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Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

Mártir

            Poderei eu ser um mártir? Defendo algo muito difícil de definir, defendo os meus ideais que julgo desde sempre serem puros, a favor do equilíbrio por exemplo, a favor do bom senso, da empatia, a favor da defesa da beleza deste mundo que é prejudicado por almas que não sei porquê mas nasceram com um espirito de destruição, de competição desenfreada, longe da harmonia e da paz de espirito, num mundo humano onde a teia dos ideais, das ideias, das palavras, dos conceitos estão entrópicos; admito que os números são excessivos, a população, admito que posso estar a mais, e, se me tivessem dado a escolher, não quereria ter nascido decerto, se bem que fico glorioso quando sinto um bem-estar que não nego, e que me pode suceder, pelo menos por enquanto. Quando falo em ideais puros não significa que eu sou puritano (por exemplo), no sentido de querer dizer que sou contra o sexo por prazer, que apenas deve servir para procriar, mas também não defendo o contrário; não defendo que o casamento deve ser para toda a vida mas também não defendo o contrário - a natureza, tudo o que tenho aprendido sobre ela me diz que não há leis absolutas, muito menos as dos homens o serão com suas culturas feitas como que para deleite de alguns e abominação de outros, e me parecem, muitas vezes, injustas (e não me cabe a mim destrinçar sobre quem são os injustos e os injustiçados, tenho as vistas muito curtas para perceber essas coisas); as leis do homem não estão acima das do mundo e do Universo -; por consequência, não significa que defendo a religião cristã, ou, muito menos, a igreja, mas, não quero dizer que sou contra ela também; substancialmente penso que tudo em si tem algo de bom que se aproveite em maior ou menor grau, em maior ou menor quantidade de bem, pena que o mal, por mais pequeno que seja manche todo o bem facilmente. As leis dos homens são regras que alguns conseguem respeitar e tê-las a seu favor contra outros cuja natureza ou o fato de serem néscios, aliados ao desconhecimento dessas regras os leva a viver em stress numa luta desigual, a meus olhos, que jamais poderei defender; ou então sou eu que estou enganado acerca das leis deste mundo, e então serei eu um mártir? Pessoalmente, sofro por estar fora ‘dessa’ cultura, sofro pela injustiça de não me deixarem ser livre, sofro e vivo por um ideal ou ideais que não querem ser aceites, sofro pela contrariedade a que fui submetido e sei lá que mais poderei exponencialmente dizer, poderei eu ser um mártir então? A questão não está se eu gostaria ou não de ser um, mas reside na forma como a minha vida foi encaminhada, parece-me que no caminho de um mártir, operador de grandes mudanças mesmo que a causa dessas mudanças não se vejam; a vida chamou-me desta maneira, parece que me pede para me reencontrar aqui, como estou fazendo agora, para fazer coisas e estar em sítios que na verdade não deveria estar, não queria estar [Talvez, decerto, eu prefira o isolamento ao sofrimento da minha vida social onde tudo parece querer cair-me em cima na maioria dos dias, como aquela canção de Rui Veloso – Não Há Estrelas no Céu]. A minha mente abriu-se ao mundo talvez desde que fui concebido - sei que é especulação, mas talvez tudo o que nós somos começa lá longe, no passado, sinto-o [note-se que o ‘talvez’ é uma palavra muito importante para mim assim como é o relativismo das coisas, estou longe das certezas deste mundo cientifico de causa-efeito, deste mundo de objetividade em que tudo se pode explicar, não querendo eu ser propriamente apologista do ceticismo; sinto-me como um mediador de todos os extremos isso o digo com toda a certeza, essa é a certeza que me rege, esse é o equilíbrio pelo qual eu sofro também] -. Admito que existe em mim esse sentimento de querer ser um expoente máximo e ao mesmo tempo ser humanamente impotente perante a imensidade do que nos/me envolve, perante aquilo que pensamos/penso controlar mas na verdade não controlamos/controlo. Não tenho dúvida que atrás desta ‘mente aberta ao mundo’, o motivo de eu ter seguido a vida desse modo, está algo ainda indefinível e subjetivo, algo ainda incompreensível para explicar o porquê eu ter nascido com estes sentimentos, por ter seguido este caminho que segui e não outro, por não ter convergido no meu ser, mas, pelo contrário, precisamente, ter divergido no meu caminhar, no meu pensar. Por vezes sinto-me capaz de tudo, sonho acordado que o futuro me há - de correr bem, que hei - de ter sorte… e dou por mim a ter a autodescoberta de que afinal tudo o que peço agora, já o peço, repetidamente, desde bem pequeno, talvez até antes, onde a minha memória sentimental não consegue alcançar (por enquanto pelo menos). Quero mais. Quero viver. Quero viver de acordo com o que acredito, e não consigo aceitar que não posso mudar o mundo a meu bel-prazer, eu não sou Deus para mudar o mundo e transformá-lo ao meu ideal, que penso ser o verdadeiro. Há quantos anos eu sonho com a liberdade do meu espirito, com a paz dele, liberdade e paz, paz e liberdade, será isso uma utopia ou serei decerto um mártir? Aqui estou eu no mesmo sítio de sempre, esta é minha vida, estes são os meus sonhos de sempre, mudarei eu? Mudarei ainda? Serei feliz, ainda que de outras maneiras? Satisfarei o desejo de mudança para melhor? Ainda não me cansei de fazer estas perguntas de modo que acho que ainda me projeto no futuro.

