivelmente, e melhorar o nosso caminho e quiçá compreender o quão incerto são os nossos passos, que podem tanto ser cheios de significado como de nenhum, dependendo da vibração que damos às coisas, enquanto vivermos. Temos um ser finito que se desintegrará um dia, tudo faz sentido para nós enquanto existimos, para os outros ainda poderá continuar a fazê-lo depois. Mas numa escala maior, a terra é finita, e numa escala imensamente maior o universo é finito, nada é inamovível, e tudo tem um princípio e um fim, e graça a nós que sendo tão pequenos nesta imensidão que nos envolve conseguimos atingir o cosmos mais profundo, através da união dos nossos sentidos humanos, da união que produz a vibração que dá sentido à vida. Quando os seres acreditam e se unem, quando o que acreditam é nobre, genuíno, perfeito, então, mesmo que o caminho desses seres seja o do fim, eles atingirão o nirvana e não o vazio, o nirvana do prazer, de fazer vibrar o belo e dar sentido ao vazio que poderia haver. Daí a minha busca constante pelo ‘grande vibrar’, pelo vibrar, que eu penso ser, genuíno, que me leve ao sentido da vida. E visto eu ser tão pequeno, e fazer parte de uma imensidão, eu só posso tentar ser grande em mim mesmo, no meu interior. Demovo-me, desde já, da primazia do outro sobre mim, eu não posso ajudar alguém quando não me posso ajudar a mim próprio, e sei do que estou a falar. E eu preciso de ajuda mais do que ninguém, preciso do meu equilíbrio, neste vibrar humano. Preciso de me unir ao vibrar em que acredito, e não sou um salvador do mundo nem das pessoas, de ninguém, sou um ser que quer viver, só isso. Não sofro por ninguém que não mereça, e faço da minha alegria a alegria dos outros e vice-versa. Necessito do vibrar da sorte em mim, porque vi mais do que ninguém o que é o azar mental e psicológico, do que as pessoas não são capazes de fazer por alguém que suplica vida, falando com isso na morte, falando lugubremente, tentado dizer o positivo de tudo que se diz de negativo.
Observo a atitude da sociedade. Observo e analiso. E observo que a maioria das pessoas põe culpas do que sucede, alguns em tudo, e a culpa é sempre dos outros, não do próprio. A maioria das pessoas pensa que tudo os ultrapassa e que nada é da responsabilidade de cada um. Mas decerto não sabem que a sua responsabilidade existe, e é multiplicada por aqueles que têm a mesma responsabilidade, e que insistem em a ignorar por comodismo ou outro motivo qualquer. E as pessoas são imensas, com as suas inteligências cada vez mais robustas e a explorar o que a mãe terra dá a um nível terrivelmente desnecessário. Eu sinto que nasci com uma culpa imensa às minhas costas, esquizofrenicamente sinto culpa de tudo o que se passa neste mundo, como se eu fosse o centro do mundo, o que não é verdade, mas, uma coisa é certa, eu sou o centro do meu mundo, e sou terrivelmente responsável por aquilo que se passa comigo. Se a minha vida descambar, eu enquanto ser mental e corporal que sou, sou responsável pelo que a minha vida se tornar, ou se tem tornado, excluindo aquilo que não consigo controlar, e que faz parte da inter-relação minha com o mundo aos mais diversos níveis e tipos. O mundo surge-me na minha mente e compreensão como uma amálgama de pessoas e acontecimentos, surge-me como um verdadeiro caos que aparenta ter uma ordem, mas a verdade, apesar de eu sentir que é um caos, a verdade é que o mundo funciona e, provavelmente funcionará até um dia qualquer que não sei, nem sei se alguém saberá, precisar. Todos procuram o bem-estar, e o bem-estar é produzir e explorar mais, produzir mais produtos, explorar cada vez mais o mundo, ser mais que o outro, do que o próprio irmão, numa luta desenfreada e confusa, que eleva o mundo a patamares cada vez mais destrutivos. Eu não posso mudar tudo o que se está a passar, adoro o conhecimento