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Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

Mais um alegre blog...?!

Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.

O 'tudo' e o 'nada'

            A noite profunda cerca cada vez mais todo o ambiente que me rodeia: desde o lado escuro da lua (que sei que está lá fora), passando pela face oculta da terra em relação ao sol, parte essa em que me encontro, até à minha terra, ao meu lugar e à casa onde me encontro; e, eu penetro adentro nela, ainda acordado. Esta noite é de acalmia, quando em segura liberdade me encontro, num ambiente climático ameno que me enche de bem-estar - assim o é sempre que desta maneira nos encontramos; e até pode ser um momento passageiro, mas eu captei-o num instantâneo dentro de mim, como uma foto ‘congelada’ e única de um sentimento passageiro e irrepetível mas que é possível alcançar sempre que o conseguir evocar. Penso para mim (e agora para vós): eu sou este, que me digo nestes momentos, eu digo-me desta forma que escrevo. Tudo o que eu sinto flui enormemente em mim sem erupção, a agitação interior é enorme, contudo, isso pode significar muita coisa como pode não significar nada: talvez eu seja uma bomba atómica, uma coisa insignificante de se ver, mas com um poder dentro que ninguém acredita enquanto não se ver o efeito. Mas também posso ser um objecto que imita a bomba atómica, a ilusão do poder quando a insignificância do que se é se demonstra pela inutilidade do objecto. Assim sou eu e a minha definição do que sou: algo que pode ser tudo ou pode ser simplesmente nada. Tenho como certo que o que sinto e vejo é válido para mim. Mas, pergunto-me, infindavelmente, o porquê desta contrariedade (?), penso: como posso ser tão vasto e ao mesmo tempo tão insignificante? – qualquer um pode pensar nisto e pode sentir isto. Pergunto-me, mais abrangentemente, o porquê de o ‘bem’ ser acometido pelo ‘mal’ (?), porque uma pessoa boa diverge para o mal? Quase que diria que não podemos confiar em nós próprios, eu tenho esse sentimento. Por exemplo, vejo casos de pessoas que cometem actos (de errados momentos) que não encontram resposta ao porquê de os ter cometido. O que eu quero dizer é que me parece que o paradoxo faz parte da essência do universo (o ‘tudo’ e o ‘nada’ a coexistir é um paradoxo filosófico que a mente humana terá que ultrapassar se não for possível separar tais conceitos) quer se queira quer não se queira, e também julgo que ‘nem tudo o que parece ser o é como parece’. Assim, muitas vezes, os que aparentam ser estúpidos são espertos, e os espertos são burros. Mas ninguém é Deus, a grandiosidade do que sentimos não pode sobrepujar Tal Grandeza. E eu, tentando ter consciência disso, agradeço a infinidade do que sinto, mesmo que tal não me seja pedido ou sentido claramente, sempre com o devido respeito em relação àquilo que me ultrapassa, àquilo que não compreendo. E, mais, vejo e sinto o mundo como poucos sentem, talvez, e por isso sou desprezado e subjugado por muitos, mas tenho a firme esperança de que tudo isto ainda vai mudar muito enquanto eu viver.