            Já que estou aqui neste ponto, deste Post, e, mesmo, deste blog, ainda vou falar na minha fisiologia e fisionomia e na grande contribuição que têm para que tudo se passe como tem passado na minha vida, talvez na contribuição do caminhar de um mártir, poucas vezes abordo esses lados da minha vida e que na verdade sei que são a causa de tanto atrito nestes problemas que abordo. Mas devo dizer alguma coisa agora, mais alguma coisa, agora: Não, não diria que fui amaldiçoado, sendo eu um monstro, não, efetivamente fico feliz por não o ser, e não desprezo a figura mais feia que ande por esta terra, aceito que há feios e bonitos mas devo constatar a minha situação e ver em que ponto estou desses extremos; efetivamente, já fui mais jovem e sentia-me bonito, não me considero velho mas tenho que aceitar que já não tenho 20 anos e que o horizonte não está aberto à minha frente, ilusionantemente; Apesar de não querer ser imodesto, posso dizer que me sinto uma pessoa de aparência normal, ou melhor deveria sentir-me assim a maioria das vezes, mas, algo se passa que não me deixa sê-lo (e afinal tudo isto também esta relacionado, ou seja, o que somos psíquica e fisicamente está relacionado entre eles); tenho reparado em mim mais atentamente de há poucos anos a esta parte, e tenho reparado coisas fisiológicas e fisionómicas que me têm feito sentir de tal maneira que me levam a escrever muito do que escrevo neste blog, tenho reparado na mudança de maneiras de estar das pessoas que me envolvem onde quer que esteja, já para não falar quando estou com a mente alterada - bem, mas isso dá outro tema; Sempre tentei autoestimular-me, pelo menos até certo ponto da minha vida, tendo pensamentos do tipo ‘sou bonito’ (tal como o fazia em relação a autoestimular a minha força de viver ao pensar ‘sou capaz’, ‘sou [uma pessoa] normal’), ainda tenho recordações que vêm lá do fundo dos sentimentos antigos, onde eu sentia que estava a ser alvo de atração física, sinto que havia capacidade de impressionar com o meu jeito de ser, com o que eu era, afinal, era jovem. Mas, há medida que me vou redescobrindo e montando e entendendo o puzzle da minha vida, eu não era um jovem normal, e sei agora que todo um peso recaia sobre a força da minha juventude e que o levava penosamente, mas, sempre com fé, sempre confiante, de que havia de ser forte além de forçosamente tentar disfarçar e ignorar aquilo que sentia, que não estava bem [o quanto eu fui forte, vendo as coisas como eu as vejo agora, como o sentimento da vida me apelou a viver tão fortemente, e, apesar de tudo, o quanto a vida me foi generosa para que eu vivesse e o quanto algo me apelou para que me esforçasse a seguir de algum modo, porque não se pode voltar atrás, nunca]; O mundo de hoje tem muita pessoa bonita, o padrão de beleza elevou-se, não o posso negar, e acho que muita gente está de acordo comigo e isso é um verdadeiro atrito para quem não tem os padrões mínimos que esta sociedade ‘exige’, é um problema mesmo, tal como o é para mim de muitos modos - explicar em poucas palavras todo este tema que se passa é complicado, e diria mais: ‘impossível em poucas palavras’, por isso não me vou alongar nele, se bem que, admito, rodeio o assunto na tentativa de encontrar melhores ideias com que me possa exprimir; as pessoas estão mais bonitas, pelo menos no ‘mundo mais rico’, digamos assim, as pessoas nascem com menos atritos psíquicos, nascem num berço de ouro por assim dizer, têm a sorte de ser bonitas, de terem um psíquico normal, digamos assim também, e isto tende a tornar-se uma norma, quer a gente veja isso dessa maneira ou não, além disso, os trabalhos são-lhes menos penosos fisicamente o que preserva o físico, e mais, o mundo tende a consciencializar-se de cada individuo deve tratar-se bem, falando de um modo popular, e para mais ainda, o mundo televisivo influência tudo isto, a propaganda da beleza e do bem-estar, com o seu grande poder de encaminhar as atitudes das pessoas, um poder que ainda nunca lhe pude ver a verdadeira dimensão na minha alma, no meu entendimento; desafortunados dos que nascem feios ou fora da norma, como sempre, o atrito, para eles, é sempre maior, e eu serei um deles, fora da norma, marginalizado, quando não marginalizado diretamente, indiretamente, e vou tentar dizer porquê da melhor maneira que puder e com a maior brevidade que conseguir: as ansiedades tomaram conta da minha vida, de tal modo que a minha entrada na vida adulta não foi nada fácil, apesar da força enorme que tive para suportar e levar tudo adiante, como já disse neste post e neste blog [não posso cansar-me de dizer tais coisas, não podem ficar por serem ditas, mesmo que me repita, desculpem o inconveniente]; estou a falar de fisionomia e fisiologia não é? Da minha… tenho pele clara, e a partir de certa altura da minha vida toda essa ansiedade que se acumulou devido a motivos que falo neste blog culminou numa explosão de rubores – tento imaginar o porquê de tudo se passar deste modo comigo constantemente, naquela altura eu descontrolei completamente, pelos meus 18 anos aproximadamente – Digo também que devo ter uma fisiologia muito própria, porque será que o sangue aflora deste modo à flor da minha pele(?), pergunto-me constantemente; Não sei porquê, meu sangue deve estar alterado, imagino, nele deve correr muita informação química que faz transparecer todo o ser que eu sou [e o ser que eu sou é sensível, delicado, estes são dois conceitos fortes que o definem, e é magnificamente belo como tem suportado as adversidades], isto deve de ser de tal modo estranho para muita gente, ouvir falar disto, que lhes deve parecer tolo, eu sei, essa gente não sabe o que é isso, tudo o que está relacionado com isso; A verdade é que tal - não quero descrever isso que se passa, porque me dói, dará para compreender? -, é fator de discriminação em muitas áreas da vida onde eu não devia estar e me tenho encontrado com elas; consigo ver situações e situações onde o olhar das pessoas dizem o que pensam, ‘n’ situações, consigo sentir o senso comum (o sentir comum) de incompreensão, reprovação, a maldade com que tantos deixam fluir seus sentimentos, as palavras que não conseguem conter, o descontrolo que toma conta de uma coisa que não querem aceitar, de sentimentos que até podem ser de superioridade e de gozo para com a minha pessoa - não posso defender os que são como eu, porque não tenho poder, porque não sei onde eles estão... – Enfim, conseguiram fazer-me mal por eu ter algo que não controlo, que não me passa com o tempo como se fosse uma bebedeira que o tempo cura e me aflige frequentemente, demasiadamente frequentemente, e, tal é a superioridade deles perante mim, que me tornam num bode-expiatório, um mártir, restar-me-á fugir? Para onde? Esconder-me? Enfrentá-los na sua incontável maioria? Lembro-me de, primordialmente, não compreender tais situações como se eu fosse um estranho em mim mesmo; posso dizer que, como pequeno exemplo, mesmo hoje a minha cor foi alterada pelo sol que apanhei, que ao invés de me dar um ar bronzeado me queimou e avermelhou o pescoço [que será dos albinos?] e não jorrou a face e o resto do corpo porque tinha boné e as roupas a tapar; Penso para mim, ‘não tenho uma doença demarcada e ao mesmo tempo várias falências tendem a aproximar-se de mim, com as quais eu luto constantemente’  - Black legend – You See The Trouble With Me. Imagino que muitos perguntem como pode o rubor, e o descontrolo dele e da pessoa que o incorpora, alterar a vida dessa pessoa, de tal modo, que seja tão doloroso viver (?) Mais ainda, como pode a minha fisiologia, descontrolada, noutros aspetos também contribuir para o meu martírio, ainda para mais? Pergunto-me. Que complô de destino é este? Porque não me aceitam como sou, e não faço eu o que posso simplesmente fazer, sem ter que andar neste sofrimento que tende a prolongar-se? E se eu jogar no euro milhões (?) e puder ser sortudo e viver em paz como desejo, passar a ser um felizardo anónimo, porque não pode ser de outra maneira. Que um raio de sorte me caia sobre o meu ser. Continua sonhando, continua…

            Sintetizando: O meu ser é uma relação entre um psíquico extremamente ativo, uma mente não satisfeita, uma ansiedade que teve um pico muito alto, que me levou a andar nesta corda bamba desde tal colapso, com uma fisiologia alterada (não me referindo com isto a que sou excessivamente gordo) em interação com o psíquico alterado, baseando-se no fato principal de eu ter pele clara, aflito com rubores incompreensíveis, tendo eu ‘atingido’ entretanto patamares de conhecimento que supostamente não era para ter atingido, e, adquirindo, assim, um autoconhecimento de que tais rubores e ansiedades me estavam a destruir, a compreensão de que estava e sou marginalizado por eles, e quiçá me irão destruir paulatinamente, corroer as minhas fundações que me seguraram até aqui, porque não se pode vencer o mundo, as regras do mundo [malditas regras diria], a regra da sociedade, ou eu tenha muita sorte e veja o caminho certo a seguir sem grandes problemas.

