Conquistador
Há terras por desbravar, há locais inalcançáveis, espaços por conquistar. Há recônditos que eu jamais irei revelar. Há paisagens por descobrir, belezas nunca observadas para usufruir.
Eu estive lá, mas nada disso irei narrar, porque tudo é como se vê. Nada descreverei, para não ser adulterado. Mas podem ficar a saber que é tudo, sempre em grande: Tem estéticas inolvidáveis; É o poder infinito do silêncio; É a tangencia de um golpe fatal do qual ressuscitamos; É um parágrafo único, de tal modo que, só para falar daquilo, se faria um texto que daria para dar a volta ao universo, um texto que se quebraria e voltaria ao essencial, ao nirvana, e no entanto, continuaria a sê-lo; É aquilo que ninguém viu e que sabe que existe, ou talvez apenas um vazio; Fica mais para lá do que o mais belo sonho, jamais sonhado; É um deleite único, como um adeus à vida, naquele último instante que toda a gente procura e nunca ninguém saberá; É uma máscara que cobre um rosto que nunca ninguém soube quem é, se algum dia o foi; É a luz que brilha no vácuo que preenche; É o ponto fulcral em que assenta o comprimento de onda que vibra, e vibrará, onde tudo tem princípio e fim; É a fluência da sintonia; é, enfim, onde bate o ponto.
E assim eu fui um aventureiro, se é que ainda o não sou, e cada vez mais. Aventurei-me em coisas concretas, para chegar às coisas incertas. Inventei ideias, tresloucadas diziam, sonhei trajectos, mas optei por seguir caminhos concretos, que aldrabões me tentaram impingir. Fui enganado, mandaram-me pelo bosque profundo na ideia de me fazer perder, e no entanto encontrei-me, e mais tarde dei-me a conhecer. Conquistei o trilho por onde passei, alcancei uma humanidade que eu desconhecia, agradeci a uma divindade que, ainda, não passa de uma utopia. Assim, aqui estou eu, feliz por voltar novamente. Aquele sítio foi de passagem. Trouxe bagagem, no entanto, fui sem nada, perdi tudo, mas cheguei, encontrei algo que me fez vir mais rico. É segredo, e nunca to direi. Mas posso te dizer que nome dei aquele sítio: é o ‘Reino de Aquém e Além’. Já agora, quem quiser ir, que vá por bem.
Há o desejo da conquista, há o desejo de ser conquistado. Há paraísos na terra, que são ensejos alados. O espírito de vitalidade invade o conquistador e o conquistado. Agarra essa preciosidade, não seja ela única, é sempre única. A quantos momentos já consideraste ‘presente’? Nenhum, tantos fugitivos, somente. Quando for assim, quando as duas linhas paralelas se encontram, não te despegues, porque agora és um, como sempre foste, só que mais forte. E então, extravasa essa alegria, de ser maravilhado, com o que vês, que é novo e intocado, essa efemeridade do tempo que te é dado. Se o perderes, triste não fiques, mas esperançado, o objectivo ainda não se esgotou. E mesmo na tristeza, esse momento inolvidável, na memória insondável, ficará, para que um dia possas dizer: ah! Poderás, a partir de ai, pintar o lugar onde estiveste, e, ornamentá-lo-ás. Ele ficará mais belo do que algum dia foi, esse momento. Eu sigo viagem, porque ninguém vai para ficar. O éden conquistado, não nos pertence, além disso, sou conquistador.