            Meus sentidos estão sensíveis, sempre alerta. Meu pensamento surpreende-me, e surpreende-me a sua capacidade também. Sei, porque tenho uma certa consciência, que repito muitas coisas que já disse, mas com certeza que enquanto não mudar de paradigma, se isso me for possível, e eu tenho fé que é possível, eu repetirei muitas palavras e ideias, e, o que senti, faz parte de mim, e, quem sabe, muito mais além de mim – porque na repetição está, com a consciência humana e nos actos gerais da vida, a eliminação do erro e a evolução dos actos assim como dos seres e da sabedoria entre outras coisas. Trago comigo toda a minha vida, que mais ninguém sabe, trago o passado comigo, todas as sensações sentidas, momentos marcantes que a qualquer hora me dizem quem sou e o que fui e me fazem pensar sobre o meu destino, o destino do mundo, e me fazem essencialmente questionar e associar cada vez mais e mais as ideias e os sentimentos para uma visão cada vez mais abrangente do mundo e do Universo externo e interior. Podia passar constantemente a lamentar-me da minha vida se simplesmente desse atenção a tudo o que de negativo nela se passa (ou o que eu penso ser negativo), lamento-o muitas vezes, e este blog talvez transmita esse facto – até porque ele foi mesmo, originalmente, concebido para isso, e ele é decerto uma tentativa de fuga a essa negatividade, uma tentativa de expressividade que tanto me falta e de que tantas vezes falo -, mas não, não faço isso na vida geral, não me lamento constantemente, mesmo tendo a forte sensação de que sou uma vítima ‘do destino’ - tenho fortes ideias comprovativas, mais que pensadas e associadas, para dizer isso -, e assim, trago comigo a sensação de que sou um privilegiado por ter vivido estes anos todos, já o disse de outras vezes, porque quando penso na quantidade de caminhos errados, isto é, muito maus, que podia ter seguido e não segui, mesmo não sabendo porquê de tudo isto acontecer, eu tenho sorte em ter conseguido seguir este, precisamente o que trilho agora, que não é mau. Mas ainda temo o futuro, eu temo o incerto e luto para que não caia em trevas outra vez, eu luto com todas as minhas forças e ideias, se é que não há um destino que dite o contrário. Sabendo as maravilhas e as tristezas que o mundo tem, não consigo vislumbrar uma resposta, uma luz que me diga o porquê de tudo o que somos se esvair no nirvana do espaço do Universo, traduzindo para latim comum, será que tudo isto que somos e toda esta filosofia que temos, falo por mim, se vai toda em merda? Qual o sentido da minha vida então? O sentido é que não há sentido? O sentido assim como tudo o resto no homem é uma invenção do homem e nada mais do que isso? Já sei que enquanto há vida há conexões entre o que fomos no passado e que nos tornamos nos futuro, conexões invisíveis que temos e também conexões que nos ligam aos outros seres deste mundo e ao que nele acontece no geral. Mas depois da morte, um vivo, como eu, não enxerga nada (!), a continuidade da ‘nossa vontade é incerta’, não me consigo projectar além desse momento.

            Deste modo, e como conclusão, vejo um ‘tudo’ que significa: a vida que tenho; a vida que existe à minha volta, a vida que se sente; o senso comum, o conhecimento consciente obtido pelos homens durante gerações e gerações; os sentimentos e as emoções de todos os seres; o sentimento de cada um, ‘o sentimento de si’ ; etc. etc.; e vejo um ‘nada’, ou melhor, não vejo, um vazio de sentido que significa: a não-existência; a incompreensão da não continuidade de tudo; da escuridão de respostas que não existem para além da existência; a falta de projecção de nós e do Universo para além da consciência que algum dia existiu. E a verdade que me parece existir é que o paradoxo do ‘tudo’ e do ‘nada’ coexistem. Espero revelações futuras.

