Calado [2005]
Calei-me sem querer, talvez tenha sido obrigado. Calo-me para me esconder. Que adianta falar? Mas eu quero falar. Eu desejava encontrar aquele elo de ligação que faz parte dos homens. Eu ainda gostava vir a ter discernimento. Eu gostava de ter outro pensamento. Compreendo, ó se compreendo bastante o que passou, e compreendo o que se passa, à minha maneira. Mas isso não muda o que foi feito. Mas o que interessa não é o que foi feito mas sim o que eu sou por causa do que foi feito. Será que me posso mudar a mim ainda, depois de tudo? Será que posso esquecer tudo o que se passou de mau? Mas o que é um homem sem passado? Sei que tenho que me concentrar nas coisas boas para vencer esta melancolia. Cheguei a este estado porque me concentrei nas coisas más e não as consigo esquecer. Se me tivesse concentrado nas boas seria mais optimista e alegre decerto. Por outro lado, é como se houvesse uma predisposição que me fizesse absorver as coisas negativas, ou talvez o motivo de absorver as coisas negativas esteja lá bem no início da formação da minha vida.
Só há uma coisa que está contra o homem, contra mim, o tempo.