Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Orgia de sentimentos. Significação das palavras. Abstracção. Emoções. Fascínio. Confusão. Para mim é errado que emoções provocam sentimentos, mas pelo contrário, tudo o que sentimos é o que manifestamos, e sim, sentimentos provocam emoções, tendo definição de ‘emoção’ a manifestação de algo, do sentimento, a expressão do sentimento. Define a wikipédia: << Emoção, é uma experiência subjectiva, associada ao temperamento, personalidade e motivação. A palavra em inglês 'emotion' deriva do francês ‘émouvoir’. Que é baseada do latim emovere, onde o 'e- (variante de ex-) significa 'fora' e movere significa 'movimento'. O termo relacionado motivação é assim derivado de movere .>>. Torna-se óbvio que a palavra e o conceito de emoção significa algo dinâmico e ‘virado’ para fora’, portanto a ‘expressão do sentimento’ é dinâmica, é a emoção, que lhe dá vida, que a exprime. O que eu sinto faz parte daquele que eu sou e rege os meus passos em direcção a um objectivo, tornando tudo à volta diferente pela acção que nós provocamos à nossa volta pelo que sentimos, manifestado em emoções, e pelo que provoca em nós o exterior. A nossa própria acção é uma manifestação daquilo que sentimos, mesmo quando o resultado dessa acção seja um simples movimento, simples acção ou uma simples obra, e não propriamente artística ou algo complexo. O que sentimos faz parte de nós, temos sentimentos que vêm de mesmo antes de termos nascido. Quando choramos, quando isso não é fingido – e quando somos crianças temos menos capacidade em fingir - isso é uma manifestação de um sentimento, a dor, que pode ser física ou psicológica. Os sentimentos vão- se tornado complexos à medida que o tempo passa, e a nossa capacidade de expressão desses sentimentos, as emoções, diminuem, tendo assim mais autocontrolo sobre nós mesmos, cada vez mais, mas também somos cada vez mais incapazes de nos exprimirmos com naturalidade e vigor físico. Mas o mais importante para mim é viver ainda o que tenho para viver, atirar com tudo o que de negativo se passa na minha vida e viver mais um pouco, desfrutar do breve despertar, do amanhecer e do entardecer, das transições do tempo, de tudo, com prazer. Quero usufruir um pouco mais deste meu viver, sentir e compreender, estudar e saber, mais, desinteressadamente, e com isso continuar contra a corrente que por vezes quer ser avassaladora que me quer destruir. Medo, talvez não tenha de morrer, apenas da injustiça, que no entanto não mudará o mundo como eu desejava, porque nenhum homem manda no todo, e tenho muito medo de não ser amado ou mal-amado, o que ainda pode ser pior. Para que querem viver as pessoas se não ligam aos sentimentos genuínos da sabedoria?! Da interessante possibilidade do conhecimento?! Querem ser salvas… e no entanto não pedem à sua vida, não dão pequenos passos para que essa vida mude, para melhor, simplesmente não fazem por isso. Pessoalmente, procurei a minha felicidade no outro, na outra pessoa, e não a encontro por tantas razões que eu sei e que sinto mas que não consigo traduzir em emoções. Não tendo encontrado essa felicidade devo desistir e ficar apático e triste para todo o sempre por isso? Não, não quero. Mas sei que não controlo tudo, talvez uma ínfima parte da minha vida apenas, e que o imprevisível pode vir ao meu encontro. Sei que outros me podem fazer sentir mal e sem vontade de continuar como já fizeram, sei que a vida pode virar-se contra nós quando menos esperamos, retirando-nos quase totalmente o ar, pondo-nos como zumbis.
É óbvio que sinto um certo rancor invejoso por aqueles que nasceram equilibrados, com felicidade neles, com sorte e com dinheiro suficiente, com poder conhecer as coisas sem que isso os perturbe a tal modo que tenham medo de trilhar seu caminho, equilibradamente bonitos, equilibrados nas suas acções, amados da maneira que são, que seguem um caminho calmo. É que eu nem consigo deixar aproximar ninguém de mim. Sinto isso, uma inveja de não ter seguido o mesmo tipo de caminho… de ser tão frágil e me quererem forte e que me manifeste como forte, quase que caindo no abismo, quase que sendo devorado pelos leões. Sinto inveja de não ter uma família muito mais inteligente ainda, mais tolerante, e no entanto a amo porque necessito dela, porque posso precisar de ajuda, porque podem precisar de mim, enfim, para que me possa compreender cada vez mais e quem sabe achar saídas. Acho mesmo, muito seriamente, que o meu nascimento foi um paradoxo, o qual eu gostaria de resolver se possível, mas pelo menos compreendê-lo ao máximo. Porque vem até mim o que é negativo e não sou eu timoneiro do barco do meu destino? Porque se riem de mim quando aprecio o nascer e o pôr-do-sol, quando transmito um sentimento a alguém ou por alguém? Sou mesmo sem jeito (…), um inábil emocionalmente. Eu só queria falar, para alguém que me entendesse, que fizesse o meu tipo, mas o meu tipo é tão estranho, compreendo, sei disso. Não nascemos para viver para todo o sempre como seres físicos, mas quem sabe se viverá o nosso espírito. Quero ser capaz de… me sentir bem, eu mereço sentir-me bem, e só posso falar por mim…não posso defender o desconhecido, não posso confiar no incerto, mas mesmo quando estou só e perdido, e a vida me dá uma demonstração que mereço continuar, isso é belo. Mas sou homem, e terei um fim mesmo assim. Mas enquanto eu me recordar de quem eu fui, eu ainda serei eu. Não sei ainda porque não me querem, porque sigo eu este caminho, neste mundo comum. Mas não quero ir, quero ter muito mais caminho a trilhar, e ver cair quem me queria ver cair, injustamente, isso seria justiça in loco.
No outro dia tive uma sensação de pertença. Senti que me encontrava integrado de alguma maneira numa sociedade, tinha amigos e as pessoas aceitavam-me como eu sou. Imaginei logo que pertencia a uma irmandade. Senti que estava naturalmente em sintonia com o mundo, pois dali, naquela irmandade, via e sentia o conhecimento que me rodeava, além de que os meus amigos vinham ter comigo. Então, imagino, com base na minha realidade, uma ‘Irmandade da noite’, pessoas que vivem mais pela noite ou a qualquer hora do dia, neste mundo confuso em que só alguns têm o direito de viver a vida, a dos seus sonhos, calmamente desfrutando do tempo e do espaço que constitui este mundo; os outros estão condenados a ser carne para canhão, porque não aprenderam ou a vida não lhes permite viver a vida em prazer, a usufruir uma humanidade equilibrada e agradável; porque neste mundo de dinheiro tem que haver o pobre para sustentar, com o seu trabalho, o rico, o pobre é o que produz, porque necessita; porque no mundo há e tem de haver a ambivalência e os opostos, logo, se há rico tem que haver pobre, se há a sorte é porque existe, também, o azar; além disso são 80 por cento a trabalhar para sustentar esses 20 por cento de luxo e bem-estar máximo; e não é que eu quisesse ser como um deles, no fundo, mas também quero ser feliz; preocupo-me pela injustiça, pelo desequilíbrio, pela ambição destruidora de muita gente sem escrúpulos, tal como tantos outros se preocupam. [Nem sei eu porque defendo quem não conheço, talvez porque tenha medo de ser um deles, dos pobres, ou porque eu estou do lado daqueles que têm dificuldades]. Alguns não dormem para que o mundo, efectivamente não pare, o mundo económico que irá destruir esta terra se a terra não destruir este mundo económico, de ganância, de ignorância e alheamento. Quer-me parecer que as pessoas da vida de sonho já não sabem de onde vêm as coisas (o certo é que elas vêm), nem o que são a natureza ou os animais, e vivem num mundo virtualmente intenso e intensamente humanizado; além disso, elas têm todos os direitos do mundo; ajudam quem mais necessita, porque elas nunca sequer se questionaram acerca da possibilidade de elas serem as pessoas necessitadas ou virem a ser um dia, os outros é que são e serão sempre os necessitados. [Mas duvido constantemente de mim mesmo e do que digo, se terá sentido aquilo que sinto e digo, pois não posso ser enganado pelos meus sentimentos - que podem ser falsos e inverosímeis e incoerentes por motivos exteriores a mim -, mas, como já disse muita vez, há o bem e o mal, acredito nisso, e eu procuro que a minha mente seja clarividente a ver isso.] Agora, senti que digo isto como se eu fosse alguém isento nisto que digo, quando na verdade faço parte da globalidade deste mundo humano, portanto, estou nalguma parte desse mundo, não num mundo à parte a ver isto, mas estou ao vivo neste mundo, no meio da acção; ao mesmo tempo vejo com olhos de falcão, isto é, apesar de estar em terra é como se eu tivesse a visão de falcão, a visão daquele que anda lá bem no alto. Constantemente eu me imaginava e imagino, na minha juventude, a concretizar os meus sonhos, a viver a vida de acordo com o que eu sentia e sinto, mas claro que isso foi, é e será (muito provavelmente) uma utopia, quando na verdade existem os outros, dos quais eu não estou em sintonia, que não me permitem exercer a minha liberdade. Não estou em sintonia nem mesmo com a minha família, da qual já estive inteiramente integrado, nesse clã que as forças de um mundo infinitamente complexo e em mutação fazem mudar e alterar (e que aceito que assim seja, no fundo), forças que fazem mudar a relação entre as pessoas, mesmo entre as conhecidas e entre as que um dia foram fortemente íntimas connosco.