Temores da minha vida

     Temo que a minha saúde esteja a piorar. Sinto uma falta de energia que tende a progredir. Sinto-me a paralisar, como se houvesse um veneno que estivesse a fazer esse efeito em mim, um veneno para o qual não encontro antídoto. Sinto um forte sentimento de injustiça para comigo deste mundo. Devia ter uma vida muito moderada para que pudesse viver mais tempo, mas tal não me é permitido, o mundo à volta obriga-me a mexer, a ser uma pessoa normal quando, na verdade, não sou, obriga-me a ter uma prisão quando eu queria ser livre. Este sentimento de que vou colapsar a qualquer momento acompanha-me desde sempre [e o pior é que sinto isso como verdadeiro e encontro provas intrínsecas - na minha vida interior - de que isso é verdade], assim como o sentimento de que a vida me tem feito ser um idiota e castigando-me ainda mais com a possibilidade automática de constantemente visualizar e sentir o idiota que sou a cada dia que passa [mas sem a verdadeira culpa da minha acção, porque sou um bode - expiatório nesta vida] e o desejar ser outra pessoa que nunca mais consigo ser. Sei que esta escrita é um vazio. A escrita, no geral, é um vazio, eu acho isso, mas não consigo separar-me da leitura, já que não consigo ligar-me com o mundo social [Se bem que é verdade que certos tipos de conhecimento se aprendem melhor através da escrita]. A minha expressividade (oral) é reduzida, talvez porque não me habituei (e não me foi permitido) a comunicar, a verbalizar e a evocar o que vai no meu pensamento, além de que eu tenho dificuldades em situar-me quando o contexto que me envolve de pessoas é plural, e mais ainda: não sou capaz de acompanhar o assunto nessa interacção social. Eu cresci reprimido, com uma inteligência e uma maneira de ver o que se passa à minha volta de uma maneira muito especial, mas sempre calado, com temor pela autoridade e o respeito excessivo pelo outro mais do que pelos meus sentimentos e pelo meu valor. E, com tudo o que vi de injusto, prostrei-me perante a minha vida, perante o que sinto, rendido a uma luta desigual e com pouca capacidade de reacção, porque me foram anuladas as defesas, por alguém que não se redimiu do que era perante mim e me fez transformar, num futuro, que se tornou presente, um errante nesta vida social. Sinto que a vida goza comigo por intermédio das pessoas, de certas pessoas que se cruzam comigo. A vida tem gozado comigo toda a minha vida, vida essa que eu não esqueço. Tenho a certeza que eu sou mais uma pessoa que vai passar por este mundo em vão, depois de sentimentos tão genuínos e de gratidão, depois de ter visto uma verdade tão vívida no meu espírito, depois de eu ter a forte convicção de que havia justiça para quem agia na busca da verdade e da perfeição, numa vida de busca pelo equilíbrio, com o firme sentido de quem queria seguir o que era bem (na fé de que existe o que é bem e o que é mal, e de que se eu agisse na busca do bem eu seria feliz e teria toda a sorte do mundo). Mas entrei em contradição nos meus sentimentos a determinada altura da minha vida, já não sei quando, porque perdi os limites dela. A minha inexpressividade (social) torna-se crónica a cada dia que passa, e temo seriamente que, se em breve eu não conseguir contrariar este caminho de silêncio, eu prossiga para um abismo. Se alguém quer saber o que é terror psicológico sinta o que eu sinto, porque eu sei-o, assim como também sei que há inúmeras pessoas pior do que eu, mas que se calhar não têm a consciência e a lembrança presente do passado da gravidade da sua situação. Não tenho doenças fisiológicas até ao momento, muito menos algo de grave, fisiologicamente, e com esta escrita também exagero o que sinto, muitas vezes, porque exagerada é a dor psíquica que sinto. Nunca tive acidentes graves, e deveria estar feliz por tudo isso. Mas não estou, a dor psicológica existencial e a falta de conexão humana (psico-humana) destrói-me fortemente e não me deixa desfrutar a minha vida. Talvez o meu sistema nervoso esteja esgotado ou a caminhar para isso. Sinto-me a perder cada dia que passa por não poder sentir a normalidade de um ambiente mental saudável para viver em sintonia com os outros, indo, assim, ao encontro do vazio de mim próprio, frequentemente. Tenho medo de começar cada escrita que faço, como esta que agora estou a escrever, porque os meus temas acabam por puxar-me ainda mais para baixo, porque são tristes e/ou profundos e/ou confusos - e/ou pessoais, o que não interessa a ninguém -, fruto de uma hiper-auto-consciência que me esgota. Eu não sou genuíno porque sou exageradamente auto-consciente e não tenho o dom de me exprimir de acordo com as normas, e, isso, causa imensas confusões na minha vida, das quais eu tenho medo.

     Com tudo isto e muito mais, eu vivo em temor crónico, na esperança de que o vento volte a meu favor ainda, sopre forte, e de que haja algo, ainda, de tudo o que acreditei, que prevaleça e faça justiça por mim ou em mim.

