Estranho, muito estranho
Desejo escrever, por vezes, quando uma ideia especial me passa pela cabeça. Queria comunicar, como quem diz ‘queria dialogar’. Quando olho para esta folha branca, a velha sensação horrível de vazio regressa, dá-me precisamente ‘uma branca’. Queria fazer algo que me fizesse sentir bem; sentir bem, comunicando, com alguém, na internet ou na realidade, dialogar, criar amizades, e, no entanto, um vazio se apodera de mim em todos os momentos da minha vida social, como que uma nulidade a querer instalar-se em mim, fortemente, a querer possuir-me, se é que já não me possuiu à muito. Tenho medo do que penso, mas não consigo deixar de o fazer, fazer como o faço, mas tenho muito mais medo ainda do que digo, de que possa magoar alguém inocente, de que me magoe, eu, ainda mais do que o que estou. É confuso; É paradoxal; É mágico; É enérgico; É descontrolado, muitas das vezes. Assim é o meu pensamento. E com isto penso: que tem a escrita a ver com a realidade? Um desabafo, talvez, no vazio do meu Universo, na entropia da comunicação moderna, o frenetismo das palavras e das imagens a rodar a uma velocidade estonteante diante dos meus ouvidos e olhos; e, eu, a tentar absorver tudo, o máximo que posso, para chegar sei lá eu onde, porque isto nunca tem fim… ufff ... e, eu, deixei-me levar ao sabor da vida, sempre na esperança, como agora, mas talvez ilusória (e eu a dizer, ainda, ‘mas’ como que ainda a ter esperança…) que tudo se havia de se encarreirar, havia de ‘entrar nos eixos’, havia de me tornar mais forte, havia de ser aceite como eu sou, na tolerância das pessoas de bem, como eu me considero; mas não, isso não chega, é preciso comunicar, e eu estou sufocado, sem saber como ainda estou vivo, assim; uma coisa é certa, a ilusão avoluma-se mais, a cada dia que passa, a incerteza do futuro é toldada por ela, para que o pânico não se tenda a instalar imediatamente. Comunicar, falar, tudo me é negado, negado em mim próprio, por um fechamento passado, nunca superado. Pois, hoje, queixo-me, porque queria acreditar no que se diz, queria entender como as pessoas ‘normais’, sentir a calma ‘normal’ das pessoas que vivem sem ter de questionar conceitos tão profundos da vida que parecem nos ir salvar, assim como nos levam ao abismo, por paradoxal que seja.
As ideias evaporam-se-me, quando a incerteza e/ou a insegurança e/ou o stress, seja ele de que tipo for, se me acomete. As fobias tomam conta de mim, e, eu, não dialogo, me isolo ainda mais. A falta de confiança em mim é grande, porque os medos que não controlamos se apoderam de nós, e me torno como um macaco, repetitivo, somente centrado naquilo que não consigo ultrapassar. Porque tem de ser assim? Pergunto, constantemente, eu, ao meu Grande Deus, que não sei se existe. Porque tive eu de vir viver neste mundo, num clima de tanta contrariedade, apesar da aparente paz que me envolve. Se me tivesse sido dada a hipóteses de escolher, eu preferia não ter existido. Porque tive que existir nesta condição, apesar de não ser a pior de todas? Porque busco eu uma salvação ainda? Porque a minha vida não vai ter continuidade? Porque não posso viver com o que sou sem ultrapassar a minha barreira de sofrimento? Quando era novo, eu tentava ser bom naquilo que fazia, e acredito que ainda o tente, mas a verdade é que nunca era suficiente o meu esforço, como que não tivesse valor, por quem era avaliado. O que me parece é que tudo corre mal cada vez que quero fazer algo social. Há forças muito estranhas que controlam a minha vida, quiçá a outros aconteça ou sintam da mesma maneira. É um facto que não nasci para ser escravo, a contrariedade que me possuiu não me deixa aceitar isso na vida, e no entanto não consigo ser livre. Como posso eu auto-sustentar-me neste mundo de economia, se as pessoas de quem todos, ou a grande maioria, de homens que querem contacto, me fazem tremendamente medo; sinto-me humilde, néscio perante a dissimulação de muitas pessoas com quem tenho que me dar; ou então, a incompreensão daquilo que nos aflige por parte dos outros leva-nos ao desentendimento, porque eu também não consigo ter discernimento na aflição; A minha parte emocional, chamam-lhe ‘inteligência emocional’, tende a desaparecer a cada dia que passa. Tenho medo, muito medo.