 

 

 

 

 

 

            Este texto foi escrito ao som de:

 

1. Pet Shop Boys - It's A Sin (5:01)

2. Peter Murphy - Cuts You Up (5:28)

3. Roxette - Listen To Your Heart (5:14)

4. Roxy Music - Take A Chance With Me (4:43)

5. The B-52's - Roam (4:54)

6. Chicago - If You Leave Me Now (3:56)

7. Billy Idol - Eyes Without A Face (4:59)

8. Bee Gees - Massachusetts (2:22)

9. Mike + The Mechanics - The Living Years (5:31)

10. Peter Cetera - Glory Of Love (4:20)

11. Prefab Sprout - When Love Breaks Down (4:06)

12. Queen & David Bowie - Under Pressure (4:05)

13. The Korgis - Everybody's Got To Learn Sometime (4:17)

14. Toni Childs - Zimbabwe (6:18)

15. Whitesnake - Here I Go Again 87 (4:33)

16. Whitesnake - Is This Love (4:42)

17. Will To Power - Baby, I Love Your Way / Freebird Medley (Free Baby) (4:07)

18. Yes - Owner Of A Lonely Heart (4:25)

19. Bee Gees - Tragedy (5:01)

20. Pink Floyd - Another Brick In The Wall, Part 1 (3:45)

21. The Eagles - New Kid In Town (5:05)

22. The Pretenders - Brass In Pocket (3:06)

23. Simon & Garfunkel - The Sound Of Silence (3:03)

24. Scott McKenzie - San Francisco (2:58)

25. ABBA - Chiquitita (5:26)

26. Los Bravos - Black Is Black (2:56)

27. Mungo Jerry - In The Summertime (3:29)

28. Ritchie Valens - La Bamba (2:07)

29. Roxy Music - Love Is The Drug (4:09)

 

1. Propaganda - Duel (4:46)

2. Roxy Music - More Than This (4:06)

3. Soul II Soul - Get A Life (3:43)

4. Stevie Nicks - Rooms On Fire (4:33)

5. Talk Talk - Life's What You Make It (4:28)

6. Talking Heads - And She Was (3:39)

7. Ziggy Marley And The Melody Makers - Look Who's Dancing (5:00)

 

1. Jim Diamond - I Should Have Known Better (3:38)

2. Marillion - Kayleigh (3:33)

3. Baby D - Let Me Be Your Fantasy (3:55)

4. R.E.M. - Mine Smell Like Honey (3:12)

5. Rui De Silva - Touch Me (3:28)

6. JX - Son of a Gun (3:13)

7. New Order - Touched By the Hand of God (3:43)

8. The Original - I Luv U Baby (3:28)

9. 11 I Love Your Smile - Shanice (4:22)

10. Roy Orbison - Blue Angel (2:47)

11. Robert Miles - Children (4:01)

12. Eros Ramazzotti - L'ombra Del Gigante (4:41)

13. Capella - Move It Up (3:59)

14. David Guetta - Titanium (feat. Sia) (4:05)

15. Fun Factory - Take Your Chance (3:56)

16. Industry - State Of The Nation (4:25)

17. Dilemma - In Spirit (3:37)

18. U2 - Walk On (Single Version) (4:11)

19. Lenny Kravitz - Stillness Of Heart (4:15)

20. Marillion - Lavender (3:40)

21. Lionel Richie - My Destiny (4:48)

22. Rick Astley - Together Forever (3:26)

23. Black Ledgend - You See The Trouble With Me (3:29)

24. Black Machine - How Gee (3:28)

25. Faithless - Insomnia (3:33)

26. Lenny Kravitz - Are You Gonna Go My Way (3:31)

27. Kaoma - Lambada (Single Version) (3:29)

28. Pete Heller - Big Love (Big Love Eat Me Edit) (2:40)

29. New Order - Regret (4:08)

30. Benni Benassy - Benassi Bros Ft. Sandy / Illusion (Sfaction Mix) (3:33)

31. Kim Wilde - You Keep Me Hangin' On (4:15)

32. Bros - When will I be famous (7" Single version) (4:01)

33. Juventa - Only Us (8:15)

34. Corona - Baby Baby (Lee Marrow Radio Mix) (3:01)

35. Everything But the Girl - Missing (Todd Terry Club Mix) (3:30)

Temores da minha vida

     Temo que a minha saúde esteja a piorar. Sinto uma falta de energia que tende a progredir. Sinto-me a paralisar, como se houvesse um veneno que estivesse a fazer esse efeito em mim, um veneno para o qual não encontro antídoto. Sinto um forte sentimento de injustiça para comigo deste mundo. Devia ter uma vida muito moderada para que pudesse viver mais tempo, mas tal não me é permitido, o mundo à volta obriga-me a mexer, a ser uma pessoa normal quando, na verdade, não sou, obriga-me a ter uma prisão quando eu queria ser livre. Este sentimento de que vou colapsar a qualquer momento acompanha-me desde sempre [e o pior é que sinto isso como verdadeiro e encontro provas intrínsecas - na minha vida interior - de que isso é verdade], assim como o sentimento de que a vida me tem feito ser um idiota e castigando-me ainda mais com a possibilidade automática de constantemente visualizar e sentir o idiota que sou a cada dia que passa [mas sem a verdadeira culpa da minha acção, porque sou um bode - expiatório nesta vida] e o desejar ser outra pessoa que nunca mais consigo ser. Sei que esta escrita é um vazio. A escrita, no geral, é um vazio, eu acho isso, mas não consigo separar-me da leitura, já que não consigo ligar-me com o mundo social [Se bem que é verdade que certos tipos de conhecimento se aprendem melhor através da escrita]. A minha expressividade (oral) é reduzida, talvez porque não me habituei (e não me foi permitido) a comunicar, a verbalizar e a evocar o que vai no meu pensamento, além de que eu tenho dificuldades em situar-me quando o contexto que me envolve de pessoas é plural, e mais ainda: não sou capaz de acompanhar o assunto nessa interacção social. Eu cresci reprimido, com uma inteligência e uma maneira de ver o que se passa à minha volta de uma maneira muito especial, mas sempre calado, com temor pela autoridade e o respeito excessivo pelo outro mais do que pelos meus sentimentos e pelo meu valor. E, com tudo o que vi de injusto, prostrei-me perante a minha vida, perante o que sinto, rendido a uma luta desigual e com pouca capacidade de reacção, porque me foram anuladas as defesas, por alguém que não se redimiu do que era perante mim e me fez transformar, num futuro, que se tornou presente, um errante nesta vida social. Sinto que a vida goza comigo por intermédio das pessoas, de certas pessoas que se cruzam comigo. A vida tem gozado comigo toda a minha vida, vida essa que eu não esqueço. Tenho a certeza que eu sou mais uma pessoa que vai passar por este mundo em vão, depois de sentimentos tão genuínos e de gratidão, depois de ter visto uma verdade tão vívida no meu espírito, depois de eu ter a forte convicção de que havia justiça para quem agia na busca da verdade e da perfeição, numa vida de busca pelo equilíbrio, com o firme sentido de quem queria seguir o que era bem (na fé de que existe o que é bem e o que é mal, e de que se eu agisse na busca do bem eu seria feliz e teria toda a sorte do mundo). Mas entrei em contradição nos meus sentimentos a determinada altura da minha vida, já não sei quando, porque perdi os limites dela. A minha inexpressividade (social) torna-se crónica a cada dia que passa, e temo seriamente que, se em breve eu não conseguir contrariar este caminho de silêncio, eu prossiga para um abismo. Se alguém quer saber o que é terror psicológico sinta o que eu sinto, porque eu sei-o, assim como também sei que há inúmeras pessoas pior do que eu, mas que se calhar não têm a consciência e a lembrança presente do passado da gravidade da sua situação. Não tenho doenças fisiológicas até ao momento, muito menos algo de grave, fisiologicamente, e com esta escrita também exagero o que sinto, muitas vezes, porque exagerada é a dor psíquica que sinto. Nunca tive acidentes graves, e deveria estar feliz por tudo isso. Mas não estou, a dor psicológica existencial e a falta de conexão humana (psico-humana) destrói-me fortemente e não me deixa desfrutar a minha vida. Talvez o meu sistema nervoso esteja esgotado ou a caminhar para isso. Sinto-me a perder cada dia que passa por não poder sentir a normalidade de um ambiente mental saudável para viver em sintonia com os outros, indo, assim, ao encontro do vazio de mim próprio, frequentemente. Tenho medo de começar cada escrita que faço, como esta que agora estou a escrever, porque os meus temas acabam por puxar-me ainda mais para baixo, porque são tristes e/ou profundos e/ou confusos - e/ou pessoais, o que não interessa a ninguém -, fruto de uma hiper-auto-consciência que me esgota. Eu não sou genuíno porque sou exageradamente auto-consciente e não tenho o dom de me exprimir de acordo com as normas, e, isso, causa imensas confusões na minha vida, das quais eu tenho medo.

