Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Enfeitado , disfarçando; traduzindo: as horas, o tempo que passa, inexorávelmente, e sentindo os sentidos da minha vida e de tudo e todos os que minha alma toca e abrange. Bem vindos a este meu Universo.
Já um dia quis ser o mais perfeito possível. Mas descobri que a finitude do nosso ser não nos permite isso. Apesar do homem ter construído um mundo fantasticamente humanizado, nunca o mundo foi tão imperfeito, funcional mas não perfeito. Talvez tudo o que existe já tenha sido perfeito, e perfeito foi estar em equilíbrio. Talvez durante algum período no tempo, mais ou menos curto. Talvez também assim na minha vida já tenha tido um período ou um momento em que a minha vida tenha sido perfeita. Mas esse êxtase passou, o organismo não suporta êxtases sucessivos e a capacidade de recuperar torna-se cada vez menor. Os pontos máximos dos organismos talvez não se dão ao mesmo tempo. As minhas potencialidades máximas talvez já tenham sido atingidas. Pouco mais conseguirei ultrapassar daqui, como alguém que atingiu uma certa altura na escalada à montanha e esteja esgotado. Talvez mesmo o máximo do homem e do mundo que ele criou tenha já atingido o máximo, o êxtase. E todo este mundo humano só faz sentido enquanto as interacções do homem se forem dando, enquanto não forem quebradas as correntes que foram criadas. Tal como no amor, só enquanto a chama se mantiver acesa é que o há. Mas quem sou eu para falar de amor, de correntes e elos de ligação se eu estou imensamente desligado do mundo, tal como um moribundo que está mais para o lado de lá do que para o lado de cá. Agarro-me no entanto à vida com todas as forças que tenho, e tento compreender tudo o que se passa comigo e com o que me envolve. E tenho a certeza de que nada voltará a ser o que foi, por muito que desejemos. Tudo o que foi modificado tomou novas formas que não voltam a ser as que já foram. E tudo muda até ao fim. Tudo tem um fim. As nossas vidas têm um fim. Uns perecem com o sentimento de missão cumprida outros de que não preencheram as suas vidas. Uns morrem horrorosamente, outros têm uma morte mais calma. Mas quem tem a visão mais acertada do que é o mundo? Quem tem a noção mais certa? Se fosse eu, essa noção não seria muito positiva, pouco optimista. O homem vive no sonho, até que um dia se não caiu, ele cairá na dura realidade. Mas agora resta a minha vida que tenho que a viver da melhor maneira, tenho que fazer por ela, as causas e os efeitos, a compreensão do caminho do homem, cada vez me dizem menos respeito. Nada posso fazer para evitar o que quer que seja. Sou um animal, um ser que vive entre imensos seres, perene nesta vida confusa e fugaz. Um ser que a cada dia que passa se encontra mais consigo mesmo – eu. E tenho medo de mim próprio. Não poderei mudar muito, mas espero ir mudando. Tenho medo de ficar sozinho. A minha capacidade de ir ao encontro de alguém é diminuta. O retrocesso da minha vida começou, as minhas capacidades cada vez são mais diminutas. Não sei se o que sinto é doença, se é normal, só o tempo o dirá. Mas compreendo cada vez mais o meu passado, as causas de muitas coisas que se passaram, o porquê delas terem acontecido. Mas o que passou não posso mudar. Mas talvez eu possa mudar o rumo mau que a minha vida possa tomar, compreendendo o meu passado. Mas parece-me que o conhecimento das coisas me torna vulnerável. À medida que vou sabendo mais sobre o mundo sei mais sobre mim, e vejo que não tenho capacidade de acomodação do que sei.
A exploração do mundo, se assim continuar, vai acelerar o fim. A solução pode existir ou não. Se os homens se unissem para preservar a natureza, mas nada acontece porque um homem quer, as variáveis são muitas.
Personificação do medo, bode expiatório da vida de outros, é o que se é. Sugados até ao tutano, retiram-lhes todas as energias que possuem. Vampiros. Não conseguindo distinguir o bom do mau, o certo do errado, como se pode viver assim? Terá o homem culpa do que se é? Como se pode viver sem falar? Como se pode dialogar se na hora de falar não se fala, não se pensa, nada? Fujam das dificuldades, façam ver que tudo está bem enquanto puderem. O caminho é irreversível. É único. É difícil de compreender. Porque não choras, pequeno ser? Quem te proibiu de chorar? Porque querem os homens fazer de ti um louco? Porque és a personificação da loucura? Quem te roubou a paz? Porque parece que nada passa. Ainda bem que nada é eterno, o eterno desvirtualiza. Porque têm pena de ti? Será que têm pena de ti? Ou será que te odeiam? Ou será desprezo? Ou será tudo pelo contrário do que foi dito? Fantástico mundo de interligações, até onde se poderá ir? Estará a destruição iminente? Estará ela mesmo já a vislumbrar-se? Que mais há para se ver?
Quem ler o parágrafo anterior poderá ver uma escrita de loucura, um completo alheamento do mundo que nos rodeia, da realidade envolvente, uma completa marginalização e um certa aversão pelos homens. Quem ler o parágrafo anterior poderá ficar com uma ideia errada de quem o escreveu. Ele dá lugar ao pessimismo, à tristeza, ao ódio pelo ser humano. Quem poderá imaginar que já um dia se amou a humanidade, se teve um incomensurável optimismo? Quem não poderá magoar este ser sensível? Como é possível ser-se sensível?
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