A melancolia varre os sentimentos
A melancolia varre os sentimentos, invade o espírito se a gente deixa. Eu deixei, talvez não consiga ter evitado. Mas gostava que este estado mudasse. Gostava de falar, de dizer algo com sentido. Mas o sentido está sempre a mudar, daí que ache que tanto dá dizer como não dizer. O que interessa é a sintonia das pessoas, que se tende a perder. As pessoas cada vez menos sabem amar, cada vez menos querem amar. Ou será de mim? Talvez seja de mim. Mas tudo tem um fim, e isso é a única coisa que me satisfaz, que depois da dor venha a acalmia eterna. Temo pelos que cá ficam, que poderão ter muito a sofrer. Mas para já temo por mim, pelo tempo que ainda cá hei-de estar. Só peço a Deus que se a minha vida não puder ser melhor do que foi até agora, ao menos que não seja pior. Eu não estou na sintonia que quero. Ultrapassei uma barreira que não devia ter ultrapassado para ser normal, nasci numa altura e num ambiente que me condenou à diferença. Assim sou eu agora: diferente. Tanto que sonhei com um amor, que desilusão, só por causa da minha diferença. E depois tornei-me num anti-social, mas toda a raiva investida no mundo se voltou contra mim. Que obcecação por paixão e amor. Tanto sonho, tanto platonismo. Mas este mundo é cada um para si, não há pais por filhos. Salve-se quem puder. E a loucura? Tão perto dela, tão perto do infinito, podê-lo tocar mas não poder dispor dele a nosso belo prazer. A apatia torna-se enorme. As pessoas não compreendem, esse é o mal. Se elas entendessem. Talvez não haja uma só compreensão. Eu apenas vejo o mundo à minha maneira, compreendo-o segundo aquilo que sou e segundo a minha experiência. Mas a minha perspectiva do mundo é muito importante. Este mundo é para usar, o fim é certo. Mas então o sentido da continuidade não existe. Tudo é bom porque o sentido está no fim de tudo, no auge de toda uma vida. O sentido está na despedida e no reencontro, no adeus e no olá. Só no fim de tudo encontramos o prazer nunca até então entendido, só no fim ou no final das coisas em que fazemos um rewind (puxar atrás a cassete) e as sentimos a percorrer a nossa mente a uma velocidade fulgurante, à velocidade da luz. Eu queria ser uma pessoa especial, e sou. Mas não passo mais de uma simples pessoa, um grão de areia de praia neste infinito Universo.