     Com tudo isto e muito mais, eu vivo em temor crónico, na esperança de que o vento volte a meu favor ainda, sopre forte, e de que haja algo, ainda, de tudo o que acreditei, que prevaleça e faça justiça por mim ou em mim.

O meu pensar

Sei que quando falo de ódio, com espírito odioso, para com os seres humanos, eu não deveria generalizar. Não posso dar a parte pelo todo, se alguém ou alguns me magoaram e me fizeram mal na vida, não posso culpar toda a gente, nem posso considerar todos por igual, como maus e malfeitores, mas há momentos em que o meu espírito tem de tal modo a feridas tão vivas que me levam, a isso. Eu próprio estou de tal maneira magoado, e tenho a mente de tal modo toldada pela dor psicológica, que amiudadas vezes magoo sem querer, sem ter essa intenção as pessoas que se tentam aproximar de mim a bem (também por causa de não poder ter sacudido o mal daquelas que se aproximaram a mal). Eu estou de tal maneira, que só atraio para mim a confusão social, os males – entendidos. Estou a lembrar-me de outro dia uma pessoa amiga me ter considerado de mau - humor, quando na verdade (ela não sabia nem deve saber, porque é difícil de entender - eu sei-o -), por trás dessa aparência de mau – humor, eu tenho segredos bem mais profundos que me levam a aparentar de mau humor ou com má cara, a minha mente tende a não transmitir aquilo que sinto, e por isso sou mal entendido constantemente na minha vida, talvez por esse esgar nervoso, esse jeito fechado e fugidio (de quem quer fugir, literalmente), que tende a ser cada vez mais frequente e intenso e que sei que me pode facilmente destruir, ou na hipótese mais real, na verdade já está a fazê-lo (provavelmente já há muito tempo) restando-me saber quanto tempo mais eu vou aguentar isto, que afinal deve significar o sobreviver, não o viver. É obvio que nessas horas de espírito toldado eu ponho em causa tudo, mas não sou uma pessoa violenta, sou uma pessoas pacifica e com a capacidade de reacção muito baixa, no entanto com um espírito em ebulição. É claro que toda a minha escrita, a que transmito neste blog está muito centrada em mim e consequentemente assim será o meu pensamento e a maneira como funciona. Cresci a fugir constantemente, sempre com aquele sentimento de fuga no meu espírito que me foi dominando, gradualmente. Os meus gritos não ecoaram na vida. Talvez as pessoas já nem liguem ao som abafado do meu gritar. É obvio que as hormonas não funcionam mais correctamente. É obvio que eu sou um ser possuído pela tristeza. E torna-se tremendamente aterrador imaginar que, com o tempo, eu, em lugar de reformar o meu espírito, de me conciliar comigo mesmo e entrar numa velhice mais consciente de quem sou e de aceitação daquilo que se passa na vida, esse lugar dê lugar ao descontrolo, à desarmonização, à dessosiabilização, à melancolia constante, à falta de realização pessoal em duas palavras. É claro para mim, que deve ter havido um ponto da minha vida, não sei precisar, talvez depois do meu nascimento, ou logo no momento da minha concepção, que me fez seguir um destino do qual não pude fugir, e que foi solidificando a minha vida, a minha maneira de ser. Consigo rever o meu passado como um fio condutor para onde estou hoje, e já consegui perceber que o futuro se interconecta com o passado e o presente, dai o meu medo do que ainda me pode acontecer.

Tornei este blog pessoal, como se tratasse de um livro aberto em que falo segundo aquilo que sinto, de um modo geral na minha vida. Um blog pode ser uma amálgama de ideias, tal como as que nos percorrem a mente. A minha mente interpreta o que vê e o que lê, mas eu estou mesmo muito influenciado é pelo que lei -o. Eu tenho lido imenso em toda a minha vida, eu tenho transposto constantemente aquilo que sou, dia após dia de leitura, por isso não descuro que toda a confusão que vai na minha mente, seja de toda a má acomodação que dou a tanto que vou lendo, a tanto que encho o saco sem despejar como deve de ser. Tudo o que aprendi se torna em toxinas para o meu espírito em lugar de o desenvolver harmoniosamente, em lugar de me tornar forte. Todo esse conhecimento me torna fraco, mas uma coisa é certa, eu compreendo, nem que compreenda mal. Sei que transcendi os limites da minha pessoa, eu que não nasci limitado mas assim me quiseram tornar. Eu que acabei por ter medo dos meus sentimentos, eu que me magoei profundamente no decorrer da minha existência, e agora vivo angustiado, cheio de amargor por ter perdido tanto dos meus desejos normais de um homem, eu que fui desfalcado psicologicamente, que me desiludi quando a minha mente compreendeu que aquelas pessoas em quem se podia confiar, não eram as mesmas pessoas depois de ver o lado de lá delas, das suas ideias. Sou único na maneira de pensar e de sentir e de ser e estar no mundo, e se isso me fascinava faz tempo atrás, neste momento isso provoca-me um pânico tremendo, o facto de estar só com o que sinto, tudo desorganizado em mim, sem conseguir vislumbrar uma saída. Sinto-me só neste meu mundo, terrivelmente só, e tudo parte do mais fundo de nós, o psíquico, esse poder que fica bem escondido mas onde, em mim, o meu consciente navega sem parar, na busca do bem-estar que temo ser utópico, e jamais alcançável novamente. Na minha mente eu não mexo ideiazinhas, simples acontecimentos ou factos, não, eu mexo toda a minha vida em peso, por isso eu estou esmagado por ela, na busca do meu bem-estar interior, na busca de uma saída, fechado sem inovar nela. Tudo muda lá fora, eu doentiamente permaneço o mesmo, não vou ao sabor da corrente. Eu tenho ideias erradas que não me consigo desfazer delas, coisas em que acreditei quando era muito pequeno e que não me querem abandonar, para me tornar outro homem. Talvez o meu pensamento já funcionasse desta maneira na altura, apesar de haver menos conteúdo nesse tempo. Mas uma coisa é certa, o meu espírito procura a paz, sem findar nos seus esforços. Assim é, assim será.