Assim, prossigo o meu pensamento tentando compreender porque estou só neste meu ser e ninguém pode compreender a totalidade do meu ser a não ser eu, ou, talvez, nem eu consiga entender a totalidade do meu ser (…), daquele que sou e que vou descobrindo a cada dia que passa; as alegrias e tristezas por que passei pertencem-me e a mais ninguém, e é no meu passado que encontro as respostas ao porque de todas elas. A cada dia que passa enterro-me mais no que sou: penso que sou uma pessoa boa e com grandes ideais e boas intenções, mas que não encontro a minha paz neste mundo, o meu bem-estar, a irmandade verdadeira, a comunhão com os seres que me são semelhantes, como se eu fosse um ser marginal ou um desencontrado crónico enquanto humano e apenas me reste a ebulição do ser, a metamorfose da alma, o hino de uma vida que vale tanto como tantas outras e que passará muito provavelmente despercebida, ou então, que só um destino, quiçá pós-morte, eleve a alma desta minha existência aos confins do infinito, do Universo, e talvez encontre a ‘Irmandade universal’ dos seres que já algum dia passaram por esta terra e já encontraram a sua paz e o equilíbrio eterno entre eles e a sua passada existência.
A noite deve ser estranha para a grande maioria das pessoas, pelo menos as que vivem de dia e não ousam ultrapassar a sua rotina e/ou ir à procura de novas descobertas e sensações. A noite entranha um conceito de libertação das pessoas que vivem na normalidade do dia-a-dia, de dia. O homem conquistou, com a electricidade, a noite e o mundo nunca mais dormiu. Mas nem por falta de luz os antigos deixavam de circular na noite, como homens que percorriam com instinto a noite a fim de alcançar outros lugares. O mundo diurno pode ser um verdadeiro pesadelo para certas pessoas, como contem um ritmo normal, estimulativo e inquestionável para muitas outras. Não tenho dúvida, pelo que sei que a noite altera as pessoas. Há que ultrapassar os limites, há que procurar novas sensações, e o homem é o ser da descoberta e da interpretação do que existe, a noite tinha que ser conquistada e interpretada, e não quero defender com isto o homem e a sua atitude. Mas para alguns surge como uma conquista inevitável, a fim de resguardarem as suas vidas. Resguardarem as suas vidas da palhaçada que ela (a vida) pode ser, que brinca connosco a seu bel-prazer, com indiferença. Pois é, alguns entram na noite para a palhaçada, outros entram nela para tentarem sair dela, pelo menos compreender a palhaçada que é esta vida. Dizem que defendem o ambiente, e o ambiente degrada-se mais a cada dia que passa, com mais ou menos entraves, com mais ou menos adiamento dessa destruição; dizem que ajudam os pobres, mas quem se ajudam são as elites entre elas, o poder pelo poder; dizem que regulam a direcção da nações e tentam levá-las a bom porto, mas os estragos são enormes, em nome das elites e do progresso - que não se compreende (o que progresso é) -, criam-se necessidades que poucos podem usufruir, abarcam-se e destroem-se culturas e seres, humanos ou não, exploram-se seres e a terra, e o acaso dá-se nas incomensuráveis variáveis que agem no mundo com enorme conjunto de seres que se auto-atropelam e caminham em busca de um bem-estar utópico. E com o que disse abarquei o caso da política também. E eu?! Qual a minha situação no meio disto tudo? Eu não sou mais que uma pessoa, um entre tantos, e eu não posso fazer mais que pouca coisa senão viver a minha vida, dizer o que acho, deitar achas para a fogueira da vida, participar nesse cozinhar utilizando esta caldeira efervescente, utilizar o meios que tenho, usar o conhecimento e a minha capacidade física (as minhas pernas, os meus braços, os meus olhos, etcetera) e caminhar, olhando, ouvindo, dizendo (mostrando) quem sou eu, vivendo neste tempo, até não mais poder. Talvez todos os tempos tenham sido de excessos e complexidade que só uma entidade superiora regula, e parece-me que sem uma vontade particular e própria. Mas eu quero viver feliz e de acordo com o que sinto, ou então eu estou a sentir tudo errado, mas seja como for eu sinto e tenho direito a sentir e a viver, porque também respeito o que os outros sentem e respeito o seu espaço. Fugir ao dia quando se sente encurralado, embrenhar-se na noite, nem sempre dá certo, ao não ser, talvez, que o destino assim o queira. Na noite quebram-se as regras do dia, e eu agradeço a existência da noite porque as regras e normas do dia seriam extremamente difíceis de suportar, para mim, sem poder reflectir na noite sobre elas, reencontrar-me com o ser que sou, um ser desrespeitado – regras e normas, essas, que seguem, muita gente, cegamente, e que para mim são difíceis de seguir, porque não me foi permitido, além de que eu amo o sentido supremo da vida e não cultura abjectas (abjectas porque não contêm esse sentido supremo) que se imiscuiem com esse ‘sentido supremo’, tentando reinar a cultura do caos e da opressão dolorosa e injusta -. Não gostaria de incitar à revolta pela revolta, não, apenas queria que as pessoas compreendessem no seu íntimo, sendo analfabetas ou letradas, vivendo em Portugal ou noutra parte do mundo, nas mais diversas culturas, compreendessem, repito, esse sentido supremo da vida como eu senti e sinto [acredito piamente que era possível isso, se cada um dos seres fosse bafejado por esse sentido à nascença como eu fui], sentido supremo esse que aborda a cordialidade e a existência de uma inteligência superior dos homens, uma sintonia com a vida e os restantes seres, um conhecimento que transcende e respeita os seres e o ambiente, um luta de braços dados pelo bem-estar e o equilíbrio e não uma luta de uns contra outros, alimentando a discórdia, a desconfiança que haverá enquanto houver seres a nascer sem amor e sem conhecimento, a perpetuar a incompreensão natural que o conhecimento devia colmatar nas pessoas, porque nada é com elas, quando tudo é com cada um. Na noite tenho visto tudo isto e isso que digo e sinto, através da minha vida. Talvez eu pertença a uma Irmandade da noite na busca pelo dia em que eu possa caminhar em paz, no dia, momento esse que nunca mais chega mas que está cada vez mais presente.
Vivo constantemente nesta insolência sentimental. Sei e compreendo cada vez mais o que sinto, pois, afinal, sou um espectador de mim próprio, um ser incomensuravelmente consciente, que tem evoluído no conhecimento intra e extra-sensorial, mas mais no conhecimento intra-sensorial. Numa tentativa de não perder o auto-controlo, sobretudo do pensamento, tornei-me num auto-controlador extremo de todos os meus pensamentos, como se o meu ego, que é o polícia do meu alter-ego (do meu inconsciente), se tornasse cheio de poder e retirasse forças à manifestação natural daquilo que é a minha natureza, tal como é a natureza humana (no sentido colectivo), de um modo geral. Esse policiamento tem um significado que é o de que pretendo seguir as leis com o máximo de rigor possível, muito possivelmente, e está de acordo com o sentimento que me acompanhou no meu desenvolvimento, que era o de seguir o objectivo de atingir a perfeição, agir correctamente em todos os aspectos da minha vida, de seguir o que é correcto e agir de acordo com o que eu sei que é a perfeição. No mínimo, de seguir com os princípios da perfeição. Sei que este sentimento que me guiou, vem de um pai exigente que, na verdade – agora sei-o e sei mais ainda - não é perfeito, longe disso. Chamaria – o - sem me ferir, por isso, a mim ou a ele ou qualquer susceptibilidade que exista nalguma parte mencionada ou exterior às mencionadas -, de um pequeno ditadorzinho familiar, um ditador medíocre. Sei agora que as minhas expectativas foram goradas, porque a raiz daquilo que me levava a tentar ser o que eu não era, era ela mesma (essa raiz) imperfeita, além de que tenho a convicção de que nenhum homem pode ser perfeito, porque nenhum homem é senhor de si e do seu destino. Senão fosse assim, até poderíamos, um dia, atingir a perfeição [a perfeição geral máxima], que para mim é a manutenção do equilíbrio. A beleza do equilíbrio aliada à energia do poder fazer, está de acordo com o inventar coisas equilibradas e descobrir a maravilha do porquê do equilíbrio das coisas, e a perfeição mora aí. E com tudo isto, ou contudo, eu sou o que sou hoje.
