2004- Momentos, questões, liberdade, poder, sabedoria, inteligência e lucidez
Mais um dia fantástico. Mais barreiras ultrapassadas. As palavras cada vez são mais escassas para descrever a enorme quantidade sentimentos e emoções que se sentem, enfim, para descrever aquilo que se passa na vida. E as minhas palavras deixam ser formadas só por letras, elas são formadas pela música, pelos sons da natureza que fala por mim, pelo correr das águas mansas ou rápidas, pelos sons das aves do céu. São formadas pela chuva e pelo sol, tudo fala em meu nome, todo Universo diz aquilo que eu não consigo dizer. A sensibilidade vai-se perdendo, vou parando de crescer, diria que estou quase formado, e há - de chegar uma altura em que o crescimento há – de ser mínimo, mas antes há – de haver um momento em que a desfrutação há – de ser máxima. O mundo é para se utilizar, é para usar e deitar fora. E há – de haver um momento em que a dor há – de ser mínima. Tão mínima que a hora há – de chegar. E então tudo se compreenderá.
Houve uma altura em que eu fazia questões. Há alturas em que eu encontro respostas nessas mesmas perguntas, como se elas respondessem por si, como perguntas de retórica. Houve alturas em que aquilo que eu pensava que estava mal afinal não estava mal, eu é que estava mal, atribuía aos outros as culpas, mas depois resolvi atribuí-las a mim e em lugar de querer mudar o mundo decidi que devia mudar-me a mim, era muito mais fácil, além de que mudando-me a mim eu mudarei o mundo. Eu sou um presumido, não tenho a ideia real daquilo que passo para o mundo, questiono-me constantemente se serei eu realmente normal aos olhos dos outros. Apesar de tudo a dúvida subsiste. Mas, quem não é presumido, todos temos orgulho de nós próprios, todos achamos que somos melhores do que os outros, todos desejamos ser melhor do que os outros. Todos somos livres de ser melhor do que os outros e é com os outros que evoluímos. Quer dizer, somos livres e não somos. Somos livres até ao limite da liberdade dos outros. Somos livres quando os outros ou alguém, não nos limita a nossa liberdade. Cada um por si tem que conquistar a sua liberdade e isso é uma tarefa que cada um deve fazer ao longo da vida. E ainda, pode acontecer que os nossos limites não nos deixem alcançar a liberdade desejada, e então temos tendência para nunca estarmos satisfeitos e vivermos em constante ansiedade, tentando ultrapassar esses limites. Nascemos ilimitados, esta vida é que nos limita.
O poder. O poder faz mal aos homens. Quem está no poder influêncía. Mas um Homem não pode mudar o mundo. Mas necessita de poder. Poder de sedução, poder de produzir coisas agradáveis aos olhos dos outros. Poder é ser – se capaz de ser –se melhor do que os outros, pelo menos deve ser assim. Poder é saber ouvir, poder é sorrir, poder é saber amar. Poder é ter a sabedoria das coisas sem presunção, ter a abertura de querer saber mais sempre, ter desejo de ultrapassar constantemente os próprios limites. Poder significa também sofrer. Quanto mais alto se sobe melhor se vê, mas tanto se vê o bem como o mal, não se vê só o bem como se poderia pensar. Ter poder é saber seleccionar entre o bem e o mal, entre aquilo que é melhor para nós e para o mundo e o que é pior para esse equilíbrio entre nós e o mundo. Há o poder do olhar, o poder da mente, poder de sedução, poder físico, poder do toque, poder da inteligência que produz a sabedoria. Será que a inteligência produz sabedoria? Definições: Sabedoria - “grande abundância de conhecimentos; ciência; prudência; rectidão; razão.” Inteligência - “Faculdade de pensar conceber e compreender; compreensão; entendimento; intelecto; Pessoas de grandes dotes intelectuais; juízo; raciocínio.” Dadas as definições decerto deduzo que sim, efectivamente a inteligência é o meio de alcançar a sabedoria. Chegamos a uma altura da vida em que a inteligência se interpenetra com a sabedoria. A inteligência tem o maior potencial no princípio da vida diminuindo à medida que o tempo passa. A sabedoria, pelo contrário, vai crescendo ao longo da vida atingindo o seu auge já no final da vida enquanto somos lúcidos.