Feliz no fim de tudo

Estou feliz porque vivo, tenho vida. Mas fico infeliz porque sei que tenho que sofrer, é inevitável a qualquer ser fugir de algo tão certo mais tarde ou mais cedo na vida, e é mais doloroso ainda saber que se tem consciência dessa dor, desse sofrimento, como têm os homens, mais ainda os mais inteligentes - os que têm uma inteligência intrapessoal notável, os que ultrapassaram os limites do seu tempo e do seu espaço e do seu organismo e se transfiguraram -, e pode-se tornar extremamente doloroso, mais ainda quando nos apercebemos que estamos sozinhos com essa dor que mais ninguém pode resolver, e que Deus não vem para nos ajudar, porque ele simplesmente é uma equação que leva a lado nenhum, assim como no princípio assim é o fim. E tenho pena do que perdi, tão conscientemente perdi, esta eterna lamentação, não pranto, mas lamentação. Custa-me saber que é tudo tão em vão, por exemplo estar aqui e agora e não poder assumir o momento em que vivo, aquilo que escrevo, porque o mundo é cheio de perigo e de injustiça, de seres que são tão mal amados e que nem a inteligência e a sorte lhes bate à porta do coração, de suas vidas para endireitar o sentido deste mundo, fazendo mal uns, sabendo o que estão a fazer, outros não sabendo. Custa-me tanto, é uma dor infinita esta consciência de que não estarei aqui jamais um dia, que um dia nem esta humanidade restará, apenas rastos do que se passou, de que tudo só faz sentido agora, e que esse ‘agora’ está a ser completamente destruído, porque a sina do homem como de tudo o que existe neste momento é mais tarde ou mais cedo não existir, a minha sina é só existir neste momento, e tenho medo de assumir isso, como se o mundo fosse eterno, como se fizesse sentido a perpétua existência, a história de um Rei no mais alto palanque deste mundo ou mesmo do Universo sem fim. Era um mundo tão belo se os recursos não acabassem, se a evolução fosse eterna, se o sangue permanecesse na veias e artérias sem ser derramado – como é pestilento o cheiro a morte (!), e como fede a doença (!). Há uma vibração lá fora, e eu estou ‘out’, apenas observo e nem sei se isso é bem ou mal, mas sei que estou muito susceptível, por isso me escondo, de medos incompreendidos. Não sei porque escrevo, simplesmente podia não dizer nada e seguir mudificado, simplesmente seguir e nada dizer, apenas observar e mesmo assim eu ter o mundo na minha mão. Mas ter o mundo na mão é tão relativo (!). E as palavras que nos unem são as mesmas que nos desunem. Inventamos termos e culturas complexas, e nunca pensámos chegar aqui, a esta civilização interligada. Ao mesmo tempo a civilização pode cair, porque estes momentos passados poderão ter sido os melhores, e não querem deixar cair, mas quem domina quem? Inventamos e adoramos o que inventamos, os números o dinheiro, por exemplo. E Deus? O inventámos e adoramos, mas ele não é quem pensamos, ele faz parte, mas não é supérfluo como a palavra humana. Simplesmente estes são tempos estranhos e magníficos, talvez porque os limites estão mais testados que nunca e parece não haver limite. E eu? Não me assumo, aquele ser que até pode ser superior, no mínimo especial, mas que não pode ser assumido, porque isso de ser superior e/ou especial não tem explicação verbal, é-se e pronto, e no entanto não se passa de algo vil que existe nesta terra. E só se fala da alegria de viver, dos sonhos, do que de bom há na terra, do conhecimento, do progresso, quando se esquece tudo na verdade, se esquece do mais importante, a meus olhos, possivelmente aos olhos de muitos que no entanto são uma minoria, que se unem em torno de uma causa que é indefensável, em que a evidência de que não existem regras para sempre na vida e no tempo e o fim é inevitável. Além disso o sofrimento está convivendo com tudo isto, está lado a lado, porque o homem já não ama, o homem é apenas e simplesmente um devorador de recursos, consome tudo, desperdiça incomensuravelmente, a sua ira irá levá-lo à perdição. E continuarei a procurar a causa ou as causas de toda esta amálgama, de toda esta incompreensão visceral, de todo este desperdício, de todas estas lutas sem sentido em que ninguém se entende com ninguém. O melhor que podia acontecer neste mundo era o de os homens tomarem conhecimento do vazio que eles são, cada um por si, todos, verem tudo de tal modo que sentissem o fim e isso lhes causasse o abismo mais profundo das suas almas para que aprendessem a gostar da vida, da terra, dos outros. Digo isto porque hoje em dia, não sei se foi diferente um dia, mas concerteza deve ter sido, a humildade não cabe na cultura contemporânea, é humilhante a timidez e moderação de atitudes, ou então estou errado neste mundo, completamente errado, e isso também é muito provável, mas não tenho qualquer dúvida acerca do meu fim e o do mundo. A internet veio para mudar mais ainda este mundo, tirou-me da solidão e do vazio em que vivi, esperando um Deus que resgatasse a minha alma, a minha vida deu uma volta e ainda consigo respirar, mal mas respiro.

Aqui continuo

       Aqui continuo eu outra vez. Ainda te lembras de mim? Continuo nesta eterna conversa comigo próprio, o meu monólogo, aquilo que eu sou, no meu caminho, a minha vida. Mas sou o que sou em função do mundo, já o disse, o mundo que me envolve, as pessoas, tudo o que consigo interpretar. E, continuo com as mesmas sensações: por exemplo, sinto que, ao escrever, estou a arrancar algo de mim, sinto que estou a despender energias, energias essas que não voltam. Mas, não consigo deixar de o fazer nem consigo ter maiores forças para parar do que para continuar e sei que não faz outro sentido se não o fizer. Às vezes penso que só queria fazer isto, falar, falar sem parar, ser o melhor em alguma coisa, e já que não posso fazer noutras coisas, era falar, falar… vai tanto em mim… É como que se nos fosse permitido o uso de uma tanta energia todos os dias, e quer a usemos quer não ela se esvai, como se terminasse o prazo de validade no final de um dia, quando necessitamos de repousar. É-nos permitida outra quantidade de energia a seguir ao repouso, com o mesmo prazo de validade, mas a energia que vem tende a ser menor, pelo menos a partir de certa idade, o que não se aplica quando estamos a crescer, no primeiro quarto da nossa vida, em que parecemos conseguir cada vez mais energia à medida que o tempo passa. Primeiro sentimos a energia na massa corporal a fluir, depois temos que fazer uso da energia intelectual, para prosseguir à medida que a energia corporal diminui. Eu, pelo menos sinto que é assim. O tempo esvai-se tão rapidamente (!), ele que segue sem piedade, que não quer que o nosso ser se perpetue. E dói-me o coração à medida que gasto mais energia. Por vezes sinto-me tão fraco de gastar tanta em busca daquilo que o destino não quer deixar alcançar, daqueles sonhos que nascem com a gente, daquilo em que o nosso ser acreditou ser possível atingir naturalmente. As pessoas são tão estranhas, para mim. Acreditei profundamente nelas, mas a profundidade da filosofia revela-me que estamos mais sós do que algum dia poderemos imaginar, e que particularmente, eu, estando só com o meu espírito, neste meu eterno monólogo, de invenção de Deuses, de fé e esperança, só podemos apanhar as palavras e ideias de conforto que nos vão chegando, só podemos consumir este mundo em que habitamos como forma de conforto existencial. Tememos a morte quando temos tanto para usufruir, tememos aquilo que é natural, e no entanto, só conseguimos viver mais plenamente quando a desafiamos e a conseguimos fintar, e, quando sobrevivemos de um terramoto, por exemplo (o do Haiti a 12 de Janeiro de 2010), sentimos uma força a quem chamamos ‘Deus’ que nos salva porque sobrevivemos. Eu pergunto, e aqueles que morreram não foram salvos e não estarão em paz para todo o sempre? O resgate aparece-me como transversal e indiferente. Os que morreram jazem felizes para sempre porque a sua dor se foi para onde originalmente veio assim como a sua matéria corporal irá, e, os que sobrevivem, estão felizes porque continuam na dimensão em que acreditam, porque só sentem o que os sentidos lhes permitem sentir, o que vêem. Eu estou profundamente solidário e empático com tais pessoas em particular, e, no geral, com as que existem na face da terra, e desejava que, profundamente, elas sentissem a inteligência como eu a sinto, eu desejava que as pessoas no fundo não fossem destruidoras e fossem construtivas.