Surgem-me, neste contexto, grandes perguntas acerca do porquê de o homem não poder ser perfeito e ter uma auto-consciência de si mesmo, o que é magnífico. Não descuro a parte de que para algo ser o que é houve muitas tentativas e erros da natureza para algo surgir equilibradamente, extrapolando, quero dizer: para um homem surgir com as características que tem, já muitos homens o antecederam e evoluíram. Há muito mais coisas e acontecimentos repetidos do que imaginamos, há muitos mais sacrifícios de seres do que imaginamos para toda esta evolução. Parece-me que a evolução, quando há equilíbrio, é algo que deve ser incontestável e é imparável, até ao fim dos tempos. Sei que defendo, com isto, Darwin, mas com tudo o que tenho lido e experimentado na peneira dos meus sentimentos, é verosímil que assim seja.
Há no Universo um conceito intrínseco em tudo o que se queira observar: a dualidade. Acredito nesse conceito, assim como acredito na existência do oposto para que haja equilíbrio. E fascina-me a capacidade que os homens têm, nós temos, pelo menos alguns, de, apesar de estarmos no pólo oposto, no pólo negativo, saber-mos que há um pólo positivo, de conseguirmos observar o outro lado de onde estamos. Isso é fonte de maravilhas e ascendência nesta vida ou, pelo contrário, pode ser e significar um caminho mais rápido para o desterro, para a angústia: assim é a auto-consciência. Diria mesmo que, se um homem quiser, se tiver essa forte vontade, ele consegue observar as coisas de múltiplos e incomensuráveis ângulos. Podemos imaginarmo-nos a nós próprios do exterior, fazer uma ideia do que somos exteriormente, mesmo sem nos olharmos com outros olhos, e, no entanto, também nos podemos olhar com outros olhos, mesmo com olhos de quem nunca nos olhou. Penso mais, que, muito provavelmente, poderemos falar em pluralidade.
Observo o meu interior constantemente. Analiso os meus sentimentos, trago as recordações da minha vida ao de cima, envolvo-me nos meus sentimentos originais na tentativa de compreender. Questiono-me acerca daquilo que sinto e que imagino, encontro respostas viáveis que se tendem a tornar fiáveis, pelo menos para mim, na minha interpretação do mundo. Sou um espectador atento daquilo que sou eu, redescobrindo-me a cada dia que passa, mais e mais. Estou enormemente grato por ter a possibilidade de viver e ter chegado até aqui. Grato por tido a possibilidade de evoluir, de sentir prazeres na vida, de ultrapassar objectivos que pareciam inultrapassáveis, grato pelo sofrimento sentido (também) como forma de evolução e maior compreensão das coisas. Estou grato e não sei ao quê ou a quem agradecer… Sinto uma imensidão em mim, sim, um vazio social imenso mas também uma grandeza Universal que me acompanha no meu interior. Mas temo que estes sentimentos de plenitude e grandiosidade me façam ter azar, e que ele um dia se queira vir a apoderar de mim, novamente, algo que ninguém está livre neste jogo de sorte e de azar que é a vida. E tenho tanta sorte… poder estar ainda aqui… saber muito mais do que o que sabia antes… sentir que tenho um lugar no mundo… Pois, tenho oportunidade de estar integrado ou a integrar-me novamente. Pergunto-me constantemente até quando esta sorte vai durar (?), [até acho estranho depois da escuridão que se abateu sobre mim], este entendimento calmo da vida, que desejava sentir para sempre. Decerto a vida fala comigo uma linguagem que eu vou entendendo cada vez mais. Até poderíamos chamar Deus, porque alguém o colou a mim, esse conceito de uma entidade superiora, da qual não me consigo livrar, repito-o até à exaustão. Neste momento e cada vez mais sinto que sou um ser único [quer seja isso bom ou não] e que essa vida, esse Deus, fala comigo uma linguagem particular; sinto que não me cabe a mim gerir os destinos do mundo, porque sou pequeno de mais para isso, ínfimo, prescindível. Se ao menos eu puder salvar a minha vida… Não, não sou egoísta [repito-o], sou empático, solidário, e se eu tivesse força e energia suficiente eu levantaria o mundo com os meus braços. Se eu fosse o dono da perfeição o Deus de todos os homens, eu os tornaria perfeitos e a agir da forma correcta. Mas não, sou apenas espectador, quase na totalidade, da minha acção neste mundo. A maioria das coisas para as quais eu estava pré-destinado neste mundo a fazer e a mudar, talvez eu já tenha feito, isto é, se tinha alguma coisa a mudar neste mundo ou no meu mundo interior talvez já o tenha feito. Sei que não adianta questionar-me acerca do porquê das coisas ser como são e não de outro modo, elas simplesmente são como são, simplesmente acontecem, e acontecem uma vez apenas, tal como se nasce e morre uma vez apenas. O caminho é em frente, não há o regresso. Doa o que doer [em mim], a [minha] vida é assim. Sou e tentarei ser um espectador atento de mim, e futuramente dos outros (desejo isso).
Nós nascemos. Mas nem todos que nascem crescem, nem todos são saudáveis, nem todos são perfeitos. Nós todos temos a nossa condição humana. Eu quase diria que muito do nosso ser é determinado no nascimento. Mas, quando somos jovens, podemos alterar significativamente a aparência do que realmente somos. À medida que envelhecemos podemos mudar cada vez menos. Eu acho que apesar das mudanças que ocorrem na nossa juventude, a essência de quem somos (fisicamente e mentalmente), e o que nos tornaremos, já está definida, em grande parte, quando nascemos, comigo sinto que foi assim. O que acontece é que, na nossa juventude, e à medida que o tempo passa e nos conhecemos melhor a nós próprios, segundo a influência do ambiente, temos tendência a reforçar ou não, aquilo para o que o nosso organismo - como um todo física e psiquicamente - nos impele. Se reforçamos o que somos à nascença e continuamente, então, como exemplos: 1) Iremos reforçar o introversão e certas características que vêm acompanhadas com o introversão com que nascemos, como seja a fraca capacidade de sociabilização, o ser-se reservado, e a privilegiar as actividades solitárias; ou, 2) Iremos reforçar a extroversão e certas características que vêm acompanhadas com essa característica nata, o que fará com que, se o ambiente for propício, se venha a ser um indivíduo muito sociável, a privilegiar as actividades em conjunto, a gostar imensamente de ser o centro das atenções, virado para o mundo externo a si próprio. Se não reforçamos continuamente o que somos à nascença, segundo a influência do ambiente que nos rodeia, então estaremos entre os exemplos opostos e extremos que dei em cima (alínea 1 e alínea 2), havendo uma conduta de normalidade, uma média para a qual todo o ser humano tende. Com isto põe-se a questão de qual dos dois factores é mais preponderante nas vidas de cada ser: -a) O determinismo -seremos aqueles para o qual estamos ou fomos concebidos e agiremos de acordo como o nosso organismo (física e psiquicamente) em toda a nossa vida, andemos por onde andemos, fizermos o que fizermos; -b) Ou, o ambiente que rodeia o ser, à medida que se desenvolve, é a principal causa daquilo que somos ao longo das nossas vidas? -. Diria que não podemos excluir a acção conjunta de cada um destes dois factores abrangentes daquilo que somos, e isto devia ser consensual, se não o é ainda. Entre o extremos das características ‘1) ‘ e ‘2) ‘, há uma enorme maioria de seres normais que abrangem uma grande parte de todo esse espectro de extremos. A maneira como actuam os dois factores generalistas (‘a’ determinismo – genes e o organismo enquanto sistema, no geral - e ‘b’ ambiente) na vida de cada pessoa é enormemente complexa. Eu sinto em mim essa complexidade. Sei, em mim, que nasci, reforcei e solidifiquei (psíquica e fisicamente) muitas características das quais não me consegui livrar, embora eu conseguisse ver que elas não eram e não estão a ser adequadas para a minha sobrevivência. Contudo, eu sobrevivo ainda. Mas a questão central, que se subdivide, que me faz escrever estas linhas anteriores é: Poderemos ou não tornar-nos muito diferentes daquilo para que estávamos programados organicamente à nascença pelos genes e por todo o nosso ser (?), de uma maneira geral, já formado embrionariamente, restando-nos apenas crescer (?) e adaptar-nos ao ambiente segundo o que somos? Tenho pensado sobre isso. Pessoalmente, segundo o que conheço de mim (e conheço-me bem), sei que eu não mudaria muito se o rumo da minha vida tivesse sido outro, ou seja, se tivesse seguido outro caminho sei que eu basicamente seria o mesmo sempre. E sei também que me poderia ter perdido na incompreensão daquilo que eu sou, na ignorância das minhas raízes, os meus pais, com o qual eu me identifico e comparo aquilo que eu sinto como sendo muito idêntico, e ainda sei que muita gente se perde por não perceber o porquê de ser como são, não conhecerem as suas ascendências. É claro que muitos prosperam na vida apesar de não conhecerem a sua história, ou talvez por isso, mas