As condições humanas - A presença particular de cada um de nós

Nós nascemos. Mas nem todos que nascem crescem, nem todos são saudáveis, nem todos são perfeitos. Nós todos temos a nossa condição humana. Eu quase diria que muito do nosso ser é determinado no nascimento. Mas, quando somos jovens, podemos alterar significativamente a aparência do que realmente somos. À medida que envelhecemos podemos mudar cada vez menos. Eu acho que apesar das mudanças que ocorrem na nossa juventude, a essência de quem somos (fisicamente e mentalmente), e o que nos tornaremos, já está definida, em grande parte, quando nascemos, comigo sinto que foi assim. O que acontece é que, na nossa juventude, e à medida que o tempo passa e nos conhecemos melhor a nós próprios, segundo a influência do ambiente, temos tendência a reforçar ou não, aquilo para o que o nosso organismo - como um todo física e psiquicamente - nos impele. Se reforçamos o que somos à nascença e continuamente, então, como exemplos: 1) Iremos reforçar o introversão e certas características que vêm acompanhadas com o introversão com que nascemos, como seja a fraca capacidade de sociabilização, o ser-se reservado, e a privilegiar as actividades solitárias; ou, 2) Iremos reforçar a extroversão e certas características que vêm acompanhadas com essa característica nata, o que fará com que, se o ambiente for propício, se venha a ser um indivíduo muito sociável, a privilegiar as actividades em conjunto, a gostar imensamente de ser o centro das atenções, virado para o mundo externo a si próprio. Se não reforçamos continuamente o que somos à nascença, segundo a influência do ambiente que nos rodeia, então estaremos entre os exemplos opostos e extremos que dei em cima (alínea 1 e alínea 2), havendo uma conduta de normalidade, uma média para a qual todo o ser humano tende. Com isto põe-se a questão de qual dos dois factores é mais preponderante nas vidas de cada ser: -a) O determinismo -seremos aqueles para o qual estamos ou fomos concebidos e agiremos de acordo como o nosso organismo (física e psiquicamente) em toda a nossa vida, andemos por onde andemos, fizermos o que fizermos; -b) Ou, o ambiente que rodeia o ser, à medida que se desenvolve, é a principal causa daquilo que somos ao longo das nossas vidas? -. Diria que não podemos excluir a acção conjunta de cada um destes dois factores abrangentes daquilo que somos, e isto devia ser consensual, se não o é ainda. Entre o extremos das características ‘1) ‘ e ‘2) ‘, há uma enorme maioria de seres normais que abrangem uma grande parte de todo esse espectro de extremos. A maneira como actuam os dois factores generalistas (‘a’ determinismo – genes e o organismo enquanto sistema, no geral - e ‘b’ ambiente) na vida de cada pessoa é enormemente complexa. Eu sinto em mim essa complexidade. Sei, em mim, que nasci, reforcei e solidifiquei (psíquica e fisicamente) muitas características das quais não me consegui livrar, embora eu conseguisse ver que elas não eram e não estão a ser adequadas para a minha sobrevivência. Contudo, eu sobrevivo ainda. Mas a questão central, que se subdivide, que me faz escrever estas linhas anteriores é: Poderemos ou não tornar-nos muito diferentes daquilo para que estávamos programados organicamente à nascença pelos genes e por todo o nosso ser (?), de uma maneira geral, já formado embrionariamente, restando-nos apenas crescer (?) e adaptar-nos ao ambiente segundo o que somos? Tenho pensado sobre isso. Pessoalmente, segundo o que conheço de mim (e conheço-me bem), sei que eu não mudaria muito se o rumo da minha vida tivesse sido outro, ou seja, se tivesse seguido outro caminho sei que eu basicamente seria o mesmo sempre. E sei também que me poderia ter perdido na incompreensão daquilo que eu sou, na ignorância das minhas raízes, os meus pais, com o qual eu me identifico e comparo aquilo que eu sinto como sendo muito idêntico, e ainda sei que muita gente se perde por não perceber o porquê de ser como são, não conhecerem as suas ascendências. É claro que muitos prosperam na vida apesar de não conhecerem a sua história, ou talvez por isso, mas nunca é regra geral, como digo sempre. Sinto que, em mim, o factor genético pesou mais e tem pesado na minha vida, no meu ser enquanto organismo, e tem, de um modo geral condicionando a minha acção. Sei que há casos de pessoas que dão a volta ‘por cima’ às características e à força retractiva, que para muitos é brutal, e que se transfiguram nesta vida, passando de ‘patinhos feios’ a figuras esbeltas, e/ou de seres que parecem tolos e/ou com pouca inteligência e que triunfam e se tornam sabedores de como vencer, logo vencedores, de desafortunados a afortunados. E quando penso nestes casos penso também, novamente, que tenho a noção clara de que não há leis gerais que guiem o psiquismo da humanidade em interacção com o ambiente, como que se pudesse generalizar que o facto de alguns seres mudarem na vida imensamente, o seja possível fazer qualquer um. A globalidade dos dois factores (orgânico-genéticos - determinantes - e ambiente que rodeia o individuo) que refiro e que agem na vida de cada ser em particular é muito própria de cada indivíduo no tempo cultural em que se encontra. Assim, também as características psico-fisiológicas de um homem, que seriam positivas em determinado ambiente cultural de determinada época e determinado contexto podem ser desadaptativas noutros ambientes culturais e/ou noutro tempo. Vivemos num mundo diferente do de outrora, existe uma consciência cultural globalizada, devido aos meios de comunicação existentes, sendo que a cultura que rege os homens, hoje em dia, sobretudo nos países democráticos e de livre expressão, que contem o princípio da tolerância em relação aos seres que são diferentes e/ou que se exprimem de maneira diferente, o que os protege imenso, ou seja: aos deficientes, aos doentes, aos que são mais feios, aos que tem uma opinião e uma mentalidade diferente do normal, e digo mesmo também, daqueles que têm uma opção sexual diferente, aos criminosos que agem muitas vezes devido a condições, particularmente, humanas que existem neles, entre outros exemplos. Conheço na História, assim como na vida hodierna, pelo que leio e pelo que vejo, e sinto que isso é altamente verosímil, as atrocidades que o homem comete para com o outro, e bastantes vezes na melhor das intenções como seja, curar ou ajudar uma pessoa, mas, estando a fazer mal. Sinto a dor de quem foi e é, através dos tempos, marginalizado, maltratado e muitas vezes pagando com a sua vida uma existência vã, esperando eternamente por algo que os salve, por um Deus. Sinto a injustiça que sentem aqueles que não conseguem defender-se, que são dados como loucos, doentes, pacientes malogrados de um Frankenstein, ou ainda, daqueles que são diferentes e pesa sobre eles a dor de uma vida sem brilho que não conseguem compreender e ter uma hipótese de ter uma continuidade existencial aceitável. A vida neste mundo é complexa, mais bem dito ainda, é estranha, muito estranha. Talvez mesmo cada ser tenha a sua condição humana, que não cabe a mais ninguém compreender.