mas abomino a destruição que isso significa. Era tão bom que este mundo fosse viável… que houvesse sempre petróleo, que pudéssemos conhecer cada recanto do mundo, cada paraíso escondido na terra, sem serem destruídos que tudo permanecesse estável; que um dia a pobreza deixasse de existir; que a comunicação fosse sempre possível nos termos em que existe hoje. Mas o mundo é feito de pólos opostos, do bem e do mal, da economia que funciona como todo o Universo, feito de extremos, de paradoxos, em que para um ou vários indivíduos serem ricos, por exemplo, significa que outros tem que fazer o trabalho sujo e sacrificarem-se para que essa nata da população do mundo esteja no topo. Por isso o mundo significa exploração, exploração do homem pelo homem. Mas, também há um ponto de vista que não deixa de ser verdade, o facto de que um homem é um ser vivo, simplesmente, e que ele procura a sobrevivência neste mundo em que nasce e que sendo assim ele tem o direito de procurar o seu bem-estar e fazer pela sobrevivência, segundo aquilo que é e fazer valer todo o seu ser para esse fim. Algumas pessoas vivem de tal modo num mundo que não sei se diria dos sonhos ou perfeição e então reclamam por tudo, como se o mundo fosse feito de direitos individuais e particulares, como se houvesse pessoas que forçosamente, tivessem mais direitos do que outras pessoas, riem-se dos outros, reclamam, escrevem no livro de reclamações por tudo e por nada, consomem imenso como se isso fosse um direito que lhes assiste, querem ser importantes. E o homem tem o direito a ser importante, isso faz parte da luta pela sobrevivência neste mundo humano altamente complexo culturalmente, mas eu pergunto que direito tem um homem de destruir outro, não procurando um ponto de equilíbrio e de mediação de umas pessoas com as outras?!
Vivo e sobrevivo, dia após dia, aumentando o meu conhecimento, solidificando quem sou. Acordo pleno de vida, mas nunca satisfeito, por isso quero sempre mais, não quero parar, e nem por isso jogo sujo nesta vida, não jogo sujo em relação aos outros seres, não utilizo meios sujos para chegar aos meus objectivos, que se desvanecem, pois são tantos (!). Queixo-me por vezes, mas queixo porque me dói, não por falsidade. Renasço todos os dias. E todos os dias consolido os meus conhecimentos, e reconheço o tempo e o espaço em que vivo, reencontro-me comigo próprio e com o ambiente que me rodeia. Não tenho medo de quem sou, mas tenho medo do que isso me possa causar de mal, por mal entendidos, porque este mundo (humano) está cheio de mal entendidos, pelos menos na esfera da minha vida, que revejo constantemente, tão cheia de mal entendidos e de percas, mas também de alegrias tão simples e genuínas. Eu dou o que tenho para dar, e eu procuro feedback. Eu vejo e sinto de uma perspectiva única, e imagino outras perspectivas. Eu mastigo, remo-o, as emoções e os sentimentos vezes e vezes sem conta para que eles fiquem digeríveis mais facilmente. Eu repenso as minhas emoções para lhes dar um bom sentido àquelas que tiveram um mau sentido, sendo que não as posso apagar, mas mudar-lhe a interpretação posso. E, eu agradeço ao Universo por mais um acordar, todos os dias, por mais uma oportunidade de me reencaminhar e ir mais além. Eu agradeço por poder continuar a questionar-me, sobre a minha existência por exemplo, por ter mais uma oportunidade de obter respostas a cada dia que passa, sobre o que significa viver, o amor, a amizade, a relação com os meus pais e com as pessoas que me envolvem, por poder sentir como sinto, algo que não tem fácil explicação verbal. O ideal da perfeição foi perseguido por mim, pensava que era algo que se podia atingir e prosseguir com ele e nele (o ideal da perfeição). Mas compreendo agora que essa perfeição não é uma meta nem um estádio em que ficamos, mas essa perfeição