nunca é regra geral, como digo sempre. Sinto que, em mim, o factor genético pesou mais e tem pesado na minha vida, no meu ser enquanto organismo, e tem, de um modo geral condicionando a minha acção. Sei que há casos de pessoas que dão a volta ‘por cima’ às características e à força retractiva, que para muitos é brutal, e que se transfiguram nesta vida, passando de ‘patinhos feios’ a figuras esbeltas, e/ou de seres que parecem tolos e/ou com pouca inteligência e que triunfam e se tornam sabedores de como vencer, logo vencedores, de desafortunados a afortunados. E quando penso nestes casos penso também, novamente, que tenho a noção clara de que não há leis gerais que guiem o psiquismo da humanidade em interacção com o ambiente, como que se pudesse generalizar que o facto de alguns seres mudarem na vida imensamente, o seja possível fazer qualquer um. A globalidade dos dois factores (orgânico-genéticos - determinantes - e ambiente que rodeia o individuo) que refiro e que agem na vida de cada ser em particular é muito própria de cada indivíduo no tempo cultural em que se encontra. Assim, também as características psico-fisiológicas de um homem, que seriam positivas em determinado ambiente cultural de determinada época e determinado contexto podem ser desadaptativas noutros ambientes culturais e/ou noutro tempo. Vivemos num mundo diferente do de outrora, existe uma consciência cultural globalizada, devido aos meios de comunicação existentes, sendo que a cultura que rege os homens, hoje em dia, sobretudo nos países democráticos e de livre expressão, que contem o princípio da tolerânciaem relação aos seres que são diferentes e/ou que se exprimem de maneira diferente, o que os protege imenso, ou seja: aos deficientes, aos doentes, aos que são mais feios, aos que tem uma opinião e uma mentalidade diferente do normal, e digo mesmo também, daqueles que têm uma opção sexual diferente, aos criminosos que agem muitas vezes devido a condições, particularmente, humanas que existem neles, entre outros exemplos. Conheço na História, assim como na vida hodierna, pelo que leio e pelo que vejo, e sinto que isso é altamente verosímil, as atrocidades que o homem comete para com o outro, e bastantes vezes na melhor das intenções como seja, curar ou ajudar uma pessoa, mas, estando a fazer mal. Sinto a dor de quem foi e é, através dos tempos, marginalizado, maltratado e muitas vezes pagando com a sua vida uma existência vã, esperando eternamente por algo que os salve, por um Deus. Sinto a injustiça que sentem aqueles que não conseguem defender-se, que são dados como loucos, doentes, pacientes malogrados de um Frankenstein, ou ainda, daqueles que são diferentes e pesa sobre eles a dor de uma vida sem brilho que não conseguem compreender e ter uma hipótese de ter uma continuidade existencial aceitável. A vida neste mundo é complexa, mais bem dito ainda, é estranha, muito estranha. Talvez mesmo cada ser tenha a sua condição humana, que não cabe a mais ninguém compreender.
Eu não estaria aqui a falar hoje – se calhar para ninguém -, se não fosse esta profunda transformação na maneira de comunicar, a internet, que me permite, sendo eu quem sou – um ser que teve que seguir o caminho da introspecção e do isolamento, que não consegue sociabilizar de uma maneira normal devido aos factores genético-ambientais – estar ligado ao mundo social e em contacto com as pessoas, e isso libertou-me. Libertou-me por exemplo da depressão, do isolamento a que estaria votado e mesmo de uma loucura incontrolável se estivesse em casa sem o feedback do mundo, alem de que me fez conhecer muito melhor a mim próprio e ao mundo que me rodeia. Sei e sinto que a maneira de se relacionar das pessoas se está a alterar com a internet, com as redes sociais a ser um modo de socializar das pessoas. Claro que para muitas pessoas é mais um meio de estar na vida e de se relacionar, a internet, mas para muitas outras é o único meio onde conseguem ser livres e sentirem-se normais. Acho mesmo que o mundo com a característica individualista se demarcou ainda mais com o aparecimento da internet, a que todos querem ter acesso. A mudança de mentalidades está a ser enorme. Continuo a achar que a solidão é combatida, apesar do distanciamento que as pessoas criam entre elas, mais agarradas à tecnologia, privilegiando-a e detrimento do contacto social ‘in loco’. Mas é certo que é difícil avaliar o efeito de uma influência como é a internet, nas pessoas. Cada pessoa é diferente, cada caso é um caso, cada pessoa é única, e tem a sua própria maneira de sentir, a sua própria maneira de interpretar o mundo. Cada pessoa é uma condição humana.
Timelapse: num lapso de tempo, as principais memórias da nossa vida percorrem a nossa mente consciente a um ritmo e de uma maneira incontrolável [antevejo a morte, a sua proximidade, quando tudo começa a acelerar, quando tudo reage para que sobrevivamos, para que tenhamos mais tempo, porque a nossa hora ainda não chegou, digo eu. E acredito que os momentos finais são dados num timelapse da memória]. Cada pessoa, acredito que cada ser também, tem uma maneira diferente de sentir a passagem do tempo. 10 Anos de uma vida, por exemplo, no tempo geral, são 10 anos para todos, mas a mudança interna e externa que se deu em cada pessoa, mudanças intrínsecas e extrínsecas que se dão individualmente jamais são iguais. Uma pessoa nasce e passados 10 anos já está muito diferente, em condições normais está com a pujança da vida em todo o seu ser. Em contrapartida, um velhote, com 70 anos, por exemplo, está com uma evolução mínima e cada vez menor da sua vida e cada vez mais travado e com as forças em decadência. Em 10 anos houve pessoas que percorreram milhares de quilómetros, assim como houve pessoas que pouco saíram à volta do seu lugarejo ou mesmo de suas casas. Em 10 anos houve pessoas que poucas vezes estiveram duas ou mais vezes no mesmo sitio, enquanto que outras não saíram do mesmo sitio. Nós mesmos não sentimos o tempo a passar sempre da mesma maneira. Sei que muito do que estou a dizer são banalidades para muita gente, mas garanto-vos que a profundidade do que sinto ao dizer as aparentes banalidades não tem medida nem justificação, nem sei se terá alguma razão de ser. A minha presença nesta vida não é indiferente a ninguém, os meus timelapse (‘s) são constantes, a minha memória anda constantemente estimulada, mas sem método para gerir essas memórias e emoções. O que eu sinto é real, e tenho pena se não puder utilizar todo este manancial de memória e emoções na minha vida em meu proveito próprio, de modo a dar um sentido à minha vida, uma paz que eu tanto ambiciono e necessito. A vida pode ser subtil, e penso que o é, para quem é subtil. A vida fala-nos da mesma maneira que nós falamos para ela, se falamos alegremente ela nos responde do mesmo modo, assim se lhe comunicamos de uma maneira triste assim ela nos responde do mesmo modo. Mas a vida também é metafórica, sarcástica, irónica, ambígua. Ela faz-nos estar e/ou sentir como se estivéssemos no topo do mundo, cheios de energia e sorte, assim como que por absurdo e incompreensível que seja ou pareça ela nos despreza e nos faz sentir a mais insignificantes das coisas, joga connosco como se fossemos insignificantes e indiferentes. E frequentemente sinto que tudo parte de nós, mas não sempre, como se houvesse uma osmose entre o que somos e o Universo que nos envolve.
Timelapse, um lapso de tempo, pequeno espaço de tempo em relação ao já vivido, onde toda a nossa essência é revelada na memória de uma forma consciente, quando sonhamos - quer a dormir, quer quando sonhamos acordados [eu sonho acordado, em timelapse constante] -, quer seja revelada quando a morte nos rodeia de forma intensa e todo o nosso ser osmótico reage em relação a esse Universo que nos envolve e que nos quer reduzir ao nirvana. Um mundo de imagens percorre a minha mente, timelapse, imagens que vi em filmes, imagens com som, tacto, cheiro e sabor, a intensidade da minha vida captada através dos meus olhos que diz ‘sim’ a essa osmose entre mim e o que me envolve; imagens que sonhei, histórias que invento ou factuais e que acabam por alterar a minha realidade. Existe timelapse quando tenho medo de perder as estribeiras da vida e que tudo me caia em cima. Em timelapse construímos (eu construo) a nossa história, que mais não é a essência do que algum dia fomos, retratada de uma maneira hiper-acelerada, um resumo imagético, em que tentamos perdurar no tempo. Entrei numa dimensão onde o timelapse é uma constante, onde por cada passo que dou e cada olhar que tenho, com sensações à mistura, me levam a ter imagens em catadupa do que fui e do que serei, um aceleramento da vida, para que possa remediar os factos do meu passado, tentando dar significados agradáveis aos maus e/ou incompreensíveis momentos vividos, e para que me possa antecipar ao futuro e remediar e/ou alterar percursos menos bons.
