O valor genuíno do tempo da vida
O tempo passa. Tenho defronte de mim o mundo. Eu vejo-vos sem que vós me vejais. Tenho atrás de mim o meu passado que me quer fugir e eu não quero deixar. Não sei se seria melhor deixá-lo ir embora da minha memória, mas penso, e que seria de mim depois? Eu tenho andado ausente, mas ainda continuo por cá, embora por vezes na solidão, embrenhado no meio de tantas questões que tento entender, que tento dar uma resposta, o porquê de tanto que consigo sentir. Tentava outrora acalmar-me na compreensão do que me envolvia, mas descobri que essa acalmia é passageira, tem o seu tempo, depois há que continuar na busca de nova respostas para novas perguntas que surgem no caminhar. Tento produzir pensamento útil na minha mente. Tento que os meus pensamentos afugentem e fiquem imunes à ira, à contrariedade e à frustração que por vezes vem até mim e não me deixa seguir livre. E não consigo entranhar em mim as visões que tenho do mundo, por inteiro, e transformá-las em algo útil. Gostava de ser produtivo, mas vejo as minhas energias a fugirem-me, e as forças do conhecimento a apoderarem-se da minha energia que se dissipa com elas. Realmente talvez eu seja mais pequeno do que alguma vez pensei, e cada vez mais o serei, sinto-o como uma evidência. Há medida que o tempo passa a minha presença física torna-se mais pequena e inútil neste mundo, mas, dentro de mim, há a matéria de que são feitos os sonhos que cresce exponencialmente, a matéria infinita do conhecimento e da compreensão de tudo. Eu queria quebrar as correntes que não me deixam ser livre, mas elas têm-me fortemente preso. Eu sou simplesmente um ser. Todo o meu ser está virado para o meu interior, e só a partir dele eu consigo interpretar o mundo que me rodeia, a informação que vem até mim através dos meios que consigo ter, tem que ser ‘trabalhada’ à minha maneira através do modo como eu sinto – e eu sei que sinto de uma maneira muito diferente da maneira que sentem ‘a norma’ das outras pessoas e isso tem-me dado muitos mal entendidos e problemas -.
Tenho pensado em grandes questões da vida. Tenho-as pensado só para mim. Tenho esventrado as questões e as respostas que encontro. Tenho insistido nas questões e nas respostas que encontro até à exaustão [tal qual como quando se ouve uma música vezes e vezes sem conta até que ela passe a fazer parte de nós, e a compreendemos], pondo-as à prova na minha mente de acordo com todo o ser que eu sou, como todas as experiências exteriores e interiores a mim que tenho tido na minha vida – e sei que muito do que se pensa não é mais do que lixo que se produz na nossa mente, mas tento retirar o suco, a essência, de tudo isso -. Muito pouco do que analiso resiste a tal intensidade e obcecação de análise do pensamento. E sei que o sentido de esta vida é em frente, já o disse, até à meta final, signifique isso o que significar, o fim das finais. Não adianta desistir ou parar na esperança de que de um momento para o outro nasçamos com uma nova vitalidade, e pensar que tudo de mau irá passar. Se parar-mos, tudo nos ultrapassará, deixaremos de entender o mundo e voltamos à inocência. Voltaremos à nossa vida interior. Não podemos desistir, e devo dizê-lo para mim com veemência, ‘não posso desistir!’. Mas é certo que tenho que recuperar energias para caminhar mais um pouco.
Dizem que eu não tenho nada nem sirvo para nada, na minha cabeça dizem-no. Mas o valor de saber amar a vida e ser amado por ela não é observável. Dizem que o meu passado não tem valor, foi em vão, pelos menos na minha mente dizem-no e fazem-me sentir isso, mas ele tem mais valor do que se possa imaginar. Um passado simples pode ser enriquecido com toques de magia. Ninguém tem controlo sobre o que se vai passar na vida. A vida ajeitasse para nós à medida que vamos caminhando e vamos escolhendo o caminho e as pessoas que passam a fazer parte da nossa vida, conscientemente ou inconscientemente. Escolhemos o que vamos fazer a cada segundo que passa, nós, segundo o que somos escolhemos o caminho. E sou daquelas pessoas que acredita que 1 segundo na vida é capaz de mudar uma vida em certas circunstâncias, em certos momentos. Quantos passos não dei em falso quando o medo se apoderou de mim nesta vida. Eu revejo esses momentos na minha mente e sei que poderia ser tudo diferente, se eu tivesse tido uma outra aparência, uma outra aparência na maneira de agir também. Muito desta vida se resume a aparência e não ao que de facto se é. Acham que o que é genuíno é simples? Ultrapassei as minhas forças e ainda cá estou e essa é a prova que, a vida, apesar de não me dar a felicidade que tanto sonhei, não me abandonou. Podia dizer vida ou podia dizer Deus, mas esse conceito já o debati muito em mim e isso já me é indiferente até certo ponto e em grande parte da enorme questão. Pensamos que temos um ‘personal Deus’ [eu pensava] que nos ouve e que nos protege. Mas então o que seria de todos aqueles que necessitam (se é que haverá alguém que não necessite)? Sei que estou cada vez mais longe de ser feliz segundo os sonhos que tinha. Sei que encontramos nos outros que não nós a felicidade, muitas vezes, e não só em nós como se diz por vezes, mas também. Mas também são outros que nos fazem sentir mal. Mas como posso ser assertivo nesta vida? Como podemos ambicionar a perfeição se somos seres imperfeitos?