Momentos
Um vazio tende a invadir-me. Tenho medo da apatia. Tenho medo de magoar e ser magoado. Tenho medo de olhar e de ser olhado. Tenho medo das expressões, não consigo entender a minha, não consigo entender se é a minha que provoca as dos outros se… só pode ser a minha. Sinto-me o culpado, o culpado de muita coisa, de coisas que nem eu sei que me dizem respeito (mas parece que o que quer que seja me diz respeito, eu sou o centro do meu mundo, e esse centro está descomandado), desta personificação da angústia que mora em mim, que absorvo dos outros, que provoco nos outros. Vejo a minha face reflectida na face dos outros como se eles fossem meus espelhos. Não sei nada neste momento, sinto-me confuso e tudo o que sei a certos momentos tende a cair por terra como se tudo deixasse de fazer sentido como um moribundo, à beira da morte, como se a memória não me deixasse saber quem fui e quais são os meus objectivos. Apetecia-me desistir, fugir, esconder-me, sei lá onde. Pergunto-me quanto tempo vou aguentar. Se a pressão voltar sinto que vou ceder, mas vou tentar ser forte e ser digno. A minha expressão é de angústia. E tudo volta a mim, as expressões que eu transmito. Não compreendo o olhar. Navego apenas pelo sentir, pelo meu sentir tentando compreender o dos outros. Não encontro o meu lugar. E sinto tão intensamente quando em conjunto. Sei que não posso agradar a todos. Que angústia (!), vinda de tanta raiva contida. Procuro a quem posso culpar, procuro e não encontro. Nada faz sentido, como digo, em momentos como este. Nestes momentos, não sei o que me guia, quem me guia o que me faz andar aqui. Preciso do meu tempo, e o mundo não me quer dá-lo. Nestas horas não compreendo. Nestes momentos estou em branco. Nestes momentos apenas me lamurio para mim próprio, porque mais ninguém quer saber das minhas lamúrias. Nestes momentos sinto o tempo a perder-se, nestes momentos sinto o desperdício dos meus actos, nestes momentos sinto que estou errado mesmo que queira acreditar que estou certo. Nestes momentos todo o estímulo se esvai e me deixa no vazio das ideias. Sei que ninguém tem tempo a perder com palavras pessoais de um estranho que se chora para que se tenha pena dele, de alguém que ao ler dois textos se descobre logo o método de escrita e de expressão auto – comiserativa. Neste momento como tantos outros eu me exprimo assim. Sinto-me extenuado, facilmente me canso. Procuro constantemente saber a quem pertenço neste mundo, ou será que não pertencemos a ninguém? Sei que se eu não persistir eu ficarei só, mas se persistir nada mudará também para melhor, porque o cancro tende a destruir-me. Que estranho cancro este(!). Permitam-me ao menos eu dizer o que tenho para dizer antes de a minha hora chegar. O meu tempo chegou ao fim. Todo o tempo que virá, por acréscimo, já não me pertencerá, e todos os dias serão como se fossem os últimos dias da minha vida até que um dia o será mesmo. Não sei por que me consomes, mundo. Não sei porque me tiras e me dás apenas o que queres. Vejo o que vai no interior das pessoas, e por vezes isso é mais perigoso que o meu próprio olhar angustiado. Só queria poder respirar sempre. Porque me falta o ar? Como atrás de uma aparência forte e normal pode estar alguém tão fraco e carcomido? (!)Eu só… só queria dizer, só quero dizer que me apetece falar sem dizer nada. Preencher o meu tempo com palavras fúteis, sem significado, tal como o são certas conversas comuns - mas que alguns as são capazes de tornar tão interessantes, com todo aquele sentido emocional, toda aquela assertividade -. Como és capaz disso? Eu só queria poder sorrir, sentindo que me ria com alegria verdadeira, como a alegria que me invade, em pensamentos, a certos momentos. É melhor nem me conheceres, a não ser que queiras saber o que é andar na vida, angustiado. E depois têm pena, ou então pelo contrário, esfolam quando já está morto. Como o mesmo ser é capaz de tudo (!). Estou mesmo desenquadrado de tudo. Não sei que vazão hei - de dar a tudo isto que vai em mim. Ai do desespero que se apodera facilmente. Porque foge de mim a motivação? E se eu estiver mesmo errado? Que paradoxo este da vida e de tudo o que existe. Não sei se me respeitam se me odeiam, não sei quem são tais pessoas, e sei que a certas horas me odeiam e a certas horas gostam de mim e me respeitam. Mas afinal quem somos? Ou serei eu uma ave rara? Alguém que não tem cabimento neste mundo? Porquê a existência do descontrolo? A prisão em nós próprios? Gostava de ser alguém correcto, ao contrário de quem não foi para mim. Poder dar uma palavra de consolo. Mas, agora, é tarde de mais. O preconceito já foi criado e eu já não o posso mudar facilmente. Que seja cada um para si, então. E há momentos em que me sinto por inteiro, e de um momento para o outro deixo de me sentir. As ideias idênticas repetem-se sem fim, e o blog desgasta-se num conjunto de palavras. Cada vez sou mais eu, sem saber ainda o que isso significa, mas ainda tenho esperança de que um dia o venha a saber, ainda espero por esse momento ou por esses momentos.