Eu não sou grande, jamais me senti grande, sinto-me constantemente a mais ínfima das coisas, o mais pequeno e insignificante dos seres, mas sou um eterno revoltado por ser assim, um insatisfeito por não me ser permitido o desejo da mínima normalidade, por não ser aceite como sou - e isso eu sinto-o, isso de não ser aceite, porque só facto de me dizerem que me aceitam sei que não querem dizer a verdade do que no fundo sentem; e todo esse sentimento de não ser aceite como sou se agudizou com o desdém e o desprezo original, do meu nascimento; sei que este tipo de sentimentos se deve ao sempre me ter achado uma pessoa especial sem compreender o que significa isso [concerteza que vai daí], o facto de ter ideias erróneas do que se é ser especial. Acreditei piamente que havia algo muito superior a mim e a tudo quanto eu conheço que me tinha a mim por especial se agisse segundo os preceitos do bem; e eu agi segundo o que achava serem esses preceitos, cresci na plenitude dos meus sentidos convicto de que não estava a infringir esse ideal que me daria ‘direito’ a um amor supremo desse ser imenso que me protegia e que me vangloriaria, me escolheria para ter uma vida de paz, de amor, de verdade. Acreditei que isso era possível (!), acreditei piamente (!), mas o mundo desmoronou perante o sofrimento de eu ser um ser-vivo que vive à mercê dos elementos da terra e do Universo, e que não passo de mais um ser indiferente, que quando não dança ao sabor dos elementos, do vento, quando não acompanha a corrente do rio é ou pode vir a ser brutalmente atropelado por toda a vida que um dia já esteve do meu lado, por aquilo que um dia parece ter-me defendido e ajudado a crescer e a ser homem. E é simplesmente como é, para que complicamos, para que complico? Não sei… Um timelapse constante invade meu espírito, as minhas imagens tornam-se cada vez mais intrusivas no meu olhar, não me deixando avaliar o que vem de fora dos meus olhos, dando o meu espírito primazia às imagens que estão cá dentro da minha mente. Luzes explosivas invadem meu espírito, tentando ser o inverso daquilo que sou, ou seja, em lugar de ser pequeno e indiferente nesta vida, esse timelapse, essas imagens são luzes imensas que me invadem a alma e me fazem sentir no reino do céu, sentindo-me grande quando em sintonia com o mundo que me envolve, fazem-me sentir parte daquele ou daquilo que esteve sempre comigo, aquilo que eu sou, de onde vim e para onde vou, onde sempre pertenci.
‘Mundo’ e ‘Universo’, duas de algumas das palavras que tanto utilizo, repetindo-as vezes sem conta, na escrita e mais ainda na minha mente, querendo desatar-me, querendo voar livre. Repetimos na nossa mente palavras para as fixarmos. A mente desde que nascemos vai tornando-se mais complexa, através da repetição das palavras, dos conceitos e das experiências mentais que fazemos, com o fim de automatizar as respostas do nosso ser ao ambiente que nos rodeia. Eu, em mim, na minha mente, repito as experiências que tive, repito, em particular, certas experiências marcantes, boas ou más, da minha vida. Repito as experiências que tive no meu pensamento de modo a tentar compreende-las, para apaziguar a dor das más ou para retirar prazer das boas. Repito os sons, oiço as músicas da minha vida, vezes e vezes até lhes perder o conto para que lhes possa retirar o suco da compreensão dos sentimentos, sentimentos que algum dia tive. Eu quero perceber porque o mundo me quer dominar e porque eu não quero ser dominado. A música que gosto domina-me e dominou-me no passado, mas eu repito-a, oiço-a vezes e vezes sem conta para compreender o meu passado, para compreender como sinto. Acho que o que sinto, esta ambição de compreender é a ambição que move todo o homem de uma maneira geral, que quer ultrapassar a sua ignorância de qualquer modo, quer compreender o mundo e descobri-lo. Mas eu, mais que virado para o exterior e para a mobilidade e descoberta física e externa a mim própria e ao meu ser, virei-me para o meu interior que se estava a dissolver neste mundo sem eu compreender um pouco o porquê disso. E, então, fiz vibrar o meu ser, e continuo a fazê-lo, incomensuravelmente, fazendo-o repetir aquilo que só se dá uma vez na vida, que talvez aconteça a, precisamente, tudo o que se passa. O que acontece, acontece somente uma vez, todas as outras vezes que acontece algo nunca é igual ao que já foi, apenas idêntico, se tanto. Se por um lado é bom que algo não se repita continuamente no tempo, que as coisas mudem de modo a que, por exemplo, as dores que nos perseguem possam ser desvanecidas, é-nos incompreensível e inaceitável que as coisas boas, prazenteiras e perfeitas não perdurem por mais tempo. Mas aí entra a fantástica, bela, mas também por vezes temerosa, capacidade da nossa mente de captar a essência dos momentos e ser capaz de reproduzi-los novamente, cá em cima de nós mesmos, no nosso cérebro. Digo ‘temerosa’, porque o poder da mente é tal que quando lhe perdemos o controlo nos podemos magoar facilmente e acabamos a viver incongruentemente com a estabilidade da vida. A bela capacidade da recordação, de relembrar aquela boa recordação, aqueles cheiros, aqueles toques, com todos os nossos sentidos fisiológicos activos e a captar o mundo externo a nós próprios e o nosso cérebro a registá-los. Mas, mais ainda, surge mais tarde, na nossa vida, algo que nunca pensávamos sentir, a memória a trabalhar e cruzar os dados que registámos, a encontrar-mos o que nos parecia perdido no tempo, aquilo que a nossa mente registou, a música que ouvimos e nos marcou o sentimento, que pensávamos esquecido e que afinal estava apenas adormecido e à espera de ser ressuscitado, o sonho de que um dia fomos jovens com um mundo enorme e escancarado, para nós, pela frente. E eu, afinal, quando vejo isso a acontecer, a recordação a dar-se, e a sentir dessa maneira, sinto-me um privilegiado, porque tive muito mais do que algum dia pensava ter, porque tive muito mais do que muitos tiveram, porque realmente é um privilégio chegar a este ponto e recordar. Se recordar (e pensar) é viver, então eu vivo, por demais.
