Grito [2005]
Apetece-me gritar bem alto, chorar até morrer, apetece-me fugir de mim e nunca mais ser encontrado. Fugir desta solidão a que me submeti, a este introvertimento doentio incompreendido por quem quer que seja. Este não é o meu caminho, mas não tenho coragem para tomar outro. Talvez seja demasiado tarde para optar por outros caminhos. Não posso voltar atrás. Talvez uma solução fosse esquecer tudo, mas como posso esquecer tudo estando no ambiente causador de tudo aquilo que se passa comigo? Não tenho forças nem esperteza para lutar contra as causas que me ensombram: as pessoas. Não me adianta escrever, não me adianta espernear. Incompreendido, louco, assim sou eu. Assim tenho eu que viver, com os meus medos incompreendidos pelos outros, com a minha inteligência descontrolada. Não tenho vontade de fazer nada. Tenho pena de tudo o que perdi, e de tudo o que perderei. O que é um homem sozinho? O que sou eu sozinho? Melancólico e isolado do mundo, num mundo completamente diferente, a acreditar num Deus que nunca mais chega, na perfeição que não devia ter desejado. EU SOU IMPERFEITO, O MAIS IMPERFEITO DOS HOMENS, só que há uma indiferença em relação aos outros, eu sei que sou imperfeito, eu tenho consciência daquilo que sou e das causas que me levaram a ser o que sou, no entanto estou impotente perante o que vejo impotente perante um destino, como que é o destino que me controla e eu não consigo controlar esse destino. Assim irei morrer, angustiado no meu silêncio, mais um que sofre por aqueles que não olham para o seu interior, e só provocam a destruição. No silêncio, nestas minhas ideias fechadas, louco meu Deus, louco por ter acreditado no sonho e não ter visto a realidade que se me envolvia, louco por ter estes olhos que não enxergam os homens, que tentam enxergar um Deus que nunca mais chegará. Tento fugir de mim a cada palavra, mas ironicamente cada palavra é mais um passo para que me incompreendam. Eles hão de me crucificar, faça eu o que fizer.