Dignidade [5/03/-04]
Eu sou digno. A dignidade, o que é isso? A definição do dicionário não é tão curta como isso. «Qualidade moral que infunde respeito». A minha qualidade moral não está propriamente boa neste momento, mas se a comparar com aquela que tinha há cerca de três anos, está muito melhor. A minha dignidade, a luta por ela, a minha vida por um fio, a loucura a entrar pela minha porta a dentro mascarada de inteligência, sensibilidade, bom aspecto. «Consciência do próprio valor». Se a definição fosse esta decerto teria muita dignidade, sempre achei que tinha muito valor assim como continuo a achar, só que antes pensava que eram os outros que me tinham que a reconhecer, agora sei que para quem a interessa reconhecer é para mim próprio. «Gravidade». È certo que existe gravidade em mim assim como existe em qualquer pessoa que tem orgulho em si próprio, não ter a mínima gravidade é como que atentar contra a própria existência, é não existir auto – estima, é achar-se indigno, o que não se pode negar a nenhum ser humano que tem direito de existir, seja ele qual for, e tem direito de viver. Ao contrário do que se possa dizer por alguém, a auto estima é algo que reside em nós até à hora de morrer, mesmo que a nossa personalidade não esteja formada, mesmo que não gostemos de nós próprios, normalmente da nossa imagem exterior, a imagem interior é a própria auto estima, o sentimento de si. «Grandeza». Não. Não sou grande exteriormente, não tenho a mania das grandezas, pelo menos das exteriores, se bem que por dentro me sinto infinitamente grande, há um Universo dentro de mim, assim como o deve haver dentro de qualquer pessoa, uma grandeza que sinto tanger Deus, e ai sim, sinto-me grande, diria mesmo que me sinto o mais alto dos homens, o maior deles. É claro que sei que isto é apenas uma presunção. Não passo de um simples ser humano ainda finito. E tenho medo de ser quem sou ao mesmo tempo, tenho medo de ser grande. Bem quero perder esse medo mas... não sei se um dia o perderei. Talvez eu não queira ser grande, talvez eu seja realmente grande de mais para estes homens deste mundo, talvez eu seja apenas um entre tantos dos que, diria enviados por um Deus, o meu Deus e o Deus de todos os homens, mas tudo isto são suposições. Talvez eu na verdade não seja ninguém mais que um simples homem ou ainda um homem que simplesmente compreende o mundo e anseia compreender mais e mais, sem poder parar, como se existisse uma força que vem de dentro para tal, superior e transcendente a mim. Será que compreendo o mundo à minha maneira? Como alguém poderia dizer. Não sei se estou certo ou estou errado, e mesmo que estivesse certo que poderia eu fazer? Mais uma vez : sou um ser finito, pelo menos exteriormente já que interiormente me sinto infinito. Como poderia eu chegar às pessoas sendo eu tão limitado? Mesmo que me tornasse no melhor orador que alguma vez existiu, como poderia? Teria que viver muitos anos, e ai sou finito, um simples ser do mundo. Pois, grandezas, para nós apenas, para o nosso interior. A matéria é finita. E quanta consciência infinita eu tenho disso. «Modo digno de proceder». Sempre pensei em proceder do modo mais digno em todos os actos da minha vida, o que é sempre difícil, guiado pela busca da perfeição, até há uns tempos atrás. Mas, qual será o modo mais digno de proceder? Talvez o proceder segundo aquilo que nos parece mais certo nos momentos em que temos de proceder. Se agirmos como tal estamos a proceder bem mesmo que isso produza efeitos maus. É claro que se achamos que estamos a proceder bem para nós outros não o verão da mesma maneira. O nosso procedimento é o nosso comportamento. Se agimos, agimos movidos por um motivo, comportamo-nos segundo algo em que acreditamos e segundo causas que nos fazem mover. Mas o nosso comportamento quando interfere no comportamento do outro, privando-o da sua liberdade condicionando-o ou querendo-o condicionar e mais ainda quando se tem consciência disso, deixa de ser um modo digno de proceder. Estamos a impor-lhe algo que tem consequências, é incerto de ser bom ou mau este nosso comportamento. O homem deve ser livre de escolher os seus modos de proceder, os seus comportamentos, isso é dignidade, quando o homem tenta impor as suas ideias que se demonstram em comportamentos e isso interfere no comportamento do outro forçosamente, isso é um modo indigno de proceder. Ainda diria mais, o homem nasce por natureza digno, assim são as crianças, mas que com o crescimento vão aprendendo a ter atitudes indignas que a consciência cria como seja rabujar sem razão só para ter a atenção de um adulto. Atitudes como estas irão criar no adulto estados conscientes de indignidade de procedimentos. E hoje, existe na sociedade dita civilizada um senso comum indigno, quando tenta conscientemente entrar na esfera privada da liberdade de cada um. Assim é o atentado que se está a dar em relação à destruição da família, assim é por exemplo o efeito que as novelas podem criar nas pessoas, na criação de comportamentos que não se ajustam com a realidade, a atitude consciente, logo indigna, de fazer sonhar as pessoas de influenciar massas a ter comportamentos que não se ajustam com a sua realidade, a fazer viver a vida em vão com valores que se tivessem que escolher livremente não escolheriam. Assim é a ideia que alguns tentam impingir e que está a alastrar-se a toda a sociedade de que o homem vive para o sexo, tornando o homem um animal consciente que está a criar uma sociedade que pensa que para proceder bem tem que fazer sexo, não dando lugar ao amor e à capacidade de amar, isto directamente relacionado com a destruição da família. «Respeitabilidade». Sem dúvida que sou uma pessoa respeitada de frente a frente com as pessoas. Por trás não sei se é assim, mas acredito que sim. Sou uma pessoas no mínimo normal e como tal as pessoas respeitam-me quando eu me respeito a mim próprio. Quando temos o ego em baixo a moral está em baixo é quando certas pessoas se intrometem, fazendo – nos sentir mais mal ainda, aquelas pessoas que conscientemente se tornam indignas ao não respeitarem a nossa liberdade e nos querem fazer ver a delas.