A repetição das palavras, assim como a repetição das acções vão solidificando e vão tomando lugar na cultura dos homens, só assim conseguem subsistir, na repetição. A repetição do pensamento, na nossa mente vai criando vibrações que se tornam cada vez mais intensas. Os pensamentos, os acontecimentos da nossa vida, tornam-se cada vez mais distantes da nossa memória evocativa se não os continuarmos a fazer vibrar na nossa mente. Por isso, quanto mais evocarmos certos acontecimentos e estados de alma, mais esses pensamentos nos acompanharão e se reflectirão nas nossas acções futuras. Na minha vida poderia ter acontecido muita coisa, são inúmeros os caminhos que podemos enveredar, que eu poderia ter enveredado. Analiso o meu passado, no meu presente, e vejo que trilhava um caminho que não desejava. Vejo os imensos caminhos que poderia ter seguido, mas que nenhum seria mais correcto que o que tomei, até porque é somente este que conheço, os outros ficam na imaginação do que poderiam ter sido. Vejo e sinto o que a minha vida estava a ser à luz do caminho que segui, e até me sinto um sortudo por ter sido este o caminho que segui. O meu caminho era de perdição e desnorteamento, tão cheio de azares e mal-entendidos que me ultrapassavam e que agora consigo, senão mais, mas pelo menos, vislumbrar e compreender, apesar de ainda não os ter ultrapassado. Eu já pensava que nunca mais me encontraria, o pesadelo de não dominar a minha vida era enorme, e tudo o que me aconteceu marcou-me indelevelmente, e logo o meu pensamento, que por sua vez privilegiou a dor que me possuía, sem conseguir ver uma saída para a normalidade. Depositava esperança em sonhos, em algo que não sabia o que era, fiz uso de todo o manancial de conhecimento e experiência que possuía - que me parecia tão pouco -para tentar sair do lodo. E o mundo à minha volta demoveu-se e arranjou um espacinho para mim, com todo o meu esforço, agora sinto-me recompensado, e rico de experiência mental, e física q.b (quanto baste). O tempo esvaísse muito rapidamente, foge, e eu queria aproveitá-lo da melhor maneira. Queria aproveitá-lo em conhecimento, e em produzir algo com significado. E não é que por vezes dou comigo a pensar: ‘afinal é verdade o que dizem, a vida faz-se caminhando, a vida vive-se ao viver a cada minuto e, para mim, é a meta a que nos propomos que dá sentido a tudo isso, a vontade de lá chegar, mas mesmo que não se chegue lá, o caminho percorrido foi pleno de sentido, tenha sido ele como foi.’ A repetição das ideias e dos acontecimentos tornam-nos inolvidáveis. A imagem que temos do nosso passado, as fotografias e a TV, os sons - a música que nos marcou -, a escrita, fazem-nos reviver e ver com outros olhos o que se passou, e ao vermos com outros olhos então conseguimos perceber o certo e o errado, possivelmente, e melhorar o nosso caminho e quiçá compreender o quão incerto são os nossos passos, que podem tanto ser cheios de significado como de nenhum, dependendo da vibração que damos às coisas, enquanto vivermos. Temos um ser finito que se desintegrará um dia, tudo faz sentido para nós enquanto existimos, para os outros ainda poderá continuar a fazê-lo depois. Mas numa escala maior, a terra é finita, e numa escala imensamente maior o universo é finito, nada é inamovível, e tudo tem um princípio e um fim, e graça a nós que sendo tão pequenos nesta imensidão que nos envolve conseguimos atingir o cosmos mais profundo, através da união dos nossos sentidos humanos, da união que produz a vibração que dá sentido à vida. Quando os seres acreditam e se unem, quando o que acreditam é nobre, genuíno, perfeito, então, mesmo que o caminho desses seres seja o do fim, eles atingirão o nirvana e não o vazio, o nirvana do prazer, de fazer vibrar o belo e dar sentido ao vazio que poderia haver. Daí a minha busca constante pelo ‘grande vibrar’, pelo vibrar, que eu penso ser, genuíno, que me leve ao sentido da vida. E visto eu ser tão pequeno, e fazer parte de uma imensidão, eu só posso tentar ser grande em mim mesmo, no meu interior. Demovo-me, desde já, da primazia do outro sobre mim, eu não posso ajudar alguém quando não me posso ajudar a mim próprio, e sei do que estou a falar. E eu preciso de ajuda mais do que ninguém, preciso do meu equilíbrio, neste vibrar humano. Preciso de me unir ao vibrar em que acredito, e não sou um salvador do mundo nem das pessoas, de ninguém, sou um ser que quer viver, só isso. Não sofro por ninguém que não mereça, e faço da minha alegria a alegria dos outros e vice-versa. Necessito do vibrar da sorte em mim, porque vi mais do que ninguém o que é o azar mental e psicológico, do que as pessoas não são capazes de fazer por alguém que suplica vida, falando com isso na morte, falando lugubremente, tentado dizer o positivo de tudo que se diz de negativo.
Artista. Um artista do sentir. Assim queria ser eu, e sendo isso eu queria sentir-me bem. Um artista é dos melhores. Um artista tem um dom de fazer bem aquilo a que se dispõe fazer, aquilo que o atrai mais que nada na vida. Um artista quer produzir serviço, arte, melhorando dia a dia aquilo que faz. Ser um artista não é ser bom em tudo, mas sim nalguma coisa. Eu sou um artista do sentir. Eu proponho-me a ser e atingir aquilo que quero ser, mas eu ando em desequilíbrio. Talvez os artistas sejam desequilibrados, forçam seus sentidos à volta daquilo que mais os atrai, que mais gostam de fazer, eles são capazes de sacrificar o seu organismo em nome daquilo em que acreditam que tem sentido na vida deles. Eles, através da sua arte tentam comunicar com os outros, na esperança de ser ouvidos e ser correspondidos. Ninguém é ninguém sem o contacto com os outros. Quantos artistas passam por nós, e nem os vemos, simplesmente não ligamos, porque não os conhecemos. Quanto artista é desprezado ou simplesmente ignorado, porque a sua arte não é valorizada, ou não compreendida ou não conhecida. Um artista faz obra, mas para ter sucesso o seu trabalho ele tem que dar a cara pela sua obra. Mas um artista também pode ter medo de ser desprezado, mal entendido, e mandado para a forca por mal entendido da sua obra, e por isso prefere ser anónimo. Um artista sacrifica-se, e faz de tudo para que possa exercer a sua arte e para que tenha valor. Um artista produz algo, que tenta melhorar continuamente. Para um artista do sentir não existem palavras suficientes, longe disso, para descrever tudo o que vai na sua alma. Ele sente intensamente a vida, a sua vida, que é aquela com que sempre vai prosseguir. Um artista do sentir que seja solitário vê cada vez mais, sentindo cada vez mais, andando sempre em ebulição. Um artista do sentir solitário e fechado sobre si mesmo e sobre o que sente faz vibrar as ondas do Universo, tudo se torna vivo e intenso na vida dele. Um artista dos sentir nesses termos: solitário e fechado sobre si mesmo, sem poder transmitir o que sente porque não há palavras, porque simplesmente sente, porque é uma vibração do universo que o rodeia, faz vibrar muito mais ainda este mundo mesmo que isso não seja notório. Um artista vai deixar de ser criança para se centrar sobre o que gosta, um artista esquece tudo menos daquilo em que ele é profissional. Um artista do sentir é profissional em sentir. Um artista do sentir ultrapassou as limitações de não compreender e está num grau ascendente de compreensão enquanto o seu organismo suportar tudo aquilo que nele ocorre. Um artista do sentir produz uma nova arte quando, segundo uma maneira de sentir, segundo uma maneira como compreendeu o mundo ele o pinta de uma maneira que mais ninguém conseguiu. Ele acrescentou uma pintura, triste ou alegre ou indiferente a este trajecto finito do Universo. E ele vê o que mais ninguém vê, e ele é influente. Um artista não é o que é por acaso, ele é o que é segundo o que já existiu, segundo o que foi dito e feito. Um artista sabe como são as coisas que são do seu âmbito imediatamente, sem ter que pensar muito para as compreender, elas já lhes estão entranhadas no sangue. Um artista do sentir sofre porque vê as coisas do sentir sem ter de pensar muito, são do seu âmbito sentimental, aquilo para o qual sempre viveu. Mas, e as emoções? As emoções, para mim são, aquilo que se manifesta segundo o que sentimos. Um artista do sentir, fechado sobre si mesmo, tem dificuldade em gerir as emoções, em transmitir o que sente, o seu interior é uma amálgama jamais compreendida, no entanto ele é o mestre dos sentimentos. Mas ele está sempre pronto para voar, um artista do sentir voa sobre o seu interior, que é igual ao que é feito o Universo, ele extravasa-se em si mesmo, o seu interior é tudo.