Eu não estaria aqui a falar hoje – se calhar para ninguém -, se não fosse esta profunda transformação na maneira de comunicar, a internet, que me permite, sendo eu quem sou – um ser que teve que seguir o caminho da introspecção e do isolamento, que não consegue sociabilizar de uma maneira normal devido aos factores genético-ambientais – estar ligado ao mundo social e em contacto com as pessoas, e isso libertou-me. Libertou-me por exemplo da depressão, do isolamento a que estaria votado e mesmo de uma loucura incontrolável se estivesse em casa sem o feedback do mundo, alem de que me fez conhecer muito melhor a mim próprio e ao mundo que me rodeia. Sei e sinto que a maneira de se relacionar das pessoas se está a alterar com a internet, com as redes sociais a ser um modo de socializar das pessoas. Claro que para muitas pessoas é mais um meio de estar na vida e de se relacionar, a internet, mas para muitas outras é o único meio onde conseguem ser livres e sentirem-se normais. Acho mesmo que o mundo com a característica individualista se demarcou ainda mais com o aparecimento da internet, a que todos querem ter acesso. A mudança de mentalidades está a ser enorme. Continuo a achar que a solidão é combatida, apesar do distanciamento que as pessoas criam entre elas, mais agarradas à tecnologia, privilegiando-a e detrimento do contacto social ‘in loco’. Mas é certo que é difícil avaliar o efeito de uma influência como é a internet, nas pessoas. Cada pessoa é diferente, cada caso é um caso, cada pessoa é única, e tem a sua própria maneira de sentir, a sua própria maneira de interpretar o mundo. Cada pessoa é uma condição humana.

 

 

 