            Continuo a ver a perfeição e a desejar atingi-la mesmo sabendo que nunca a irei atingir, porque sei que a perfeição é um estado passageiro que o homem capta e atinge em certos momentos demarcados no tempo com a sua memória mental e com outro tipo de meios, tantos outros que estão ao nosso alcance. Tento agarrar as perfeições criadas, a verdade das coisas, a essência da vida e de tudo o que consigo interpretar com o meu ser, e canso-me de extasiado prazer ao que alguns chamam loucura. Não uso drogas, apenas utilizo a energia que me é reservada a cada dia que passa, apenas uso a normalidade do meu ser para atingir tal êxtase, pena que não queiram que eu o partilhe, e como dizia outro, ‘eu sei bem do que estou a falar’.

            E assim hoje regressei, neste monólogos mentais, a exposição do ser que em mim vai, a maneira como o pensamento se dá dentro de um ser, que acredito dar-se noutros seres, mesmo que eles, vós, tu não saibas que se dá. E assim me despeço mais um dia, a energia que me era permitida tende a esgotar-se. Voltarei concerteza, ainda terei caminho pela frente, ainda estarei longe da íngreme queda, quero acreditar nisso. Até sempre.

 

Vagueando

Na minha vida tenho sentido letargia, por vezes. Na minha vida tenho sentido injustiça. Na minha vida eu tenho sentido, sentido que significa que tenho Sentimentos. Na minha vida eu os tenho exacerbado, por vezes controlado, muitas vezes contido, reflectindo sobre eles, os passados, os presentes, os que irei sentir e que tento deitar a adivinhar, como serão os futuros sentimentos. Vivo com o agrado de sentir, com agrado de ser diferente, com agrado de ser, quiçá, especial. Mas eles me levam a sufocar, eles me parecem levar ao desespero, eles querem – me dominar, eles, os sentimentos. Mas, na minha vida, eu também tenho sentido positivamente: eu sonho a ‘esperança’ e ela acontece. Caminho sozinho. Mas é bom descobrir, imaginar algo ou alguém como sendo especial, é bom dar um sentido especial às coisas ou às pessoas. Não sou mais que ninguém. Estou aqui, entre vós, partilhando o vosso sentir, partilhando o meu sentir, dando-me como sou, entregando-me, porque não pode ser de outra maneira.  E nós vagueamos por este mundo, caminhamos com sentidos tão diversos, tão ao acaso, tão diferentes, que apenas muito ocasionalmente nos temos encontrado. E busco-te apressadamente, porque o tempo urge. Penso incomensuravelmente rápido na tentativa de ultrapassar a barreira do tempo - que já terei passado – e a barreira do espaço. Mas a probabilidade de nos encontrar - mos é tão escassa, tão ínfima! Tento usufruir a arte de pensar, na solidão, fazer vibrar os meus sentimentos mais alto, sentir o imenso potencial do sentir, com respeito por aquilo que não domino. Tento descobrir os significados do mapa que me levará ao tesouro, mas os inúmeros significados têm-me baralhado. No entanto, persisto. Vagueio nesta vida procurando os significados de ideais essenciais, como o ‘amor’. Tantas vezes me sinto dominado por desejos que um homem não pode ignorar, como se fosse (mos) escravo (s) da paixão. E no entanto, tanta filosofia na minha vida, tanto pensar, não me levará a desviar do (s) destino (s) da minha vida. Talvez tudo se resuma num conceito, o ‘destino’, em que no entretanto tudo só faz sentido enquanto houver um ‘eu’ e um ‘tu’. E há uma relação entre tudo, uma relação entre o passado e o futuro, o que fomos e o que haveremos de ser, e a mim resta-me compreender, porque assim algo quis que eu compreendesse, quando na verdade pareço um néscio, compreendo o obscuro, compreendo quando estou ‘na minha’ e não compreendo o óbvio ou quando na ‘dos outros’. Sei que estas divagações por onde o meu pensamento vagueia são herméticas e complicadas, e o mundo está muito descomplicado e deseja descomplicar, tudo se revela nestes tempos que correm. Soltaram-se as amarras do conhecimento, da repressão do conhecimento, tudo parece ser possível, e no entanto no meio dos sonhos e aparências, tanto erro e injustiça, tanta gente a cair na mão de sábios errantes. Mas não me compete a mim intrometer-me em tais destinos, há um que pesa em mim o quanto baste, o meu, precisamente. Não sou por isso egoísta, dói — me ver um ser em sofrimento e injustiçado, dói – me, e sei que um dia poderei ser eu a estar naquele lugar que eu não pedi para mim. Um dia, num momento de fraqueza ou necessidade poderá aparecer uma alma caridosa, ou pelo contrário, alguém cego, sem sentimentos, com uma espada sangrenta, com fome de destruição e vingança e acabe por fazer uma asneira, vingar-se no homem errado. Mas as forças da natureza são mais fortes, tudo tem uma explicação, no nosso interior, que vagueia por essas forças do Universo, ocultas mas que sempre estiveram lá, e nunca foram proibidas de conhecer, a não ser pela má fé humana que usa o conhecimento para dominar e fazer sofrer, muitas vezes.

            E agora, lá fora está um dia ameno e agradável à minha espera. Penso que devo aproveitar a benesse da vida e prosseguir este momento de acalmia e introspecção, relaxar e deixar uma mensagem para o mundo, tudo há-de correr bem, signifique isso o que significar, nem que amanhã já não tenha o mesmo significado, mas teve-o por um dia que fosse. Que essa benesse seja abençoada, obrigado por me teres entre vós e por poder ter momentos de agradável desenvolvimento, vagueando por estes caminhos misteriosos.

Perseguindo a luz.