Prossigo esta viagem com tantos baixos e altos. Prossigo na certeza que sou único, e defendo que mais ninguém é como nós, porque até mesmo a nossa imagem que se reflecte no espelho mais perfeito é distorcida. Defendo a unicidade do ser e a incapacidade de alguém compreender alguém, neste caso, em particular, a mim, como se houvesse uma lei que definisse que os homens são todos iguais só porque a ciência ‘disse’ ou alguém descobriu que existem leis no Universo e que as encontramos em tudo o que existe e até no comportamento e na psique humana, tentando definir doenças, que por um indivíduo ter um determinado problema logo já há muitos que o tem, como se o comportamento e a psique fossem algo tão definíveis quanto a água que se evapora sempre que atinge os 100 graus célsius. Prossigo com a minha crise existencial, assumo. Pergunto-me que interessará a minha crise existencial aos outros? Quase de certeza que nada, a minha óptica cada vez me prova mais isso, porque acredito que muito pouco se pode fazer pelos outros por mais boa vontade e inteligência e capacidade que haja para tentar fazer, nem mesmo quem nos possa ter amado mais. Somos organismos independentes uns dos outros, não há interligação entre nós, e o que nos liga são apenas as emoções que cada um sente à sua maneira, apenas com uma base idêntica, o organismo, que por sua vez é único na maneira como funciona e reage ao ambiente e aos seres que o rodeiam. No organismo mais básico não existirão as emoções, e ele vive para se reproduzir, tentando perpetuar a existência da sua espécie, se for capaz, e para executar ou não funções na terra, úteis ou não, para o ambiente que o rodeia, é apenas um peão no jogo da vida. O homem como ser mais evoluído tenta controlar tudo de modo que a vida jogue a seu favor. O homem moderno e inteligente tem a ambição de que possa fazer girar o mundo à sua volta, ele tenta perceber o jogo da vida que existe e percebendo-o no seu íntimo, ele quer sobreviver ao mais alto nível, e se puder ser o dono do mundo, tentando ser de tal modo importante que tudo o que ele diga ou faça o proteja e o torne imortalizado na história do homem, enquanto o homem existir ou, em primeira instância, enquanto a terra existir. O homem inteligente e moderno tem trunfos para jogar esse jogo, ele joga o jogo da economia, dos números e do dinheiro (e logo da influência), a que as pessoas dão valor e o que faz mover os homens. Pelo menos é assim que funciona o interior de certos homens, provavelmente haverá uma legião deles assim, que por sua vez é uma elite que se junta para formarem uma força e subjugar a força e a sabedoria humana a seu favor. Não será assim? Pois não será, talvez o que eu diga não se baseie em leis científicas, nem seja um dogma, mas eu sinto de uma determinada maneira e tento trazer para fora aquilo que em mim vai, da maneira coerente ou não. O abismo puxa-me para baixo, nesta existência estranha, acredito que nesta existência peculiar, como alguns que serão tantos por ai e que estão lado a lado connosco por vezes, ao contrário da folia e da alegria e boa disposição que é facilmente demonstrável, este tipo de sentimentos e introspecção torna a relação entre as pessoas difíceis, como se a introspecção e/ou a tristeza fossem algo a desprezar, ainda para mais neste mundo de máscaras e de pretensa alegria constante, porque isso já não é um estado de alma que se possa assumir, porque é uma doença tremendamente contagiante. Pois é, a inteligência também pode ser uma doença, e a doença tem que se negar. A capacidade de ver mais além, e ver o que os outros não vêem ou não querem ver (desviando o olhar) ofusca-nos o que está perto. A relação entre os homens será para mim eternamente estranha, e pergunto-me constantemente porque tem de ser assim a vida, porque funciona da maneira que eu descobri (pelo menos da perspectivas que eu a vejo) e porque não sou eu uma pessoa normal simplesmente, fazendo questionar seriamente a existência de Deus mas não sabendo como explicar os acontecimentos na minha vida a que posso chamar sorte, em vez de Deus a quem eu atribuía os acontecimentos da minha vida. Se houve seres que seguiram os preceitos de Deus, eu fiz parte dessa legião, e não consigo conceber a existência de Deus, cada vez mais segundo o que vejo e sinto, segundo os parâmetros que me deram e que existem sobre Ele. Neste momento para mim, a vida, no geral, surge-me claramente como caótica e simplesmente casual, a existência é um acaso, e a vontade de Deus parece-me não Reinar. A natureza, simplesmente, é indiferente aos seres e aos acontecimentos, não tem vontade própria, caso contrário haveria justiça, e isso nestes momentos que correm na minha vida surge claramente no que observo do que me envolve e de tudo o que se passa na minha vida. Tudo o que existe foi invenção do homem, é simplesmente cultura, e, repito, reina, como sempre reinaram as leis caóticas da vida, os acontecimentos sem uma vontade própria de algo superior. Existe sim, uma vontade própria do meu organismo, do meu ser, uma maneira própria de eu ver a vida que me envolve e de eu tentar dirigir a minha vida segundo a minha vontade que é volátil. Claro que subsistem as questões acerca de onde reside a mente, qual a interacção que se dá entre os seres e como se processa essa interacção. E isso continua a fascinar e a criar mitos e Deuses para explicar essa interacção entre os seres. O conceito de Deus tende a diluir-se, e torna-se descabido na minha existência o conceito que me inculcaram segundo as normas cristãs, é o descrédito completo, na minha mente, da todas as crenças que me fizeram acreditar e que me levam ao abismo (segundo o que me parece que acontece na minha vida, porque não são coerentes com o que se passa na minha vida e na minha existência) com o que eu sinto, em ultima análise.
Tudo o que eu era e sentia quando nasci já existia antes de mim, eu sou uma repetição de algo que já existia, mas no decorrer da minha vida eu acrescentei coisas à minha existência: eu criei ideias, eu inventei alegrias e medos, o meu organismo modificou-se. Eu sou o que sou, e serei assim até ao fim dos meus dias por mais que isso me custe. Eu tenho a pele branca e sou sensível à exposição solar, não é expondo-me imensamente ao sol que eu ficarei preto ou que abalará esta característica, se bem que eu um dia acreditava que poderia superar isso. Eu enrubesço facilmente, todas a minhas emoções me vêm à flor da pele facilmente como se eu fosse transparente, como se a minhas emoções se manifestassem sem as poder esconder, e não mudarei muito em mim ate ao final dos meus dias [Mas como eu gostaria de que não pudessem ver as minhas emoções, de como sou fraco, como eu gostaria de mudar (!) de poder gerir todas as emoções que sinto. E como eu sinto o desprezo e o desdém, a marginalização e a superioridade, que não deveriam ter, dessa gente que nunca sequer pensou um pouquinho no que significava a vida deles, quanto mais a dos outros]. Como eu pensava que podia ser forte, e afinal me tornei na mais débil das pessoas, com a capacidade inesgotável até ao fim dos meus dias de ver todo o sofrimento que passa por mim e pelos outros e me torna incapaz de reagir, simplesmente não tenho reacção, a não ser nestas breves palavras que tento desconexadamente e incoerentemente dizer, nestas palavras em vão mas cheias de esperança de que a minha vida mude e ainda consiga um dia sentir de maneira diferente, o que se revela falso a cada passo que dou, porque é com base no que fui que eu me vou tornando outro, construo o que sou sobre o que fui, e todos os erros da construção se vão acumulando até ao fim dos meus dias, mas ainda tenho esperança, ainda tenho a fé de que posso ter sorte, ainda acredito que posso ser feliz.
Reservo um pouco do tempo que me resta para escrever. Neste momento que tento escrever não observo nem sinto, quase que nem penso como se tudo o que passa na minha se evadisse quando o tento transmitir. Sei que isto acontece vezes sem conta, e consigo algumas vezes chegar a onde quero chegar, mas sempre por caminhos alternativos e frequentemente bem mais complicados. Questiono-me constantemente por que o faço, e vou encontrando respostas na minha vida que por sua vez também não as consigo dizer, transmitir, facilmente, alem de que talvez elas só façam sentido para mim.
Estou a ouvir George Michael, um cantor célebre dos anos 80 e 90 para quem não sabe, e ainda teve músicas de sucesso neste milénio mas que se diluem com a existência de outros bons músicos. Estou a pensar, ‘realmente este homem tem uma voz e um dom especial para a música’, assim como por vezes observo noutros músicos, se bem que dizer isto possa ser relativo para muita gente [talvez me pareça tal a mim porque me habituei a ouvi-lo]. Mas este músico em particular, estava aqui a pensar, que primeiro diziam que era gay e, agora, julgo ser assumido, assim como há outros assumidos, como Elton John, músicos de grandes sucessos que têm grandes vozes e grandes músicas, mas que são gays. E, no entanto, não se lhe pode retirar o mérito que tem e o sucesso que tiveram e podem continuar a ter, apesar de terem optado pela vida que levam privadamente. A mim faz-me confusão o facto de os homens gostarem de homens e mulheres gostarem de mulheres, como que isso significa para mim ser ‘contra-natura’, e realmente vai contra a lei da existência animal, da continuidade das espécies. Só mesmo o homem para transformar tudo o que devia ser lei, e compreendo um pouco que possa acontecer certos casos, mas se não fosse a comunicação que existe hoje nunca teria imaginado que o mundo poderia ser tão diferente de como eu o sinto. Mas quero eu reafirmar que tendo ele, George Michael a vida privada que tem, tendo ele os gostos que tiver, ele tem boas músicas, assim como Elton John, e falo como amante da música e segundo aquilo que posso compreender, que se calhar é muito acima da média, modéstia à parte. Cresci com estes sons destes homens, e nem por isso me tornei gay, mas eles deram-me um sentido apurado para a música. É claro que eles foram alguns entre tantos, e talvez eles tenham sido dos mais marcantes daquelas épocas, eu estava a crescer, as músicas eram passadas nas rádios constantemente, eram o nascer de uma nova aurora, a aurora audiovisual, aquela dos anos 80 e 90, aqui no meu Portugal, num mundo que eu descobria paulatinamente, numa imensa vontade de viver. E aqueles sons que para muita gente não dizem nada, porque nunca se habituaram a ouvir tais músicas, ou agora, porque não são do seu tempo (de agora), ou ainda porque simplesmente não são fanáticos por música, para mim são os alicerces da minha vida. E no entanto eles são gays ou tornaram-se. Mas eu aprendi a sentir com o coração o mundo que me envolve, no caso da música eu sinto-a com o coração antes de tudo, depois o que o músico é ou como apresenta o seu vídeo musical ou ainda o que faz se vier a saber o que faz, não alterará o valor da música, porque a música, o sons musicais são analisados puramente. O bom sentir é um sentido que todos tem, mas que muitas vezes anda camuflado por outras coisas da vida, talvez outras maneiras de sentir e julgar, peremptoriamente a maior parte das vezes, o que se passa no mundo, ou porque não se quer aceitar aquilo que é melhor do que nós, aceitar o que é a realidade das coisas, o sentimento de beleza Universal. Isto é o mesmo que dizer numa metáfora: Há um bolo para apreciar e ao mesmo tempo há whisky para apreciar; eu apostaria que o ‘sentimento Universal’ diria que o bolo é bom e o whisky é mau, pelo sabor. Mas sei e compreendo que há culturas que se enraízam em certos homens e que lhes leva a dizer que whisky é que é bom e o bolo é uma grande porcaria, e preferem ingerir o whisky a comer mais bolo em detrimento do whisky. O que é bom é sempre bom, em qualquer lugar, porque o sentir dos homens tem um denominador comum, a raiz do sentimento humano é única, simplesmente o homem quer – ‘ou a natureza impele-o a’ - transgredir a sua natureza sentimental, cria culturas desastrosas que acabam por ter seguidores incautos ou desinformados que entram por uma vida que sem querer escolhem, não pelo supremo bom gosto Universal, mas por causa última de uma cultura que se cria em redor de certos hábitos. Mas o homem vive e sobrevive, incrivelmente. O organismo reitera constantemente a sua capacidade de auto-regeneração. Mas a vida é como é, não fui eu que a inventei, não fui eu que inventei ou invento regras, só me é permitido jogar, nem que as regras sejam as mais estranhas. Hoje em dia, a música está a tornar-se uma banalidade, qualquer dia todos nascem com uma veia musical e têm a hipótese de fazer grandes músicas, mas talvez já não tenham a ‘universalidade’ que tiveram estes e outros músicos dos míticos anos 80 que fizeram parte do imaginário de massas. Tem e terão mais hipótese de divulgação mas serão, como parece que estão já agora a ser, abafados pela imensa comunicação emergente que se a evolução continuar, apenas mais uns músicos de talentos.