In & Out – Culpado ou assistente do que se passa

Passo muito do meu tempo aqui, agarrado à tecnologia, que me fascina, me ocupa, me desenvolve (o conhecimento sobretudo) e me ajuda a passar o tempo. Por vezes temo não ter tempo para ela, e cada vez me surge mais frequentemente esse sentimento, porque o meu tempo urge. Temo perder o fascínio pela tecnologia e pela vida, mas tenho esperança de que tudo o que me envolve espaço – temporalmente, - o universo (de que eu tanto falo) e o meu tempo (passado, presente e futuro) me traga uma vida realizada, livre de mágoas, ressentimentos e frustrações, à medida que os meus anos de vida passam, além de que desejo que o meu sistema (o meu organismo) me dê uma vida justa , metabolicamente falando, livre de complicações de maior. Todas as variáveis que me envolvem são enormes e eu não consigo controlá-las, mas consigo observar de uma maneira especial a maneira como elas funcionam, de uma maneira mais superior, por causa de / graças a , toda a dificuldade que tem aparecido na minha vida, graças aquilo que sou desde sempre e que procuro a resposta para o porque de eu ser quem sou. É verdade que gosto de tecnologia, é verdade que gosto de ser livre, mas a ideia de que tudo tem um custo no tempo e no espaço prende-me (acorrenta-me), porque eu não queria destruir cegamente (como muitos e muitos) aquilo que deve ser para usufruto de quem merece – ou seja, de todo o ser nascido, que devia ser livre até ao ponto em que o outro é livre e que tem direito a ter um mundo que o acolha e do qual possa desfrutar de acordo com aquilo que sente e que é, e para que tudo isto fosse perfeito, que tivesse uma mentalidade elevada para poder respeitar todos os seres e que pudesse receber esse feedback de respeito [mas tudo isto é um sonho da perfeição, do ser imperfeito que eu sou, angustiosamente, e do qual me quero livrar] - tendo um ambiente sustentável no tempo futuro, livre de excessos, injustiças e desigualdades. Mas sei, cada vez mais, que não me cabe a mim mudar o rumo que o mundo com tais imensas variáveis toma, e no entanto ainda não me conformo, não estou satisfeito se não conseguir sentir-me bem comigo próprio e com o mundo que me envolve. Não é o facto de eu abdicar e mudar umas poucas de mentes, ou devido à minha fraca presença que o mundo vai mudar para melhor, além de que nada me garante que o meu ideal esteja certo como já alguma vez acreditei piamente. Questiono-me, constantemente, o porquê do mundo me ser algo tão estranhamente belo (?), em certas horas, para ser um verdadeiro pesadelo noutras. Pergunto-me o porquê de haver tanta gente que joga (?), em primeiro lugar o jogo da economia, do dinheiro e do valor monetário, que somos obrigados a jogar desde sabe-se lá quando começou a fazer parte da cultura, tão abrangente hoje em dia, do homem. Acho que o jogo faz parte do homem, e jogos que uns gostam de jogar podem não gostar outros. Sei que há muita gente que não imagina o que está por detrás destas palavras que eu digo, nem mesmo eu (!) imagino o alcance que elas têm… Não ligam e desprezam ou ignoram, simplesmente, mas o facto de as ter encontrado já ditaram um novo rumo nas suas vidas, nem que seja da forma mais elementar, mais simples. Influenciamos e somos influenciados, e eu só tenho de aceitar isso, por mais que me custe. Eu não estou no centro do mundo, e isso tem que me entrar bem dentro da minha cabeça, eu sou apenas algo que existe, para não mais existir, um dia, por mais que isso me faça sentir inconformado, me intrigue também a minha existência, muitas vezes injustiçada neste mundo. Vivo um isolamento espiritual imenso, atingindo visões que não percebo o porque de elas virem até mim, compreensões de coisas das quais não encontro quem, mais alguém, as sinta do mesmo modo, ou idêntico, e que as queira comentar. Vivo um jogo singular que não serve neste mundo económico - e mesmo que não falando na economia falamos nas emoções, das quais as minhas não são idênticas as dos outros seres. Tudo à minha volta é estranho, muitas vezes, ou então sou eu que provoco essa estranheza: ambas as situações acontecem, sei-o claramente; Vejo situações das quais o ambiente me pede intervenção, não podendo-lhe dar essa intervenção criando um bloqueio em que tudo à minha volta começa a ser muito estranho e anormal; vejo situações em que o ambiente me diz que estou como observador e sei que há algo de anormal a passar mesmo que eu não consiga entender o quê, e que não está a acontecer por minha culpa. Mas uma coisa é certa, dependentemente ou independentemente de mim: 'assim acontece'.