é constituída de metas e metas sem fim, que vamos conquistando, e é constituída de êxtases que são momentos, mais ou menos curtos que vamos atingindo, e vamos ficando plenos de vida, e vamos envelhecendo felizes, porque há um Universo que nos ama e nos tem, e nos dá oportunidades se a gente souber interagir com Ele, de acordo com o que somos. Ter sorte não é só ganhar no euromilhões e ser milionário. Ter sorte é também ou mesmo acordar cada dia, tendo satisfeito as nossas necessidades básicas, não sofrermos em demasia, ter oportunidade de prosseguir em paz, de espírito, fisicamente seguro, podermos prosseguir ao nosso ritmo, podermos ver e entender o que nos serve e o que não nos serve na nossa vida, cheia de oportunidades, estar em equilíbrio e respeito com o que nos rodeia. Digo isto porque estou a passar uma melhor fase, e digo isto, sou positivo, porque venci certas barreiras e tenho estabilidade neste momento. Digo isto por tudo o que já disse, e tive a oportunidade de acordar esta manhã, digo isto porque sei o infortúnio de muitos, que sei que não vencerão porque a luz lhe foi ofuscada, mas muitos outros, ou talvez somente alguns outros, irão continuar, entendendo o mundo à maneira deles, e vencerão e encontrarão a paz. Podeis perguntar-me, quem vos encaminhará e guiará os vossos passos? Quem vos acolherá quando andares arruinados e/ou perdidos? Quem vos amará, de quem necessitareis quando andares desencontrados? Pois eu não serei certamente. Eu, tão pequeno neste Universo, tão finito no tempo, fisicamente pouco poderei fazer. Mas no espírito, no meu espírito, grande como uma visão que não posso transpor para palavras, eu movo o Universo à minha volta, e eu vos deixo uma marca indelével de quem eu sou e um dia fui, até ao fim dos tempos, se eu for acolhido por esse infinito que tem sentido e não tem, neste mundo comum. É uma vida bonita, quando acordo em certas manhas e consigo sentir a vida fluida e cristalina. Mas a vida tem altos e baixos, e quando estamos nos baixos, quando estou nos baixos, apelo novamente aos céus para que me deixem recuperar mais uma vez e me deixem subir a encosta novamente para apreciar o topo novamente e ver sempre mais além na limpidez de um dia, passageiro ou efémero que seja. Eu já aprendi a voar, mas tenho que continuar utilizando as minhas asas para que elas não definhem até mais não poder, signifique isso o que significar. Um dia pensei que havia o ‘bem’ e o ‘mal’. Um dia eu os defini e comparei. Um dia acreditei que era possível haver uma definição unívoca de ‘bem’ e ‘mal’. Um dia eu caí no vazio, e estava entre no centro dessa luta entre o bem e o mal, e eu era quem saia magoado no meio disso tudo. Mas todos os conceitos se dissipam, e o sentido das coisas mudam constantemente, e encontro significados diferentes em coisas que para outros tem outros significados, e é ai que o Universo nos fala. ‘A vida é uma auto-estrada, e eu quero conduzir nela toda a noite’, Tom Cochrane. Sei que a estabilidade é relativa, e devemos respeitar essa estabilidade, porque cada um responde por si.
Tenho que acordar para a vida, a cada dia que passa. Mais pessoas, mais seres, do que alguma vez podia imaginar envolvem a minha vida e sei que a influenciam directa ou indirectamente, assim como eu respondo de algum modo a essa influência. Culturas e mais culturas que nascem e morrem a cada ano que passa, seres que desaparecem. O mundo, a terra, a nossa mãe, nunca é mais do que o que é mas existirá como O Alfa e O Ómega, de tudo o que foi concebido nela. Ela me diz, que devo viver, ela me diz que me ama, signifique isso o que significar. Ela e o Universo me fala através dos seres e de imensas maneiras que tenho de aprender a decifrar, e admito que gosto de certas maneiras com que ela me comunica.
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