A inteligência é uma forma de conhecer novos mundos. Com inteligência descobrimos mundos inefáveis e intrínsecos a nós próprios e mundos extrínsecos a nós próprios e damos ordem e forma ao mundo concreto que seria invisível aos nossos olhos, ou pelo menos incompreensível. A inteligência é o sistema intermediário, o interface que nos permite conhecer os dois mundos, os dois sistemas, e também constitui uma ponte que liga os dois que viveram separados durante tanto tempo. A ‘inteligência’ é um conceito relativo. Podemos ser inteligentes na escrita e criação de um texto e sermos ‘inteligentemente fracos’ na formação de uma música, por exemplo. Podemos compreender inteligentemente a mecânica de um carro e saber trabalhar nessa mecânica e não perceber nada da mecânica dos sentimentos e emoções. Podemos ser inteligentes na navegação e circulação e interpretação pelo/do meio citadino e ser uns perfeitos ignorantes em saber interpretar a natureza e o campo ou vice-versa. Mas podemos ser multi-inteligentes, ser inteligentes de uma maneira transversal, de uma maneira geral. Que nos impede ser isso? Apenas os nossos limites fisiológicos e esquemas mentais que não foram desenvolvidos quando o deviam ter sido desenvolvidos, a cultura que nos limita, a cultura que nos aprisiona. Apenas nos limita a pequenez do que somos, no geral. Acredito em ligações entre o mundo intrínseco, que é o nosso interior, aquilo que sou, e o mundo extrínseco, tudo aquilo que é exterior ao nosso sistema corporal. Acredito que há imensas ligações, muitas mais do que as óbvias: as físicas (que já sabemos que existem naturalmente), em que é exemplo a troca de matéria entre o nosso ser e o mundo externo; as ligações metafísicas que não são tão fáceis de definir, e nas quais me foco, no que concerne à supremacia da inteligência na busca de respostas para ligações que não são visíveis entre sistemas que fazem parte do mundo das ideias, mas que magnificamente, no homem se inter-relacionam fortemente (entre matéria e ideias), há medida que a inteligência aumenta. Há muito mais para descobrir. Mas também é certo que <<quem muitos burros toca, alguns deixa para trás>>. Julgo que a vida nos força a convergir a inteligência à medida que envelhecemos. Crescemos, e os mais novos crescem num mundo multifacetado, super estimulante que faz com que se desenvolvam inteligências magníficas, ou então faz com que se submetam (como que realçando os dois opostos do que sucede) a um grau de incompreensão que os aprisiona neste mundo eternamente desconhecido. Andamos a toque de magia, para mim, que por vezes me parece um truque que ainda não compreendi. Movemo-nos, pensamos e dizemos coisas que pensamos que somos nós que produzimos e formamos de livre arbítrio e vontade própria, quando na verdade há um sistema imenso, onírico, inefável, transcendental, que regula toda esta nossa evolução de inteligência e maneira de manifestá-la e de nos manifestarmos no imediato. Já o disse, eu saí do trilho do homem comum. Toda a minha vida, que eu revejo em relances de uma inteligência sentimental muito própria e vívida de tudo o que senti, me senti um estranho em casa própria. Tudo o que eu senti, todos esses sentimentos que me queria dominar, eu estive um passo sempre à frente, como testemunho daquilo que eu próprio senti, como se fosse um jogador de xadrez que antecipa na sua mente as jogadas que se irão passar nos momentos futuros, com base na experiência e no presente, o meu presente em particular, resguardando os passos em falso que poderia dar e me conduziriam a uma vida sem saber o porquê do que me movia e onde sei que me perderia. A minha inteligência sentimental introspectiva esteve sempre num nível mais alto do que a própria ocorrência das vicissitudes, e isso me trouxe até aqui como testemunha daquilo que o homem é, e em particular, que eu sou. Parece que eu afirmo a minha inteligência como se fosse um fanfarrão, umas gabarolas que não passa de isso mesmo, não é verdade? Eu sinto essa própria ideia acerca de mim. Com que base me posso afirmar mais inteligente do que outras pessoas, perguntais? Realmente, não sei se isso que sinto é um privilégio ou uma maldição, e se lhe poderei chamar inteligência sentimental, como gosto de lhe chamar. Tive que tocar e tento tocar ainda muitos burros na minha vida. Muitos têm ficado para trás. Tenho tentado ser transversal na minha maneira de estar no mundo, mas a minha pequenez é evidente. No entanto acredito no poder da inteligência e do pensamento que nos liberta, ou então nos aprisiona dependendo dos momentos da vida, das situações. Acredito de tal maneira no poder do pensamento (apesar de não compreender claramente o mecanismo, o ‘como funciona’), que vejo que no mundo actual, o pensamento em comunidade (social e humana) nos pode levar a ter um poder de manipular o homem. Mas, ver tal poder não significa poder usá-lo, porque não significa que se possui, apenas se tem a capacidade de o ver, e talvez utilizá-lo indirectamente, porque ‘in loco’ é difícil – como exemplo, é como ter uma máquina extremamente complexa, um carro com as mais ultimas tecnologias de ponta e no entanto só saber meter mudanças e andar e conduzir quando ele tem muito mais potencial, ou um computador mais evoluído que existe e no entanto não se conseguir trabalhar com ele plenamente e só se utilizar para falar no Messenger ou ouvir música -. É obvio que vi o filme ‘O segredo’, e nem vou falar para o verem, apesar de já ter feito publicidade ao falar nele, e não me baseio só nele, mas sim em toda a minha parafernália de experiência de que tenho memória. É curioso que antes disso já eu pensava nas coisas que vou constatando neste mundo e que não conseguia compreender. Tenho compreendido coisas que nunca pensei compreender mas tinha esperança de compreender. Mas pensava que isso me iria sentir bem e mais livre, mas pelo contrário, pelo menos para mim, compreender mais e mais tornou-me mais preso e nem por isso me sinto melhor. Ambiciono no entanto ir mais além. Este é o meu vício, compreender (pelo menos tentar – mesmo que não seja através de estudos científicos, porque eu não tenho que demonstrar nada a ninguém que A é causa de B segundo a lei tal e/ou a equação tal), que continuará enquanto eu não atingir um patamar de estabilidade que me permita parar e dizer <<já não preciso disto>>, mesmo que isso (continuar) signifique sofrer, porque sei que se parar sofrerei mais. Para mim basta sentir, e se sinto determinada coisa no meu ser e vejo nexos de causalidade através do que eu sinto, então essa coisa existe. Se a puder demonstrar a alguém que a deseje ver e/ou compreender eu lhe tentarei demonstrar, senão não interessa. Compreender a génese da atitude humana, os sentimentos, é o meu móbil, porque eu sou um ser anormal, como que um extraterrestre que ambiciona compreender esta humanidade que habita a terra. A minha inteligência é diferente, talvez seja tão e somente isso, diferente, mas é uma espécie de inteligência.
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