Lugares dos meus olhos

Trago os lugares por onde passo nos meus olhos. Solitariamente imagino a vida de tanta gente que me envolve, imagino o que sou e em que posição estou em relação aqueles que vejo, e aquilo que consigo sentir deles. Imagino aquilo que sou e aquilo que provoco à minha volta, na minha presença. Imagino e nunca sei se é verdade ou não, e chego a perguntar-me se aquilo a que chamam realidade não será apenas a imaginação de algumas pessoas, ou muitas pessoas, ou mesmo imaginação da humanidade. Pergunto-me até que ponto somos iguais e até que ponto somos diferentes, o que nos une ou o que nos afasta, pergunto-me, em última análise, o que me une e o que me diferencia do resto dos seres humanos. Vejo tanta gente em movimento, gente que viaja, neste mundo que devora petróleo. Vejo gente que viaja mas que não sente a terra que os envolve. Ou será que sentem e eu é que não vejo isso? Conheço o toque, o cheiro da terra e a emoção do sentimento térreo, mas muitas vezes sinto que me escapa o sentimento humano, a emoção da ligação humana, como se fosse um extra-terrestre. Vejo gente que me parece viver em liberdade e despreocupação com a influência que tem no mundo e com o futuro, e mesmo gente que quer permanecer ignorante, como se fosse para não ter de assumir possíveis culpas sobre o que se irá passar. Por vezes parece que eu estou acima de tanto sentimento humano que me envolve, que consigo ver mais além. Por vezes parece que estou abaixo de todos, que toda a força e conhecimento e saber que possuo não significam nada, e assim, por vezes, penso: ‘De que me vale todo o conhecimento e o saber sem a perpetuação daquilo que somos?’. Por vezes apetece-me desistir das pessoas, mas por vezes sinto a falta da proximidade humana, e sei que se desisto delas estou a desistir de mim, e isso não posso permitir, por mim próprio. Talvez me reste compreender mesmo que nunca o consiga dizer. E eu compreendo ou pelo menos tento compreender as atitudes do comportamento humano e muitas vezes posso tolerá-las, mas muitas vezes não consigo porque estou envolvido nelas e, aí, age mais o instinto do que a consciência de compreensão que possuo, as regras da existência são outras e como que estão constantemente a mudar. Tenho medo de me magoar, de que me magoem, pois sou susceptível a muitas e determinadas atitudes, que se calhar sou eu que exagero no meu íntimo. Apesar de não ter crescido no meio das pessoas, pois nasci solitário, com uma inteligência e uma vida muito peculiar, não deixei nem deixo de viver e sentir tudo o que a vida – a vida de hoje em dia - tem para dar a uma pessoa. Do meu ponto de vista, desde o tempo e o espaço que são os meus, eu vi e vejo passar imensa gente defronte de meus olhos, gente que não se apercebeu o que era viver (e não quero dizer com isto que eu sou quem sabe o que é viver, mas gostaria com isto de dizer que estou no pedestal mais acima do que os outros, nunca sabendo se é verdade). Consegui compreender (atingi uma meta) e continuo a conseguir compreender, o passado, o meu passado, os comportamentos e as atitudes dos seres, e muita coisa mais que certamente não conseguiria transmitir por mais que vivesse. Se a complexidade reside em mim, ela não é mais do que reflexo da complexidade daquilo que me envolve e consigo sentir. Consigo ouvir vozes -não devia, mas consigo – em tons depreciativos que menosprezam a vida dos outros, decerto desprezam a deles também, digo eu. Consigo ouvir, mas na seara humana não consigo distinguir o trigo do joio a maior parte das vezes, só de olhar para ele. Mas consigo perceber o que o que são, trigo ou joio, se eles se manifestarem para mim. E dou comigo a não saber se hei-de agradecer por este mundo (magnífico, sem dúvida) que me envolve e do qual pude e posso ainda participar, ou se blasfeme contra toda a agitação e destruição - que nenhum homem pode conter por mais Universo que traga nos olhos - e comprometimento de um futuro, futuro incerto, que talvez não seja mais do que o antecipar a altíssima velocidade o fim do tempo do homem, com o desejo de sentir tudo numa só vida.

Pareço ser pessimista, e talvez seja isso. Bem queria libertar-me disso, mas aquilo que vejo não me permite. Contudo, sei que é-me permitido viver porque a vida já me manifestou isso, a vida deixa-me, e tenho que continuar a lutar contra tudo, tenho que marcar a minha presença, enquanto existir. E depois? Que sentido? Sempre aquelas questões. ‘I need a friend, I need a friend , not standing here on my own’ Black, ‘Wonderful Life’. O quanto precisamos de um amigo, de amor. O quanto procuramos. O quanto esta vida é mais feita de desencontros do que encontros. Para mim é, e para muitos mais também. O quanto é necessário a envolvência, mas o que é isso? Apesar de saber que existe, onde anda ela? Abomino a cultura, essa que me abomina, essa que me prende e me tolhe os meus movimentos, que me limitou. Não queria muito, só queria que me deixassem ser eu, aquele que eu queria tangivelmente ser, e que não me deixaram. E quem foi? Foram, quer dizer foi, quer dizer… essa indefinição das causas, essa falta de objectividade do que foi, tudo isso há-de passar. Quando te dizem que estás a errar, e te demonstram claramente o erro e tu persistes, tu tens um carácter que nunca mudarás, por isso tudo o que de bom tiveste e fizeste se torna azedo, toda a vida fingida é desperdiçada pela descoberta da careca, por se ter posto a nu os teus erros. A humildade é bonita e fica bem em qualquer lugar, a humanidade, o sentimento de proximidade com as pessoas, só isso pode perdoar e pôr as pessoas acima da terra que nos envolve, e só assim poderemos pôr o nosso bem-estar acima da terra, do ambiente que nos envolve.

