Mundo actual: Independência, individualismo e egoismo
Concordo que o mundo actual seja de uma maneira geral, principalmente a parte do mundo economicamente e socialmente mais desenvolvida, egoísta e individualista. Penso mesmo que talvez seja o individualismo que pode despoletar o egoísmo. Acho que é a ‘independência’ o conceito primário que traz consigo esse individualismo e de seguida como efeito secundário, pode-se assim dizer, o egoísmo. Temos que por definição que INDEPENDÊNCIA significa liberdade, autonomia; INDIVIDUALISMO significa isolamento do indivíduo num conjunto ou sociedade (1) ou ainda é uma teoria que sustenta a preferência do direito individual ao colectivo (2); EGOISMO significa amor exclusivo da sua pessoa ou dos seus interesses. Não será propriamente na ' independência ' que está o mal ou onde reside o problema. É bom que cada ser humano tenha independência, independência social e económica, isso faz parte do direito natural que o ser humano tem que é o de ser livre, ter liberdade, e isso não existirá sem a tal independência. Para mim não pode haver ' individualismo ' sem ' independência '. E dada a independência que o mundo moderno vai permitindo a cada vez mais gente, o individualismo tornou-se num caminho fácil de seguir, há mesmo uma cultura do individualismo. Segundo a segunda definição que está em cima e que encontrei no dicionário (2), realmente estamos num mundo economicamente evoluído em que o direito individual é exacerbado, muitas vezes como se uma pessoa (certas pessoas) tivesse (tivessem) mais direitos que o seu próximo. Existe todo um antropocentrismo que continua a crescer e que tende a transformar a ‘independência’ necessária de cada homem num individualismo egoísta. O ser-se individualista, segundo a primeira definição (1), deveria ser na maioria das vezes uma opção que deveria ter cada pessoa independente segundo a suas características pessoais (personalidade, outras). Mas nas sociedades mais avançadas isso tornou-se na única opção a que as pessoas têm que aderir dada a cultura do individualismo que se instalou e que depois transforma muitas pessoas em egoístas (por isso digo que o egoísmo é um ‘efeito secundário’). É essa cultura a que promove o egoísmo em vez do altruísmo, essa cultura que leva as pessoas a olhar só pelos seu interesses, que podem passar pela satisfação de acumular bens e/ou explorar e/ou passar por cima de outras pessoas sem olhar a meios e que leva a que não se ame o próximo abnegadamente, a que se olhe o próximo como objecto (mais um nas suas vidas). Dentro desta cultura estão pessoas (em minoria com certeza) que não se adaptaram ou não se adaptam e que têm um défice mais ou menos acentuado de independência social (acompanhado muitas vezes de défice de independência económica, o que piora as coisas) e que leva a que se auto – marginalizem e/ou que os marginalizem a outra parte da sociedade (os que estão integrados na cultura individualista egoísta por exemplo). Daí que as pessoas da outra parte pareçam egoístas (porque na realidade há efectivamente muitos que os são) a quem está na minoria. Mas há também muita gente individualista altruísta, só que muitas vezes só vemos o lado obscuro dos conceitos. Tudo está em nós, na maneira como nós sentimos. Muitas das vezes somos nós que nos sentimos mal e afastamo-nos dos outros sem nos aperceber e somos nós que estamos a ser egoístas e parecem ser os outros a sê-lo. Há que ir aprendendo com o tempo a interpretar as coisas como elas na realidade são, a separar o trigo do joio, o bom do mau. Ser-se independente é um direito, pelo qual devemos lutar. Apesar de haver uma cultura individualista predominante, também existe o oposto, uma cultura sociável. Ser-se sociável egoísta ou sociável altruísta, individualista egoísta ou individualista altruísta é uma opção que depende de vários factores intrínsecos e extrínsecos e somos o que somos por causas que nos ultrapassam. E para dizer a verdade, acho que tem de haver de tudo no mundo. Não paremos de procurar o nosso lugar no mundo que pode hoje ser aqui, como amanhã noutro lado.