O poder [2004]
E o poder é também um conceito em que penso variadas vezes. O poder que não depende de nós mas depende dos meios que se utilizam para ser chamado poder. Um discurso por si só não revela poder, o meio que é utilizado para chegar até ao maior número de pessoas é importante para o transformar em poder, e para ser ‘poder’ esse discurso têm que estar em sintonia os ouvintes com o discursador, os ouvintes têm que saber o que ele está a dizer. No caso do poder televisivo, além do bom discurso que se tem que ter, também tem que se ter uma boa imagem. Ter ‘poder’ significa conseguir influenciar o maior número de pessoas, agradar-lhes e ser capaz de os pôr a fazer qualquer coisa que nós queremos que elas façam e ter o menor número de pessoas com ideias contrárias às nossas e que nos faça oposição. Com ‘poder’ há muita gente, gente esta que muitas das vezes desconhece o seu poder, e pior ainda desconhecem o fruto das suas acções, da sua influência sobre os outros, da sua influência negativa muitas vezes. Muitos agem completamente convencidos de que estão a agir bem e na verdade estão a agir mal. Muitos pensam que aquilo em que eles acreditam é que é verdade como se tudo fosse igual para sempre, de que os seus ideais fossem válidos para todo o sempre. Também é verdade que muitos estão a agir bem sem saber, têm o poder e usam-no bem, mas de qualquer modo é sem saber. Mas acho que o verdadeiro ‘Poder’ não pertence a um simples homem, por mais inteligente e força que ele tenha. O verdadeiro poder é o poder do equilíbrio, o equilíbrio dos sistemas e o equilíbrio das energias. E acho que o que o homem faz muitas das vezes é provocar desequilíbrio. Eu tenho pouco poder. Por vezes também penso que eu estou certo e que a minha certeza é a única válida no mundo. Mas depois penso, talvez não seja, mas, a minha maneira de ver o mundo faz com que para mim, essas certezas, sejam válidas. E não adianta muitas vezes evitar influenciar o mundo, as pessoas, como se lhe fossemos fazer mal. Muitas vezes fazemos mal ao não dar a nossa influência às pessoas porque essa influência que pensamos que irá ser má, afinal seria boa, e foi mal não a ter utilizado. Acho que temos de saber utilizar o poder e a influência na altura certa, coisa que nos é difícil de fazer porque o nosso inconsciente e as causas que nos ultrapassam ainda têm muito peso sobre as nossas acções. Assim, como exemplo, perante a ganância inconsciente da riqueza muitas pessoas são sufocadas na vida, é - lhes roubada a parte da liberdade a que tinham direito por outros, os detentores do poder. Injustiças há - de sempre haver, algo a mais numa parte e a menos em outra, mas acho que isso faz parte do equilíbrio. A liberdade por exemplo, para uns terem mais liberdade há- de haver outros que tem a menos. Seja assim, o espaço ocupado no mundo é por exemplo 100%, se entre duas pessoas uma ocupar 80% então só já restará 20% para o outro, e talvez a matemática seja evidente. E nesta nossa casa que é o mundo cada vez haverá menos espaço para as Liberdades e Poderes cada vez maiores e emergentes das pessoas que nascem. Os velhos têm que ir e dar lugar aos novos e os novos serão cada vez em menor número e mais perfeitos. Se os recursos não se esgotassem, se tudo fosse estável, talvez um dia a sociedade se tornasse perfeita, talvez os homens se tornassem perfeitos. Será que a perfeição está no nirvana? No nada absoluto, no princípio e no fim de tudo? Ou a perfeição está neste mundo de cores e contrastes, apesar de parecer injusto. Talvez a beleza e a perfeição resida na contradição das coisas, e a sombra e a tristeza resida apenas naqueles que se recusam a acreditar no que vêem e sentem e não aceitam tudo isso.