 

Estou constantemente atrás daquilo que quero ser. E mesmo sem me aperceber, sou-o, desta maneira. Ando constantemente nas nuvens na finalidade de tocar os céus, de tocar aquele azul imenso que me inspira e me eleva a alma. E a tal altitude eu vejo o que me envolve, a imensidão do que me envolve. Mas quero atingir o sol. Quero chegar àquela estrela que está mais além e me fascina. Quero acelerar, mas ao mesmo tempo tenho medo. Prefiro ir sempre um passo atrás, pelo menos. Não gosto de me adiantar, mesmo que tivesse meios para tal. Não quero perder as sensações, mas também não quero ser possuído por elas, e, no entanto continuo a perseguir a luz. Quero sentir-me seguro, mas não quero cair na apatia e no vazio, por isso persigo a luz. Queria exprimir o que sinto de uma maneira que fosse perceptível. Mas o que sinto não é facilmente perceptível. O que sinto não é facilmente dizível. O que sinto é uma caixa de Pandora. O que sinto é puro ouro jamais encontrado. E continuo na senda da luz, na esperança de algo faça sentido. ‘Sentido’, um conceito criado pelo homem, para simplesmente dizer que a direcção, do que quer que seja, que exista fisicamente ou idealmente, é o fim – ‘do pó viemos e ao pó havemos de voltar’ -. E tenho uma paciência de Jó na busca dessa luz que me ultrapassa. Vejo o que mais ninguém vê, desta maneira, destas perspectivas que é pouco provável que vejais. Meu coração estremece cada vez mais, a dor agudiza-se e nada nem ninguém deste mundo consegue mudar aquilo que em mim se criou e a maneira como me criei. No entanto, eu amo e continuo perseguindo a luz que me ilumina, mesmo sabendo que poderei nunca alcançá-la. Neste mundo, hoje como sempre, salve-se quem puder. Peçam à sorte para que a vossa vida seja bem – aventurada. Eu só posso pedir por mim, porque posso muito pouco, porque sou um simples humano e não um deus. Já me esgotei a pedir por quem não conhecia, pensando que isso era bom, e, parece-me, isso foi indiferente, visto destas perspectivas com que agora vejo, mas talvez não possa dizer que foi uma perca de tempo, afinal foi a minha vida passada que não posso negar e esquecer. As vozes e o tipo de pensamento que fluem das escrituras perseguem-me, a sensação de Deus está sempre comigo mesmo que a tente negar. O que sinto está bem escondido e não se quer mostrar. Sou tão influenciado pelo que leio que talvez fosse melhor não ler. Talvez devesse apenas pensar e nem manifestar-me. Mas não, um homem não se pode deixar apagar, e ‘o caminho é para a frente’, nada volta ao que já um dia foi. Sei que a nossa energia não é infinita assim como a energia do que provoca a luz, tudo tem o seu tempo de duração. E assim me deixo abater com facilidade. Sinto o fim, como se estivesse próximo. Não sei se é a estas sensações que eu deveria dizer ‘viver cada dia como se fosse o último’. E escrevo, simplesmente para falar, porque falar faz parte do homem, e, para quem sabe escrever, deve-se escrever para não se esquecer do que isso é, e esquecer-se de quem se é o que se anda aqui, neste mundo, a fazer. Escrevo para deixar um trilho por onde possa voltar se me sentir perdido, para saber quem sou, um dia, quando o Alzheimer quiser tomar conta de mim, se bem que sinto, sinto intensamente, que não irei chegar ao limite que desejaria encontrar. Simplesmente sinto-me a definhar. Sinto que o tempo me ultrapassa e o espaço deixa de ser suficiente para mim. Imagino constantemente o limiar da vida, o momento último da existência, a linha que divide a existência do espírito neste corpo com uma outra existência que será diferente da que a agora usufruo, pedaços de mim que irão fazer parte daqui e dali no Universo enquanto ele existir, nalgum tempo, nalgum lugar, onde quer que seja. Será que devemos viver com ‘o fim’ sempre em vista para que possamos viver cada dia como se fosse o último? Eu vivo, mas isso é desgastante, retira muita energia que deveria ser investida de outra maneira, mas não pode ser de outro modo, sei-o. E sei que não é o fim que é o pior, que nos gera frustração, pior do que o fim e o que nos gera frustração e atrito em nós, em mim (em particular) é a sensação de que passámos o tempo a perder sempre um jogo, oportunidades, ou o que quer que seja, que devíamos ter conquistado para a nossa realização e termos consciência que não conseguimos. Realmente estou dessintonizado e dessincronizado com o mundo, muito provavelmente desde que nasci, ou talvez desde que fui concebido. Vejo e oiço, nas minhas reflexões, aqueles que me dirigem a palavra e que perturbam a minha caminhada na perseguição da luz, aqueles que me dizem coisa do tipo que eu ‘não era esperado’, como se eu não pudesse ser amado. Abomino todos estes seres que assim o dizem, eles estão a mais neste mundo e não eu. E mesmo que eu os abomine, isso não os matará, se bem que mereciam o sofrimento de setenta vezes o sofrimento que eu sinto. Para mim o tempo é escasso, e isso deveria servir-me de consolo como já um dia senti. Talvez eu não seja mais o mesmo, tenho uma nova vida, e alem disso sei quem fui, simplesmente sei quem fui, o que me torna num perito em se ser quem se é. Os sentimentos são altivos, o bem acima de tudo. E personificamos aquilo que sentimos. Mas também somos dissimuladores. Dissimulamos o que sentimos. Sejamos quem formos, seja eu quem for, estejamos onde quer que estejamos, esteja eu onde quer que esteja, o objectivo está sempre à frente, no agora e no depois, e nunca atrás, naquilo que não se pode recuperar. A luz nos iluminará até ao fim, assim seja, a luz me iluminará até ao fim, assim é. ' It is not my time '.

