Destino
Tenho que prosseguir. Não sei bem como o fazer, mas tenho que aguentar todo o peso daquilo a que chamaria o meu destino, definindo, com esse termo, tudo aquilo que todo um ser, físico e mental leva a que aconteça e interaja como o mundo de determinada maneira, a maneira de cada individuo que é abrangido pelas coisas que se dão na vida dele – esse destino não existe, ele vai-se construindo e tentando solidificar esse ser se ele ceder à força com que a natureza o tenta conduzir, segundo a maneira como é física e psiquicamente -. Todo o meu ser, corpo e mente me trouxe até este momento. Sei que sou um ser estranho [ninguém mo pode negar], e toda a gente me olha dessa maneira, [além de tudo o mais de estranho que se passa comigo no meu dia a dia, sobretudo social] quando eu deixo de poder fingir que sou uma pessoa normal, porque, sei-o, sou uma pessoa que tem ‘handicaps’ [desvantagens, obstáculos] que são intrínsecos a mim, acrescidos de outras causas externas que reforçaram esses ‘handicaps’ internos. Sei bem quem sou, qual os meus limites, e sei o quanto a minha inteligência, além do cuidado pessoal que tenho tido, tem trabalhado e evoluído para sobreviver, neste meu mundo, de confusão [loucura imposta, frustração, cansaço, infortúnio, vida madrasta – dentro dos seus limites -], além da sorte que tenho tido, como é óbvio, de não estar pior, com o mérito de procurar essa sorte e tolerar os azares (e minorá-los), quando acontecem, ou muitas vezes suportar - enquanto puder suportá-los, (como tenho suportado) - o que não consigo resolver e reagir da melhor maneira (a injustiça que me atinge indelevelmente). Por vezes sinto-me rolando no fundo, sozinho, e vejo o caminho que tenho pela frente para percorrer como escabroso e, precisamente, solitário. Assim, consigo ver com uma visão divinal, o mundo que gira à minha volta, e como ele gira. Sei que o modo como sinto e como penso influência o mundo e sei como ele me influência, a mim. Mas, o pior disto tudo é não poder suportar a maneira como influencio e sou influenciado, porque estou dessincronizado com os seres humanos, e mais porque ver como vejo é um peso enorme para mim. Vivo, por isso, e isso ao mesmo tempo faz-me viver, nos extremos, na bebedeira do constante sono da minha vida, uma consciência infinita presa num corpo cada vez mais perene. E isto é um viver em cansaço constante, por mais que não queira dizer e acreditar nisso. Mas eu ainda tenho fé que posso mudar… para melhor.