Sentir como sinto (1)

    Sento-me nesta cadeira que tão bem conheço. Pelo menos conheço a maneira de eu me sentir sentado nela. Não que eu esteja sempre a olhar, ou que eu tenha olhado para ela profundamente e que conheça mentalmente da maneira como ela é feita, o pormenor do seu encosto tão bem conseguido e dos seus braços de encosto tão bem desenhados. Realmente, quem a desenhou é artista. Mas eu não, não sou observador, limito-me a sentir e a analisar o que sinto, faz já muito tempo, limito-me, no caso da minha cadeira, a senti-la, simplesmente, e a sentir (analisar) a maneira como ela me faz sentir. Entrei por esta vereda já faz muito tempo, talvez tocado por um dom desde que nasci, para compreender quem sou, o que sou e o que fui, porque, talvez, me tenha apercebido que o caminho ia ser difícil, o ambiente da minha vida  que eu ‘vislumbrei’ à nascença (antes mesmo de ver visualmente e antes de ter consciência) era negativo, como se houvesse um condicionamento enorme daquilo que eu queria ser, algo que, sei hoje, punha em causa a minha existência. Sei agora que eu era (já não quero dizer ‘sou’ - e isso é óptimo) uma crise existencial antes mesmo de eu sentir essa crise racionalmente e compreender abstractamente esse meu passado que fui reconstruindo na minha mente. Tento pôr em palavras aquilo que sinto, mas sempre me foi extremamente difícil fazer isso. Sempre fui muito fechado e muito pouco expressivo. Desenvolvi, à medida que o tempo passou, a característica de me tornar um espectador atento e observador (sendo neutro no contexto, tal como um espectador televisivo), à medida que me ia tornando cada vez mais fechado, reforçando essa característica da qual nunca mais consegui sair e dificilmente sairei completamente porque tornou-se numa característica de mim. Desenvolvi de tal modo essa característica em que me tornei, que me sinto péssimo no centro das atenções e não consigo facilmente fazer parte activa do contexto social em que me encontro, sou completamente o oposto (ou pelo menos já fui muito mais) de um exibicionista, ou uma pessoa extrovertida, que gosta de se manifestar na presença dos outros. Se ser exibicionista não é uma característica apropriada, sei, por experiência própria, que ser o oposto (que é aquilo que eu sou ou que sinto que sou) também é uma característica desvantajosa, ainda para mais no mundo de hoje, que até se ‘pede mais’ para se ser extrovertido e um ser social. E para compreender ou descobrir aquilo (aquela ou aquelas coisas) que não me deixam ser uma pessoa normal no que diz respeito ao relacionamento social eu tenho trilhado mentalmente caminhos e mais caminhos, tenho pensado e repensado sem parar, tenho comparado ideias sem fim, tenho comparado incomensuráveis situações da minha vida, tenho inventado e reinventado situações (para descobrir uma linha de verdade), tenho tentado ir ao cerne dos problemas, na ânsia de ainda ir a tempo de remediar tanto estrago que tem havido na minha vida devido à falta de um equilíbrio que me falta, uma normalidade na vida. Como pessimista que tendo a ser, vejo difícil essa ‘normalidade’ vir a concretizar-se, vejo muitas variáveis contra as quais tenho que lutar  e contra as quais sigo lutando, para chegar a bom porto. Mas no meio disto tudo há a verdade da minha vida, há situações e ideais que são os motivadores de tudo isto, que é a minha vida. Contudo, vejo que no meio desta tempestade nocturna, há um farol que me guia. Sinto que faça o que fizer, aconteça o que acontecer, há um sentido, há forças que me hão-de suster, há uma maneira única de dar sentido ao mundo, e essa maneira é o meu espírito, é  aquele que eu sou, o Eu com o qual me identifico e que mais ninguém pode valorizar do que eu. E vejo-me como um ser que luta, na verdadeira acepção da palavra, talvez de modos misteriosos e não visíveis, a maior parte das vezes. Mas é esse mistério daquilo que eu sou que me faz ser forte, porque a aparência é muitas vezes enganadora.

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