Do lado de lá

Estou do lado de lá. Dou comigo constantemente desse lado onde a minha voz ecoa sem rival, de onde quero sair sem encontrar uma porta definitiva que me tire desse labirinto em que me meti, sem querer e sem perceber como é possível tal. Sem perceber, pelo menos por enquanto, como quem procura uma causa da coisa mais improvável que possa acontecer. Estou desse lado onde sei mais do que ninguém quem sou, onde me vejo e compreendo completamente – ou pelo menos tendo sempre para isso -, onde vejo o meu passado e me identifico com o que fui – o passado e só o passado, como que o presente estivesse a deixar de existir e o futuro não quisesse mais vir -, onde verdadeiramente sou eu, onde tenho um lugar – desse lado – mas que nada significa quando existe tamanha incomunicabilidade com o lado de cá. Estou num Universo paralelo onde tudo é razão, desse lado onde as emoções não moram, onde vejo sorrisos que quero retribuir mas que neste vazio não existem, onde vejo desequilíbrios que quero corrigir, mas não consigo, porque as forças faltam-me, como se em mim algo me anulasse a mim próprio, como se estivesse a ficar paralisado, paulatinamente, como se me faltasse o ar que necessito para respirar. Desse lado onde, na verdade, os gestos, os rostos e os olhares não significam nada, para mim, como se em mim tivessem sido apagados os significados naturais de tudo isso, se é que alguma vez os tive. Gostava que algumas pessoas soubessem quem sou. Não sei quem deveriam ser essas pessoas. Gostava que elas conhecessem o meu lado da vida. Gostava que me levassem a conhecer o lado de cá da vida, de que tanto oiço falar e vejo virtualmente sem conseguir sentir. Mas é difícil estar do lado de cá, sentindo desta maneira, sentindo da maneira do lado de lá. Eu perco-me e descontrolo-me, eu sinto-me a apagar, cada vez mais pequeno, a ficar sem liberdade como se não fosse livre de respirar. E então, quando olho para os rostos do lado de cá, eu não vejo nada do que eles devem estar a transmitir, nada me dizem esses rostos e esses olhares, como se deixasse de pensar, como se tivesse estado toda a vida preso dentro duma masmorra sem ver gente, como se tivesse sido um autista – tenho medo de me tornar um autista -, a verdade é que não consigo olhar. Do lado de lá há apenas monólogos. E se desse lado de lá tudo pareço compreender, do lado de cá nada pareço entender, como se fosse tudo fugidio. Sei que houve um princípio para isto, alimentado pelo tempo que passou, como se fosse uma corrente que algo ou alguém me pôs e que não foi quebrada com o tempo, mas sim foi reforçada. Vejo muitos momentos desse reforço negativo, vejo-me muitas vezes a querer fugir daquilo que devia ter encarado de frente. Vejo que interpreto como negativo muito do que me acontece. Não contrariei essa força que me levou cada vez mais para esse lado de lá. E novamente resta o sentimento da esperança, que tudo seja menos mau, já que mau parece que tem de ser. Sei que falo da minha dor e que deve parecer que falo como se ela fosse absoluta e única e como se não fosse capaz de ver a dos que me rodeiam. Mas eu vejo e sinto-a, eu absolutizo na minha dor, a dor dos que me rodeiam, porque essa dor dos outros não me é indiferente, e não sei porquê isto. Porque não absolutizarei a alegria que há nos outros e tenho que absolutizar a dor, é uma questão que me coloco neste momento. Porque não poderei ser um ser equilibrado, pelo menos? E, entre estar do lado de lá ou estar do lado de cá, entre querer as duas coisas ao mesmo tempo, é como estar no reino da contradição, do paradoxo. Entre querer ter atenção em tudo o que me rodeia e controlar tudo, do lado de lá, e querer estar concentrado e deixar – me levar ao sabor do Universo do lado de cá, vivo numa situação de instabilidade e de implosão. Mas se isto dependesse de uma simples escolha, eu já teria escolhido, viria para o lado de cá, porque estou farto do lado de lá. Mas o problema é que eu não sei viver deste lado e tenho que ir aprendendo, se me for permitido, sem no entanto deixar o outro lado porque isso seria perder-me.

Sintonia

 

Há uma sintonia que não alcanço, e temo não poder alcançar. Há uma sintonia, uma sincronia, e há o contrário a dessicronia, a dessintonia, que ao extremo tende para o colapso. Parece tão fácil a sintonia, assim como o contrário pode ser o menos provável e o mais difícil de se sair depois de interiorizado, depois de se ter entrado nesse ritmo avassalador que é o dessincronismo. Tão fácil a sintonia, essa dança perfeita dos corpos em movimento, esse trocar de olhares perfeito, esse conjunto de melodias afinadas cantadas no momento certo com o som belo dos aparelhos, esse bater dos corações em uníssono, ganhando uma força que parece ninguém parar, essa equipa entrosada, que ninguém jamais ousará ganhar, essa orquestra afinada que produz uma música tão bela e tão complexa, esse organismo que está em equilíbrio e é funcional e que procura esse equilíbrio até não mais poder. Tão fácil essa sintonia, esse entendimento completo de um ser com outro, mas mais fascinante, entenderem-se os seres em conjunto, não só através de palavras mas de tantas outras coisas visíveis e invisíveis: os gestos, as expressões, o movimento dos seus corpos, a sua maneira de agir, o olhar – a naturalidade da gestão dos olhares – a sintonia do psíquico, a sintonia do Universo, o homem todo uno, conectado por uma ligação invisível. E a alegria é quem se difunde e propaga, esse eterno optimismo de que tudo será melhor. A tristeza, essa, que toma posse dos seres, nas suas expressões quando outro ou outros assim o demonstram é desvalorizada. Todos querem participar nas alegrias, mas as tristezas são pisadas como se o fim último da existência dos seres fosse o prazer. E todos fogem das a sete pés, como que se morrer afirmando por palavras ou um conjunto de situações ou maneira de agir que se está triste, que essa tristeza não quer largar o nosso ser, fosse uma atitude anti-sobrevivência, e logo os instintos lhes dizem aos outros, os alegres, que devem desviar-se desse buraco negro do Universo que os pode consumir. Então fugi de mim que estou triste: a luta pela sobrevivência, a lei do mais forte, o destino que se reescreve a cada momento que passa, a história só reza dos vencedores, dos vencidos rezará a História, silêncio! Que se vai cantar o fado, o fado é o destino, mas a mim ninguém me cala, mais calado do que o que estou não posso ficar, da galhofa não me hei-de livrar, mas gritai por quem não tem voz.
                Há uma emotividade que não consigo compartilhar, e temo não conseguir fazê-lo, jamais. Mas a esperança é a última a morrer, e tento contornar esta solidão que me açambarca.
                Sim, sou eu que estou off, desligado do mundo. (pergunto se tereis coragem de me fornecer um cabo para me ligar?) Sim, sou eu quem vai sair derrotado, como se a minha vida fosse uma luta, que me parece ser mais de mim contra mim próprio do que propriamente contra alguém, esse alguém que se dilui no espaço e no tempo, os meus inimigos, imaginários ou não, ou apenas aqueles que simplesmente, não podem ou não querem compreender ou ceder. Eu vejo como vejo e isso faz quem sou, apesar desta busca incessante por uma identidade que seja uma máscara para poder viver mais uns tempos. Sim, sou eu que pareço certo e estou mais errado do que qualquer homem que está à face desta terra. Vou cair por terra, sei-o, vou desfalecer e não poder lutar. Sou homem, e a energia falta. A fogueira da incompreensão quer consumir-me. (serás capaz de me dar a mão?). Vão atribuir-me motivos para o que se passa, mas decerto todos vão errar. E vou viver. Quer viva anos ou meses, ou dias ou horas, ou minutos ou apenas segundos e segundos que parecem não ter fim. O fim está traçado, tudo é em vão quando não há elo de ligação, sintonia. Só me restará o sofrimento? A lamechice de mim para mim próprio? Chamem-lhe pessimismo, trauma ou o que quiserem, depois de morrer, já não me interessará, mas agora o que se diz afecta-me tão rapidamente como se eu fosse um boneco nas mãos de uma criança, incerto como uma pena ao sabor do vento. Digam o que disserem nada me vai mudar, pelo menos para já, porque, mais uma vez, a esperança é a última a morrer… dizem.
                Impeçam o impossível. Impeçam a dor e a morte se forem capazes. Impeçam-me se forem capazes desta tristeza, ainda por cima gozada, e carregada com adjectivos de destruição, aqueles que atiram pedras a quem já está moribundo, ou então regozijai-vos por teres feito quase nada, em nome de vós.
 
 
  << O poeta é um fingidor. E finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente. >>         Fernando Pessoa

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