Breves palavras
Só umas breves palavras. Breves como a vida. Mas longas de mais quando se sofre. Sofre-se pelo que se vê, e o que se vê não é nada de bom. Percebo muito bem ou cada vez melhor as entranhas dos homens. E não sou capaz de ser como eles. Eu sou eu verdadeiramente, mas não consigo interagir com os outros porque vejo tanta falsidade, tanta hipocrisia, que realmente ainda não vi ninguém que se aproveite (desculpem-me alguns que não consigo ver e que talvez sejam diferentes), como se só eu pudesse ser aproveitado. Talvez eu passe nesta vida sem ninguém, sem ninguém me ver, um ser perene e finito. Sim é verdade, não gosto do olhar das pessoas para comigo, sei o mal que elas podem fazer aquilo que não compreendem, não acredito nos homens nem no futuro. Ainda estou para ver quando uma minoria vence. Ainda estou para ver quando Deus nos vai salvar. A minha curta passagem por este mundo está a ser infernalizada por uma espécie de destino que é aquilo que eu sou e para onde vou. Luto contra ele desde que me conheço, e começo a crer cada vez mais que é uma luta vã em que sei que vou sair derrotado, porque as variáveis que me envolvem e me fazem seguir o caminho não desejado são incomensuráveis e as forças são cada vez menores. Mesmo no auge das forças não consegui fazer nada, não é agora que vou fazer. Não sei que foi feito dos meus instintos, é como se cada vez menos os tivesse, como se os estivesse a perder. E depois de muito pensar e associar o que foi e é a minha vida não prognostico nada de bom para o meu futuro. Queixei-me imenso, talvez não às pessoas certas. Cada vez sou capaz de discriminar a realidade, se é que alguma vez o consegui correctamente. Na minha cabeça há dois, aquele que eu sou e aquele que eu quero que eu seja e que controla o que eu sou. E tudo isto gera uma confusão, uma promiscuidade de pensamentos, uma profusão de identidades, uma complicação tal, que não me deixa interagir correctamente com o mundo, uma apatia tal, uma falta de emoções gerada por uma repressão tal que não me deixa ser coerente. E desculpem-me alguns homens de boas intenções, mas eu não acredito no homem (no geral), não acredito que me venha salvar alguém. Nada me pode salvar